HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Um viaduto politizado (2)
Inaugurado no auge da repressão política do regime militar criado em 31 de março de 1964, um viaduto em Cubatão recebeu como nome a data
em que ocorreu esse golpe militar: 31 de Março. Já na época de sua construção, a política em torno da obra era grande: mais de um ano depois de pronto, ainda não havia sido inaugurado, nem sequer havia uma previsão confiável quanto à data da
inauguração.
Num balanço de governo municipal, pelo aniversário da cidade, em 9 de abril de 1971, assim era informado sobre o viaduto, nas páginas 12 e 13 do jornal A Tribuna desse dia:
Imagem: reprodução parcial das páginas 12/13 de A Tribuna de 9 de abril de 1971
Um viaduto de 401 metros de extensão parecendo uma serpente sobre a Via Anchieta. Esse o grande desejo de sempre da
população do bairro do Casqueiro e que, dentro de 3 meses, verá realizado o sonho. O Viaduto 31 de Março, projetado e executado nessa gestão, é o símbolo do desenvolvimento de Cubatão.
A principal função do viaduto, além de integrar o centro ao seu bairro mais populoso, é também levar e trazer gente da futura zona de expansão do Município, o Nhapium, por onde
passará a Rodovia dos Imigrantes. O viaduto também servirá de trampolim para os futuros moradores da zona de expansão do próprio Casqueiro, onde serão construídas casas populares.
Essa obra estava programada dentro do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município, elaborada em sua última parte nessa administração. O Plano veio propiciar uma melhoria
das condições de vida na cidade, e constituir um diploma capaz de impedir as improvisações, que nos dias de hoje não são mais admitidas, principalmente em uma das áreas mais importantes do Estado, como é o Município industrial de Cubatão. Como o
viaduto, o Plano ainda visa ou tenciona construir mais um outro, que deverá ser feito pelo Dersa, em conseqüência também da Rodovia dos Imigrantes.
Foto publicada em A Tribuna de 9 de abril de 1971, página 12
|
Apesar de haver um Plano Diretor "capaz de impedir as improvisações, que nos dias de hoje não são mais admitidas...", verifica-se mais de "três meses" depois, no mesmo jornal A Tribuna, a notícia publicada em 22
de julho de 1971, na página 10 do 1º caderno:
Os acessos provisórios vão assegurar a imediata utilização do viaduto
Foto publicada com a matéria
Viaduto do Casqueiro aberto ao tráfego de veículos em novembro
Da Sucursal de Cubatão
Em outubro, ou o mais tardar em novembro, estará aberto ao tráfego o viaduto do Casqueiro, já que o prefeito Zadir
Castelo Branco, na última reunião que teve com os dirigentes da Dersa, esta semana, resolveu todos os problemas pendentes. Assim, a Prefeitura de Cubatão vai construir os acessos provisórios do lado da Avenida 9 de Abril e do Casqueiro, assegurando
a passagem para veículos e pedestres, na data da conclusão das obras do viaduto.
O acesso passará a ser utilizado obrigatoriamente por todos, pois as pisas da Via Anchieta serão fechadas, encerrando a série de acidentes ocorridos desde a
inauguração da rodovia, há mais de 20 anos. Apesar de seu caráter de emergência, os acessos serão pavimentados, bem como a plataforma do viaduto.
Quanto ao sistema viário definitivo do viaduto, ficou também decidido que sua construção será feita pela Dersa, aproveitando o projeto elaborado pela Prefeitura,
já entregue e aprovado pelo órgão. Para isso, possivelmente será feito um convênio entre a Prefeitura e a Dersa, mas a Municipalidade iniciará imediatamente as desapropriações na área onde serão construídos o trevo e as pistas de acesso,
acreditando-se que a firma responsável pela Via Anchieta somente inicie as obras nos primeiros meses de 1972. |
Embora estivessem resolvidos "todos os problemas pendentes", em 16 de novembro de 1971 noticiava novamente A Tribuna, na página 4 do 2º caderno. Observe-se ainda na notícia o costume local de dizer que se vai do
Casqueiro a Cubatão, com o sentido de dizer que se vai à região central da cidade - como se o Jardim Casqueiro estivesse situado em outro município -, costume que se justifica por estarem as duas áreas da cidade completamente separadas por rodovias que
dificultam sua integração:
Moradores querem imediata abertura do viaduto
Foto publicada com a matéria
Só iluminação abrirá viaduto em definitivo
Esteve novamente aberto no fim-de-semana o Viaduto "31 de Março", do Casqueiro. Conforme a posição da Prefeitura
diante do assunto, ele só será aberto quando houver necessidade maior, até que seja iluminado e seus acessos tiverem condições de uso. Assim não pensam os moradores do bairro, que querem ver a passagem aberta o mais breve possível, para que se
evitem acidentes na Via Anchieta.
Dessa forma, até que tudo fique pronto, quem mora no Casqueiro e quer ir ou a São Paulo ou a Cubatão, tem primeiro que ir a Santos e voltar. O mesmo acontece a
quem vem de Santos que, para entrar no Casqueiro, precisa primeiro ir até Cubatão. Mas, tudo isso terá final feliz com a presença do governador Laudo Natel, que prometeu vir à inauguração da obra, até o fim do ano.
Ontem, o trânsito na Serra Velha foi intenso. O maior movimento, no entanto, foi no sábado, embora menor do que o registrado nos Finados, quando o volume de
carros no centro da cidade foi muito grande. |
Em 19 de dezembro de 1971, página 12 do 3º caderno, o jornal A Tribuna revelava o real problema:
Foto publicada com a matéria
Convênio, a palavra para os acessos
(Da Sucursal de Cubatão)
A Prefeitura desapropria as áreas necessárias e a Dersa constrói, em dois anos, os acessos ao viaduto do Casqueiro e
o trevo que interligará a Via Anchieta e a Rodovia dos Imigrantes. Essa é a síntese do convênio que foi enviado para a Câmara e que será apresentado e votado pelos vereadores. O convênio entre Prefeitura e Dersa é idéia recente,pois antes a
Prefeitura iria construir, ela própria, os acessos ao viaduto. Depois, viu-se a possibilidade da Dersa dar sua participação, o que foi oficializado dia 5 de novembro último, em carta endereçada ao prefeito. O projeto continuou sendo da Prefeitura
(como no princípio), com aprovação do DER e Dersa. Assim, logo que for aprovado pela Câmara, os caminhos que levarão ao viaduto serão construídos, o que já podia ter sido feito há mais tempo. Porém, mais uma vez, a culpa fica com a queda da
arrecadação.
Quando o ex-prefeito Aurélio Araújo abriu a concorrência para a construção do viaduto, muitos não acreditaram que tudo se tornasse realidade. Quando a obra
estava na metade, as parcelas sendo pagas corretamente à empreiteira e tudo dando a entender que iria terminar bem, muitos lançaram até a idéia de fazer um busto em praça pública, homenagem ao prefeito.
Há quatro meses, veio a onda do descrédito. Falava-se em novo "elefante branco" (de Santos), em obra inútil etc., pela sua não utilização. A seguir, a Prefeitura
aterrou o lugar e começou a fazer os acessos provisórios, de até hoje. Mas, estes vieram com uma promessa, a do acesso definitivo, o ano que vem.
E estes acessos, que completarão inteiramente a obra (junto com a iluminação), agora estão mais próximos do que nunca com a realização desse convênio entre a
Prefeitura e a Dersa, um convênio especial, com pontos específicos, em que cada parte tem sua função bem delimitada pelas 18 cláusulas do documento.
O viaduto está no quilômetro 59,249 e para a construção dos acessos a Prefeitura terá de desapropriar 73.681,37 metros quadrados à sua volta, dos lados do
Casqueiro e da Av. Bandeirantes. As duas áreas estão no Sítio do Ruivo (pertencente à família Ruivo): 19.219,20 m² do Casqueiro e 54.462,17 m² do lado da avenida.
Na cláusula número 8, o convênio afirma que caberá à Dersa toda a operação de tráfego, conservação e o exercício de poderes sobre sua obra, ficando a Prefeitura
livre de quaisquer despesas. É um item que mostra muito bem que o viaduto é tão importante para a Prefeitura como para a Dersa.
A décima-primeira cláusula diz que o prazo para a construção do trevo e execução das obras de acesso ao viaduto é de 24 meses, a partir da data da assinatura do
acordo. Mas, este prazo poderá sofrer dilatação, por vários motivos não especificados. O maior deles é a chuva.
No caso de ocorrer situação de emergência perto do trevo de interligação Anchieta-Imigrantes e do viaduto, diz o 12º item que a Dersa poderá valer-se dos
equipamentos e turmas da Prefeitura. Talvez esse seja um item importante para Cubatão, pois é bem possível que essa situação surja como aconteceu no começo desse ano, com as enchentes.
Por último, adianta o convênio que ele será válido até a expiração do contrato de concessão, celebrado em 30 de setembro de 1969 entre a Dersa e o DER, prazo
este de 20 anos.
Assim, basta a Câmara aprovar o documento para que os moradores do Casqueiro e do centro de Cubatão possam contar com uma boa ligação bairros-centro, unificando
o Município. Além disso, a cidade poderá contar, em pouco tempo, com uma Avenida Bandeirantes melhor e mais larga, pelos planos do DER.
Foto publicada com a matéria
|
Em 9 de maio de 1972, na página 3 do 2º caderno, o mesmo jornal A Tribuna registrava:
Foto publicada com a matéria
Dersa recebe áreas para concluir acessos ao viaduto
Da Sucursal de Cubatão
Será assinada hoje às 11 horas, no gabinete do prefeito, a escritura de doação à Dersa das áreas dos acessos do
Viaduto 31 de Março, ligação entre a Avenida Bandeirantes e o Casqueiro sobre a Via Anchieta. Este viaduto fará parte do trevo de interligação do sistema Anchieta-Imigrantes, a ser construído também pela Dersa, segundo os planos do Governo do
Estado.
Desde novembro do ano passado foi assinado o convênio entre a Prefeitura de Cubatão e a Desenvolvimento Rodoviário S.A. para construção dos acessos.
Posteriormente, o prefeito Zadir Castelo Branco realizou o pagamento à Sociedade Agrícola do Jardim Casqueiro, referente à área desapropriada de 73.681,87 metros, necessária ao viaduto e seus acessos.
Enquanto eles não são concluídos, buracos e lama representam o drama dos motoristas. Agora, após a assinatura do termo de doação, a Dersa poderá iniciar os
serviços. |
Veja mais: Um dragão no autorama do Casqueiro |
|