Arquiteto Carlos Prates (à dir.) diz que restauro do
Guarany incrementará a Praça dos Andradas
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria
TEATRO GUARANY
Ensaiando a restauração
Anteprojeto da Prodesan para recuperar prédio de 1882 já foi aprovado pelo
Condepasa. Meta, agora, é concluir projeto executivo até o final do ano
Evandro Siqueira
Da Reportagem
A Prodesan abriu esta semana as cortinas que guardavam o
projeto de restauração do Teatro Guarany. Por enquanto, os personagens do espetáculo são representados apenas por arquitetos e pesquisadores. Mas o
roteiro já é digno de aplausos.
Na última quarta-feira, após receber a notícia de que era seu o projeto escolhido pelo
prefeito Beto Mansur, o chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Prodesan, Carlos Prates, revelou a A Tribuna como foi a
elaboração do plano de recuperação e transformação do antigo teatro em uma escola para artistas.
"Foram dois meses de trabalho intenso e já estamos sendo recompensados", comentou
Prates, debruçado sobre as plantas do anteprojeto, já aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico de Santos (Condepasa).
"O próximo passo é iniciar o projeto executivo e tentar terminá-lo até o final do ano.
Mas só poderemos fazer isso depois que o imóvel for limpo e as paredes, escoradas".
Comprado pela Prefeitura em junho do ano passado
(N.E.:2003), o Guarany encontra-se hoje em situação deplorável. Visto do alto, mais parece uma selva, devido ao matagal
que toma conta do terreno.
A recuperação do imóvel está estimada em R$ 4 milhões. Para bancar a obra, Mansur
tenta obter recursos junto a empresários, Governo do Estado e por meio da Lei Rouanet, que incentiva a cultura.
Início |
"As pesquisas histórica e fotográfica são a fonte primária, a base intelectual da restauração"
|
Alexandre Remedio
Arquiteto da Prodesan
|
Pesquisas - A elaboração do projeto de restauração do teatro começou em agosto
do ano passado, a pedido de Mansur. A equipe de arquitetos da Prodesan teve que correr contra o tempo para entregar as plantas em outubro.
O prazo curto, no entanto, não impediu a realização de uma aprofundada pesquisa de
campo, que incluiu visitas a bibliotecas e entrevistas com pessoas que chegaram a freqüentar a primeira casa de espetáculos da Cidade
(N.E.: na verdade, é o segundo teatro santista).
"As pesquisas histórica e fotográfica são a fonte primária, a base intelectual da
restauração", destaca o arquiteto Alexandre Remedio.
Experiente no assunto, por ter participado das restaurações da
Basílica de Santo Antonio do Embaré e da Capela Dom Bosco na Escolástica Rosa, o arquiteto Fernando Gregório diz que
elaborar o projeto "foi como montar um quebra-cabeça".
A maior dificuldade foi a falta de imagens das dependências internas do Guarany, o que
obrigou a equipe a pensar em algo novo para o interior do teatro. A única fotografia encontrada pelos arquitetos está publicada na edição de 7 de
setembro de 1936 de A Tribuna. Foi tirada do palco para a platéia, durante as comemorações pelo primeiro centenário da
Santa Casa de Misericórdia de Santos.
"A foto é útil porque mostra a localização das colunas. Duas delas, aliás, foram
encontradas no imóvel e os nossos planos são de recuperá-las e reutilizá-las", explica Prates.
Mosaico cultural - Quando fala da recuperação do Guarany, o arquiteto procura
dar amplitude à inciativa. Diz que, depois de pronta, a obra colocará a Praça dos Andradas, onde fica o teatro, "no eixo da
revitalização do Centro".
"Tudo na praça e ao redor dela foi
recuperado", afirma Prates, referindo-se à Casa de Câmara e Cadeia e ao prédio restaurado recentemente pela Companhia
Piratininga de Força e Luz (CPFL). "Com o Guarany, é como se estivéssemos fechando um mosaico cultural".
Pilastras originais foram encontradas no terreno;
apesar de danificadas, podem ser recuperadas
Foto: reprodução/Prodesan, publicada com a matéria
Teatro e escola de artistas funcionarão harmonicamente
A criação da escola de teatro não impedirá o Guarany de ser palco de espetáculos
teatrais de pequeno porte. O espaço para as apresentações ficará no piso térreo, que terá capacidade para 213 espectadores. No primeiro e segundo
andares funcionará a escola.
"Tudo foi pensado para, quando preciso, haver formas de conciliar aulas e peças
teatrais", conta a arquiteta Bianca Pellegrini, que também integra a equipe da Prodesan. Para isso, haverá uma entrada destinada exclusivamente a
alunos, que poderão circular pela escola sem atrapalhar o espetáculo.
No térreo, o palco será mantido no lugar original, ou seja, de frente para a Praça dos
Andradas. Haverá ainda um foyer (espécie de sala de espera para o público) logo após a entrada principal.
"A estrutura interna do teatro tem que ser atual, apesar de se tratar de uma
restauração. Não podemos, por exemplo, colocar cadeiras de madeira para o público, que são extremamente desconfortáveis", explica o coordenador do
projeto, Carlos Prates. Também será instalado um elevador, a fim de facilitar o acesso de deficientes físicos aos pisos superiores.
Amarelo-imperial - Por fora, a idéia é pintar a fachada de amarelo-imperial, um
tom ligeiramente mais claro que o utilizado na Estação Ferroviária do Valongo. Portas e janelas serão em madeira.
"Ainda vamos pesquisar o tipo de madeira que se usava na época e, se possível, usar o
mesmo na restauração", diz Tiago Morgero, outro membro da equipe.
O projeto visa recuperar as características que o teatro tinha em 1910, ano em que
passou pela primeira reforma.
A estátua da Musa das Artes, que fica no topo do imóvel, também será mantida. "Está
faltando o braço esquerdo, mas nós vamos reconstruir", garante Prates.
Uma das características mais marcantes do passado que serão mantidas é a forma de
escrever a palavra teatro. O imóvel trará a inscrição Theatro Guarany, como no início do século passado. |