HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
MONTE SERRAT
Professor de príncipes limpava o caminho
No início do século XX - segundo relatou
em 3 de junho de 1982 o jornal santista A Tribuna, na série de matérias Conheça o seu bairro/Monte Serrate -,
"havia apenas 15 casas ao longo do Caminho Monsenhor Moreira, a tradicional escadaria de acesso à capela.
Caminho Monsenhor Moreira, em 6/9/2002
Foto: Cândido Gonzalez/Decom-PMS
"Clementina
da Silva Rodrigues, moradora da ligação 10 há 63 anos, ainda se lembra quando o caminho era bem estreito, uma pedra aqui, outra acolá. Muitos
portugueses e descendentes moravam por ali: no Natal enfeitavam tudo, época de São João faziam fogueiras e soltavam muitos balões.
"João Gomes de Faria Filho, o mais antigo morador do Caminho Monsenhor Moreira, relembra o porquê do nome: é uma
homenagem ao padre, que levantava a batina, prendia do lado e ajudava os moradores a limparem a passagem.
"Nascido e criado no Monte Serrate, 69 anos de idade, João Gomes se orgulha de ter participado do Movimento
Constitucionalista de 32. Até hoje guarda o capacete e uma granada de mão. Gosta também de contar um outro caso: estava trabalhando com Antoninho
Navalhada no navio, no dia em que o famoso valentão de Santos foi morto por Simeão. Ele ainda se lembra: até o ex-prefeito Antônio Feliciano
compareceu ao enterro.
"E os nichos existentes ao longo do Caminho Monsenhor Moreira? Esses nichos de concreto e as imagens em bronze,
representando as estações da Via Sacra, resultaram de uma subscrição aberta por A Tribuna. A idéia partiu do então diretor do jornal, M.
Nascimento Júnior, que encabeçou a lista de contribuições.
"O nicho número um foi inaugurado em fevereiro de 1939, durante atos comemorativos da elevação de Santos à
categoria de cidade. Os de número dois e três foram entregues à população a 8 de setembro de 1939 e, os 11 restantes, inaugurados solenemente a 13 de
setembro de 1941. A escadaria tem 430 degraus, e subi-los a pé ou de joelhos é uma demonstração de fé que se tornou tradicional."
Caminho Monsenhor Moreira, em 27/8/2002
Foto: Marcelo Martins/Decom-PMS
O monsenhor - Recordou o jornalista e pesquisador Olao Rodrigues, em sua obra Veja Santos! (2ª
edição, 1975, edição do autor, Santos/SP) a origem da denominação daquele acesso ao alto do Monte Serrate:
Procissão leva a imagem do Monte Serrat para a
Catedral, em 26/8/2002
Foto: Rogério Bomfim/Decom-PMS
Na
sessão da Câmara Municipal realizada a 6 de setembro de 1924, sob a presidência do Dr. B. De Moura Ribeiro, o vereador Benedito Pinheiro requereu
que na Ata dos trabalhos do dia fosse consignado voto de profundo pesar pelo trespasse de Monsenhor José Benedito Moreira e passasse a denominar-se
Monsenhor Moreira o Caminho do Monte Serrate.
Monsenhor José Benedito Moreira, que nasceu em Alentejo, Portugal, veio para o Brasil depois
de percorrer a Índia, Japão e Estados Unidos. Esteve rapidamente no Rio de Janeiro, indo para Petrópolis, onde fundou o Colégio Moreira e foi
professor dos filhos da Princesa Isabel e do Conde d'Eu, aos quais ensinou Inglês, Português, Latim e Filosofia.
Em Santos, para onde se transferiu, depois de viver durante 32 anos naquela cidade
fluminense, Monsenhor Moreira manteve colégio no Convento do Carmo e, depois, na Igreja do Rosário.
A despeito de sua idade avançada, ele subia diariamente o Monte Serrate para cumprir
seu sacerdócio. Amigo dos pobres e das crianças, era de vê-lo todas manhãs durante a escada do Monte Serrate a distribuir santinhos e até dinheiro
aos menores, além de palavras conselheiras a quem dele se aproximasse. Era um bom. Com a sua morte, que ocorreu no Rio de Janeiro com a idade de 95
anos, a Igreja Romana, a que tanto honrou, perdeu devotado servidor. |
Caminho Monsenhor Moreira, em 27/8/2002
Foto: Marcelo Martins/Decom-PMS
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