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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Curupira e Boitatá passeiam pela região (1)

No livro Antologia do Folclore Cubatense (edição da autora, 8/1985, Cubatão/SP), a autora Luzia Maltez da Guarda relata as principais lendas tradicionais entre os moradores (= íncolas) da região:

Curupiras, Igpuiaras e Boitatás
Imagem de Maria Rosa Rodrigues, publicada no livro

Cubatão e as manifestações dos íncolas

Há muito os íncolas já utilizavam Cubatão como ponto de ligação entre o litoral e o planalto. Esses índios que por aqui passavam deixaram-nos lendas que ainda hoje subsistem. Eram tribos que se espalhavam pela Serra do Paranapiacaba até o Planalto, foram os primeiros habitantes da hoje Cidade de Cubatão, e José de Anchieta, em meados do século XVI, já descrevia alguns aspectos folclóricos dessa civilização.

Em um documento datado de 1560 (N.A.: citado Luiz da Câmara Cascudo: Antologia do Folclore Brasileiro, Ed. Martins, S. Paulo), José de Anchieta conta: "Havia espectros noturnos ou antes demônios, os quais costumam os índios aterrar-se..."

Fala do Curupira, demônio que aterrorizava os íncolas na mata. Ainda conta:

"É cousa sabida pela boca de todos, corre que há certos demônios, a quem no Brasil chamam Curupira, que acometem aos índios no mato, dão-lhe açoites, machucam-nos e matam-nos. São testemunhas disto os nossos irmãos, que viram algumas vezes, os mortos, por eles. Por isso, costumavam os índios deixar em certos caminhos que por ásperas brenhas vão ter ao interior da terra, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes como uma espécie de oblação, rogando fervorosamente aos Curupiras que não lhes façam mal".

Em suas observações dos espectros, das crenças íncolas, Anchieta continua:

"Há também nos rios outros fantasmas a quem chamam Igpuiára, isto é, que moram n'água, que matam de medo aos índios. Não longe de nós há um rio habitado por cristãos e que os índios atravessaram outrora com pequenas canoas, que fazem de um só tronco ou de cortiça, onde eram muitos afogados por eles antes que os cristãos para lá fossem".

Anchieta falava do Rio Cubatão, como hoje é chamado.

O Boitatá, demônio da floresta segundo a crença cabocla, também foi registrado pelo jesuíta:

"Há também outros, máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios e são chamados Baetatá, que quer dizer Cousa de Fogo. Não se vê outra coisa senão um facho cintilante correndo daqui para ali, acomete aos índios e mata-os, como os Curupiras, o que seja isso, ainda não se sabe com certeza".

Não muito tempo ouvia-se dizer que o Boitatá (como o chamam agora) fora visto correndo pelos bananais dos sítios de Piaçagüera, aterrorizando os bananeiros sitiantes. Esse fato foi narrado por um popular local, que diz também ter visto o demônio de fogo.

Em seu documento, Anchieta termina dizendo:

"Há também outros espectros do mesmo modo pavoroso que não só assaltam os índios, como lhes causam dano, o que não admira, quando por estes e outros meios semelhantes, que longo fora enumerar, que o demônio torna-se formidável a estes Brasis, que não conhecem a Deus, a exercer contra eles tão cruel tirania".

Apenas como lembrete, saliento que em línguas nativas a palavra arte - enquanto categoria geral da estética - não tem eqüivalente; daí a dificuldade de caracterizar na cultura íncola a manifestação do folclore ou ainda da arte popular. O que ocorre nas citações acima é a miscigenação da cultura íncola à cultura lusitana, resultando assim a criação de novos símbolos e conseqüentemente uma nova interpretação do comportamento íncola dentro da concepção folclórica estabelecida no conceito ocidental herdado de berço europeu.

Apesar de haver em línguas nativas várias palavras para designarem todos os tipos de artesanato, habilidades e comportamentos que unificam-se sob o nome de "arte indígena", a idéia de uma arte dos povos ditos primitivos é uma criação dos antropólogos influenciados por filósofos da arte. Sob essa denominação estão reunidas danças rituais, cerâmica, música, pintura e enfeite corporal, fábulas, artefatos mágico-cerimoniais e objetos de uso diário. E ainda, o motivo principal que leva esses povos a criar e consumir coisas artísticas raramente é o prazer estético, em geral é de ordem mágica, utilitária ou educativa.

Estudos antropológicos de tais comportamentos e artefatos íncolas organizados esteticamente revelaram-nos as artes esquecidas por civilização nossa. É o caso da pintura corporal, ou dos arranjos de penas, há poucas décadas considerados brinquedos de "povos infantis". Essas artes não se fundiram significativamente com as européias e africanas, formadoras de nossa tradição artística (de nossa raiz cultural folclórica).

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Veja mais:
O Curupira
O Boitatá
No tempo de José de Anchieta

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