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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BAIRROS DE SANTOS - SÉCULO XXI - [07]
Pompéia

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Publicado em 25/1/2010 no jornal A Tribuna de Santos, página A-6


POMPÉIA FAZ DO CHARME A SUA MARCA REGISTRADA - A Pompéia surgiu ao redor da paróquia Nossa Senhora do Rosário da Pompéia, adotou o largo que a abriga como o seu "centrinho" e fez do charme do seu entorno a sua marca registrada. A história do bairro deixa entrever que todo o charme das construções sisudas, de grandes residências de outrora, algumas ainda remanescentes, não foi obra do acaso

Imagem: reprodução parcial da primeira página de A Tribuna de 25/1/2010

 

O discreto charme da Pompéia

Flávio Leal

Da Redação

Geralmente as igrejas surgem onde há agrupamentos de população. com aquele que já foi um condomínio, chamado de Campo Grande e que foi José Menino um dia, aconteceu o contrário.

A Pompéia, velho-novo bairro da Cidade, surgiu ao redor da paróquia Nossa Senhora do Rosário da Pompéia, adotou o largo que a abriga como o seu "centrinho" e fez do charme do seu entorno a sua marca registrada ao longo das décadas.

A história da formação do núcleo da Pompéia deixa entrever que todo o charme das construções sisudas, de grandes residências de outrora, algumas ainda remanescentes, não foi obra do acaso.

A área entre os canais 1 e 2 foi a escolhida pelos homens mais ricos da cidade na primeira metade do século 20, construtores e loteadores, para erguerem os seus palacetes em finais dos anos de 1920.

Foram seguidos por outros, igualmente ricos, quase todos amigos e barões do chamado ouro verde da Santos movida a cafeína de então.

Antes da mudança, nos anos finais da década de 1920, trataram de viabilizar a construção de uma igreja suntuosa, com ares de catedral, até hoje a maior arrecadadora de donativos entre as paróquias da Diocese de Santos.

A vanguarda no planejamento imobiliário de alto padrão rendeu grandes terrenos e não à toa a Pompéia foi o primeiro alvo das construtoras para os grandes condomínios que hoje permeiam Santos.

Berço dos espigões residenciais e de todo o marketing que os acompanha, o próprio nome Pompéia, que já era adotado informalmente, virou oficial a partir do Plano Diretor de 1998 no que, para muitos, (N.E.: SIC) com a devida separação do José Menino, mais identificado com as pensões e com o morro do qual empresta o nome.

"É um bairro de classe média, com tendência a agrupar mais pessoas devido aos condomínios. Tivemos o incômodo de mais carros, mas toda a Cidade passa por esta transformação", constata José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Bairro da Pompéia.

POPULAÇÃO

12 mil moradores, aproximadamente, tem a Pompéia, segundo a SMBP

 

Nostalgia - O jornalista Dario Palhares divide o seu tempo entre a Capital e a Pompéia, onde comprou um apartamento há poucos anos.

"Nunca tinha morado no bairro. Mas havia com o local uma ligação forte porque passei boa parte da infância porque meus avôs tinham um mercadinho aqui", conta Palhares.

Ao procurar um apartamento há cerca de três anos, Palhares encontrou o atual, mas não comprou. "Foi o primeiro que vi, mas depois de meses me falaram: um sujeito comprou na planta e queria vender; e acabei comprando", lembra o jornalista.

Palhares diz que acha de tudo no bairro, desde produtos simples até os mais e  (N.E.: SIC) lembra que se impressionava com a grande casa que ficava no largo da igreja, o Benedito Calixto, de linhas arrojadas.

A casa de que Palhares e muitos outros recordam, construída no início dos anos de 1960, era uma jóia de arquitetura modernista e foi desfigurada. Primeiro virou bar, depois karaokê e hoje, em linhas que nada lembram as originais, abriga um mini-mercado sofisticado.

Projetada por Villanova Artigas, integrante da chamada Escola Paulista de arquitetura, caso estivesse preservada, a construção emprestaria um charme a mais para o largo, como fez por quase 30 anos.

COMEÇO

A primeira doação de área para a construção da igreja foi em 1920, pela Sociedade Condomínio Campo Grande. Virou paróquia em 1926 e a atual configuração é da década de 30. O nome foi sugestão da esposa de Francisco Loureiro, maior financiador da obra, encantada com um santuário da cidade italiana de Pompéia

 

Os poucos casarões que sobrarem, no entanto, ainda preservam o charme planejado pelo idealizador Loureiro. Entre eles está o que serve de sede para a mantenedora da Unisantos, a Visconde de São Leopoldo.

Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos, o casarão foi construído por José Ferreira da Silva, barão do café no início dos anos de 1930, e já foi casa episcopal (do bispo).

Recentemente, a Unisantos retirou os seus cursos dos prédios que possui na Rua Euclides da Cunha e adjacências. "A tendência no bairro é que se construam mais (prédios). Achamos que lá (áreas da Unisantos) onde for possível e não for tombado, vão construir mais", constata Almeida. A ausência dos universitários deixou um vazio na Pompéia, reconhece.


Igreja foi erguida por empresários do café e da construção santista que se mudariam para o bairro

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Bairro virou paixão de estrangeiros

Eles falam a mesma língua, conhecem os mesmos craques e têm a Pompéia como paixão. Compartilham também da condição de estrangeiros, porque nenhum nasceu ali, embora se derretam apaixonados pelo bairro que adotaram para viver a aposentadoria.

Espanhol, andaluz de Almería, o motorista Antônio Sanchez Martinez, de 85 anos, convive com a Pompéia desde os anos de 1960, quando começou a fazer trabalhos na região, principalmente no pólo de Cubatão.

Já veio casado da Espanha com Isabel, com quem teve uma filha. Mora no Olímpia, prédio tombado pelo Condepasa, o primeiro residencial da orla, de 1928, com 30 unidades.

"Às vezes os bares que ficam embaixo do prédio fazem muito barulho. Mas, tudo bem, me acostumei. Difícil é ter de pagar R$ 400 todo ano para o laudêmio (imposto cobrado de quem está em  terras de marinha)", lamenta.

De resto, Sanchez não tem do que reclamar e gosta de passear pelos jardins, todos os anos. "Tem tudo aqui no bairro, supermercado e outros comércios", vai falando Sanchez.

O motorista aposentado dá de ombros ao fato de morar no prédio no qual o comércio anexo era freqüentado pelos jovens jogadores do mítico Santos Futebol Clube, bicampeão continental e mundial.

Para Sanchez, o maior jogador de todos os tempos do futebol mundial foi Manolo Garrincha. "Este sim, era muito bom".

QUEIXA

A questão da falta de segurança é a principal segurança no bairro, conforme relatam seus moradores mais tradicionais

 

Já na orla, em frente à escolinha de surfe do Posto 2, o banco em frente ao carrinho de caldo de cana tem donos.

Perfilados todas as manhãs e tardes, na altura da Rua Olavo Bilac, João Carlos Ebling (gaúcho de 62 anos), Carlos Duarte (carioca de 78 anos) e José Fernandes (de 90), passam a tarde a fazer piadas em que se avacalham reciprocamente.

"Foi minha esposa que me convenceu a conhecer aqui. Ela queria morar em São Paulo, perto da filha, mas eu fugi. Quando foi feita a proposta para ficar aqui, há seis anos, concordei e confesso que adoro o bairro", contou Ebling.

Mais calado de todos os "donos do banco", Fernandes, que nasceu em São José do Rio Preto, mora há oito na Pompéia. Ele diverte os amigos com as histórias da Segunda Guerra Mundial, em que foi à Itália.

Carlinhos, como Duarte é mais conhecido, mora em Santos há 28 anos, 12 dos quais na Pompéia. "Tem de tudo por aqui. O bairro tem charme, mas nos últimos tempos tem piorado a questão da segurança", lamenta Duarte.

"E quase todos (ladrões) de bicicleta em plena luz do dia", constata.


Uma das atrações do jardim da orla, no trecho do bairro, é o surfista

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Pensões abrigaram os garotos da Vila

Todo garoto que chegava do interior trazido pelo Santos Futebol Clube na década de 1950 era enviado para pensão da Dona Jô no José Menino de então ou a Pompéia de hoje.

Não foi diferente com Pelé, o menino - que veio de Bauru com 14 anos - foi morar lá, com 15 anos, e foi morar na famosa pensão da Rua Euclides da Cunha. Glória máxima para toda a garotada do bairro, que batia bola com ele nas ruas de paralelepípedos irregulares.

Sorte de quem pôde ver a história e, melhor, jogar com o Rei do Futebol e outros como Dorval, com quem Edson Arantes dividia o quarto, e Sormani, também craques santistas. Entre esses garotos estava Sérgio Formiga, hoje com 65 anos. "Jogávamos todo final de tarde, praticamente", lembra, saudoso, Formiga.

A convocação de Pelé para a Copa da Suécia de 1958 e o título conquistado nunca vão sair da lembrança de Formiga. "Fizemos faixa e festa, enfeitamos a rua toda para a chegada deles", conta Formiga, nascido e criado no bairro da Pompéia, onde já teve vários endereços durante a vida.

Jogadores que ficaram famosos no mundo inteiro não são novidade na Pompéia. Marcelo Leal, do restaurante Olímpia, que fica no térreo do prédio de mesmo nome, na esquina da Rua Olavo Bilac, se recorda de muitos deles, quase um time inteiro. Pepe, Coutinho e outros do passado, além de Domingos, Kleber Pereira e Robinho, entre os mais recentes, estão entre os que freqüentaram as mesas do Olímpia.

Filho do proprietário do Olímpia, que comprou o restaurante em 1962, Marcelo morava na Ponta da Praia, mas foi criado na Pompéia, tanto que se mudou para o bairro recentemente. "Tem tudo por perto. É um bairro antigo e que preserva o seu charme", faz coro com outros moradores. "É um bairro de classe média alta, que continua como alvo das construtoras, que estão que nem loucas atrás de áreas", pondera.

EDIFÍCIOS

Outro fato que preocupa a população do bairro é o surgimento de novos prédios, os quais trazem problemas também para o trânsito

 

Desvantagens - As desvantagens da grande quantidade de prédios estão principalmente no trânsito. "Mas só nas vias principais, nas ruas transversais à praia continua a mesma tranqüilidade", garante Formiga.

Mais policiamento é um pedido comum dos moradores da Pompéia. Segundo um morador, o fechamento de um túnel da linha férrea que limita o José Menino com o Marapé trouxe para as ruas do bairro dezenas de viciados em crack. "Vieram todos para cá", reclama.


Formiga (à direita) se emociona ao lembrar das peladas com Pelé

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria

Veja o bairro em 1983 (parte do José Menino)
Veja Bairros/Pompéia

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