O Paço Municipal, na época de sua inauguração
Foto: coleção Laire Giraud
Comissão Central de Festejos - Além de subcomissões, a Comissão Central de Festejos estava assim
constituída: Dr. José de Souza Dantas, presidente; Dr. Ismael Coelho de Souza, Com. Aristides Corrêa da Cunha, Murilo Veiga de Oliveira,
Rodrigo Pires do Rio Filho, Manuel Hipólito do Rêgo e Prof. Domingos Aulicino. |
Como a Cidade festejou o primeiro centenário
Foi no dia 26 de janeiro de 1939. Santos engalanou-se
para comemorar o primeiro centenário de sua elevação à categoria de Cidade. Houve muita festa, para as autoridades e alta sociedade, e festa para o
povo. O extenso programa durou 12 dias e compreendeu atos e reuniões de natureza religiosa, cívica, artística, cultural e recreativa. Começou e
acabou com a bênção de Deus. Era prefeito o dr. Ciro de Ataíde Carneiro, nomeado pelo Chefe do Executivo do Estado.
No dia central das comemorações, 26 de janeiro, foi realizada missa campal na
Praça Visconde de Mauá, com o altar-mor instalado na escadaria do Paço, celebrada pelo então bispo diocesano D. Paulo de
Tarso Campos, acolitado por monsenhor Luiz Gonzaga Rizzo, e padre Lino dos Passos. À elevação do Santíssimo Sacramento, a banda do Corpo de
Bombeiros executou o Hino Nacional, enquanto o coro, ato seguinte, entoava o Hino de N. S. Aparecida. Na oportunidade, foi lido
telegrama de saudação do Papa Pio XI, em que também abençoava a Cidade e seu povo.
Mais adiante, ou às 10,30 horas, no Gonzaga realizou-se
desfile militar com a presença do Dr. Ademar de Barros, então interventor federal no Estado de São Paulo, que em todos os atos representou o Dr.
Getúlio Vargas, que era presidente da República.
Por volta das 14 horas, verificou-se a cerimônia do lançamento da pedra fundamental do
Palácio da Justiça, na Praça dos Andradas, com bênção de D. Paulo de Tarso Campos, e discurso do Dr. Euclides de Campos,
então diretor do Fórum. É bom dizer que o Palácio da Justiça não se ergueu nesse local, mas na Praça José Bonifácio,
inaugurado solenemente no dia 22 de setembro de 1962, quando diretor o Dr. Manuel José Arruda, e prefeito municipal o Sr. José Gomes.
Seguiu-se o ato do lançamento da primeira pedra do edifício do Banco do Brasil, na
Praça Barão do Rio Branco, com bênção do bispo diocesano e discurso do então gerente do estabelecimento oficial de
crédito, Sr. João Pacheco Fernandes, que justificou a ausência do prefeito da Diretoria, Sr. João Marques dos Reis, e acentuou o significado cívico
do evento.
Houve ainda a solenidade do lançamento da pedra fundamental do prédio da Recebedoria
de Rendas, quando falaram os Srs. Francisco Dias Batista, que era administrador da repartição, e o então secretário da Fazenda, Sr. Sales Júnior.
Quem leu a ata comemorativa foi o jornalista Moacir Chagas, então redator-chefe de A Tribuna. A última cerimônia do dia ocorreu na Praça
Iguatemi Martins, às 15,30 horas, com o erguimento simbólico do novo Mercado Municipal, oportunidade em que discursou o Dr. Carlos Pacheco Cirilo,
em nome da Municipalidade.
Inauguração do Paço - Depois de funcionar durante anos e anos, e precariamente,
no casarão do Largo Marquês de Monte Alegre, em frente da Estação da
S.P.R., juntamente com a Câmara Municipal, a Prefeitura ganhou novo edifício, que é o atual, já superado em
instalações, tanto assim que várias unidades municipais, entre as quais a Secretaria de Educação e Cultura, Junta de Alistamento Militar,
Superintendência de Abastecimento, Divisão de Eletricidade e outras, desenvolvem seus serviços em outros edifícios.
O Paço foi inaugurado às 16,15 horas. Em frente do edifício formou o Batalhão de
Guardas do Estado e, no saguão, a banda da Guarda Civil de São Paulo, que, entre outras peças, executou a protofonia do Guarani, de Carlos
Gomes. Altas autoridades da República, do Estado e do Município, além de pessoas de representação social e de todas as categorias de trabalho,
afluíram ao imponente edifício.
O ato ocorreu no Salão Nobre e começou com a leitura da ata, procedida pelo Sr.
Francisco Paino. Discursou o prefeito Ciro de Ataíde Carneiro e, em seguida, o secretário da Justiça do Estado, Dr. César Lacerda de Vergueiro. O
serviço de bufete foi organizado por João Freire de Oliveira. Logo adiante, a Sociedade Consular de Santos homenageou a Cidade, fazendo inaugurar
placa comemorativa no Palácio da Municipalidade, agora Palácio José Bonifácio, com a seguinte inscrição: "À Cidade de
Santos, no centenário de sua elevação a Cidade, homenagem do corpo consular. 1839-1939". Falou o decano do corpo consular, Sr. Cecílio Irigarai,
cônsul do Uruguai, agradecendo o chefe do Executivo Municipal.
Banquete e baile - Ainda no Dia da Cidade, a Municipalidade ofereceu banquete
às autoridades federais, estaduais e municipais, bem como a convidados especiais, no Parque Balneário Hotel. À sobremesa,
discursaram o interventor no Estado, Dr. Ademar de Barros, e o prefeito, Dr. Ciro de Ataíde Carneiro.
O programa do dia foi encerrado com baile de gala, também no Parque Balneário Hotel,
que reuniu as figuras mais representativas das sociedades de Santos e de São Paulo.
No dia seguinte, houve o lançamento da pedra fundamental do Liceu de Artes e Ofícios
do Asilo Anália Franco, ocasião em que foi inaugurada a banda musical da instituição, que teve como paraninfas Da. Francisca Carneiro, que era
esposa do prefeito municipal, e a senhorita Nadir Jordão de Magalhães.
Associando-se ao evento, a Santa Casa de Misericórdia
realizou sessão magna em seu Consistório, quando o embaixador José Carlos de Macedo Soares, saudado pelo Dr. Hugo Santos Silva, proferiu conferência
sobre o tema A Santa Casa e a Cidade de Santos. Por derradeiro, o Dr. A. Guilherme Gonsalves, em nome da Santa Casa, saudou as autoridades.
No dia 28 de janeiro, verificou-se romaria ao Panteão dos
Andradas e ao monumento a Braz Cubas, onde foi depositada coroa de flores naturais pelo prefeito
Dr. Ciro de Ataíde Carneiro, bem como houve a cerimônia do lançamento de pedra fundamental do Edifício Sulacap, da Sul-América de Seguros, na
Rua 15 de Novembro, esquina da Rua do Comércio, quando se fez ouvir seu diretor-tesoureiro,
Sr. J. B. Picanço da Costa.
Também esse dia foi marcado destacadamente com espetáculo artístico no
Coliseu Santista, com a apresentação da grande orquestra regida pelo maestro Léon Kaniefski.
Devido ao mau tempo, não se realizaram os atos programados para o dia 29 de janeiro,
que eram desfile esportivo no campo do Santos F.C., parada trabalhista no Gonzaga e festa veneziana no Gonzaga.
Inauguração do Hospital Infantil da Gota de Leite - No dia 30 de janeiro foi
inaugurado o Hospital Infantil da Gota de Leite, com a presença de D. Leonor Mendes de Barros, que era a primeira-dama do Estado. Depois da bênção
de D. Paulo de Tarso Campos, discursaram os Srs. Oton Feliciano, Alberto Aulicino e Manuel Hipólito do Rêgo, havendo ainda homenagem ao Dr. Oton
Feliciano, como expressão de agradecimento por seu trabalho em prol do estabelecimento hospitalar infantil, com a inauguração de placa comemorativa,
descerrada por D. Leonor Mendes de Barros.
Nessa mesma noite, o Instituto Histórico e Geográfico de Santos realizou sessão magna,
com conferência proferida pelo acadêmico Pedro Calmon, saudado pelo Dr. M. Hipólito do Rêgo.
Foi muito concorrida a cerimônia do juramento à Bandeira pelos conscritos das escolas
de Instrução Militar nºs. 72, 53 e 274, havida na Praça da República, como também as festividades no Quartel do Corpo de
Bombeiros, quando falaram o tenente Mário Amazonas, tenente Lemes Filho e o professor Aguinaldo Ferreira.
Os Tiros de Guerra nºs. 11 e 598 (Docas e Santos) fizeram
desfile em conjunto pelas ruas do Centro e foram até a Praça Mauá, quando em nome dessas corporações discursou o Sr. Carlos Pereira Guimarães,
saudando o prefeito municipal, que agradeceu.
No dia 31 de janeiro, o prefeito ofereceu almoço aos comandantes e oficiais dos navios
de guerra Santa Catarina e José Bonifácio, no Parque Balneário Hotel, com discursos do Dr. Ciro de Ataíde Carneiro e
capitão-de-mar-e-guerra Sílvio Noronha, então capitão dos portos.
Nichos do Monte Serrate - No dia 1 de fevereiro deu-se o ato inaugural da
primeira estação instalada da Via Crucis no Caminho Monsenhor Moreira, e as demais pelo jornal A Tribuna, que
abriu subscrição popular, bem sucedida. D. Paulo de Tarso Campos procedeu à bênção, e o Sr. M. Nascimento Júnior, então diretor de A Tribuna,
discursou para ressaltar o espírito de religiosidade do povo santista.
No dia 4 de fevereiro, foi aberta a Exposição do Centenário, promovida pela Prefeitura
Municipal, patrocinada pelo Touring Club do Brasil e Sociedade Pró-Cidade de Santos e organizada pelo S.J.A. Jurado. Falou às autoridades - entre as
quais se achava o interventor no Estado, Dr. Ademar de Barros - o Dr. Eduardo De Lamare. Seguiu-se coquetel no gril-room Bavária, quando se
exibiu a artista Ítala Ferreira.
No dia seguinte, além do desfile trabalhista no Gonzaga, o povo assistiu à Festa
Veneziana, no mesmo local, adiadas do dia 29 de janeiro.
Encerrando os festejos, a Municipalidade mandou rezar Te Deum laudamus na
Catedral, ocupando a tribuna sagrada Frei Luís de Santana, bispo de Botucatu. Fez-se ouvir um coro de 80 figuras sob a regência do mestre-capelão
Leonardo da Costa.
O ofício religioso foi celebrado por D. João Martins Ladeira, vigário capitular de São
Paulo, presidido por D. Paulo de Tarso Campos, servindo de cerimoniário o padre Pavésio. |