Embora ficasse conhecida internacionalmente pelas iniciais NGI, a companhia proprietária do America foi criada, em 1881, com o nome pomposo de
Navigazione Generale Italiana Societá Riunite Florio e Rubattino e, tal como indicado na sua razão social, derivava do amálgama de duas tradicionais empresas de navegação italianas, a I & V. Florio, de Palermo, e a Societá per la Navigazione a
Vapore R. Rubattino, de Gênova. Foram os respectivos diretores destas empresas, Ignazio Florio e Raffaele Rubattino, a solicitar às autoridades da Marinha Real Italiana a licença operacional para uma
nova companhia, fruto da fusão das duas até então existentes. Tal aliança foi concedida e formalizada com a assinatura do decreto pelo rei Umberto I no dia 23 de julho de 1881, com a cidade de Roma sendo escolhida como sede social e os portos de
Gênova e Palermo como sedes operacionais da frota.
O capital social foi fixado em 100 milhões de liras italianas, do qual Rubattino e Florio possuíam cada um 20% e o Credito Mobiliare Italiano 35%. O restante encontrava-se nas mãos de outros acionistas
minoritários.
A NGI abriu sucursais em Veneza e Nápoles e passou a ter em seus ativos os 38 navios da Rubattino e os 43 da Florio, num total de 81 e uma tonelagem adicionada de 60 mil toneladas, o que fazia da NGI a segunda
maior empresa de navegação da bacia mediterrânea, logo depois da francesa Messageries Maritimes.
Cores - Os navios da NGI foram pintados todos de casco preto, assim como as chaminés, estas com uma larga faixa branca no centro; a bandeira do armadora era composta pela cruz de São Jorge no bordo superior
e pelo leão dominador no bordo inferior.
Estas cores foram levadas pelos navios da NGI aos quatro cantos do planeta; além do Mediterrâneo, eram servidos os portos da Índia, o de Sumatra, o de Java, o de Hong Kong, os atlânticos das duas Américas (do Norte
e do Sul) e os do Chile (no Pacífico).
No momento da fusão, os três maiores navios da nova empresa eram, por tonelagem, o Singapore, de 3.685 toneladas de arqueação bruta, o Vincenzo Florio (2.788) e o Washington (2.786), estes
últimos dois sendo também os mais modernos, construídos em 1880.
Os principais portos de destino dos navios da NGI eram, além dos italianos, os de Marselha, Barcelona e Nova Iorque para o Oeste de Suez; Áden, Bombaim, Colombo, Calcutá, Cingapura, Hong Kong e Batavia para o
Leste.
Rota sul-americana - Foi no ano de 1884 que a empresa decidiu explorar a linha para a América do Sul, enviando, em fins desse ano, dois de seus melhores navios, o Singapore e o Manilha, ambos
levando a bordo um total de 2 mil emigrantes, que se destinavam ao Brasil, ao Uruguai e à Argentina.
Em 1885, a relativamente jovem linha da NGI para a América do Sul já contava com nada menos de 14 vapores a servi-la e, entre 1886 e 1888, outros oito vapores foram acrescentados para fazer face ao grande número de
emigrantes que procuravam embarque na Rota de Ouro e Prata.
Este enorme fluxo de homens permitiu que a NGI absorvesse os 12 navios que pertenciam à sociedade Raggio & C., e os cinco outros da Rocco & Piaggio, e consolidasse
assim a sua expansão empresarial.
Em 1910, a NGI passou a ter o controle acionário majoritário numa empresa de navegação italiana (da qual já era acionista, desde 1901), denominada La Veloce Navigazione Italiana a Vapore,
de Gênova, empresa esta que existia desde 1883, ligando a Itália às duas Américas.
Em 1912, um dos navios pertencentes à La Veloce foi cedido para a NGI, que conservou seu nome, mudando, porém, as cores do casco e da chaminé. Seu nome era America.
O America, com a pintura da NGI, em cartão postal oficial da armadora
Os maiores - Construído em 1908 pelos estaleiros Cantieri Navali Riuniti, de Muggiano, sob as ordens da La Veloce, e destinado ao tráfego de passageiros entre a península italiana e o porto de Nova Iorque, o
America e seu irmão gêmeo Oceania (mais tarde Stampalia) eram até então os maiores navios encomendados pela companhia.
Em maio de 1909, realizou a primeira viagem entre Gênova, Nápoles e Nova Iorque, com suas duas chaminés pintadas de cor ouro, com uma estrela vermelha no topo e o casco preto.
Após passar para o serviço da NGI em 1912, continuou a servir a linha para os Estados Unidos até 1916, quando, após o torpedeamento do Stampalia pelo submarino alemão U-47 em agosto, foi decidido que
o America, junto com outros dois navios da empresa, efetuaria o transporte de tropas americanas dos Estados Unidos para o porto de Brest (Norte da França).
Entre novembro de 1915 e abril de 1916, o America participou das operações de embarque destinadas ao salvamento do exército e da população da Sérvia acuados pelo avanço das tropas alemãs.
Torpedo - Em 1917, o America participou junto a outros navios aliados do transporte de 60 mil soldados norte-americanos até Le Havre. Em fevereiro de 1918, encontrando-se no Canal de Otranto, foi alvo
de um torpedo inimigo. A rápida ação de manobra do comandante Schiaffino conseguiu evitar o engenho. Finda a guerra, o America foi renovado e, entre 1919 e 1924, utilizado novamente no tráfego de passageiros para Nova Iorque.
De junho de 1924 até 1928, foi transferido pela NGI para servir a rota da América do Sul, ligando os portos italianos aos portos brasileiros e aos da Bacia do Prata.
Nessa linha também participavam outros quatro transatlânticos da companhia, entre os quais o tristemente famoso Principessa Mafalda, afundado em 1927, ao largo da Ilha de Abrolhos,
na costa brasileira.
No início de 1926, a frota da NGI era assim composta e utilizada:
a) linha de passageiros para Nova Iorque: Giulio Cesare, Duilio e
Colombo;
b) linha de emigrantes para Nova Iorque: Duca D'Aosta e Duca Degli Abruzzi;
c) linha de passageiros para a América do Sul: America, Europa, Principessa Mafalda, Re Vittorio e Taormina;
d) linha mista América Central e Sul do Pacífico: Bologna, Napoli, Palermo e Venezuela.
e) linha mista Austrália: Cittá di Genova e Equatore.
Em fevereiro daquele ano, entrou em serviço o transatlântico Roma, de 32.583 toneladas de arqueação bruta, seguido em 1927 pelo gêmeo Augustus. Com a entrada na frota desses dois novos grandes navios
e com o incentivo dado aos armadores italianos para a demolição de velhos navios (26 liras por tonelada), a NGI condenou à destruição, em 1928, sete de seus antigos navios, dentre os quais o America. |