JOSÉ MENINO E O MAR, FORTE RELAÇÃO - Com 20 mil habitantes e comércio variado, o José Menino é o
bairro de Santos com ligação mais forte com o mar. Reduto de surfistas e preferência dos turistas de um dia, é conhecido por seus prédios erguidos
na faixa de areia da praia. É nele que se encontra a nova cracolândia da Cidade, problema fortemente criticado por seus moradores
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 18/1/2010
DIFERENCIAL
Um bairro que exala maresia
Área possui boa qualidade de vida, mas a nova cracolândia, a 200 metros
da praia, incomoda demais os moradores
Sandro Thadeu
Da Redação
Um bairro da orla da praia santista repleto
de prédios, bares, comércio variado, ruas urbanizadas e trânsito intenso. No entanto, o José Menino possui um aspecto diferente em relação aos
demais: a forte ligação com o mar.
Sem dúvidas, é o reduto dos surfistas. A todo momento, passam pelas ruas homens e adolescentes
com a prancha embaixo do braço para pegar ondas. A moda praia impera no local.
O José Menino também possui a preferência dos turistas de um dia. O movimento não para nunca nas
pensões e pousadas espalhadas pelas ruas do bairro. Enfim, aquela região cheira maresia.
Tradicional, o
bairro tem cerca de 20 mil habitantes. Boa parte deles concentrada nos edifícios Holiday (324 apartamentos) e Universo Palace (482 unidades), onde
ficava uma das mais famosas boates da Cidade, a Pink Panther.
Muita coisa mudou com o tempo. O José Menino não escapou da especulação imobiliária, para a
tristeza de muitos marmanjos de hoje.
O tradicional Caiçara Clube veio abaixo e está dando lugar a um arranha-céu. O local foi o
grande ponto de encontro da juventude santista e recebeu, na década de 1980, shows, das principais bandas de rock nacional. Por outro lado,
o Santos Athletic Club, mais conhecido como Clube dos Ingleses, segue firme e forte.
A Paróquia de Todos os Santos,a única igreja anglicana da Cidade, também é fruto da influência
britânica na área. Outro símbolo religioso do José Menino é a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, no sopé do Morro do José Menino.
Atração - Um dos motivos de orgulho dos moradores é o Parque Municipal Roberto Mário
Santini, no Emissário Submarino. A construção do empreendimento para atividades esportivas e de lazer deu fim à utilização inadequada da
plataforma.
Outro atrativo do bairro é o Orquidário, que completará 65 anos de existência em 11 de novembro.
O local recebe turistas durante todo o ano. Contudo, está fechado para visitantes desde junho do ano passado.
O motivo disso é uma grande reforma - a maior de sua história. O ponto turístico será
remodelado, ampliado, modernizado e terá novas atrações, como recintos especiais para animais e plantas, mirante e jardim sensorial.
Situada quase na divisa com São Vicente, a Ilha Urubuqueçaba também desperta a curiosidade dos
banhistas, que podem chegar lá a pé, quando a maré está baixa. Porém, a travessia não é recomendada pelos guarda-vidas.
Com cerca de 20 mil habitantes, o José Menino proporciona ótima qualidade de vida aos moradores.
É o único bairro de Santos com prédios erguidos na faixa de areia da praia
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
Cracolândia: um problema sem-fim
Apesar do José Menino ser um dos melhores locais para se viver em Santos, um problema persiste
há anos e parece que não existe uma forma para solucioná-lo: o consumo e tráfico de drogas na linha férrea desativada, que separa o bairro do
Marapé.
Sem dúvida, a nova cracolândia da Cidade - a pouco mais de 200 metros da praia - é a
principal reclamação dos habitantes da redondeza.
A qualquer hora do dia ou da noite, o comércio das substâncias ilícitas e a movimentação de
usuários (homens, mulheres, adolescentes, adultos e até crianças) é constante. Na tarde da última quinta-feira, das 15 às 15h40, A Tribuna
flagrou pelo menos 15 pessoas usando drogas na linha férrea.
O presidente da Sociedade de Melhoramentos do José Menino, Marcos Antônio Pereira dos Santos,
explica que a entidade já solicitou à Prefeitura a instalação de câmeras de monitoramento naquele ponto. O objetivo seria inibir o consumo de
drogas naquele ponto, bem como identificar os traficantes.
"Essa é a única saída. As matérias sobre o assunto chamam a atenção da opinião pública, mas a
situação continua a mesma, apesar da movimentação da Polícia Militar e Guarda Municipal".
Na opinião dele, a Sabesp poderia investir na colocação dos equipamentos na linha férrea, porque
está presente no bairro há anos. "Isso incomoda demais a todos. Até mesmo os fiéis da Igreja São Paulo Apóstolo estão deixando de ir às missas por
causa disso".
O cheiro e esgoto também ainda perturba os moradores. Eles esperam que a Sabesp acabe o quanto
antes as obras de ampliação da Estação de Pré-condicionamento de Esgoto, para que o incômodo odor seja apenas uma lembrança do passado.
Árvores podres - Outra queixa da população, segundo Santos, é a falta de cuidado da
Administração com as árvores do bairro, principalmente as da Avenida Barão de Penedo. Um exemplo disso ocorreu em 30 de dezembro do ano passado,
quando uma árvore do Orquidário caiu sobre um carro e derrubou parte do muro.
O consumo de drogas no local acontece a qualquer hora do dia
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
Uma vista inesquecível do alto e a sonhada escritura
Um dos pontos onde os habitantes da Baixada Santista e turistas podem ter uma vista privilegiada
da orla é do Morro do José Menino. A subida é caminho obrigatório para chegar ao Morro do Voturuá, em São Vicente, de onde é possível saltar de
asa-delta.
Ao longo do trajeto, encontram-se pequenos estabelecimentos comerciais. A tranqüilidade é
grande, conforme os moradores. Porém, o local é um dos morros considerados mais críticos, quando o assunto é criminalidade.
Subir os 220 metros não é uma das tarefas mais fáceis para quem está a pé. Curiosamente, o mesmo
acontece com aqueles que dependem de transporte público.
Somente uma única linha de van realiza a subida e a descida do local, conforme o presidente da
Sociedade de Melhoramentos do Morro do José Menino, Orlando de Jesus.
"O descontentamento é grande. Quem está no Centro e precisa vir para cá não consegue, na maioria
das vezes. A maior parte das pessoas desce no próprio Canal 1, prejudicando os moradores daqui".
Regularização fundiária - Muitas famílias do morro vivem em áreas pertencentes à Santa
Casa de Misericórdia, onde cidadãos construíram casas ao longo desses anos.
Conforme Jesus, a Prefeitura iniciou os trabalhos de atualização do levantamento topográfico
(medição de lotes, ruas e quadras) há duas semanas.
O serviço integra a regularização fundiária do local e é realizado por
técnicos da empresa contratada pela Secretaria Estadual da Habitação, por meio do Programa Cidade Legal, que a Administração mantém em convênio de
cooperação. "Isso beneficiará muita gente por aqui, que fica insegura de investir no imóvel e perdê-lo mais tarde".
Mudança de vida
"Mudei da Ponta da Praia para cá em busca do tão sonhado sossego. Finalmente eu o encontrei
aqui. Foi uma escolha de vida que fiz e não me arrependo". - Orlando de Jesus, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Morro do José Menino
Foto publicada com a matéria
SAIBA MAIS SOBRE A HISTÓRIA DO LOCAL |
Origem
O nome do bairro é uma homenagem a José Honório Bueno, proprietário
de uma área do Canal 2 até São Vicente, no século XIX. O apelido de José Menino se deve ao seu porte físico franzino. |
Aniversário
O aniversário do bairro é celebrado em 17 de janeiro, data de
fundação da sociedade de melhoramentos, que não possui sede própria. |
Pioneiro
O primeiro hotel da orla foi erguido no José Menino. Inaugurado em
1895, o Hotel Internacional ficava na faixa de areia. |
Orquidário
Responsável pelos projetos dos canais de Santos, o engenheiro
Saturnino de Brito projetou nas proximidades da estação de tratamento de esgoto um parque com muito verde: o Orquidário, inaugurado em 1965
(N.E.: SIC: ano correto é 1945). O nome do local é uma homenagem a Júlio Conceição, que, em 1909, possuía uma
chácara com o maior orquidário ao ar livre do mundo, na Avenida Conselheiro Nébias |
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O exemplo dos três irmãos catarinas da família Silva
A família Silva seria apenas mais uma entre as milhares existentes no Brasil. No entanto, esta,
que vive no José Menino há 17 anos, guarda uma peculiaridade. Os três filhos trabalham como catarinas (pessoas compradoras de veículos) no
bairro.
Eles ainda são figuras que estão atreladas à história recente do bairro. Cerca de 7u0 atuam ao
longo da Avenida Francisco Glicério, mas grande parte fica concentrada no final da via, próximo ao Orquidário.
O irmão mais novo, de 28 anos, começou no ofício há 11, após ficar meses desempregado. "Está
difícil arrumar emprego. Com certeza, é uma profissão que vale a pena".
Os três são casados, possuem filhos e sustentam a família dessa forma. "Quando comecei aqui não
tinha nem bicicleta. Hoje tenho um bom carro. Uns já compraram até apartamento", diz um deles.
O outro completa: "Vivemos honestamente. Dá para sobreviver assim. E ainda colaboramos para
tirar os carros antigos das ruas. As próprias concessionárias não querem comprar veículos abaixo de 2001", ressalta o irmão mais novo.
Segurança - Eles afirmam que a atividade sofria muito preconceito, o que não ocorre hoje.
De certa forma, os catarinas inibem os assaltos naquela região. "Outro dia pegamos um cara aqui roubando para comprar droga. Nós fomos para
cima dele e conseguimos detê-lo", revela um dos entrevistados. |