Primeiros trólebus chegaram ao Porto de Santos na década de 60
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria
TRANSPORTE
Trólebus - o prenúncio do fim
Se hoje a Administração Santista não vê com bons olhos os
trólebus (ônibus elétricos) no transporte coletivo da Cidade, há quem defenda o serviço e preconize que num futuro próximo, tal qual aconteceu com
os bondes que foram destruídos a machadadas, sejam resgatados e considerados importantes para o turismo.
Para o sindicalista Hélio Rodrigues do Amaral, hoje com 61 anos, ser motorista de trólebus
na década de 60 era mais que um privilégio: "Era ter o reconhecimento de sua capacidade profissional, perícia e ousadia ao volante. Tudo no carro
elétrico era sofisticado. Limpo, silencioso, uma novidade, coisa de primeiro mundo. Tinha duas ventoinhas dianteiras (rotor impulsor de ar) que
aspiravam o ar e o distribuíam para dentro do veículo. A campainha não irritava os ouvidos, os espelhos eram côncavos, uma novidade na época que
dava ao motorista uma visão mais ampla. Mas tudo isso exigia do condutor uma adaptação, e quem se adaptava ao novo transporte que não poluía o
meio-ambiente, era destacado entre os demais".
Segundo Hélio do Amaral, a frota de trólebus chegou a 30 carros e os passageiros preferiam
viajar neles. Alguns saíam de sua rota, andavam algumas ruas a mais só para pegar o trólebus. "Afinal era um veículo chic, limpo, não poluía.
Nós motoristas do trólebus só abríamos a porta, para embarque e desembarque, depois que a poeira natural à nossa passagem assentava. Além disso,
tínhamos prioridade no trânsito, até mesmo quando as ruas eram interditadas ao trânsito, como acontecia com a Av. Conselheiro
Nébias por ocasião do aniversário do bairro do Boqueirão. A via era fechada, exceto para os trólebus".
Trólebus na linha 40 (Praça Mauá/Gonzaga via Av. Conselheiro Nébias), aqui visto na Praça
Mauá, confluência das ruas General Câmara e Itororó
Foto: Almanaque de Santos 1969, pág. 187, ed. Roteiros Turísticos de Santos, Santos/SP
(acervo do historiador santista Waldir Rueda)
Alavancas - Um dos problemas enfrentados pelos motoristas de trólebus eram as
alavancas (alças presas à rede elétrica). Quando numa curva ou num "tranco" a alavanca soltava, o trânsito emperrava até que o motorista colocasse
as alavancas no lugar.
"Isto no entanto ocorria porque a nossa rede não seguia as regras da fábrica italiana. De
acordo com a fábrica, as curvas deveriam ser em 90 graus, aqui era de 45. A altura da rede era mais baixa que a prevista, sem contar com nosso solo
horrível, desnivelado e com buracos.
Diante disso, era natural que as alavancas saíssem da rede e aí entrava a habilidade do
motorista. Muitos foram os absurdos gerados em torno do trólebus quando a Administração não mais se interessava pelo assunto. Para se ter uma idéia
dos absurdos, foi instalada uma rede de trólebus do Centro até a divisa com São Vicente (Av. Nossa
Senhora de Fátima) que nunca foi usada", explica Hélio, diretor financeiro do Sindicato dos Rodoviários, que não se conforma com a falta de
visão dos políticos no tocante ao transporte coletivo.
"O trólebus, além de silencioso e não poluente, nunca se desvia de seu itinerário.
Assemelha-se ao metrô, passando sempre no lugar e horário programado. De toda a frota de trólebus, hoje restam poucos veículos (6) na garagem e
colocam em circulação um ou dois na linha 20 (Centro/Ana Costa)", desabafa Hélio, que, por ser também apaixonado pelo
bonde, tentou nos anos 70 comprar um para deixá-lo em exposição no São Vicente Praia Clube, onde era diretor.
Não lhe venderam e dias depois destruíram esses veículos a golpes de machado na garagem da
Vila Mathias. "Eu chorei de tristeza e vergonha por não poder salvar um daqueles bondes, senti vergonha pela atrocidade cometida por nossos
administradores. Temo que logo estejamos passando pela mesma tristeza e vergonha com relação ao ônibus elétrico, já que não se preocupam em saber se
é mais rentável o veículo a diesel ou elétrico."
Há quem afirme que a manutenção destes seis trólebus é para tapar os olhos dos usuários e
manter o contrato com a empresa que presta serviço à Administração Santista.
Hélio: era um privilégio ser motorista de trólebus
Foto: divulgação, publicada com a matéria
|