Em 3 de setembro de 1939 - data da declaração do estado de beligerância entre, de um lado, a Aliança formada por três países (Polônia, França e Reino Unido
da Grã-Bretanha), e de outro lado, a Alemanha do III Reich - a frota de navios cargueiros da armadora britânica Royal Mail Lines Ltd. (RML - ex-Royal Mail Steam Packet - RMSP) era
composta de 21 unidades, das quais nada menos do que 17 foram perdidas por causas bélicas no período 1939-1945. Logo no início da guerra, a direção da RML decidiu encomendar duas
diferentes séries de cargueiros. Tal encomenda era feita como previsão das inevitáveis perdas que a armadora sofreria no decorrer do conflito, perdas que, de fato, como dito, aconteceram.
O Drina começou a operar em julho de 1943 e alojava apenas 12 passageiros
Foto: cartão postal da Royal Mail Lines
Séries P e D - A primeira destas duas séries foi constituída por oito cargueiros (conhecidos como da série tipo P) e a segunda, por outros quatro
navios (conhecidos como da serie tipo D). Estas 12 unidades foram encomendadas a um único estaleiro construtor, o célebre Harland & Wolff (H&W), do Porto de Belfast, empresa da qual a Royal Mail era tradicional
cliente, desde muitas décadas.
Os navios da série P foram sendo entregue pela H&W a partir de meados de 1940.
Eram embarcações gêmeas, de carga de 5.500 toneladas de arqueação bruta (TAB), cinco porões de carga, dois dos quais com capacidade de congelamento ou refrigeração, dois mastros, superestrutura centralizada, onde
dominava uma chaminé de topo inclinado e linhas de desenho gerais, que conferiam a esses navios uma excelente aparência. O último desta série foi entregue em 1945 e dois foram perdidos durante o conflito: o Pampa I e o Palma.
A serie D foi composta por quatro cargueiros de capacidade bem maior do que os da série P, pois possuíam cerca de 9.700 TAB. Deveriam ter sido entregues no decorrer de 1941-1942, porém, em razão de
outras urgentes prioridades (como, por exemplo, a construção das corvetas do tipo Flower para a Royal Navy), o aparecimento do quarteto ocorreu de forma bem mais espaçada no tempo.
O Deseado (construção nº 1.082) teve a deposição da primeira trave de sua quilha deposta em meados de 1941, sendo, porém, entregue somente em finais de 1942, precisamente em 28 de novembro.
O Darro em foto de J.C.Rossini, tirada em Londres (Inglaterra) em 1967
O Darro (nº 1.148) só foi completado no ano seguinte (29 de junho de 1943) e em 1944 entraram em serviço os dois últimos da série, o Drina (nº 1.176) entregue em julho e o Durango (nº 1.177),
entregue em 20 de dezembro desse ano.
Embora possuíssem a mesma tonelagem e fossem similares em muitos pontos, estes quatro navios não poderiam ser considerados gêmeos, a não ser se considerados em pares, isto é, o Deseado e o Darro eram
gêmeos entre si, mas se diferenciavam do outro par, Drina e Durango, também gêmeos entre si.
A diferença fundamental entre os dois pares consistia no fato de que o segundo par havia sido construído com superestrutura dividida em duas partes, com o castelo de comando separado da estrutura central do navio.
Exceção feita a esta diferença, o quarteto possuía em comum as principais características:
Cinco porões, três dos quais equipados para o transporte refrigerado de perecíveis.
Três decks (conveses), única chaminé, desenho convencional, bem do estilo de outros precedentes construídos para a Royal Mail.
Equipamento motriz composto de duas máquinas a óleo diesel de seis cilindros cada, fabricadas pelo estaleiro construtor, as quais produziam 1.800
HP no total, com velocidade máxima de 14 nós.
Acomodações para tão somente 12 passageiros em classe única e interiores confortáveis, de desenho moderno sem, porém, luxos excessivos.
Embora tivessem sido planejados sobretudo para realizar o transporte de cargas refrigeradas ou congeladas exportadas pelos países do Rio Prata e pelo Brasil, o quarteto formado por Deseado, Darro,
Drina e Durango, no decorrer de sua existência, foi utilizado igualmente em outras rotas marítimas.
Estes navios, durante muitos anos seguidos, estiveram presentes contemporaneamente na rota sul-americana, executando a ligação Reino Unido - Brasil - Prata (e vice-versa). Em quase todas as suas viagens, escalavam
nos portos do Rio de Janeiro e Santos.
O Drina, em cartão-postal da empresa de navegação britânica
Mudanças - Em 1962 aconteceu um fato importante, que modificaria seus empregos. Nesse ano, o governo da República Argentina, através do Ministério da Marinha Mercante, reunificou as diversas armadoras
do país, empenhadas na navegação de longo curso, em uma só companhia a Empresa Lineas Maritimas Argentinas (Elma).
Ao mesmo tempo, as autoridades platinas decretaram que todas as exportações de carne argentina só poderiam ser embarcadas nos navios da Elma, independentemente do destino da carga. Tal decisão inevitavelmente
afetava os interesses de todas as armadoras estrangeiras da linha platina, e entre estas a Royal Mail Lines, que em pouco tempo sofreu sensível baixa de volume de carga no tráfego Buenos Aires - Londres.
Em conseqüência, a Royal Mail decidiu, no início de 1963, deslocar o quarteto da série D para outras rotas. Os quatros navios, já então relativamente antigos, passaram a ser utilizados
nas linhas do Atlântico Norte (Europa-EUA-Canadá), para a Austrália e Nova Zelândia e para a costa Oeste do continente norte-americano.
Final - Em 1965, outra significativa mudança influenciaria diretamente o destino dos quatro navios em referência. Nesse ano, o grupo britânico Furness-Withy (holding proprietária de inúmeras
companhias de navegação) absorveu a totalidade do capital acionário da Royal Mail Lines Ltd. e da Pacific Steam Navigation Co., capitais esses de que Furness-Withy já era possuidora de partes
substanciais.
Tal operação financeira, de dimensões consideráveis para a época, marcava assim o fim de um longo ciclo de tradição marítima iniciado no longínquo ano de 1839, quando, por iniciativa de James MacQueen, um
grupo de empresários fundou a armadora Royal Mail Steam Packet Co. Ltd., recebendo esta, logo após sua criação, a concessão da rainha Vitória para a o transporte das malas (correspondência) oficiais.
Passaram para a definitiva propriedade da Furness-Withy 22 navios antes pertencentes à Royal Mail e, dentre estes, os quatro cargueiros que nos interessam.
Os novos proprietários decidiram transferir o quarteto para as cores de uma das empresas marítimas do conglomerado, a Shaw Savil & Albion (SSA).
O Drina foi então rebatizado Romanic e o Durango passou a levar o nome de Ruthenic. Ambos foram imediatamente colocados na ligação Inglaterra – Nova Zelândia. Darro e
Deseado, por sua vez, foram mantidos sob gerenciamento da Royal Mail, voltando a serem utilizados na rota do Atlântico Sul.
Mas tais novos empregos não teriam muita duração, pois, sendo navios envelhecidos e ultrapassados sob todos os aspectos, passaram a ser substituídos por outros de construção mais recente e se tornaram obsoletos. Em
1967, Romanic (ex-Drina), Ruthenic (ex-Durango) e Darro foram vendidos para sucata, e o Deseado encontraria o mesmo fim, no ano seguinte, em Hamburgo. |