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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ASSISTÊNCIA
Asilo de Órfãos/Casa da Criança

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Tendo começado em 1889 como Associação Protetora da Infância Desvalida/Asilo de Órfãos, esta instituição depois se transformaria na Casa da Criança, com instalações na Avenida Rodrigues Alves. A ela se refere esta matéria, publicada na página 7 do jornal santista A Tribuna, em 28 de dezembro de 1924, na seção Crônica da Cidade (ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Asilo de Órfãos

Não conhecem bem os santistas o tesouro que possuem no Asilo de Órfãos, onde cerca de duzentas crianças encontram carinhoso agasalho e solícita assistência.

O grande, o formidável esforço que é aquela realização de iniciativa particular é, incontestavelmente, um eloqüente índice de nosso progresso e de nossa grandeza, desde que se ateste bem no que ela é em si mesma e no que ela é como fator de unidades sociais capazes de influir poderosamente na reconstrução do caráter nacional pela construção do lar ou da família.

Há, em verdade, estabelecimentos de educação de menores desvalidos mais faustosamente instalados, mas, dificilmente, se encontrará um que com tanto desvelo cure do espírito e do corpo desses pequeninos que, abruptamente, se viram sozinhos no mundo, sem esteio e sem leme.

Não raro, na ânsia de estabelecer paralelos que se não justificam, confrontos que são irrisórios, voltamo-nos para as prodigiosas criações americanas, deprimindo o que é nosso, desvalorizando o que nós mesmos criamos, diminuindo o que basta para engrandecer-nos diante dos europeus e dos próprios americanos, que são sempre o nosso termo de comparação, esquecidos de que, ainda, entre nós as fortunas particulares não atingiram o desenvolvimento que lá atingiram, de sorte a permitirem as mesmas realizações com a mesma grandiosidade.

E é, evidentemente, por isso mesmo que o nosso esforço é mais digno de estima, falando muito alta eloqüentemente de nossa sentimentalidade e do nosso espírito de filantropia, se não quisermos dizer do alto grau do nosso descortino.

Os orfanatos e os asilos são, nos tempos correntes, o mais delicado problema de educação, exigindo como exigem os mais acurados estudos de quem se propõe a dirigi-los, tantas são as minúcias pedagógicas que o encarecem, tantos são os fatores de pura afetividade que se apresentam; e, pois, realizá-los, vencê-los, marcar meia vitória pelo menos em tão dura peleja é dar aos contemporâneos e aos pósteros uma prova concreta e imperecível do valor de uma geração inteira.

Se é tarefa delicada educar, educar órfãos é missão de uma delicadeza sem igual; nas escolas o mestre é, apenas, o auxiliar dos pais; nos orfanatos ele é, em verdade, o pai afetuoso obrigado a acudir, valendo-se apenas de seus recursos pessoais, a uma multiplicidade de temperamentos, de pendores, trabalhados pelas mais diversas e insidiosas influências ancestrais.

Nesses estabelecimentos, quem coordena esses esforços, esses trabalhos, dando-lhes eficiente diretriz; quem, em última análise, forma o caráter dos asilados, é o diretor, e este, sem um cérebro potente e sem um coração magnânimo, jamais será capaz de mandar excessos de doutrina, que seja esta a da pura religiosidade, quer seja de excessiva laicidade ou de pernicioso pragmatismo.

Ora, o Asilo de Órfãos realiza exatamente todas essas condições, lançando seus alicerces num grupo, apenas, de homens, por que, ainda, não são bastantes os que podem separar de seus haveres o que farte as instituições pias, e muito poucos os que podem legar o que baste à vida dos asilos; o seu corpo docente retempera, na suavíssima doutrina de Jesus, os pequeninos que os fados vergastam desde o berço, os esforços dessas piedosas criaturas são superiormente coordenados por um espírito de elite e por uma alma boníssima como a de seu devotado diretor, o dr. Victor De Lamare; e essas crianças crescem, desenvolvem-se entre as paredes branquíssimas de um estabelecimento modelar, onde a pedagogia moderna, com a sua acuidade, não poderia descobrir senões capazes de perturbar o vitorioso desdobrar de um programa educativo perfeito.

Os nossos lares já agora se desenvolvem e prosperam à sombra de olhos afetuosos, que por assim dizer se abriram no Asilo, e operam o milagre de os restituir à bonançosa quietude que o modernismo tentou arrebatar-lhes; as nossas escolas; as nossas repartições públicas; os nossos escritórios comerciais; em tudo o que, enfim, se manifesta o engenho humano, há representantes seus, almas que se ufanam de sua formação nesse pio estabelecimento, que os paulistas, que os brasileiros não conhecem como deviam.

Percorrei os seus dormitórios, os seus refeitórios, as suas salas de aulas, as suas oficinas, os seus recreios; examinai detidamente, minuciosamente, todos os recantos desse soberbo monumento da piedade santista; auscultai esses coraçõezinhos, que pulsam confiadamente na aula e no recreio, e os que, fora do asilo, para ele se voltam agradecidos no êxito que alcançam na vida prática; verificai e auscultai, e tereis, vós todos, a um tempo só, a prova docemente esmagadora de quanto podem o coração e a ciência, aliados para o bem da humanidade.


Uma das faces do belo pavilhão escolar, anexo ao Asilo de Órfãos, inaugurado, com toda a solenidade, no dia 25 do corrente

Foto e legenda publicadas com a matéria original

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