Emoção nas ruínas do Valongo: Pelé e Papa lacram o local onde a cápsula do tempo ficará por 30 anos
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria, na página A-1
Pelé, eterno! Na cidade que ele mesmo escolheu
Nos Casarões do Valongo, Pelé viu de perto o início da materialização de um sonho: o lançamento da pedra fundamental do museu que levará o seu nome. O Atleta do Século disse ter recebido convite para
instalar seu acervo em várias partes do mundo. Preferiu Santos.
Um sonho que se transforma em realidade no Centro Histórico de Santos
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BLOCO 1 (1.405 m²) - Área para exposições temporárias - Auditório em forma de esfera - 12 metros de diâmetro com cerca de 80 lugares, onde
serão apresentados documentários, filmes e os gols de Pelé. No terceiro pavimento, fica a administração do museu
BLOCO CENTRAL (550 m²) - Entrada do museu - Espaço para 2 lojas, café e sanitários
BLOCO 3 (1.232 m²) - Acervo de Pelé com seus objetos pessoais, fotos, filmes, troféus e material impresso
Arte: Alex Ponciano/Editoria de Arte, publicada com a matéria
CRONOLOGIA
1997 - Projeto - O então prefeito de Santos, Beto Mansur, planejava construir um
complexo no Emissário Submarino, que incluía um museu ao jogador
1999 - Anulação - A Justiça anulou o edital da concorrência do complexo por considerar sua destinação inadequada
2002 - Suspensão - A empresa Construtécnica venceu a licitação e iniciou as obras em 2003
2003 - Paralisação - O Ministério Público Federal (MPF) obteve uma liminar
(decisão jucdicial provisória) e conseguiu paralisar as obras
2004 - Desistência - Pelé afirmou estar "desobrigado oficialmente" de instalar
seu acervo na Cidade, devido às pendências judiciais e aos obstáculos para construir o empreendimento
2008 - Cessão - O governador José Serra sancionou a lei que prevê a doação do Casarão
do Valongo à Prefeitura
2008 - Aprovação - O Condephaat deu a última autorização necessária para o
projeto arquitetônico do Casarão do Valongo. O Condepasa e o Iphan já tinham dado tal aval anteriormente
2009 - Recursos - O Ministério da Cultura autorizou a captação de recursos, via Lei Rouanet, para a restauração do imóvel
2009 - Garantia - BNDES garantiu investimento em R$ 6 milhões no empreendimento. A quantia arrecadada até então supera os 20% do total, o
que permite o início da execução dos projetos
A trajetória de um rei eternizada
No lançamento da pedra fundamental do museu que leva seu nome, Pelé lacra a cápsula do tempo. É mais um capítulo da sua história
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
Ontem foi o dia em que um rei ficou feliz. Nos casarões do Valongo, em Santos, Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, viu de perto o início da materialização de
um sonho: o lançamento da pedra fundamental do Museu que levará seu nome, preservando à eternidade toda a sua vida e sua obra. "É uma das coisas que eu mais pedi a Deus, deixar algo para as novas gerações", disse, emocionado.
Pelé chegou por volta das 11h30 da manhã aos casarões, onde uma multidão de jornalistas, autoridades e admiradores já o esperava. Foi logo cercado por câmeras, microfones, gravadores e,
principalmente, sorrisos. Recebeu uma avalanche de perguntas. Algumas, inevitáveis.
"Maradona vai querer fazer um museu desses em Buenos Aires, para tentar se igualar ao Rei do Futebol?", um jornalista disparou. Pelé sorriu, antes de responder. "Se o povo da Argentina achar que ele
merece... parece que uma igrejinha ele já tem lá...". Gargalhada geral.
Pelé também não se furtou a arriscar seu palpite - tímido - para o jogo de hoje do Brasil contra a Holanda. "Se o Brasil ganhar de meio a zero tá bom, né?". Em seguida, em mais uma brincadeira,
revelou o segredo para se ganhar no futebol - hoje e sempre. "É fazer mais gols...".
Jabulani - Já no pequeno palco improvisado para a cerimônia, Pelé tem uma surpresa: de repente, surge em suas mãos uma jabulani, a bola oficial - e controvertida - da Copa do
Mundo da África do Sul. Enquanto a autografava, comentou: "com o Pelé, a jabulani não escapava..."
Logo se descobriu: a bola era do garoto Khalil Ali Zeben, de 12 anos, filho do embaixador da Palestina, que acompanhava uma equipe de futebol feminino de seu
país, em visita a Santos e ao Santos F. C.
"Vou guardar no meu quarto pra sempre. Tô muito feliz", disse o menino, sem desgrudar da jabulani.
Sorte igual teve uma equipe da televisão palestina, que viajou apenas para acompanhar sua delegação, mas voltará para casa com um bônus: imagens e palavras de Pelé. "Foi uma coincidência. Ele é uma
lenda", disse a repórter Asan Turkuh, acrescentando que, na Palestina, todos param para ver os jogos do Brasil.
Cápsula do tempo - O prefeito João Paulo Papa disse que o Valongo "se transformará em pouco tempo em um ícone do desenvolvimento turístico do Brasil", para ressaltar
a importância da construção do Museu Pelé, no processo de revitalização do bairro.
"O fato de você (Pelé) confiar em Santos será determinante para que todo esse espaço possa iniciar um vigoroso processo de revitalização", salientou.
Pelé, por sua vez, relembrou as idas e vindas do Museu, dos planos e projetos por que já passou, até se tornar realidade. "Já faz muito tempo que estamos nessa luta, para que fosse feito em Santos.
Eu sempre quis que fosse nesta cidade".
Em seguida, foi convidado por Papa a lacrar a cápsula do tempo - uma caixa de aço, onde foram guardados objetos representativos da época atual.
Depois de lacrada, a cápsula foi colocada em uma estrutura de concreto, no meio do terreno do Museu. A ideia é de que seja aberta daqui a 30 anos, no centenário de Pelé.
Em seu interior, foram colocados jornais do dia, camisas do Santos F. C., fotos, um DVD com mensagens de jogadores do atual elenco santista, um quadro de Pelé, pelo artista
Paulo Consentino, entre outras relíquias.
Então chegou a hora da estrela ir embora. Rapidamente, dirigiu-se ao carro, cercado por um cordão da guarda municipal. No ar, Pelé deixou uma frase, dita em inglês, na entrevista à televisão
palestina. "Todos nós almejamos a paz. Espero que tenhamos paz um dia". Que seja pela arte de um rei.
Pelé no momento em que lacrava a cápsula do tempo que será aberta daqui a 30 anos em seu centenário
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
Carinho
Apesar do mistério sobre quantos e quais itens serão expostos no Museu, Pelé deixou escapar um dos que guarda com mais carinho: o caixote de engraxate. "Foi o primeiro dinheiro que ganhei para ajudar
a minha família e foi o primeiro passo que eu dei pra saber que tinha de ser honesto e trabalhar. Significa muito para mim".
Recursos
Dos 20 milhões necessários para toda a obra, ainda falta a metade. Mas para o presidente da organização Ama Brasil, responsável pela captação dos recursos, o montante estará completo até o final do
ano. "Já estamos captando, já tem gente na fita", disse, sobre o patrocínio. Também revelou que o próprio Pelé escolheu a Ama Brasil para ser a gestora do Museu, quando em funcionamento. "Aqui, futuramente, deverá ser o instituto do Pelé, que
cuidará do material, do acervo".
O início
Como a maioria das obras, a do Museu Pelé começará pelas fundações. O método utilizado, a princípio, será de baixo impacto, com a utilização de água e elementos pneumáticos. "Trata-se do
estaqueamento em um espaço com paredes deterioradas", lembrou o arquiteto Ney Caldatto, da Secretaria de Planejamento da Prefeitura e autor do projeto. Caldatto, que também assinou a reconstrução do Theatro Guarany, ainda disse que foram tirados laudos técnicos das outras construções antigas do entorno - a igreja e a estação do Valongo - e que também haverá acompanhamento das condições desses imóveis, durante as perfurações do solo, para as fundações.
O Museu Pelé ficará nos casarões do Valongo, do século 19 (Largo Marquês de Monte Alegre). Será dividido em três blocos. O primeiro, com lado para a Rua do Comércio, receberá o acervo
permanente e terá 1.232 m². O bloco do meio, onde ficará a entrada, a cafeteria e uma loja, terá 550 m². Já o terceiro bloco, com lado para a Rua Tuiuti, terá 1.405 m². Lá haverá um anfiteatro para 80 pessoas, em forma de bola de futebol,
funcionará o setor administrativo e contará com espaços para eventos e exposições temporárias.
Exemplar de A Tribuna também está na cápsula do tempo do museu
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
Casa em que Pelé nasceu vai ser reconstruída
Sandro Thadeu
A casa onde o Rei do Futebol nasceu e viveu os primeiros três anos de vida, em Três Corações (MG), será reconstruída. A previsão é que a obra seja inaugurada em 23 de setembro, quando se comemorará o
aniversário da cidade, ou em 23 de outubro, data do 70º aniversário de Pelé.
Como não havia fotos da época, engenheiros e arquitetos desenharam o imóvel, após as lembras de dois parentes do ex-jogador: a mãe, Dona Celeste, e o tio Jorge, informa o chefe do Serviço da
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Fernando Ortiz.
A empreitada está sendo viabilizada graças a um recurso enviado pelo Ministério do Turismo, obtido por meio de uma emenda parlamentar. "O Pelé se emocionou ao apresentarmos a réplica da casa, durante
a reunião que tivemos em maio com ele, em São Paulo", afirmou.
Se Santos ganhará o Museu Pelé, a cidade natal do Atleta do Século não quer ficar para trás: erguerá em breve o Museu Pelé do Futebol.
As principais relíquias da prefeitura de seu filho mais ilustre são as certidões de nascimento e de batismo do melhor esportista de todos os tempos.
Bauru - Em maio deste ano, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru (SP) - onde morou e iniciou a carreira antes de vir para Santos - aprovou o processo de tombamento da casa onde
morou Pelé. O imóvel está praticamente em ruínas. A ideia é transformar o local no Memorial do Esporte. |