Imagem: reprodução parcial da matéria original
O litoral de Anchieta
Costa e Silva Sobrinho
O poeta imortal dos Lusíadas,
quando, no canto sétimo, começou a narrar como haviam chegado á Índia as naus de Vasco da Gama, resolveu interromper a sua explanação para salientar
antes de tudo que aos portugueses, apesar de serem poucos, fora destinado pela Providência que muito fizessem em prol da santa Cristandade. Essa
passagem está nos seguintes versos da terceira estrofe:
"Assim do céu deitadas são as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade..."
Ser-nos-ia fácil, se fosse necessário, aduzir provas da realidade de semelhante afirmação.
O apostolado que os lusos empreenderam durante o aventuroso século das descobertas e conquistas
foi uma obra tão grandiosa que houve quem a julgasse "ainda mais vasta do que a fundação do
império" (padre Miguel de Oliveira, História Eclesiástica de Portugal, p. 178).
Em terras de Santa Cruz, para só nos referirmos ao Brasil, o primeiro pregão do Evangelho
levantaram-no os franciscanos chegados com frei Henrique de Coimbra na frota de Cabral. Dessa trivialidade vulgaríssima não há quem não esteja
informado.
Veio depois o trabalho de instrução e defesa dos indígenas, no qual empregaram os jesuítas os
maiores esforços. A evangelização dos índios foi glória sobretudo da Companhia de Jesus. Em missões contínuas que atingiram a 28, de 1549 a 1604,
ela construiu os verdadeiros alicerces da nossa civilização.
A terceira dessas missões, isto é, a que partiu de Lisboa
em 8 de maio de 1553, interessa-nos particularmente hoje. Vamos, pois, dedicar-lhe algumas ligeiras linhas.
Gastava-se então com vento em popa e maré favorável dois meses do reino à Bahia. Por isso, a
aludida missão chegou à Bahia de Todos os Santos em 13 de julho desse ano. Vinha na comitiva do segundo governador geral d. Duarte da Costa. E
compunha-se de três padres, que eram: Luís da Grã, Ambrósio Pires e Braz Lourenço; e de quatro irmãos, a saber: João Gonçalves, castelhano; Antonio
Blasquez, castelhano; Gregório Serrão e José de Anchieta, canarino. Todos estes mais tarde se ordenaram.
Depois de abastecido o pequeno baixel em que vinham, embarcou nele o padre Afonso Braz, superior
da casa, deixando em seu lugar o padre Braz Lourenço. Desaferrou o naviozinho e, tendo apanhado no alto mar forte tempestade, aportou a S. Vicente
em 24 de dezembro de 1553.
Anchieta corria por esse tempo nos seus 19 anos alegres como as alvoradas das andorinhas; pois
nascera a 19 de março de 1534 em S. Cristovão de La Laguna, na Ilha de Tenerife.
Em Coimbra, quando dois anos antes entrou na Companhia,
já via claro até nas questões mais difíceis. Conseguiu logo falar e escrever um português singelo, correto e claro. Afinal, pelo seu notável
engenho, passou a ser um dos melhores estudantes daquele tempo.
Aprendeu as primeiras regras da dialética, mas, por doença, não pôde chegar às outras partes da
Filosofia. Doença, aliás, proveniente de uma escada que lhe caíra em cima, produzindo um pequeno deslocamento da coluna vertebral e que o deixou um
pouco abaulado nas costas, ou "rendido pelas costas",
segundo a expressão singular do padre Simão de Vasconcelos. (Anchieta, 1, p. 89).
Esta doença, observou o padre Serafim Leite, teve para o Brasil suma importância. Foi a causa
determinante da sua vinda, na esperança de cura; e se não se curou totalmente, melhorou imenso e realizou um apostolado profícuo e glorioso. (Hist.
da Comp. de Jesus no Brasil, 2, p. 481).
Vemos de fato o nome de Anchieta luzir em todos os lugares por onde passou, mormente ao lado do de
Nóbrega na Capitania de S. Vicente.
Galgando a sumidade da serra de Paranapiacaba, vai fundar com outros irmãos o Colégio de
Piratininga em 1554, onde lhe coube o ensino da gramática latina. Transferido esse colégio para S. Vicente em 1561, aqui
continuou a lecionar a mesma disciplina.
Da atividade de Anchieta não havia extremos que não fossem de esperar. Completamente embebido nos
misteres da catequese e do ensino, multiplicava-se ele entre as vilas do litoral e a de S. Paulo.
Certa vez chegou a naufragar no rio da Bertioga junto com
Aires Fernandes e outros passageiros.
Conhecia palmo a palmo os carreiros ínvios da serra do Mar. Um deles recebeu até a denominação de
Caminho do Padre José.
O caminho de S. Vicente a Conceição de Itanhaém, através da Praia Grande,
foi entretanto onde empregou as suas fadigas e ocupações mais prezadas. A esse propósito escreveu Vasconcelos:
"É a praia desta costa, tão áspera e dura,
que um carro bem carregado não deixa sinal nela, e comumente embaraçada com armações desfeitas de corpos de baleias, que ali se dão à costa, cujos
ossos perturbam, impedem a praia e fazem o caminho mais áspero; contudo, esse mesmo caminho era a recreação de José, a pé, comumente descalço,
costume seu em todas as mais peregrinações. A este lugar chamava ele o seu Peru, pelas riquezas que nele achava".
(obr. cit., 1, p. 177).
Infelizmente não pôde Anchieta aproveitar muito aquela bonançosa paz, aquele mar resplandecente da
Praia grande, aquelas brisas fluídas, aquele ar límpido recortado pela candura veloz das gaivotas.
Transcorridos poucos meses da sua vinda, sucedeu chegar ao porto do Rio de Janeiro a expedição de
Nicolau Durand de Villegagnon, com o projeto de atacar as possessões portuguesas da América do Sul.
Ali, pois, num ilhéu denominado Cerigipe (tesoura de siri), a que primeiro chamaram Forte
Coligny e mais tarde Fortaleza de Villegagnon, estabeleceu-se o almirante francês.
Não concordaram, é claro, os portugueses com essa violação dos seus domínios. Na verdade,
faleciam-lhes as forças para de pronto repelir tais intrusos. Mas conseguiram desbaratá-los cinco anos depois.
Expulsos da ilha, espalharam-se os franceses pelas cercanias, no continente, tornando-se fecundos
mananciais de novas discórdias. E exacerbaram tanto a animosidade dos índios contra os portugueses que estes, em S. Vicente, receosos de alguma
acometida, procuraram obstruir a própria entrada da barra. (Docs. Ints., vol. 72, p. 42).
Os tamoios, aliados aos franceses e inimigos figadais dos
portugueses, rondavam Piratininga. A situação era de constante perigo e de sobressaltos. Por esse motivo, comunicava o padre Anchieta em 12 de junho
de 1561 ao padre geral Diogo Lainez: "Por estas causas determinaram os moradores de
Piratininga, com alguns mestiços, vendo que não se acudia a estes males, fazer guerra a um lugar dos inimigos fronteiros, para que pudessem viver
com alguma paz e sossego". (Cartas, XII, p. 171). Realmente, na sexta-feira da Paixão,
dia 4 de abril de 1561, haviam investido contra os tupiniquins, causando-lhes verdadeira dizimação.
Insurgindo-se um ano depois os tupis contra os portugueses, sitiaram Piratininga durante dois
dias. Embora vencidos, continuava a não existir paz.
Pôs-se Nóbrega a refletir naqueles tristes acontecimentos, e recordou que a violência provocava a
violência; que diplomacia, brandura e clemência eram preferíveis às lutas a mão armada e à cólera cega; que com moderação e bondade seria mais fácil
captarem a amizade daqueles selváticos inimigos. E, movidos pelo clarão interior desses sentimentos, ele e Anchieta nem pensavam talvez que haviam
de ligar os seus nomes a um episódio soberbo da nossa história, o do Armistício de Iperoig.
A Confederação dos Tamoios, que inspirou ao poeta e diplomata Visconde de Araguaia uma de suas
obras mais primorosas, atroava num só grito de guerra o litoral e as selvas das plagas de Ubatuba.
A fim de congraçar aqueles índios, partiu Nóbrega a 18 de abril de 1563, em companhia de Anchieta,
para Iperoig. Iam ambos cheios de coragem, da coragem serena dos autênticos heróis. Cinco dias permaneceram na
fortaleza da Bertioga.
A canoa que os levava era de José Adorno. Partindo dali com bom vento,
levantou-se-lhe logo tamanho temporal que os obrigou a unhar âncoras numa ilha chamada de S. Sebastião, deserta e cheia de tigres. Estavam mais ou
menos a vinte léguas do inimigo.
A 5 de maio chegavam enfim a Iperoig, onde ficava a aldeia do chefe Coaquira, entre S. Sebastião e
Ubatuba, cerca de cento e cinqüenta e cinco quilômetros a Nordeste de Santos. No dia seguinte, 6 de maio,
conta-nos Anchieta, "vieram todos em três canoas a tratar sobre as pazes",
e de fato assentaram as principais condições para a cessação das hostilidades.
Domingo, dia 9, armaram um altar num bosque próximo dali, e celebraram a primeira missa. Só a 14
conseguiram alojar-se numa cabana de ramos de árvores. Em 23, deslizando velozmente à superfície das águas, chegavam duas canoas. Grande perigo de
vida correram os padres nesse momento. Trazia uma delas o dono da choupana, que queria sem mais nem menos que a desocupassem. Anchieta, porém, com a
amizade do velho chefe Pindobussú, que ali estava na outra canoa, conseguiu acalmar a descabida exigência. Foi o seu primeiro triunfo.
Comandadas por Aimbiré, grande amigo dos franceses, arribavam a Iperoig, no dia 27, outras dez
canoas. Vinham do Rio de Janeiro. Nesse dia as negociações de paz quase acabaram em carnificina.
A 9 de junho, véspera de Corpus Cristi, Nóbrega e Anchieta andavam pela praia, quando viram perto
deles uma canoa.
Atemorizados, correram os padres para a cabana de Pindobussú, onde, em vez do velho chefe, foram
dar com um filho deste, por sinal que "um dos mais insignes em maldade que há entre aquela
gente". Defrontaram-se os padres mais uma vez com a morte. Não sem motivo escreveu Anchieta: "...
cada dia bebíamos muitos tragos de morte..." (Cartas, XV, 213).
O desenrolar das negociações ia exigir afinal um imenso sacrifício dos dois embaixadores, era a
separação. Um deles devia partir, ficando o outro sozinho como refém entre os índios desconfiados. São palavras de Anchieta:
"Não nos deixaram vir a ambos, nem nós
outros lhes instamos por isso, todavia pareceu bem que se viesse o padre Nóbrega, e ainda que a ele foi muito caro, por deixar-me só, esperando que
ainda nos poderia caber alguma boa sorte de ser comidos por amor do Senhor, contudo eu lhe instei muito que se viesse e só me deixasse sua bênção e
mandamentos, que lá desse minha vida ao Senhor e pelo Senhor dela, e assim se teve de embarcar, despedindo-se de mim com muitas lágrimas, sem eu lhe
corresponder com algumas..." (Cartas, 215). Para fazer companhia a Anchieta, deixou
Nóbrega em seu lugar Antonio Luis, a cuja família e escravos os tamoios tinham dado sumiço.
Partiu destarte o padre Nóbrega a 21 de junho de 1563. Com a sua vinda muitas coisas se ordenaram
de grande importância para aquela paz que Anchieta, para consegui-la, imolava a própria vida.
E não temia a morte o solitário de Iperoig. Chegava mesmo a desejá-la, para não pecar contra a
castidade, naquelas paragens de bárbaros, onde se defrontava com a languidez sensual das índias, e muitas destas bem jovens, estalando de seiva sob
o magnífico sol do Brasil...
Seria melhor, para vencer a luta contra o esplendor e os eflúvios da carne, desviar a atenção para
outro rumo. Tornar-se encouraçado aos prazeres dos sentidos. Enganar o corpo, levando-o suavemente pela alma, pelos atrativos do espírito, a
centralizar suas energias em causas mais altas e puras. Tornou-se desse modo poeta, escrevendo o Poema da Virgem.
Breve e sentida, a dedicatória desse poema foi escrita quando já estava Anchieta fora de perigo. O
voto que fez de escrever um poema em honra da Santíssima Virgem, se ela o livrasse das sugestões da sensualidade, estava enfim cumprido. Não sabemos
resistir ao prazer de copiar aqui a versão portuguesa do texto latino da dedicatória. Fê-la o padre Armando Cardoso, tradutor elegantíssimo do
Poema inteiro:
"Eis
os versos que outrora, ó Mãe Santíssima
te prometi em voto,
vendo-me cercado de feros inimigos.
Enquanto entre os tamoios conjurados,
pobre refém, tratava as suspiradas pazes,
tua graça me acolheu
em teu materno manto
e teu poder me protegeu intactos corpo e alma.
À inspiração do céu,
eu muitas vezes desejei penar
e cruelmente expirar em duros ferros.
Mas sofreram merecida repulsa meus desejos:
só a heróis
compete tanta glória!"
Consta que os versos desse poema Anchieta os escreveu na areia macia da praia, para melhor
fixá-los na memória. Depois, decorridos alguns meses, os passou para o papel em S. Vicente.
Tornou-se por isso o primeiro cultor da poesia na América Portuguesa. Demais, foi ele humanista,
historiador, professor, tupilogo, dramaturgo, pregador, epistológrafo, enfermeiro e até fazedor de alparcatas.
A alma de Anchieta parece que paira até hoje, como protetora indefessa
(N.E.: = infatigável), sobre o povo do litoral
paulista.
Anchieta compondo o Poema da Virgem
Imagem: bico-de-pena
de Lauro Ribeiro da Silva (Ribs), publicado com a matéria original e depois também no livro Romagem pela Terra dos Andradas
Reunindo em admirável consonância o pretérito ao presente, a Assistência ao Litoral de Anchieta,
notável instituição fundada por d. Paulo de Tarso Campos, quando bispo de Santos, continua hoje em dia a obra apostólica de Anchieta.
Que dias de bonançosa felicidade eram aqueles que d. Paulo passava em visita pastoral entre os
nossos praianos!
- "Gente simples e boa",
conceituava S.Excia. a respeito deles. E quase sempre repetia, como que para imprimir um particular destaque ao segundo objetivo:
- "Gente boa, gente que eu admiro e amo".
Essa enorme benquerença fazia-o preocupar-se então com o litoral abandonado e decadente. Todos os
seus problemas se lhe tornaram conhecidos. A falta de meios de transporte. A lavoura, com a sua policultura. Aquelas terras excelentes, produtoras
de banana, arroz, chá, cana de açúcar, feijão, mandioca, milho e laranjas. A indústria do chá em Registro, da cerâmica no bairro de São Francisco,
das esteiras na região do Sul, das madeiras, dos minérios e do peixe denominado manjuba ou aletria, nome este que provém de ser ele miúdo, comprido
e delgado.
A pesca, a situação econômica e social dos pescadores, os quais viviam em casebres escassos de
todo o conforto, sem instrução e na maior estreiteza de recursos. O comércio limitava-se aos produtos da agricultura e da pesca.
O caiçara simples e bom, na sua pequena roça, com o seu trabalho mal remunerado, vivia num estado
quase que de penúria, pois de nível baixíssimo era a sua vida econômica.
Essa situação tocara fundo na alma de d. Paulo de Tarso. Julgava ele aquela gente digna mesmo de
uma epopéia.
Ocorre-nos ainda agora a esse propósito uma cena tocante. Passou-se em S. Sebastião, naquele bom
recanto do nosso litoral, na cidade vigilante de S. Paulo e do Brasil.
Um homem magro, de pele tostada, de rosto sumido e engelhado, de mãos descarnadas, de cabelos
encanecidos, fora visitar o prelado em casa do vigário. Era um velho pescador que com profundo acatamento e devoção queria receber uma bênção do seu
Pastor.
Com a solicitude sempre alerta do seu carinho, recebera-o d. Paulo. Conversaram sobre assuntos
locais. E em dado momento o pescador, discreteando das suas labutas, disse serenamente:
- "Conheço todas essas águas, todas! Conheço esses ventos! Minha vida é uma velinha acesa no meio
da tempestade!"
Essas palavras do caboclo, tão singelas e espontâneas, penetraram no coração do bispo, que se
abria em sentimentos caridosos e paternais.
Transcorreram vários anos. E um dia, relembrando-se desse fato, ainda observava d. Paulo:
- "As expressões daquele homem eram dignas de Homero!"
Da sua benquerença afetuosa ao povo do nosso litoral resultara a mais acrisolada dedicação. Em
cada habitação, em cada tugúrio por onde passava, deixava ele uma réstia do seu coração, a luz de seu conselho, acarinhando as crianças, guiando as
mães na faina caseira, depositando na alma dos homens uma semente de novas energias e de fé.
Foi assim que, num gesto de caridade apostolar, fundou então d. Paulo a Seção de Caravanas, dentro
da Federação Mariana, como resultado prático desta tese: O apostolado da Filha de Maria, que fora apresentada na semana mariana de 1936.
A Seção de Caravanas tinha por finalidade colaborar com o clero da diocese num vasto plano de Ação
Católica. Organizou ele mesmo o quadro social e orientou a seção de Caravanas quanto à formação das caravanistas.
Humildade, obediência, pureza, caridade eram as virtudes necessárias à Filha de Maria que quisesse
se dedicar ao apostolado das caravanas. E os seus deveres consistiriam numa grande prudência nos trabalhos. Evitariam as alegrias luminosas e
derramadas, a familiaridade, o sopro letal do pessimismo, as alusões à política ou a assuntos partidários. Deviam, enfim, acatar as determinações
dos vigários, assistir às reuniões mensais da seção e fazer, pelo menos, uma caravana por mês.
Quanto às normas de ação, deviam elas, como colaboradoras do vigário, pôr-se por meio dele em
contato com a população de cada paróquia litorânea.
Os trabalhos das caravanas compreendiam em geral reuniões com as associadas marianas, aulas de
catecismo, visitas, distribuição de jornais e revistas, de roupas e agasalhos.
Às reuniões, além das Filhas de Maria, podiam assistir outras moças estranhas à agremiação.
Cumpria, destarte, às caravanistas, procurar não só a formação religiosa das moças, senão também a sua formação social, ensinando-lhes preceitos de
higiene, elevando-lhes o nível cultural por meio de boas leituras.
Nas suas viagens, deviam elas observar as culturas existentes, o valor do solo e do subsolo, tomar
notas dos meios de transportes, da geografia física, da história dos monumentos religiosos, das cidades antigas, assim como também da educação,
higiene, padrão de vida, índole do povo, vida social, folclore etc.
Tinham ainda no seu programa as visitas domiciliares, nas quais auxiliavam as famílias no
reajustamento das desuniões, e levavam aos pobres, aos doentes e aos encarcerados, o conforto de uma boa palavra.
Após 4 anos de trabalhos e de atentas observações durante as visitas pastorais, concluíra d. Paulo
que não bastavam para a reconquista da mocidade feminina do litoral os trabalhos das caravanas.
Pensara ele então em trazer as moças do litoral para Santos, onde, além dos cuidados especiais que
lhes seriam dispensados para o revigoramento de sua saúde, viriam também fazer cursos intensivos de formação intelectual, social e religiosa.
Assim, no mês de janeiro de 1939, foi feita a primeira experiência com um grupo de 30 moças. E o
êxito foi completo!
Não levantando mão da grande obra um só momento, e multiplicando sempre os seus esforços, tivera
d. Paulo nessa altura o ensejo de estudar um plano de estágios sucessivos, em sede própria, abarcando todas as regiões do litoral.
E destarte, um ano depois, fundava uma entidade nova, que recebia a denominação de Assistência ao
Litoral de Anchieta, ou melhor, como dizem todos, a Ala, instalada oficialmente a 6 de abril de 1940, à Av. Conselheiro Nébias n. 795.
Constituída sob o patrocínio de N. S. da Conceição, a quem o autor do Poema da Virgem
rendia o culto mais fervoroso, destinava-se a Ala a irradiar e intensificar os benefícios da civilização cristã entre as populações do litoral, por
meio do levantamento de seu nível espiritual, pela difusão da instrução, bem como pela educação física e pela melhoria das condições sanitárias e do
padrão de vida.
A Ala, cujos trabalhos se entrosam nos da Federação Mariana Feminina, conta pelos seus Estatutos
com a prestadia colaboração desta última. Filhas de Maria e alaístas encontram-se, pois, irmanadas em frutuoso labor.
Após a transferência de d. Paulo para a diocese de Campinas, passou a Ala a ser dirigida pela
Congregação das Cônegas de Santo Agostinho. A senda até agora percorrida e coroada de tantos triunfos não sofreu alteração.
O seu campo de ação é a faixa litorânea paulista. As alaístas e as caravanistas da Federação
Mariana são as suas operárias. A força motriz dos seus trabalhos está no amor do próximo e no culto da Virgem Santíssima. enfim, Anchieta é o seu
defensor. |