HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
A colônia portuguesa (3)
Beth Capelache de Carvalho (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)
Hospital Santo Antônio, o maior de Santos em número de leitos
A Beneficência cresceu com a Cidade
Fundada em 1859, a Sociedade Portuguesa de Beneficência é responsável pela obra que representa o maior orgulho
da colônia em Santos: o Hospital Santo Antônio, conhecido por todos como o "hospital da Beneficência". A história da sociedade - e do hospital - é a
própria história da imigração portuguesa e do trabalho dos imigrantes como membros da comunidade.
Há mais de uma centena de anos, a vida por aqui não era fácil. Região de mangues, sem sistemas de água ou
esgoto, Santos era vítima constante de epidemias, principalmente de febre amarela. A saúde se apresentava como importante questão de sobrevivência,
tanto da população como das tripulações dos navios que atracavam no porto.
Essa preocupação com a saúde, além da necessidade de uma entidade que auxiliasse os conterrâneos aqui
residentes, levou um grupo de 20 portugueses a se reunir, a 21 de agosto de 1859, na casa de Joaquim de Sousa Airam Martins, na
Rua Direita (atual 15 de Novembro) nº 20. Ali foram discutidos e aprovados os estatutos que regeriam a Sociedade Portuguesa de Beneficência.
Suas finalidades eram: procurar emprego honesto para os sócios, fornecer alimentos aos que não pudessem
trabalhar, ajudar os doentes sem recursos, cuidar do sepultamento cristão dos que morressem como indigentes, facilitar a educação dos filhos de
portugueses, conseguir auxílio financeiro para os que precisassem mudar de cidade ou voltar para Portugal, contratar advogados para resolver casos
jurídicos, e principalmente, construir um hospital.
Esse sonho maior começou a tornar-se realidade em abril de 1868, quando foi iniciada a obra do
primeiro prédio, no Paquetá (também chamado e Sítio dos Bexiguentos, porque lá ficavam isolados os
doentes de varíola), em terreno doado por Antônio Ferreira da Silva, pai do Visconde do Embaré. A construção durou dez anos, e o hospital foi inaugurado
dia 6 de janeiro de 1878.
Por 48 anos o hospital da Beneficência funcionou ali, na Rua João Otávio, entre João
Pessoa e Amador Bueno. Mas a cidade foi crescendo, e a sociedade melhorou suas condições financeiras e diversificou os serviços prestados à comunidade
na área de saúde. E o local se tornou acanhado para as funções que o hospital desempenhava.
Optou-se então pela construção do prédio atual, projetado pelo arquiteto e historiador português Ricardo Severo.
A compra do terreno, que pertencia a Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, foi feita com doações de associados, e o novo hospital foi inaugurado em 1º de
dezembro de 1926.
Hospital Santo Antônio, da Beneficência Portuguesa
Elos, pela preservação da cultura lusitana
Eduardo Dias Coelho é também o idealizador do Elos Clube, fundado em Santos, a 8 de agosto de 1959, e agora
espalhado pelo mundo inteiro. Sua função: salvaguardar a cultura portuguesa e pregar a fraternidade universal.
Como colonizadores, os portugueses levaram aos países colonizados a sua cultura, calcada no humanismo e na
fraternidade. E para conservar essas raízes humanistas foi criado o Elos, que não seria exatamente um clube de servir, mas "um clube a serviço". A
princípio foi difícil para a comunidade entender o que seria o Elos, que por isso começou a funcionar com o nome de Clube das Oliveiras, conservado
durante pouco tempo.
Nascido em Santos, o Elos Clube é agora internacional, e possui ramificações inclusive na África. Mas o
organismo catalisador é o Elos da Comunidade Lusíada, com diretoria em Santos, por determinação dos estatutos. E pelo mundo inteiro está sendo espalhada
a sua filosofia, de lutar pelos interesses da comunidade e preservar os valores da cultura lusitana.
Centro Português, uma das poucas construções do Brasil em estilo manuelino
No Centro Português, a integração luso-brasileira
Em estilo arquitetônico manuelino (época quinhentista), o prédio do Centro Português de
Santos, na Rua Amador Bueno, 188, é uma das últimas construções do gênero que permanece fiel à sua fundação. Por isso,
tornou-se um dos pontos de referência da Cidade.
Fundado em 1895, durante as comemorações da Restauração da Independência de Portugal, no
Teatro Guarani, o Centro tem como objetivo a integração luso-brasileira, através de promoções culturais e de lazer. Uma de suas tradições é o Rancho
Folclórico Verde Gaio, que há mais de 20 anos apresenta danças típicas e trajes característicos de Portugal.
União Portuguesa, auxílio para todos
"Aproximemo-nos para nos conhecermos; conheçamo-nos para nos amarmos; unamo-nos para sermos fortes; amemos
Portugal, túmulo de nossos avós, berço de nossas esperanças, nosso ninho paterno; amemos o Brasil, filho de nossa Pátria, pátria de nossos filhos,
orgulho de nossa raça". Esse é o lema da Sociedade União Portuguesa, criado por Bernardino Pereira Leite.
Inicialmente chamada Sociedade Musical União Portuguesa e destinada a promover a música e reuniões dançantes, a
Sociedade União Portuguesa foi criada a 16 de outubro de 1913. Em 1929, vencendo uma crise financeira que quase determinou o seu fechamento, foi
interrompida a fase artística da entidade, que ganhou seu novo título e transformou-se em uma sociedade de socorros mútuos. Promovia serviços médicos e
de ambulatório, proporcionava auxílios para doenças e para funerais.
Em 1947, com uma reforma em seus estatutos, a sociedade substituiu auxílios de menor importância por outros de
comprovada utilidade, como o internamento hospitalar no Hospital Santo Antônio, da Beneficência Portuguesa. Hoje mantém serviços
clínico-cirúrgicos, dá auxílios em dinheiro para sócios hospitalizados, promove funerais e tem um fundo especial para o atendimento de necessitados, sem
distinção de nacionalidade.
Dessa forma a Sociedade União Portuguesa trabalha pela comunidade portuguesa em Santos e pela Cidade de modo
geral. Hoje instalada na Av. Ana Costa, 290/94, a sociedade é presidida pelo comendador Joaquim Ribeiro Moura.
Futebol e Esportes, na Portuguesa santista
Numa barbearia da Rua Joaquim Távora, a 20 de novembro de 1917, foi fundada a Associação
Atlética Portuguesa, por um grupo de portugueses de origem modesta, trabalhadores da Companhia City. Eles mesmos
trabalharam no terreno onde seria feito o campo de futebol, comprado das Docas, e que era cheio de pedras.
Hoje, além do time de futebol, a Portuguesa Santista oferece aos seus três mil
sócios várias modalidades de esportes, como judô, caratê, futebol de salão, ginástica rítimica para senhores e crianças, e uma piscina que está pronta e
será inaugurada em breve. Segundo o presidente Joaquim da Rocha Brites, está nos planos do clube um ginásio de esportes, necessário para acompanhar o
crescimento constante do quadro associativo, que é composto por pessoas de todas as nacionalidades.
Veja as partes [1] e [2] desta matéria
|