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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CHALÉS
Tempo dos chalés vai terminando (4)

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Casas geralmente simples, de madeira, às vezes com parte em alvenaria (cozinha, principalmente), diretamente no chão ou com um espaço por baixo (pequeno porão) para evitar a umidade da terra, muitas vezes tendo por perto chácaras e galinheiros (aos poucos substituídos por cimentados e jardins), construídas desordenadamente por imigrantes e representantes da camada mais pobre da população, seguindo estilos bem diferentes (relacionados com a origem de seus moradores), os chalets (palavra depois aportuguesada para chalés) vão desaparecendo da paisagem santista.

Outra matéria sobre o tema foi publicada no jornal santista A Tribuna, em 23 de novembro de 2008 (página A-6):

Dinísia e a filha Cristiane, que moram em um chalé bem conservado na Rua São Cristóvão, no Morro São Bento: imóvel é constantemente comparado a "uma casa de bonecas"

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

 

PATRIMÔNIO

Universitário lança cartilha para preservar chalés

Preocupado com o desaparecimento dos chalés, residências que já foram muito populares em Santos, Rodolfo Ferreira, aluno do 5º ano do curso de Arquitetura da Unisanta, criou uma cartilha para ensinar os proprietários desses imóveis a conservá-los e recuperá-los.

OBJETIVO

"O que me motivou a fazer a cartilha é saber que meu trabalho não vai ficar na biblioteca da faculdade"

Rodolfo Ferreira, estudante de Arquitetura

1 - Bem conservado, o chalé da dona Dinisia, que mora com a filha Cristiane e a sogra, sempre é comparado a uma casa de boneca

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

 

MORRO SÃO BENTO

Chalés que parecem casa de boneca

Universitário transforma trabalho em cartilha para ajudar na preservação dos imóveis

Andrea Rifer

Da Redação

"Sua casa parece uma casa de boneca". A frase é constantemente ouvida por Dinisia Almeida de Freitas, de 59 anos. E com razão. De madeira pintada na cor bege, com portas e janelas brancas e uma pequena varanda, seu chalé na Rua São Cristóvão, no Morro São Bento, é quase uma raridade em Santos. Isso porque, aos poucos, essas residências, que já foram muito populares na Cidade, estão desaparecendo, ora dando espaço para a construção de grandes edifícios, ora por dificuldades de seus proprietários em mantê-las.

Preocupado com o sumiço desse patrimônio, Rodolfo Ferreira, de 22 anos, aluno do quinto ano do curso de Arquitetura da Universidade Santa Cecília (Unisanta), resolveu criar uma cartilha para ensinar os proprietários dos chalés a conservá-los e recuperá-los. Com linguagem simples, ilustrações e fotos, o manual pretende ajudar a identificar os problemas que surgem na estrutura dessas casas e a fazer os reparos necessários sem descaracterizá-las.

"O que me motivou a fazer a cartilha é saber que meu trabalho não vai ficar na biblioteca da faculdade". A cartilha, que terá entre 25 e 30 páginas, deve ficar pronta até o dia 12 de dezembro, para ser apresentada na universidade no dia 17 como trabalho final de graduação, sob orientação da professora Jacqueline Fernandez Alves.

Mas por que o interesse por chalés? "Com 14 anos eu entrei no Senai para fazer curso de marcenaria e hoje dou aulas de marcenaria lá. Há dois anos e meio trabalho na Oficina Escola, que qualifica jovens na arte do restauro. Eu acabei criando a consciência de patrimônio histórico e juntei com a madeira".

E é exatamente seu conhecimento de marcenaria e madeira, associado à conscientização, que Rodolfo quer passar aos moradores de chalés, ressaltando a importância da preservação da história. Para isso, ele percorreu, além da Rua São Cristóvão, no São Bento, o Morro da Penha, verificando cerca de 30 casas. "O pessoal não tem consciência do que os chalés representam na história de Santos".

Tradição portuguesa - Antes de visitar os chalés nos dois morros, Rodolfo traçou o parâmetro histórico dessas construções, características do final do século 19 e início do século 20. A escolha pelos chalés dos morros se deveu ao estio dessas moradias trazido pelos portugueses.

A casa de Dinisia é um bom exemplo dessa tradição. Construída em 1950 por sua sogra, Isabel Martins de Freitas, de 89 anos, pertence até hoje à mesma família. "Minha sobra não é portuguesa por pouco. A mãe dela veio no navio grávida".

Dinisia mudou para o chalé em 1979 com o marido e os filhos. Três anos depois ficou viúva, mas até hoje mora no local com a sogra e a filha Cristiane Almeida de Freitas, de 36 anos.

Da casa ela não mudou quase nada. Até a cor bege Dinisia manteve. "Eu adoro essa cor". Quando chegou, a cozinha e o banheiro já eram de alvenaria, o que segundo Rodolfo é comum nessas habitações. Hoje, o quarto e a sala do chalé até têm traços de modernidade (grades de alumínio na janela para garantir a segurança e um ventilador de teto), mas nada que descaracterize a sua "casa de boneca", como alguns vizinhos costumam chamar o chalé de Dinisia.

2 - As paredes de madeira pintadas de bege e as portas brancas mantêm a tradição

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

Financiamento da Caixa pode motivar a recuperação

Uma reunião entre representantes da Prefeitura e da Caixa Econômica Federal, na próxima semana, pode definir uma linha de financiamento específica para a recuperação dos chalés de Santos. A informação é do secretário de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves. "Não se trata de tombamento e sim de um programa de incentivo à manutenção de chalés".

Segundo o secretário, a idéia é criar uma espécie de parceria com os proprietários desses imóveis, que nem sempre têm condições de fazer uma reforma. Para isso, Bechara explicou que técnicos da secretaria foram às ruas para mapear essas construções e criar uma espécie de inventário dos chalés da Cidade.

O trabalho priorizou três áreas: no bairro do Jabaquara foram identificados 17 chalés; no Morro da Nova Cintra, 31, e, no Marapé, mais 17, totalizando 65 moradias. A escolha dessas construções observou, principalmente, características originais em condições de serem recuperadas. "Essa primeira parte do inventário foi fechada há duas semanas. Eu queria ter os números para passar para a Caixa Econômica". O secretário garantiu que a pesquisa de campo não está encerrada.

Por enquanto não é possível dizer quantos chalés ainda existem em Santos, conforme Bechara. Um cadastro da Prefeitura aponta 1.200 moradias rústicas. No entanto, nem todas seguem esse estilo de construção.

Incentivo - O secretário explicou que o Município já tem legislação que permite incentivo à recuperação dos chalés. Se o imóvel for classificado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) como de interesse de preservação, pode receber nível de proteção e com isso isenção de IPTU e ISS.

No entanto, o secretário admitiu que esse incentivo não é suficiente para a recuperação dos imóveis, por isso a importância de se buscar uma linha de financiamento que auxilie na manutenção dessa parte da história. "Os chalés que permaneceram até hoje, só permaneceram pelo interesse, luta, empenho e coragem de seus proprietários. O que eles precisam é de ajuda".

3 - Estudante de Arquitetura, Rodolfo se preocupa com o patrimônio

Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria

HISTÓRIA

Como surgiram

 

Os chalés de Santos surgiram a partir da demolição de cortiços no Valongo e no Centro, ordenada pelas autoridades sanitárias do Governo do Estado, no final do século 19, devido às epidemias de febre amarela e varíola. Aos trabalhadores pobres que residiam nas habitações coletivas restou a ocupação de bairros como o Marapé e Jabaquara. Neles, os chalés passaram a predominar. Paralelamente, portugueses da Ilha da Madeira começaram a ocupar as encostas do Morro São Bento e a utilizar a técnica de construção com o uso de madeira.

 

Dissertação

 

Há dez anos, o arquiteto Gino Caldatto concluiu uma dissertação de mestrado com 228 páginas, na qual detalhou o histórico de construção de chalés. O trabalho foi defendido na Universidade de São Paulo (USP) e batizado de Chalé de Madeira - a Moradia Popular de Santos. Nela, o arquiteto descobriu que o modelo usado na construção das casas de madeira na Cidade é único no País e no mundo.

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