Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300h4f.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/10/09 11:07:13
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
1915 - por Carlos Victorino (05)

Clique na imagem para voltar ao índice

Carlos Victorino apareceu na imprensa santista como tipógrafo no jornal Gazeta de Santos (de 1883) e reapareceu como revisor no Jornal da Noite, criado em 1920. Também escreveu para teatro e nos gêneros romance e comédia.

Suas lembranças de Santos, vivenciadas entre 1905 e 1915, foram reunidas na obra Santos (Reminiscências) 1905-1915, cujo Livro II (com 125 páginas) foi em 1915 impresso pela tipografia do jornal santista A Tarde (criado em 1º/8/1900). O Livro I, correspondente ao período 1876-1898, já estava com a edição esgotada quando surgiu a segunda parte.

Nesta transcrição integral do Livro II - baseada na 1ª edição existente na biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC) -, foi atualizada a ortografia:

Leva para a página anterior

Santos (reminiscências) 1905-1915

Carlos Vitorino

Leva para a página seguinte da série

V

Atravessei mais algum tempo no Diário de Santos e resolvi mudar de oficina. Iria para A Vanguarda, novo jornal diário que em breve apareceria sob a direção intelectual de Benjamin Mota e direção industrial de Fernando de Magalhães.

A A Vanguarda devia aparecer em setembro de 1908 e só apareceu em 26 de outubro desse ano, porque devido a uma greve de carroceiros, o material não podia sair da estrada de ferro por falta de veículos para conduzi-lo.

O aparecimento da A Vanguarda foi bem recebido, pois tratava-se de um jornal independente e que vinha "pôr sal na moleira" de muita gente boa.

Instalou-se a A Vanguarda na Rua do Rosário, nos baixos do sobrado ocupado por demi-mundaines, o mesmo onde em tempos idos foi a sede do Grêmio Dramático Arthur Azevedo. Benjamin Mota lançou o artigo de apresentação de modo a receber unânimes aplausos da população e parabéns de toda a imprensa.

Entre outras questões que Benjamin Mota tomou a peito, saindo-se galhardamente de todas elas, houve uma que foi levada em caráter cômico.

No jardim da Praça dos Andradas, no lugar onde os recreantes iam matar a sede, não existia caneca e sim uma pequena lata que fora de manteiga e já enferrujada.

Benjamin não deixou passar o caso em branco e começou de incitar a Câmara para que pusesse na Praça dos Andradas uma caneca decente. A Câmara fez ouvidos de mercador.

Então, Benjamin lembrou-se de oferecer uma caneca à municipalidade para ser colocada naquele logradouro público, e assim fez.

Certa tarde, acompanhado de muitas pessoas, foi levar a caneca ao jardim, e disso tinha pela A Vanguarda dado prévio aviso. O ato da colocação da caneca foi revestido de toda a solenidade, havendo um discurso pronunciado por Benjamin ao prender-se a alça da caneca na corrente de metal ali existente.

Muita risota, aplausos e a prisão do falecido Redondo por um cabo de polícia, pois o cabo queria obstar a colocação ali de um objeto que ia prestar relevantes serviços aos recreantes que sentissem sede.

No carnaval de 1909, o Gimenez, um trocista de marca maior, lembrou-se do caso da caneca e fez a ele uma alegoria cômica e, na qualidade de músico, compôs uma valsa que em dado momento eram obrigadas as palavras "Olha a caneca"..., e continuava a música.

No mês seguinte ao do Carnaval (N.E.: em março de 1909, já que a terça-feira de Carnaval nesse ano foi em 23 de fevereiro), apareceu A Tribuna Popular, de propriedade de Miguel Pierre e redatoriada pelo autor deste trabalho.

Era de publicação vespertina e teve bom acolhimento, mas a sua venda avulsa crescendo de dia para dia, indo enfim de vento em popa, o sr. Magalhães enciumou-se com a boa sorte da jovem Tribuna Popular, obstando que ela continuasse a ser confeccionada e impressa nas oficinas da A Vanguarda. A resolução do sr. Magalhães ocasionou o desaparecimento desse jornal, que se ia tornando querido do público.

.
Jardim e ponte central da Praça dos Andradas, em 1898. O cartão-postal foi postado em 1900

Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem