Nas ruínas do Valongo, operários cuidavam ontem dos preparativos para início da construção do museu
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria, na página A-1
Com presença do Rei, obras do Museu Pelé começam hoje
Edson Arantes do Nascimento vai acompanhar o início das obras do Museu Pelé nos casarões do Valongo, em Santos, hoje, a partir das 11 horas. Na cerimônia, o próprio Rei do Futebol irá lacrar a
cápsula do tempo. Trata-se de uma caixa de aço que guardará peças representativas da época atual. A previsão é de que o dispositivo seja aberto somente daqui a 30 anos, no centenário do Atleta do Século.
Como vai ficar
Ilustração publicada com a matéria
Sonho de rei se transforma em gol de placa no antigo Casarão do Valongo
Cerimônia de lançamento do projeto Museu Pelé será às 11 horas. Atleta do Século vai estar no evento. Obra fica pronta em 2012
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
Agora quem dá a bola é o Valongo. No campeonato da revitalização, começa hoje a se delinear um gol de placa no bairro santista. A partir
das 11 horas, nos casarões do Valongo, será dado o pontapé inicial das obras do Museu Pelé, com a presença do Rei do Futebol.
O grande momento da cerimônia certamente será quando a cápsula do tempo for lacrada, pelo próprio Pelé. Na verdade uma caixa de aço, a cápsula encerrará peças representativas da época atual e
a previsão é de que seja aberta somente daqui a 30 anos, no centenário do Rei do Futebol.
Dentre os itens da cápsula, cartas, como as do prefeito João Paulo Papa e de crianças de escolas da rede pública, fotos, os principais jornais de hoje e um DVD do Santos F.
C., com mensagens gravadas pelos jogadores do atual elenco.
"A imagem e a obra do Pelé transcendem a Cidade e o País. (O Museu) será um espaço de visibilidade mundial e o coroamento do processo de revitalização do Valongo", disse o prefeito João Paulo Papa.
Para receber o museu, a fachada dos casarões do Valongo será reconstruída em suas linhas neoclássicas originais, da segunda metade do século 19. Para tanto, foi feita uma pesquisa que descobriu,
entre outros detalhes, o acabamento original em pedra de Liós, portuguesa, prevista no projeto atual.
"Também vamos reaproveitar boa parte dos materiais que restaram da construção original", afiançou o arquiteto Ney Caldatto, chefe do Departamento de Desenvolvimento e Revitalização Urbana, da
Secretaria de Planejamento (Seplan), e autor do projeto.
Com isso, o que resta das paredes, por exemplo, será incorporado ao prédio reconstruído, bem como ombreiras. Já no interior, a ordem é soltar a imaginação. "Não há referencia (histórica) da parte
interna. Isso permitiu uma maior criatividade", disse.
Embora ainda não haja um projeto definido do quê e como será instalado - isso dependerá de conversas posteriores com os organizadores do acervo - de acordo com Ney, uma coisa é certa: do ar
condicionado aos recursos multimídia, todas as instalações serão exemplares do que há de mais moderno. "A ideia é criar algo inédito no Brasil".
A previsão é de que as obras durem dois anos, com a entrega do Museu Pelé em 2012. "O maior desafio foi criar um equipamento como o Museu Pelé em um imóvel do século 19".
A organização social de interesse público (Oscip) Ama Brasil é a responsável pela captação dos recursos à obra, que já tem como parceiros o Governo do Estado de São Paulo, pela cessão do imóvel, e o
Ministério da Cultura, pela aprovação da inclusão da Lei Rouanet.
Surpresa - A tática é surpreender o adversário, ou melhor, o visitante. Por isso, evita-se falar em detalhes sobre as peças do futuro Museu Pelé. "É u acervo totalmente pessoal do Edson
Arantes do Nascimento, patrimônio da pessoa, constituído de tudo o que ele recebeu em sua carreira", explicou Rogério Zilli, responsável pelo acervo.
Ele conta que o acervo já está catalogado e pronto há 8 anos, e que alguns itens já participaram de exposições mundo afora.
Tapumes indicam início da obra que vai reconstruir o antigo Casarão do Valongo em suas linhas originais
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
A História
Os casarões do Valongo ficam no Largo Marquês de Monte Alegre, defronte à antiga estação
ferroviária da São Paulo Railway. Foram construídos entre 1867 e 1872 pelo comerciante Manoel Joaquim Ferreira Neto. Muito rico, ele próprio
morava na exuberante Casa da Frontaria Azulejada (Rua do Comércio, 93), hoje recuperada.
Se nessa época o Valongo fosse um time de futebol, os casarões seriam os craques da equipe. Isso porque já nasceram estrelas. Foram concebidos visando receber a sede do governo provincial - o
equivalente ao que hoje é o governo do Estado.
"Por conta do Porto, por onde escoava o café exportado, Santos era uma das cidades mais importantes da província, no período. Por isso, se cogitava da sede do governo mudar para cá", explicou o
historiador José Dionísio Almeida, da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams). Só que isso nunca aconteceu. Por essa época, chegou a abrigar a sede do centenário Clube XV.
Após a proclamação da República, em 1890 o casarão passou a sediar a Câmara Municipal e um governo Executivo provisório. Com a construção do Palácio José Bonifácio, em 1939,
Legislativo e Executivo mudaram de endereço e os casarões, paulatinamente, foram caindo em declínio. Ao longo dos anos, foi um hotel, bar, borracharia. Em 1983, foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico
e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat); em 1990, foi a vez do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) tombar os imóveis. Em 1985 e 1990, dois incêndios deixaram os edifícios em ruínas.
Foto: José Marques Pereira/divulgação, publicada com a matéria
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