"Eu vim do Nordeste, do nada, para conquistar um sonho, e eu conquistei"
Foto: JM, publicada com a matéria
TONICO BARBOSA
"Eu não sou radialista, colunista, nem apresentador. Sou um comunicador"
Ele já entrevistou várias celebridades, como Chico Anísio, Raul Cortez e Bibi Ferreira. Hoje realiza o programa “Show da Cidade”, na TV Santa Cecília, e o “Show de Calouros”, onde
consegue reunir mais de 2 mil pessoas
Giane Ribeiro
O que despertou o interesse pela área de comunicação? Quando você chegou na Baixada, quais foram as dificuldades encontradas?
Cheguei a Cubatão em 1968 e morei na Vila Elizabete. Desde garoto, eu sempre trabalhei e gostei de comunicação. A minha cidade natal é conhecida pela rede Globo por ter a corrida de
jegue, desde aquela época eu trabalhava em eventos, anunciava músicas. As dificuldades foram muitas. Tive que batalhar e persistir muito para poder sobreviver, acordo muito cedo e corro atrás da bola. Naquela época, as tevês abertas tinham o Amauri
Júnior, o Goulart de Andrade, eram programas de muito sucesso. Atualmente, os programas são mais jornalísticos. Eu tive que mudar o meu foco. Tenho participação em quase todos os eventos da Baixada. Em um único programa, entra o social, o cultural,
o esportivo, o empresarial, o musical. É totalmente diferente. Graças a Deus eu fui conseguindo o respaldo das prefeituras. Você tem que encarar e fazer de tudo. Tem uma festa na cidade, um evento, eu estou lá. Acho que a sociedade, às vezes, é um
pouco hipócrita, em relação a isso. Faço tudo muito bem feito. Só que tenho o meu jeito, as minhas características. Tem gente que não me contrata por me achar brega. Procuro sempre nos meus trabalhos fazer o melhor de mim. Aprimorar o equipamento,
a linguagem. Não me preocupo com o concorrente.
Por que hoje houve essa mudança em relação ao colunismo social?
Começou a ficar chato entrevistar sempre as mesmas personalidades. O programa do Jô (N.E.: Jô Soares, humorista e apresentador de um programa de entrevistas
na Rede Globo de Televisão e Rádio CBN), por exemplo, no começo era super legal. Ele já entrevistou todas as pessoas importantes do país em todas as áreas. Hoje ele leva qualquer entrevistado. É muito complicado fazer
um programa desse, principalmente, diário, que é esse caso.
Sua carreira começou na rádio na década de 80. Hoje você é apresentador, colunista, cobre festas, eventos, exposições e feiras. Qual foi a sua trajetória daquela época aos dias
atuais?
O meu primeiro programa foi na rádio Clube, com o Sábado Especial, na época era do Pelé. O primeiro programa esportivo foi
com o Mário Barazal. Cobri o Jabaquara, a Portuguesinha, o Santos. Viajei pelo Brasil com o Santos, como repórter da rádio Cultura, fui coordenador de
esportes da rádio A Tribuna, fui buscando o meu espaço. Fiz um curso no colégio do Carmo, comprei um horário da rádio Universal e montei uma equipe esportiva, na época eu
contratei o Armando Gomes, que tinha saído da TV Gazeta de São Paulo. Depois eu fui para a rádio Cacique, como a maioria dos radialistas. Cheguei também a ser, na Cultura, coordenador de esportes. Em 1989, a
TV Tribuna, a rádio Atlântica me contrataram e eu apresentei um programa diário Tonico Barbosa Show.
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"Acho que a sociedade, às vezes, é um pouco hipócrita. Tem gente que não me contrata por me achar brega"
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Como você conseguiu a sua independência profissional?
A minha independência profissional foi através de uma parceria que eu fiz com a TV Mar, na época, da rede Manchete, com o programa Gente que e Manchete.
Quem montou o programa Esporte por Esporte do Armando Gomes, fui eu. Depois eu passei para o Armando e comecei a fazer entrevista social na TV Litoral com o meu nome, Tonico Barbosa. Aí eu pensei em fazer o
meu próprio programa. Com o meu equipamento. Já na TV Brasil tive que bancar o meu programa. O Eduardo André me falou que tinha um horário e que ele custava tanto. Trabalhei com o Programa Performance Brasil durante
oito anos. Infelizmente, não tive condições de renovar o contrato. Aí eu fui para a TV Santa Cecília. Hoje eu tenho o programa Show da Cidade, com duas horas de duração no sábado, com reprises no domingo das 8 às 10
horas e na sexta-feira, de madrugada.
Criei a Caravana Tonico Barbosa. Fui convidado no ano passado pelo prefeito de Mongaguá, Artur Parada Prócida, para fazer o show de calouros e deu certo. Nesses dois
últimos anos eu fui mais notado no mercado, pela população do que no social. Estou fazendo pelo segundo ano consecutivo e lota todo o final de semana. São cerca de 20 mil pessoas. Recebemos na base de 120 inscrições para selecionar 60 candidatos.
Há uma carência muito grande desse tipo de programa na televisão. Temos candidatos de Santos, Itanhaém, Praia Grande, São Vicente.
O pessoal ensaia com a Banda Imagem. Com o Show da Cidade eu consigo dar oportunidade para as pessoas mostrarem o seu trabalho, o seu potencial do lado artístico, seja na dança,
na música.
Como você analisa a atual situação das agências de publicidade?
As agências nunca me ajudaram em nada, nunca compraram o meu produto. O foco deles é um Jornal Nacional, uma novela da Globo, Sílvio Santos, Gugu Liberato, para ter um retorno
mais garantido. Atualmente tem muita agência para pouco dinheiro publicitário. Com os canais de televisão que estão surgindo, o bolo está sendo muito dividido. Esses programas de varejo, por exemplo, são um meio de sobrevivência, mas acabam com a
televisão, não tem espaço. É que nem o jornal impresso que está aumentando. O prefeito é meu amigo, então vamos montar um jornal. Infelizmente, está assim.
Qual trabalho o tornou mais conhecido pelo público?
O que tornou conhecido foi o Performance, mas o que me deu mais retorno pessoal está sendo o Show de Calouros. É fácil apresentar um programa com diretores e produtores, o difícil
é fazer o que eu faço. Não tenho nenhuma estrutura de produção, ponto eletrônico, nada. Eu faço o sinal da cruz e seja o que Deus quiser.
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"É fácil apresentar um programa com diretores e produtores. Difícil é fazer o que eu faço"
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Radialista, apresentador e colunista. Qual a diferença entre essas áreas e [com] qual delas você mais se identifica?
Eu não sou radialista, apresentador e colunista. Eu sou um comunicador. O que eu faço hoje é totalmente diferente do que eu fiz ontem, que será diferente do que eu vou fazer amanhã. Eu
tiro dos jornais do dia-a-dia, da televisão, dos comentários do mundo artístico. Ele não é um programa produzido. Eu tive um programa na rádio chamado Uma palavra amiga, a decisão é sua, que me dava muito respaldo. As pessoas opinavam,
comentam coisas legais. Ele retratava o que alguns programas de tevê fazem, da mulher trair o marido, do filho se drogar.
Tive um caso de um filho drogado que a família conseguiu recuperar e hoje trabalha, está casado. Segundo a mãe dele, foi através do meu programa que ela conseguiu livrá-lo das drogas. Eu
sempre respeitei os meus ouvintes. Eu sabia qual que eu poderia brincar. Eu só não trabalho na rádio em São Paulo porque eu não tenho tempo.
Qual é a sua relação com os seus entrevistados?
Foi muito interessante poder entrevistar autoridades nacionais. O Antônio Emílio de Moraes nunca dá entrevista sem ser coletiva e eu consegui uma exclusiva com ele. Com o Abílio Diniz
foi a mesma coisa quando ele inaugurou o Extra, em Praia Grande. Entrevistei o ministro Paulo Renato, a mulher do Sílvio Santos, o Gugu, o Jô Soares, o Chico Anísio, tenho entrevistas que você nem imagina.
Antes de entrevistar a Bibi Ferreira, eu que fui entrevistado pela assessoria dela. Foi com muito esforço e insistência que consegui uma boa entrevista, por ser para um programa de
Santos, regional. Era só para eu fazer duas perguntas a ela, fiquei com ela 11 minutos. Com o Miguel Falabella foi a mesma coisa. Era pra eu fazer duas perguntas, consegui fazer oito.
Fui convidado pela Lílian Gonçalves para participar do lançamento da minissérie JK, entrevistei Mariana Ximenes, Paulo Goulart, o Raul Cortez, entrevistei até a mãe do Boni.
Qual o seu próximo projeto?
Meu grande projeto é o Show da Cidade, na Rede Mulher, no sábado à tarde. O meu piloto foi muito bem aceito. Tem muita gente fora do mercado. Muitos artistas apresentaram projetos
e não conseguiram, como a Simoni, por exemplo.
Pretendo lançar um livro, contando a minha própria vida, a minha história, a minha luta. É a vida de todo o brasileiro. Eu vim do Nordeste, do nada, para conquistar um sonho. Eu foquei a
minha vida nos meus filhos. Eu sempre lutei para eles terem uma vida melhor, para não passarem por obstáculos e pelas dificuldades que eu passei. Eu consegui formar todos eles. O Frederico é médico, o Antônio Carlos é dentista, e a Patrícia é
advogada e também está fazendo jornalismo. O ensino no país é muito difícil. O Governo não dá apoio, a faculdade não tem como resolver o problema. Isso me dói muito.
No último ano de Medicina do meu filho, tive que vender um carro, imóvel, para ele poder receber o diploma. Negociei com a faculdade para pagar os atrasados.
Se eu pudesse enfrentaria, lutaria tudo de novo. A recompensa é muito gratificante. |