Turismo
"Mais um dia...
no Litoral"
Novo Conselho Estadual de Turismo
quer convencer os viajantes a negócios a ficarem um dia mais em
São Paulo
Carlos Pimentel Mendes (*)
"Em pouco
mais de uma semana, 196 municípios do Estado de São Paulo
aderiram à idéia de incentivar o intercâmbio de turistas,
informações e projetos, entre as cidades paulistas". Parece
notícia do jornal de hoje, mas foi publicada por este jornalista
em 2/12/1977 no jornal santista A Tribuna. No momento em que o secretário
da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo,
João Carlos Meirelles, anuncia que o turismo é – mais uma
vez – uma das prioridades do governo paulista para a geração
de emprego e renda, vale a pena refletir sobre o que foi feito no setor
no quarto de século que se passou desde aquela publicação.
Disse em 1977 o então secretário
interino de Turismo de Santos, B. Franco: "Pretende-se sobretudo criar
no Estado uma mentalidade turística verdadeira, não somente
para o poder público, mas também para o povo (turista em
potencial) e para aqueles que se envolvam comercialmente no turismo, a
fim de que – esses últimos principalmente – acabem com a mentalidade
de tirar dinheiro do turista num dia só. O turista bem tratado sempre
volta e é um propagandista da localidade que visitou".
São
muitas as opções para entreter o turista no Litoral: de passeios
pelas belezas naturais a roteiros pelo rico patrimônio histórico,
berço da nossa civilização
É inegável que hoje
existe uma preocupação um pouco maior com o turismo, mas
se lembrarmos, para comparação, como o movimento ecológico
começou e evoluiu nesses 25 anos, fica evidente o enorme descompasso
entre ambos e o atraso da Baixada Santista, de São Paulo e do Brasil
em termos de mentalidade turística. Hoje, já se pode até
dizer que existe uma mentalidade ambientalista, mas não há
ainda a mentalidade turística que encontramos em outros povos ao
redor do mundo.
A idéia do intercâmbio
não prosperou. Ainda hoje, mesmo estando constituída há
anos como região metropolitana, a Baixada Santista não tem
implantado um projeto integrado de atração do turismo nacional
e internacional, capaz de atender prontamente ao chamado do governo estadual,
que anunciou planos para a atração do turista de negócios:
são 6 milhões de pessoas por ano, que comparecem a exposições,
congressos, feiras e seminários, e que poderiam permanecer mais
um dia no Estado de São Paulo, conhecendo lugares de interesse.
O que é preciso – Para
atrair esse turista, é importante contar com uma boa infra-estrutura
de atendimento (e é neste sentido que as autoridades santistas estão
se movimentando). Porém, só isso não basta. É
preciso desenvolver um trabalho específico para que esse turista
sem tempo possa aproveitar da melhor forma a sua estadia na região,
chova ou faça sol, com alternativas para todos os gostos. Não
basta que existam os equipamentos, é preciso um roteiro específico
que inclua os traslados entre as atrações visitadas e os
hotéis e aeroportos, guias especialmente treinados no atendimento
às necessidades desses turistas, facilidades de comunicação
destes com suas empresas (acesso Internet, fax) em pontos estratégicos
do roteiro, segurança com preparo para lidar com situações
imprevistas. Tudo isso embalado em uma identidade específica que
não deixe a idéia de pacotes fragmentados, costurados.
E é preciso que os órgãos
de turismo das várias cidades conversem entre si, pois um dos atrativos
da região é o fato de ser o berço da colonização
brasileira, e muitas vezes a história que começa em São
Vicente continua em Santos ou em Cubatão. Um exemplo flagrante é
representado pela Serra do Mar, onde falta um roteiro – já há
muito tempo planejado, nunca executado – para mostrar aos turistas como
os índios e depois os portugueses conquistaram o altiplano paulista,
usando a cada momento a mais avançada tecnologia viária do
mundo (na Calçada do Lorena, que rivalizava em sua época
com as melhores estradas européias e na ferrovia Santos-Jundiaí,
com projetos ingleses e execução brasileira). No mesmo roteiro,
vale citar a usina Henry Borden, que fascinou engenheiros de todo o mundo
pelo arrojo da idéia de desviar um rio para jogar suas águas
serra abaixo e assim gerar a eletricidade que impulsionou o crescimento
da Grande São Paulo.
Com grandes atrativos também
para os amantes da natureza, e paisagens deslumbrantes que – se conhecidas
– poderiam ser um dos grandes cartões postais do mundo, a região
(por onde passou D. Pedro I a caminho de proclamar a Independência)
essa área está entretanto abandonada, numa situação
que poderia ser revertida se todos os municípios da região
se unissem no sentido de obter das autoridades as necessárias licenças
ambientais e para melhorias e uso do parque estadual.
Anoitece
na Ponta da Praia, em Santos Foto: Decom/Prefeitura
Municipal de Santos
Encantamento - Roteiros que
contem as histórias do início do Brasil, em meio a cenários
paradisíacos de praia e serra,
com direito a passeio em bondes históricos
e trens turísticos, e tendo uma infra-estrutura que dê ao
visitante apoio e segurança constantes, podem servir como peças-chave
para a atração de um grande contingente de turistas. Que
não se encantariam apenas com chavões - importantes, mas
não só eles - como a beleza das praias da região.
A palavra chave é encantar
o turista, fazendo com que ele queira voltar sempre para conhecer mais,
ou ficar mais tempo na região. E a Baixada Santista têm diversidade
e riqueza cultural mais do que suficientes. Que visitante não gostaria
de voltar à sua terra dizendo que visitou a terra da Ypupiara
(São Vicente), percorreu os mesmos caminhos
do Boitatá (Cubatão),
conheceu os caminhos do Atlântico para as minas do El Dorado (o caminho
do Peabiru, em direção às minas dos Andes peruanos
começava em São Vicente), pisou o mesmo chão que Hans
Staden (Bertioga)?
A Baixada Santista pode até
se gabar de ser o portal de entrada no Paraíso
Terrestre: na época em que o Brasil era conhecido como a Terra
dos Papagaios, ocorreram grandes debates entre os teólogos europeus,
muitos deles afirmando que o Paraíso ficava na América do
Sul, não por acaso uma terra em forma de coração,
com os quatro rios bíblicos (seriam o Amazonas, o Prata, o São
Francisco e o Orinoco), a flora e a fauna exuberantes, a dificuldade do
acesso (pela Serra do Mar). O turista
poderia inclusive afirmar que cruzou a lendária
trilha de São Tomé (que teria vindo da Índia para
o interior da América do Sul, passando pela Baixada Santista, fazendo
milagres ao longo da trilha do Peabiru até as minas de prata de
Potosi, na Bolívia, e o lago Titicaca, no Peru).
Não bastassem as lendas, a
região pode ainda oferecer ao turista relatos sobre as curiosas
figuras de João Ramalho e do
bacharel de Cananéia, ou sobre os túneis
secretos de Santos, e como a padroeira
de Santos defendeu a então vila
de um ataque pirata. Os turistas podem
ainda conhecer os vários fortes
que defendiam a região contra os ataques dos corsários...
São enfim tantas histórias que muitas vezes nem os habitantes
da região sabem. Devidamente pesquisadas, transformadas em roteiros
de visitação bem elaborados, encantarão visitantes
de todas as idades, que assim levariam para suas terras uma lembrança
inesquecível da estada na região. Atraindo novos turistas.
Que, com a fama criada, certamente gostariam de conhecer esta pitoresca
região – mesmo que por um dia apenas.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
Pérgula
do Boqueirão, em Santos Foto: Decom/Prefeitura
Municipal de Santos
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