Os patuscos do bloco Pé no Fundo inventaram em 1926 o banho de mar à fantasia
Foto publicada com a matéria
A originalidade santista do Dona Dorotéia
Foi num domingo anterior ao carnaval de 1922 que
aconteceu o primeiro banho de mar a fantasia registrado pela imprensa santista, por iniciativa do Bloco Pé no Fundo, do Clube
Internacional de Regatas. Após o desfile, na areia da praia do Gonzaga, os foliões com fantasias de papel foram tomar banho de mar. Naquele
mesmo ano, o pessoal do C. R. Saldanha da Gama também promoveu um desfile na sexta-feira anterior ao tríduo momístico,
sendo que após a apresentação os foliões mergulharam nas águas defronte da sede do clube da Ponta da Praia.
Já em 1926 apareciam as figuras da noiva e do noivo
Foto publicada com a matéria
No carnaval de 1923, coube ao Clube de Regatas Santista
realizar num domingo antes do carnaval, em frente à sua sede então localizada na Bocaina (do outro lado do Estuário) um banho de mar a fantasia. A
turma do Saldanha também promoveu o seu segundo desfile na Ponta da Praia, com o mergulho no mar, voltando a repetir a festa pré-carnavalesca em
1924 e 1925, com o incentivo do Lorde Gorila (o carioca Luís Marciano Vieira Carvalho).
Em 1920, os patuscos Javali e Carneiro Argentino, do Bloco Pé no Fundo
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Foi naquela época que a divertida patuscada recebeu a denominação Dona Dorotéia,
Vamos Furar Aquela Onda?, havendo várias versões sobre a origem do seu nome, dentre as quais a de que foi tirado de uma peça do jornalista e
teatrólogo Chico Sá, levada à cena em meados da década de 20, no antigo Teatro Guarany.
Desfile dorotiano em 1926
(na legenda: Santos, Clube de Regatas Saldanha da Gama, banho à fantasia)
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Assim é que, numa promoção do Clube de Regatas Saldanha da Gama, o desfile de Dona
Dorotéia começou a ganhar projeção a partir de 1926, tornando-se com o passar do tempo uma das maiores atrações carnavalescas da região da
Baixada Santista.
Grupo Caçadores de Veado, na Dorotéia de 1926
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Nas décadas de 20, 30 e 40, o desfile foi realizado na Ponta da Praia, culminando com
o célebre mergulho da matrona Dorotéia, do noivo e da noiva (personagens principais da festa), do antigo trampolim localizado
quase em frente à sede do tricolor da Ponta da Praia.
Batedores (de carteiras) abrem o desfile dorotiano em 1934
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
A tônica do desfile era a patuscada, com seus blocos improvisados, formados por
foliões ostentando fantasias de papel de seda, crepom ou celofane, levando o calção por baixo para o mergulho apoteótico.
Três blocos dorotianos em 1939
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Seguindo uma antiga tradição, os blocos da cidade eram integrados apenas por homens,
em sua maioria travestidos de mulher. Além da disputa entre eles, havia também a concorrência dos foliões avulsos, que se apresentavam imitando
algum artista de cinema ou satirizando políticos.
Bloco das Loirinhas, no desfile de Dona Dorotéia em 1934
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Nos anos 40, os blocos evoluíram, mostrando seus foliões em fantasias de papel e de
tecido, com temas, marchas próprias e caminhões alegóricos.
Ademaristas, na patuscada dorotiana de 1947
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Na década de 50, o desfile havia sido transferido para a praia do Gonzaga, onde foram
lançados temas belíssimos, fantasias luxuosas e carros alegóricos deslumbrantes. É evidente que, paralelamente, também se apresentavam os blocos de
sátira, na base do vai quem quer e como puder, com suas fantasias improvisadas, sem ostentação.
Em 1948, Dona Dorotéia já reunia multidões e incluía desfile de carros
alegóricos, como a imitação do bonde 37, levada pelo grupo Dengosas do Marapé
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Embora promovido pelo C. R. Saldanha da Gama, o tradicional desfile pré-carnavalesco
passou, com a oficialização do carnaval de Santos, a contar com o apoio do antigo Conselho Municipal de Turismo e, depois, da Secretaria de Turismo
de Santos.
Dona Dorotéia interpretada por Waldemar Esteves da Cunha em 1948
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Em 1956, contou com cerca de 22 blocos classificados (entre os organizados e os
patuscos) e, em 1960, foi dividido em duas categorias: Arte Carnavalesca, para os blocos organizados e Patuscada, para os
improvisados.
Bloco Favoritas do Sultão, na festa de 1952
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Apesar da realização no Gonzaga, os foliões voltavam em caminhões para a Ponta da
Praia, onde acontecia o tradicional mergulho do trampolim nas águas do canal, o que se constituía o ponto pitoresco da festa.
Em 1952, as Gueixas do Atlanta faziam sucesso
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Em 1961, o desfile Dona Dorotéia voltou a ser realizado na Ponta da Praia, com
o palanque oficial instalado em frente à sede do Saldanha, quando houve apenas uma categoria de blocos concorrentes. Levado pra a praia do
Boqueirão, em 1962 (do Canal 4 ao Canal 3), pela orla da praia, o desfile entrava em fase de decadência, registrando a participação de apenas oito
blocos.
Bloco Romanos do Campo Grande, em 1952
Foto: reprodução de História do Carnaval Santista, de Bandeira Júnior,
junho de 1974, gráfica A Tribuna, Santos/SP
Nos anos de 1967, 68, 69 e 70 não houve o Dona Dorotéia. Foi realizado em 1971,
voltando à Ponta da Praia, vindo a comemorar seu cinqüentenário em 1973, contando, inclusive, nos anos seguintes, com a participação de mulheres,
quebrando o antigo tabu de só permitir a presença de homens.
É importante registrar que, na fase inicial do Dorotéia, a abertura do desfile
era feita por foliões a cavalo; depois veio a fase de ciclistas; e, posteriormente, a dos motoqueiros. Quanto aos blocos, ainda predominam duas
categorias: Patuscos e Não Patuscos, inclusive com os foliões avulsos.
A festa, nos anos finais do século XX
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