O viaduto, com pista dividida em duas mãos de direção, em 2010
Foto: Adalberto Medeiros/Departamento de Imprensa/Prefeitura de Cubatão, em 19/janeiro/2010
Viaduto 31 de Março já tem novo nome: Rubens Paiva
Agora, mão dupla é também na política, com a inversão da homenagem, da Revolução para uma sua
vítima
Enquanto aguarda sua duplicação, prometida pelos organismos estaduais, o Viaduto 31 de Março, sobre a
Via Anchieta em seu quilômetro 58,958 (com pista dividida em duas mãos de direção), teve invertido o sentido da homenagem contida em seu nome: em lugar de homenagear a Revolução de 1964, passou a ser Viaduto
Rubens Paiva, lembrando o nome de uma vítima dessa mesma revolução, o deputado Rubens Paiva. Que, coincidentemente, morreu em 1971, na mesma época em que essa ligação viária com
o Jardim Casqueiro era inaugurada, no auge da ditadura militar que transformara Cubatão em área de segurança nacional.
A mudança de nome está contida na lei estadual nº 14.039/2010, publicada no Diário Oficial do Estado, na edição de
16 de abril, tendo sido solicitada em 2009 pelo deputado estadual Fausto Figueira (PT), através do projeto de lei nº 726/2009.
Segundo Fausto, "não há sentido em se homenagear um golpe de estado, mas faz todo o sentido perpetuarmos o nome de um
santista que perdeu a vida em defesa da democracia, vítima do regime militar implantado em 31 de março de 1964".
Lembrou Fausto que Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos, em 26 de dezembro de 1929, formando-se engenheiro civil pelo
Mackenzie. Ativo militante da política estudantil, foi em 1962 eleito deputado federal pelo PTB. Alcançando a vice-presidência da Comissão de Transporte do Congresso. Com o golpe militar, teve seu mandato cassado e se exilou na Iugoslávia e na
França.
Ao retornar ao Brasil, voltou a exercer a Engenharia, em sua empresa (Paiva Construtora), continuando a manter contato
com outros exilados políticos. Em 20 de janeiro de 1971, sua casa no Rio de Janeiro foi invadida por homens armados de metralhadoras, e ele foi dado como desaparecido, acreditando-se que tenha morrido após sessões de tortura, conforme relato do
médico do DOI-Codi, Amilcar Lobo. Em 1996, sua viúva recebeu um atestado de óbito, reconhecendo legalmente a morte de Rubens Paiva.
"A lembrança de seu nome em uma obra de Engenharia não é apenas a homenagem a um engenheiro ilustre – afirma Fausto
Figueira -. Ao fazê-lo, substituindo a data que pretendia guardar na memória o regime que o assassinou, torna-se ainda mais simbólico e um ínfimo reparo que a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo faz a um grande brasileiro". O decreto
legislativo, promulgado pelo governador Alberto Goldman, tem a data de 15 de abril, com efeito imediato.
Pequeno – Inaugurado pelo prefeito
Zadir Castelo Branco (1971-1975), primo do presidente da República Carlos Humberto Castelo Branco (governou de 15/4/1964 até sua morte em 15/3/1967), o viaduto sobre a Via Anchieta foi
construído no período em que a doutrina da Segurança Nacional fez com que Cubatão perdesse a autonomia política (durante 17 anos, de 1968 a 1985).
Na época, a população do Jardim Casqueiro era de cerca de seis mil habitantes. Hoje, mais de 40 mil pessoas vivem na
região próxima ao viaduto, que viu se desenvolver nas proximidades a Vila dos Pescadores, os núcleos Jardim Caraguatá, Vila São José, Jardim Nova
República, Jardim Real e conjunto residencial João Paulo II.
Além da demanda urbana de tráfego, o viaduto recebeu ainda o impacto do trânsito de toda a região, ampliado com a
construção das duas pistas da Rodovia dos Imigrantes e da sua interligação com a Anchieta e o crescente volume de cargas movimentado pelo complexo portuário santista. E a previsão é que novos contingentes
populacionais sejam instalados em suas proximidades em breve.
Em razão do aumento no volume de tráfego nessas quatro décadas, além dos riscos do trânsito intenso em pistas separadas
apenas pela sinalização de solo, são cada vez mais comuns os congestionamentos que praticamente isolam a região do Casqueiro do restante do município cubatense. Assim, em função das reivindicações da população, foi anunciada em março a duplicação
do viaduto, com a expectativa de que as obras sejam licitadas nos próximos meses.
Carlos Pimentel Mendes – MTb. 12.283-SP
Foto: Adalberto Medeiros: trânsito no viaduto, durante
vistoria feita no dia 19 de janeiro por autoridades municipais
e estaduais
Link para foto
Biografia, na Wikipedia
20100425-SEGOVE-Viaduto31MarcoMudaRubensPaiva-CPM.doc
O deputado federal santista Rubens Paiva
Foto reproduzida no site do deputado Fausto Figueira (consulta
em 24/4/2010)
Anúncio da mudança de nome do viaduto
Reproduzida parcial da página principal do site de Fausto Figueira
(consulta em 24/4/2010) |