Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0227b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/30/13 14:18:42
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESCOLÁSTICA
Foi a 1ª escola profissionalizante nacional - 2

Leva para a página anterior

O grande prédio escolar defronte à praia guarda muitas histórias pouco conhecidas dos santistas e mesmo alguns segredos. Poucos sabem, por exemplo, que o Instituto Escolástica Rosa foi a primeira escola profissionalizante do Brasil, muitos não lembram que sua finalidade original era funcionar como orfanato, outros nem sabem que ali existe uma capela em homenagem a Dom Bosco - restaurada em 2003, depois de anos sem uso. No primeiro dia de 2008, a escola comemorou seu centenário, assim registrado pelo jornal santista A Tribuna, em sua edição de 6 de janeiro de 2008 (página A-6):


Busto em homenagem a João Octavio contém os restos mortais do patrono,

conta Waldemar Tavares Júnior
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

ORIGEM

Escolástica Rosa: 100 anos de luta pela educação

Filho bastardo do Conselheiro Nébias com uma escrava, fundador homenageou sua mãe ao escolher o nome da escola

Da Redação

Toda criança deve ter acesso à cultura, educação e ensino profissional. Esses são princípios básicos pregados pelas pessoas que acreditam na formação de cidadãos conscientes e preparados como um dos instrumentos de mudança da sociedade. Há mais de 100 anos, um santista chamado João Octavio dos Santos - filho bastardo do conselheiro Nébias, membro da corte de dom Pedro II, e de uma escrava - acreditava nesses princípios e destinou quase tudo que conquistou em seus 70 anos de vida para a realização de um sonho.

Ele não pôde ver, mas oito anos após a sua morte, o sonho se concretizou. Em 1º de janeiro de 1908, era inaugurado, em um imponente prédio na Praia da Aparecida, o Instituto Dona Escolástica Rosa, que recebeu o nome da mãe de João Octavio.

"Aquilo era fantástico. Quem passou por aquela escola nunca se esquecerá". As palavras são do professor de educação física José Roberto da Silva, de 56 anos, que estudou por cinco anos na instituição: "Éramos uma família. Aquela escola era diferente". Desde que José Roberto deixou o local, em 1968, o prédio sofreu inúmeras mudanças.

 

No início, a instituição era mantida pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia; apenas em 1931 o Estado assumiu a unidade

 

No início, todo o instituto era mantido pela Irmandade Santa Casa - seguindo a determinação que João Octavio deixou em testamento - e os alunos estudavam em regime de internato. O comerciante destinou 74 imóveis que faziam parte de sua invejável fortuna para que a irmandade pudesse garantir os recursos utilizados na manutenção do Escolástica.

Porém, em 1931, sem condições de continuar administrando a escola, a irmandade passou a responsabilidade pedagógica para o Estado e, três anos depois, começou a admitir alunos externos, inclusive meninas.

O Escolástica continuou sendo uma das melhores escolas da região. Aliás, o instituto, que oferecia cursos de marcenaria, fundição artística, alfaiataria, tipografia e escultura, entre outros, foi a primeira escola profissionalizante do País.

"Era uma escola maravilhosa. Uma referência em ensino profissionalizante", lembra Carlos Pinto, ex-aluno e ex-professor do Escolástica, atualmente secretário de Cultura de Santos.

 

1.100 alunos estudarão na escola neste ano letivo

 

Quem passou pela escola em sua época áurea custou a acreditar no estado de abandono das oficinas onde funcionavam os cursos e a capela de Dom Bosco, construída em 1939. Mas a partir de 2003, quando a escola foi assumida p elo Centro Paula Souza e se transformou em escola técnica estadual, o cenário começou a mudar, ainda que lentamente.

Em 2003, a capela foi reformada pela Santa Casa e um dos galpões abandonados acaba de ser restaurado com verbas da Fundação Vitae. O local abrigará o laboratório do curso de Metalurgia. No último vestibular, o Escolástica Rosa foi uma das dez escolas técnicas mais procuradas do Estado e, neste ano, atenderá a 1.100 alunos.

"Era uma escola maravilhosa, uma referência em ensino profissionalizante"

Carlos Pinto - secretário de Cultura e Esportes 

Júlio Conceição tornou o sonho realidade

O comerciante João Octavio dos Santos morreu em 1900 e não viu o seu sonho concretizado. Mas, ao perceber que sua vida chegava ao fim (devido à arteriosclerose que sofria), deixou documentada a vontade de criar um instituto educacional. "(Era) vontade de João Octavio, conforme letras de seu testamento, criar um instituto destinado à educação intelectual e profissional de meninos pobres", relatou Júlio Conceição (morto em 1933), amigo e testamenteiro do comerciante.

Foi Júlio Conceição quem geriu a herança deixada pelo amigo e conseguiu tornar real o seu sonho. Como prova de que cumpriu exatamente o desejo de João Octavio, sem se aproveitar da fortuna deixada por ele, Júlio Conceição elaborou uma minuciosa monografia no ano de fundação do Escolástica Rosa, onde descreve como administrou os bens deixados por João Octavio e onde investiu cada um dos réis da fortuna do comerciante.

O testamenteiro relata também as batalhas judiciais travadas contra parentes de João Octavio, cujo interesse era o valioso espólio deixado por ele, os altos impostos cobrados pela República e a luta para reavê-los, pois o dinheiro seria utilizado em uma causa nobre: a criação de um grande instituto educacional. Contudo, a burocracia e o desinteresse do Estado não tornaram possível a devolução do dinheiro.

"Sendo quase novidade entre nós esse meio educativo, são naturais os embaraços que tenho encontrado para combater velhas rotinas e a lamentável ignorância sobre o assunto", afirmou Júlio Conceição em sua monografia.

O testamenteiro escreveu ainda que "gostaria que os poderes constituídos voltassem a sua atenção simpática para esse ramo de educação preventiva e mais salutar, sem dúvida, que as prisões correcionais".


Foto de 1943 mostra a ausência de outras grandes construções
Foto: reprodução, publicada com a matéria

Diretoria terá eventos especiais durante o ano

No ano do centenário do Escolástica Rosa a atual diretoria prepara uma série de eventos para o decorrer do ano. "Estamos esperando o início das aulas para começarmos as comemorações. Agora, a escola está vazia", explica o diretor Pedro de Oliveira Barros.

Entre as atividades previstas há uma exposição com documentos e fotos dos 100 anos de história da instituição e a criação de uma cápsula do tempo. "Queremos fazer uma espécie de cápsula de metal e guardar objetos, recortes de jornais e tudo que for referente ao centenário da escola para que seja aberta somente daqui a 50 anos", contou o coordenador do Centro de Memória do Trabalho, da Técnica e do Ensino Profissional, Waldemar Tavares Júnior.

No ano do centenário, Pedro Barros espera comemorar mais uma vitória: o fechamento de uma parceria com a Cosipa para o restauro do galpão onde funcionava o curso de fundição, que foi o primeiro do Brasil e o único da escola que existe até hoje: "Estamos negociando essa parceria, que deve ser fechada em breve", explica a coordenadora pedagógica Daisy Rodrigues.

NÚMEROS

7 mil metros quadrados tem o terreno onde fica o Escolástica Rosa

8 anos após a morte de João Octavio, foi inaugurada a escola

 

Novos cursos - Neste ano o Escolástica Rosa inaugurou os cursos de Contabilidade e Secretariado, que se juntarão aos de Administração, Metalurgia, Nutrição e Dietética. No vestibulinho do final do ano passado, 6.300 estudantes disputaram as 400 vagas oferecidas pela escola.


Reprodução de antiga reunião de alunos mostra como os cinco prédios que formam o complexo não eram ligados
Foto: reprodução, publicada com a matéria

SAIBA MAIS
O prédio do Escolástica

O projeto do complexo de prédios do Escolástica Rosa foi elaborado pelo renomado engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, autor dos projetos do Palácio das Indústrias e do Teatro Municipal de São Paulo, em estilo colonial.

Porém, após ser passado para a responsabilidade do Estado, o prédio sofreu alterações na fachada e nos cinco pavilhões que eram independentes e foram interligados por galerias em arcos.

No centro do pátio da escola está o monumento em homenagem a João Octavio, onde estão guardadas duas urnas com os restos mortais do patrono da escola e recortes de jornais, objetos e moedas da época da fundação do instituto.

Em 1º de janeiro de 2008, o mesmo jornal A Tribuna publicou, na seção Tribuna do Leitor (página A-13):

E lá se foram 100 anos

A grande edificação foi planejada por Ramos de Azevedo

Waldemar Tavares Júnior (*)

Certa vez um filho de uma ex-escrava, fruto de um relacionamento extraconjugal de um conselheiro do Império que não podia reconhecer a paternidade, idealizou uma instituição para atender meninos pobres e órfãos de pai.

João Otávio dos Santos, nascido em 1830, em Santos, era o filho bastardo do conselheiro João Otávio Nébias, tendo recebido de seu padrinho (pai) o apoio necessário nos estudos para adentrar ao mundo dos negócios, tornando-se um próspero comerciante que dedicou seus dez últimos anos de existência exclusivamente à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, chegando a ser provedor da mesma.

Preocupado com o alto índice de orfandade em Santos, no final do século XIX, resolveu planejar um instituto (escola e internato) para a infância desvalida. Desejou que, no mesmo ambiente, os meninos recebessem instrução escolar e profissional necessárias para uma vida digna.

Com o falecimento de João Otávio em 1900, seu amigo e testamenteiro Júlio Conceição colocou em prática o desejo póstumo. Na chácara do Ramal, uma das muitas propriedades do benemérito santista, surgiu uma grande edificação planejada por Ramos de Azevedo, o mais importante construtor brasileiro do início do século passado: o complexo educacional era dotado de salas de aula, dormitórios, oficinas, casa do diretor, ginásio e capela.

Em 1º de janeiro de 1908, o Instituto Dona Escolástica Rosa era inaugurado e os primeiros 70 alunos foram matriculados. Para sustentar os órfãos, a Santa Casa recebeu alguns imóveis em doação testamentária de João Otávio.

A partir de 1933, o Governo do Estado e a Irmandade da Santa Casa firmaram um acordo para administração da instituição, e por ele ficou acertado que a área pedagógica seria administrada pela Secretaria de Estado da Educação, o que ocorreu até 2003. Alunos externos foram admitidos a partir de 1934, inclusive meninas, que tiveram cursos profissionalizantes mais adequados. O prédio passou por grandes alterações arquitetônicas, iniciadas pela construção de uma nova ermida, que foi aberta ao culto em 1939, dedicada a S. João Bosco - patrono da juventude e do ensino profissional.

No final dos anos 50 foram iniciadas as obras de ampliação; inauguradas em 1969, as novas instalações geraram a atual Etec Aristóteles Ferreira. Já o edifício onde desde 1958 funcionava o internato, após a desativação em 1981, sofreu reformas e adaptações para sediar a primeira instituição de ensino superior pública da Baixada Santista, a Faculdade de Tecnologia (Fatec), aberta em 1987.

Desde 2004 o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (autarquia vinculada à Unesp), mantenedor de 131 Escolas Técnicas Estaduais e 27 Faculdades de Tecnologia - a maior rede pública de ensino profissional da América Latina -, incorporou a Etec Dona Escolástica Rosa que, juntamente com a Etec Aristóteles Ferreira e a Fatec-Baixada Santista, formam o "campus Santos" do Centro Paula Souza.

Entre os diversos cursos oferecidos na unidade acadêmica centenária, o único que ininterruptamente continua a existir é o Técnico em Metalurgia, inicialmente denominado de Fundição Artística, depois Fundição e desde os anos 60 com a atual nomenclatura.

O ano de 2008 será marcado na Etec Dona Escolástica Rosa por diversos eventos em comemoração ao primeiro centenário da mais antiga unidade de ensino profissional pública do País.

(*) Waldemar Tavares Júnior - historiador, responsável pelo Centro de Memória do Ensino Profissional, docente do Centro Paula Souza/Unesp e da SEE/SP, membro da Irmandade da Santa Casa de Santos

O jornal santista A Tribuna publicou matéria sobre João Otávio dos Santos, incluindo foto de 1907. A reprodução parcial dessa página, sem data conhecida, foi enviada a Novo Milênio pelo internauta Pedrolandi F. Sestari, em  novembro de 2012:


"UM SANTISTA BENEMÉRITO: JOÃO OTÁVIO DOS SANTOS - Encerramento dos despojos de João Otávio dos Santos na base da estátua erigida no pátio do Instituto Escolástica Rosa, em 20 de outubro de 1907. Com a urna funerária, foram depositados exemplares de A Tribuna e de diversos outros jornais do dia, somando cerca de 50 publicações, e também moedas de prata, níquel e cobre, do Brasil e de outros países"
Foto: reprodução, A Tribuna. Legenda original

Leva para a página seguinte da série