Ao lado do marido, Hilda Cançon relata as
mudanças que testemunhou na mesma rua durante 8 décadas
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
Sexta-feira, 11 de Maio de 2007, 08:12
COMEMORAÇÃO
Há 80 anos no mesmo endereço
Desde 19 de maio de
1927, moradora do Campo Grande vive na Rua Pedro Américo, 173
César Miranda
Da
Redação
Quando celebrar o seu 80º
aniversário no próximo dia 19, Hilda Pousada Cançon vai comemorar também o tempo em que vive na mesma casa no Campo Grande.
Essa marca é para poucos. Quantos santistas moram há tantas décadas no mesmo lugar?
Dona Hilda viu o tempo passar e guarda boas
recordações. Quando nasceu ali em 1927 na Rua Pedro Américo, número 173, tudo era diferente. Os chalés dominavam quase
todo o bairro, com seus quintais amplos e plantas espalhadas em volta da casa. A moradia da família foi comprada por seu pai a 6 mil réis. Hoje,
muitas daquelas construções de madeira deram lugar aos prédios. "A rua nem era asfaltada. Era tudo areão. Lembrava cidadezinha do interior",
relembra.
Sem nunca ter se mudado dessa casa, os pais criaram os
quatro filhos. Quando ela se casou com o marido, Ibraim Cançon, de 72 anos, continuou a viver no mesmo lugar com a família.
Entre tantas alegrias que teve nessa residência por
quase 80 anos, apenas dois fatos muito tristes marcaram a vida pessoal dessa senhora de olhar sereno, fala mansa e poucas palavras. Foram as mortes
de dois entes queridos (a mãe e a irmã) em um espaço de 48 horas, entre 7 e 9 de abril de 1956. Aqueles dias ficaram em sua memória. Ela lembra que
naquele tempo os velórios eram realizados dentro de casa. "Foi um trauma", diz, emocionada.
Mudando o rumo da prosa, prefere continuar a recordar
dos momentos felizes. Dona Hilda disse que lá nasceram e foram criadas as quatro sobrinhas, que eram filhas de sua irmã que havia falecido. "Com o
apoio do pai delas, tomei conta dessas sobrinhas até se casarem", diz, sem esconder a satisfação do dever cumprido.
Nesse mesmo ambiente de cordialidade e respeito, ela
também criou o único filho, Paulo Ibraim Cançon, hoje professor de Inglês. Diferentemente da mãe, Paulo nasceu na Beneficência Portuguesa.
FRASE |
"Sou feliz por morar aqui. Não é chique, mas bastante
confortável" |
Hilda Pousada Cançon |
Boa vizinhança - Dona Hilda diz que havia uma
tranqüilidade diferente naquele tempo no bairro do Campo Grande. As crianças brincavam na rua, sem os pais ficarem preocupados. "Todas as mocinhas e
mocinhos se conheciam. Era uma vizinhança maravilhosa". Hoje, Dona Hilda observa que a falta de segurança mudou as relações. Prova disso são as
casas cercadas por muros e grades.
Ela conta que o chalé permaneceu em pé durante muitos anos
até que a família recebeu uma herança, nos anos 50, e resolveu construir a casa de alvenaria que se mantém até hoje em um terreno de 8x38. "Não está
faltando mais nada, depois de tantas reformas", diz, sob o olhar do marido que também concorda.
Segundo o casal, trocar por um apartamento está descartado.
Motivo? Os custos são altos e a privacidade é diferente. "Não é um bairro de elite, mas temos tudo por perto", complementa o seu companheiro.
Em seu tempo de criança e adolescente, a aposentada lembra
que era uma raridade passar um veículo na rua, que liga a Avenida Ana Costa ao Canal 2. O bonde 17, que passava na Avenida Bernardino de Campos, era
mais fácil de ver do que os poucos os veículos que existiam.
Da antiga vizinhança, ela diz que muitos já morreram. Porém,
a lembrança deles é boa e generosa. "Havia franqueza e sinceridade". O que mais Dona Hilda deseja? Ela quer comemorar bodas de ouro ao lado de seu
companheiro no dia 17 de maio de 2008 na mesma casa em que nasceu há 80 anos. |