5º Período - de 1945 a 1965: Este período abrange o ressurgimento da armadora dos profundos danos causados pelos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. A
RML (ex-RMSP) sofreu a perda de 21 navios durante o conflito. Ao término deste, em 1945, possuía tão somente cinco transatlânticos de passageiros, oito navios mistos e 11 cargueiros.
Dos cinco primeiros, somente restavam, na realidade, o Andes e o Alcantara, visto que os outros três eram de construção bem antiga e se encontravam completamente
ultrapassados. De fato, nenhum dos três voltaria a navegar para a América do Sul nos anos do pós-guerra.
O Alcântara realizou a primeira viagem na Rota de Ouro e Prata do período pós-bélico em outubro de 1948 e permaneceria na linha sul-americana até 1958, ano em que foi
vendido para demolição. O Andes, ainda não utilizado comercialmente pela RML, efetuou a primeira viagem para o Brasil e o Prata em 1948.
O Magdalena, registrado em Londres
Magdalena - Surgiu então um novo transatlântico destinado à linha sulamericana, o Magdalena, de breve história e fim imprevisto sobre as pedras do arquipélago das
Tijucas (Rio de Janeiro), quando realizava a viagem inaugural em 1949.
Após a trágica perda do Magdalena, a RML continuou os serviços de passageiros, utilizando, além do Andes e do Alcantara,
os quatro navios mistos da série Highland e os quatro cargueiros mistos da série D de 1942.
Um quarteto de navios de carga com características similares foi construído em meados da década de 50 nos estaleiros da Harland & Wolff, de Govan (Escócia): o
Tuscany, o Thessaly, o Picardy e o Albany. Eram navios a motor de um só hélice, quatro porões de carga com capacidade para 8 mil toneladas e acomodações para um máximo de 12 pessoas. O
Tuscany entrou em serviço na Rota de Ouro e Prata em 1956. Os outros três, no decorrer do ano seguinte.
Porém, já no final dos anos 50, o Andes e o Alcantara não eram mais rentáveis operacionalmente e, assim sendo, o Andes foi retirado da linha para ser reformado
completamente e transformado em navio-cruzeiro a partir de 1960; o Alcantara, por sua vez, partiu para demolição.
O Amazon, atracando em Santos em 1961
Foto: J.C.Rossini
Novo trio - A fim de substituí-los, a Royal Mail já havia encomendado em meados de 1957 a construção de um trio de navios mistos de concepção moderna, que seriam destinados à linha
sul-americana do Atlântico.
Produtos do estaleiro Harland & Wolff, de Belfast (Irlanda), surgiram assim, entre 1959 e 1960, o Amazon, o Aragon e o Arlanza, navios a motor, dotados de espaço para o transporte de 460
passageiros em três classes distintas e 12.300 metros cúbicos de carga, disposta em cinco porões, equipados com câmaras refrigeradas.
O desenho de base do trio era inspirado no do desaparecido Magdalena, possuindo uma única chaminé, duas superestruturas separadas, a de vante - destinada à ponte de comando e ao
alojamento dos oficiais de náutica - e a central, dotada de quatro decks (conveses), destinados aos ambientes para passageiros, todos eles dotados de ar condicionado.
Do ponto de vista técnico, haviam sido dotados cada um de dois motores de seis cilindros cada um, movimentando dois hélices e fornecendo potência de 17 mil cavalos-vapor que permitiam velocidades superiores aos 18
nós (33 quilômetros horários). Suas principais dimensões eram: 178 metros de comprimento e 23 de boca (largura). O trio custou aos cofres da RML a soma total de 60 milhões de libras esterlinas.
O Amazon foi o primeiro do trio a ser lançado ao mar, em julho de 1959, tendo como madrinha a princesa Margareth, irmã da rainha Elizabeth. Em janeiro do ano seguinte, o navio realizou a viagem inaugural na
Rota de Ouro e Prata.
O segundo a aparecer foi o Aragon, lançado ao mar em outubro de 1959 e realizando, em abril de 1960, a viagem inaugural.
Por último surgiu o Arlanza, que em outubro desse mesmo ano saiu de Londres para Buenos Aires via Cherburgo, Vigo, Lisboa, Las Palmas, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. A partir destas datas, cada um
realizou, em média, sete viagens redondas por ano, no período.
A escala em Buenos Aires tinha uma duração de cerca de 10 dias, possibilitando o embarque de grandes carregamentos de argentinian beef, carne essa que era descarregada no terminal londrino de Tilburi.
O Arlanza, de 20 mil toneladas e capacidade para 460 passageiros, deixando o porto santista
Declínio - No ano de 1966, os portos britânicos foram atingidos por uma greve de longa duração por parte de operários e as três graças (como o trio era conhecido no ambiente marítimo) foram encostadas
lado a lado no Rio Tâmisa por diversas semanas.
Nestes idos, já eram evidentes os sinais dos futuros problemas que seriam determinantes nos anos subsequentes: constante declínio do tráfego de passageiros devido à crescente concorrência da navegação aérea,
aumento dos custos operacionais devido à ação dos movimentos sindicais, modificações nas modalidades de carga com o aparecimento dos contêineres. Além disso, na rota específica do Prata, registrava-se a crise no transporte de carne platina.
Como resultado, a carreira desse trio na Rota de Ouro e Prata foi relativamente curta. Em 1968, encontrando-se já a Royal Mail sob o controle do Grupo Furness & Withy (para o qual passara em
1965), os três navios foram transferidos para a Shaw Savill Line, outra armadora do grupo.
O Amazon se tornou o Akaroa, o Aragon passou para o novo nome de Aranda e o Arlanza foi rebatizado Arawa, passando os três a efetuar serviço na linha entre Southampton,
Austrália e Nova Zelândia.
Em 1971, o armador norueguês Leif Hoegh adquiriu os últimos dois mencionados, mudando seus nomes respectivamente para Hoegh Traveller e Hoegh Transit, enquanto o Akaroa (ex-Amazon) era
vendido para a armadora Uglands e transformado em car carrier (transportador de veículos) com o nome de Akarita. Os três navios foram demolidos no início da década de 80.
Em 1939, o britânico Highland Monarch, da Royal Mail Lines fazendo o giro para atracar ao cais do Armazém de Bagagem da Companhia Docas de Santos, o Armazém 15 Externo. Ao fundo, a
estação das barcas para o Itapema, hoje Vicente de Carvalho. Esses navios dispunham de porões frigoríficos para o transporte de carne argentina para a Inglaterra. Os ingleses eram proprietários de fazendas de gado e frigoríficos no país vizinho.
Transportavam passageiros, também. Os navios gêmeos eram: Highland Chieftain, Highland Princess, Highland Brigade e Highland Patriot. Este último foi torpedeado na Segunda Guerra Mundial por submarino alemão
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 29/9/2014
Navios da Royal Mail Steam Packet no período:
Nome
|
TAB
|
1ª viagem na rota
|
Tipo
|
Andes |
25.689 |
1948
|
Passageiros |
Alcantara |
22.181
|
1927
|
Passageiros |
Deseado |
9.641
|
1947
|
Misto |
Darro |
9.733
|
1948
|
Misto |
Drina |
9.785
|
1948
|
Misto |
Durango |
9.806
|
1948
|
Misto |
Teviot |
7.085
|
1947
|
Cargueiro |
Twed |
7.046
|
1947
|
Cargueiro |
Araby |
5.040
|
1947
|
Cargueiro |
Brittany |
5.089
|
1947
|
Cargueiro |
Magdalena |
17.547
|
1949
|
Misto |
Tuscany |
7.455
|
1956
|
Cargueiro |
Thessaly |
7.299
|
1957
|
Cargueiro |
Picardy |
7.306
|
1957
|
Cargueiro |
Albany |
7.299
|
1957
|
Cargueiro |
Amazon |
20.348
|
1959
|
Misto |
Aragon |
20.362
|
1960
|
Misto |
Arlanza |
20.362
|
1960
|
Misto |
(*)TAB = Tonelagem de Arqueação Bruta
O novo transatlântico Andes construído em 1939 para a armadora britânica Royal Mail, e que em 1948 entrou na Rota de Ouro e Prata, ainda com o casco preto do tempo em que era
navio de passageiros de linha regular. A linha possuiu outro navio com o mesmo nome, de 1914 a 1952
Imagem: cartão postal no acervo do despachante aduaneiro e cartofilista Laire José Giraud,
publicado em seu perfil na rede social Facebook em 28/7/2014
O transatlântico Andes de 1939, em viagem de cruzeiro em 1965, atracado no porto da então capital federal durante os festejos do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 28/9/2014
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