Imagem: reprodução parcial da matéria original
Homenagem da A Tribuna à laboriosa colônia portuguesa
Tributo de gratidão à gente lusa, que tanto tem feito, no passado e no presente,
pelo progresso de Santos
Sua contribuição vultosa em todos os setores de atividade - Destacadas figuras
da colônia, a quem a cidade deve assinalada cooperação - Instituições fundadas por portugueses e integradas no patrimônio material e cultural da
terra santista
Reportagem de Antonio F. Sarabando
Ao festejar o 50º ano de sua existência, a A Tribuna
não poderia deixar de render sua homenagem muito sincera e reconhecida à nobre e operosa colônia portuguesa, destacando a sua eficiente colaboração
ao progresso material e cultural da cidade.
Vultosa tem sido essa cooperação e lamentamos sinceramente não dispor de elementos que
nos permitam fixar exatamente o seu valor.
Limitar-nos-emos, por isso, a recordar alguns dos nomes mais em evidência, do presente
e do passado, e a enumerar as iniciativas e as realizações devidas ao trabalho, ao esforço, ao empreendimento português, antecipando nossas
desculpas pelas inevitáveis omissões em que porventura venhamos a incorrer.
Desde a sua fundação, com a arrojada penetração dos primeiros colonizadores, dentre os
quais sobressai a figura varonil de Braz Cubas, o fundador da nossa venerável Misericórdia,
cujos primeiros alicerces, fincados no outeiro de Santa Catarina, constituíram por assim dizer as bases da própria cidade,
até o presente, a contribuição do elemento luso tem sido tão preponderante como constante. As sucessivas gerações dos filhos dos primeiros
habitantes desta terra, dos impávidos desbravadores da gleba virgem, foram sendo, sempre, com o decorrer dos tempos, auxiliadas em seu trabalho
criador, pelos que aqui iam chegando para fortalecer o impulso progressivo de que resultou o grau de opulência que hoje ostenta a "sala de visitas"
do Estado de S. Paulo.
Em todo o decorrer dos quatrocentos anos de história de Santos, os portugueses
aparecem em lugar de destaque, contribuindo com sua capacidade de trabalho, seu espírito de empreendimento, sua iniciativa arrojada, não temendo
esforços nem sacrifícios, para o bem desta terra. Nos primeiros séculos da colônia, todos os portugueses, desde os fidalgos para aqui enviados em
desempenho de funções públicas, até o humilde e obscuro aventureiro, realizaram feitos de assinalado valor, na defesa da crescente vila, não só
contra o gentio açulado por terceiros, como contra a pirataria marítima, arriscando a vida, com o mesmo desassombro e
destemor.
A proclamação da Independência não interrompeu por muito tempo a corrente imigratória
que demandava as terras brasileiras e Santos foi sempre uma das regiões nacionais mais contempladas por esse afluxo.
Com a abertura da imigração em grande escala, os portugueses continuaram a concorrer
com as grandes levas que de outras plagas eram encaminhadas para a nossa lavoura.
Por esse motivo, Santos jamais deixou de receber a decisiva influência lusitana.
O espírito de trabalho e de economia dos portugueses revela-se aqui em todos os tempos
pelo êxito alcançado, em seu labor, que a terra de eleição recompensava com fartas messes. Muitos, menos felizes, não foram contemplados pela Deusa
da Sorte, mas contam-se às centenas e aos milhares as grandes fortunas, realizadas por portugueses em Santos, fortunas solidificadas pela sua visão
e previdência, aqui mesmo invertidas em imóveis, em indústrias, em negócios, em empresas que, enfim, vinham aumentar o patrimônio da cidade,
enriquecer a coletividade.
Essas fortunas eram transmitidas aos herdeiros dos seus realizadores, que geralmente
aqui constituíam família e ficavam portanto integradas na riqueza local. Isto porque antigamente, como hoje, é considerável a porcentagem dos
portugueses que, bafejados pela sorte, aqui se fixam definitivamente, contribuindo eficazmente em benefício da nacionalidade, não só pelo seu
trabalho e realizações econômicas, como pela influência preciosa na fixação do tipo étnico brasileiro, bem como nos costumes, na mentalidade, na
língua, tão identificados ainda com a sua origem comum.
A iniciativa portuguesa revela-se, hoje, como ontem, em pujantes e expressivos
testemunhos. Assim como os portugueses foram nesta parte do nosso litoral os primeiros plantadores de cana, são ainda hoje
os estimuladores de novas fontes de riqueza. O município de Santos é hoje um grande produtor de banana. Pelo nosso porto se
exporta uma quantidade enorme desse produto. Pois coube aos portugueses a iniciativa dessa cultura entre nós em escala suficiente para garantir as
tentativas de exportação, que, em tempos normais, é feita não só para Montevidéu e Buenos Aires, nossos primeiros mercados dessa fruta, como para
quase todos os portos europeus. Apesar da intromissão de capitais de outra origem, ainda hoje a maior parte da lavoura de bananas está em mãos de
portugueses.
O comércio sentiu sempre o influxo vitalizante da vocação dos lusos para esse ramo de
atividade, elemento propugnador e estimulante de todas as facetas do progresso e da cultura. Uma grande porcentagem dos estabelecimentos comerciais
de Santos pertence a portugueses, ou deles passaram às mãos de seus filhos brasileiros.
Não vão ainda muito longe os tempos em que a quase totalidade das
grandes casas importadoras, atacadistas e varejistas de Santos pertenciam a portugueses, que ainda hoje detêm considerável parte do comércio
local, particularmente do varejista.
O desenvolvimento da propriedade imobiliária deve muito aos nossos irmãos de além-mar,
como dissemos acima. Eles compartilharam, de maneira preponderante, na conquista da grande campina, por onde hoje se estendem prósperos bairros,
desde o Gonzaga ao cais, do Jabaquara à
Ponta da Praia.
Em todas as fontes de produção, a contribuição da colônia portuguesa é vultosa e
eficaz. Em algumas delas, é visível a sua supremacia, não só sobre as dos demais estrangeiros, como ainda ocupa um lugar de absoluta preponderância.
Haja vista, por exemplo, no ramo industrial e comercial de padarias. Segundo dados que
nos foram fornecidos gentilmente pela Secretaria do Sindicato dos Proprietários de Padarias, num total de 94 associados, de diversas nacionalidades,
existem 53 portugueses, sendo os outros 41 de outras nacionalidades, o que dá uma percentagem a favor dos portugueses, de 56,2%.
No comércio varejista é igualmente preponderante a proporção de elementos lusitanos.
Graças aos dados que nos foram obsequiosamente proporcionados pela secretaria do Sindicato do Comércio Varejista, num total de 1.030 sócios
sindicalizados, 458 são portugueses. Dos restantes, 369 são brasileiros, 13 naturalizados e os demais de outras nacionalidades. Deve-se observar,
entretanto, que há um grande número de comerciantes não sindicalizados, particularmente pequenos negociantes, e destes uma considerável maioria é de
portugueses.
Esta proporção elevada de cidadãos lusitanos se observa no seio de quase todas as
classes laboriosas.
Um detalhe, um pormenor da vida da colônia portuguesa entre nós, deve ser focalizado.
O luso é, regra geral, morigerado, trabalhador e honesto. Melhor do que qualquer outro argumento, falam muito expressivamente a respeito as
estatísticas policiais.
Verifica-se uma diminuta percentagem de portugueses nas diversas listas de
delinqüentes qualificados ou processados.
De conformidade com dados oficiais, a polícia de Santos efetuou, durante o ano de
1943, 2.873 prisões por delitos diversos. Nesse total, os portugueses figuram com 278, o que dá uma percentagem de aproximadamente 9,5%, percentagem
insignificante, sabendo-se que a colônia portuguesa contribui com cerca de 20% do total da população da cidade, devendo ainda ser esclarecido que se
trata, quase que inteiramente, de detenções por delitos de pequena gravidade.
Raramente os jornais nos dão notícia de uma falência, de crimes de morte, de atentados
à propriedade, de qualquer delito, enfim, de que sejam protagonistas elementos lusos.
O português identifica-se conosco, trabalha denodadamente na mesma obra de progresso
de nossa pátria, que adota e ama como a sua própria. Uma evidência deste fato é que ele não se envolve em atividades que de qualquer modo possam ser
consideradas anti-nacionais. Em todas as emergências graves da Nação, ele é o melhor elemento, a solidarizar-se conosco, a sentir as nossas
tristezas e as nossas alegrias, a lastimar as nossas dificuldades nacionais ou a rejubilar-se com os nossos entusiasmos patrióticos.
Os portugueses e a religião - Fundamentalmente religiosos,
educados dentro da mentalidade cristã, os portugueses de hoje continuam, como nos tempos das descobertas e das epopéias marítimas, a ser os mais
eficazes propagandistas da fé. Em Santos, a sua contribuição ao desenvolvimento da religião, muito particularmente da multi-secular Igreja Católica,
tem sido a mais ampla e profunda, concorrendo para a formação da sociedade brasileira dentro do espírito altruístico do cristianismo.
Eles têm sido, desde a colonização, os mais eficientes propagadores da religião,
facilitando a formação da nossa mentalidade dentro dos dogmas puríssimos da doutrina pregada pelo Nazareno, constituindo uma barreira à infiltração
das idéias dissolventes que têm infelicitado outros países.
Todas as irmandades e associações religiosas aqui existentes encontraram sempre, no
elemento português, não só adeptos fervorosos, como auxílio desvelado à implantação das boas iniciativas de fraternidade e solidariedade.
Muitos dos nossos templos, antigos e modernos, encontraram na
colônia lusa os mais decididos colaboradores e a ela se deve o êxito de suas edificações.
Uma das mais recentes iniciativas, desse gênero, é a constituída pelo templo erigido a
Nossa Senhora de Fátima, o qual foi construído por empreendimento de um grupo de portugueses, que o dedicaram à invocação da Virgem, revelada aos
pastorinhos de Santa Iria.
Esse templo veio ainda contribuir para o embelezamento de um velho
bairro de Santos, dando-lhe um atrativo relevante.
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