Dinísia e a filha Cristiane, que moram em
um chalé bem conservado na Rua São Cristóvão, no Morro São Bento: imóvel é constantemente comparado a "uma casa de bonecas"
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
PATRIMÔNIO
Universitário lança cartilha para preservar chalés
Preocupado com o desaparecimento dos
chalés, residências que já foram muito populares em Santos, Rodolfo Ferreira, aluno do 5º ano do curso de Arquitetura da
Unisanta, criou uma cartilha para ensinar os proprietários desses imóveis a conservá-los e recuperá-los.
OBJETIVO |
"O que me motivou a fazer a cartilha é saber que meu
trabalho não vai ficar na biblioteca da faculdade" |
Rodolfo Ferreira, estudante de Arquitetura |
1 - Bem conservado, o chalé da dona
Dinisia, que mora com a filha Cristiane e a sogra, sempre é comparado a uma casa de boneca
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
MORRO SÃO BENTO
Chalés que parecem casa de boneca
Universitário
transforma trabalho em cartilha para ajudar na preservação dos imóveis
Andrea Rifer
Da Redação
"Sua casa parece uma casa
de boneca". A frase é constantemente ouvida por Dinisia Almeida de Freitas, de 59 anos. E com razão. De madeira pintada na cor bege, com portas e
janelas brancas e uma pequena varanda, seu chalé na Rua São Cristóvão, no Morro São Bento, é quase uma raridade em
Santos. Isso porque, aos poucos, essas residências, que já foram muito populares na Cidade, estão desaparecendo, ora dando espaço para a construção
de grandes edifícios, ora por dificuldades de seus proprietários em mantê-las.
Preocupado com o sumiço desse patrimônio, Rodolfo
Ferreira, de 22 anos, aluno do quinto ano do curso de Arquitetura da Universidade Santa Cecília (Unisanta), resolveu criar uma cartilha para ensinar
os proprietários dos chalés a conservá-los e recuperá-los. Com linguagem simples, ilustrações e fotos, o manual pretende ajudar a identificar os
problemas que surgem na estrutura dessas casas e a fazer os reparos necessários sem descaracterizá-las.
"O que me motivou a fazer a cartilha é saber que meu
trabalho não vai ficar na biblioteca da faculdade". A cartilha, que terá entre 25 e 30 páginas, deve ficar pronta até o dia 12 de dezembro, para ser
apresentada na universidade no dia 17 como trabalho final de graduação, sob orientação da professora Jacqueline Fernandez Alves.
Mas por que o interesse por chalés? "Com 14 anos eu
entrei no Senai para fazer curso de marcenaria e hoje dou aulas de marcenaria lá. Há dois anos e meio trabalho na Oficina
Escola, que qualifica jovens na arte do restauro. Eu acabei criando a consciência de patrimônio histórico e juntei com a madeira".
E é exatamente seu conhecimento de marcenaria e
madeira, associado à conscientização, que Rodolfo quer passar aos moradores de chalés, ressaltando a importância da preservação da história. Para
isso, ele percorreu, além da Rua São Cristóvão, no São Bento, o Morro da Penha, verificando cerca de 30 casas. "O pessoal
não tem consciência do que os chalés representam na história de Santos".
Tradição portuguesa - Antes de visitar os chalés
nos dois morros, Rodolfo traçou o parâmetro histórico dessas construções, características do final do século 19 e início do século 20. A escolha
pelos chalés dos morros se deveu ao estio dessas moradias trazido pelos portugueses.
A casa de Dinisia é um bom exemplo dessa tradição.
Construída em 1950 por sua sogra, Isabel Martins de Freitas, de 89 anos, pertence até hoje à mesma família. "Minha sobra não é portuguesa por pouco.
A mãe dela veio no navio grávida".
Dinisia mudou para o chalé em 1979 com o marido e os
filhos. Três anos depois ficou viúva, mas até hoje mora no local com a sogra e a filha Cristiane Almeida de Freitas, de 36 anos.
Da casa ela não mudou quase nada. Até a cor bege
Dinisia manteve. "Eu adoro essa cor". Quando chegou, a cozinha e o banheiro já eram de alvenaria, o que segundo Rodolfo é comum nessas habitações.
Hoje, o quarto e a sala do chalé até têm traços de modernidade (grades de alumínio na janela para garantir a segurança e um ventilador de teto), mas
nada que descaracterize a sua "casa de boneca", como alguns vizinhos costumam chamar o chalé de Dinisia.
2 - As paredes de madeira pintadas de
bege e as portas brancas mantêm a tradição
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
Financiamento da Caixa pode motivar a recuperação
Uma reunião entre representantes da Prefeitura e da
Caixa Econômica Federal, na próxima semana, pode definir uma linha de financiamento específica para a recuperação dos chalés de Santos. A informação
é do secretário de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves. "Não se trata de tombamento e sim de um programa de incentivo à manutenção de
chalés".
Segundo o secretário, a idéia é criar uma espécie de
parceria com os proprietários desses imóveis, que nem sempre têm condições de fazer uma reforma. Para isso, Bechara explicou que técnicos da
secretaria foram às ruas para mapear essas construções e criar uma espécie de inventário dos chalés da Cidade.
O trabalho priorizou três áreas: no bairro do Jabaquara
foram identificados 17 chalés; no Morro da Nova Cintra, 31, e, no Marapé, mais 17, totalizando
65 moradias. A escolha dessas construções observou, principalmente, características originais em condições de serem recuperadas. "Essa primeira
parte do inventário foi fechada há duas semanas. Eu queria ter os números para passar para a Caixa Econômica". O secretário garantiu que a pesquisa
de campo não está encerrada.
Por enquanto não é possível dizer quantos chalés ainda
existem em Santos, conforme Bechara. Um cadastro da Prefeitura aponta 1.200 moradias rústicas. No entanto, nem todas seguem esse estilo de
construção.
Incentivo - O secretário explicou que o
Município já tem legislação que permite incentivo à recuperação dos chalés. Se o imóvel for classificado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Cultural de Santos (Condepasa) como de interesse de preservação, pode receber nível de proteção e com isso isenção de IPTU e ISS.
No entanto, o secretário admitiu que esse incentivo não
é suficiente para a recuperação dos imóveis, por isso a importância de se buscar uma linha de financiamento que auxilie na manutenção dessa parte da
história. "Os chalés que permaneceram até hoje, só permaneceram pelo interesse, luta, empenho e coragem de seus proprietários. O que eles precisam é
de ajuda".
3 - Estudante de Arquitetura, Rodolfo se
preocupa com o patrimônio
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria |