Imagem: reprodução parcial da matéria original
O dia dos aviadores
Gago Coutinho e Sacadura Cabral continuam a receber as mais
expressivas homenagens
Visitas - Passeios - Inaugurações - As nossas notas
Durante o dia de ontem, Sacadura Cabral e Gago Coutinho realizaram várias visitas.
Deixando o Parque Balneário Hotel às 11 horas, os dois aviadores, em automóvel, em
companhia de várias pessoas, visitaram ligeiramente o Asilo de Inválidos, onde foram acolhidos com muita simpatia por parte da direção do
estabelecimento e internados.
Gago Coutinho e Sacadura Cabral demoraram-se na visita àquela recolhimento, cuja
organização elogiaram calorosamente.
NA PRAIA DO GUARUJÁ
O almoço da Municipalidade - Depois de percorrerem a praia
José Menino e adjacências, os nossos hóspedes dirigiram-se para o Guarujá,
percorrendo-a em toda a extensão.
Os nossos ilustres visitantes mostraram-se encantadíssimos com o local, constando até
que Sacadura Cabral ali permanecerá em repouso alguns dias.
No Grande Hotel de La Plage, foi servido aos
aviadores e sua comitiva um lauto almoço.
À mesa sentaram-se os srs.: almirante Gago Coutinho, comandante Sacadura Cabral,
Valentim Ribeiro de Mello, cônsul de Portugal; Arnaldo Ferreira de Aguiar, vice-prefeito municipal, em exercício; comendador João M. Alfaya
Rodrigues, vice-presidente da Câmara; Benedicto Pinheiro, Alberto Fernandes Leal, coronel Manuel Ribeiro de Azevedo Sodré, vereadores; Carlos Luiz
de Affonseca, João Mourão, dr. Thomaz d'Alvim, capitão João Salermo, Mariano Câmara Leite, Aristides C. Correa da Cunha, Antonio Marques Bento de
Souza, capitão Amando Stockler Fernando Canto e Castro, oficialidade dos cruzadores República e Carvalho Araújo e Oswaldo Silva, por
esta folha.
Foi servido finíssimo menu, e uma esplêndida orquestra tocou durante a
refeição.
Ao champanha, o sr. Arnaldo Ferreira de Aguiar, vice-prefeito, em exercício, saudou o
contra-almirante Gago Coutinho e o comandante Sacadura Cabral, oferecendo-lhes o almoço.
Gago Coutinho, em poucas palavras, agradeceu, em seu nome e no do seu companheiro de
travessia.
Falou ainda o comendador Alfaya Rodrigues, que, além de saudar os bravos pilotos,
aludiu à solenidade do lançamento da pedra fundamental do monumento a Bartholomeu de Gusmão, que seria por eles presidida.
Houve ainda vários brindes.
Uma multidão de curiosos, que estacionava em frente ao edifício do hotel, aclamou
incessantemente os gloriosos aviadores.
O REGRESSO
Visita à Beneficência Portuguesa - O regresso dos excursionistas à cidade
deu-se às 15 horas, mais ou menos.
Uma vez no centro, os aviadores estiveram em visita à
Beneficência Portuguesa, onde foram recebidos pela diretoria da instituição e grande massa popular.
No salão nobre da Beneficência, Sacadura Cabral e Gago Coutinho receberam,
solenemente, os diplomas de sócios honorários.
Em seguida, por entre aclamações gerais, dirigiram-se todos ao
Largo do Rosário, a fim de procederem ao lançamento da pedra fundamental da estátua a Bartholomeu de Gusmão.
No Hospital da Santa Casa - Finda a tocante e expressiva cerimônia, os
aviadores visitaram o Hospital da Santa Casa de Misericórdia.
Ali foram recebidos pelo provedor, sr. Manoel Augusto de Oliveira Alfaya, srs. Augusto
Marinangeli, Luiz Alves de Carvalho, Sérgio da Costa Fontes, major Norberto de Macedo, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva, Augusto de Carvalho,
Alvaro Pinto da Silva Novaes, Theodoro Hayden, Antonio Candido Gomes, João Esteves Martins, Amedeu Ratto, Joaquim dos Santos Ribas, Luiz Antonio da
Silva e outras pessoas.
Depois de percorrerem demoradamente várias dependências do hospital, os aviadores
regressaram ao Parque Balneário Hotel.
No Teatro D. Pedro II - A brilhante récita em homenagem aos aviadores
- O entusiasmo da população santista em torno das figuras, já agora legendárias, dos bravos aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho, ainda ontem
teve ensejo de transbordar numa exuberante demonstração.
A récita de gala no Teatro D. Pedro II, no Macuco, assumiu
as proporções de uma deslumbrante apoteose.
Como havíamos noticiado, a receita bruta desse festival será entregue aos aviadores
para que os mesmos a distribuíssem às famílias das vítimas do desastre do Avaré.
A comissão promotora dos festejos, associando-se a esse belo gesto de altruísmo, fez
correr por sua conta as despesas do espetáculo de gala.
A Companhia Italiana de Operetas Léa Candini, dirigida pelo festejado tenor Arthur De
Angelis e pelo distinto maestro Giovanni Gemme, representou a linda opereta de Oscar Strauss Última Valsa, peça que tem tido ali um êxito
excepcional em suas sucessivas interpretações.
Ao elegante teatro, que a Empresa Cine-Teatral mandou ornamentar condignamente, logo
que foi aberto, começou a afluir uma seleta assistência, notando-se as nossas figuras mais representativas tanto na sociedade santista como na
colônia lusa.
O espetáculo foi iniciado à hora do costume, tocando no hall, durante os
intervalos, a banda do Corpo Municipal de Bombeiros, que o sr. Arnaldo Aguiar, vice-prefeito municipal, gentilmente cedeu para abrilhantar a festa.
Cerca das 22 horas, deram entrada no teatro os dois heróis. Logo que os autos que os
conduziam estacaram à porta, a multidão, que ali se aglomerara, compacta, prorrompeu numa frenética aclamação, dando vivas aos dois gloriosos
aviadores, a Portugal e Brasil.
O contra-almirante Gago Coutinho e capitão Sacadura Cabral vinham acompanhados dos
srs. vice-prefeito, em exercício, Arnaldo Aguiar; comendador Alfaya Rodrigues, oficiais da Marinha portuguesa e demais membros da comitiva dos
aviadores; comissão promotora dos festejos e muitas outras pessoas gradas da colônia portuguesa e sociedade santista.
Quando os aviadores deram entrada no salão de espetáculos, toda a assistência, de pé,
batia palmas estrepitosamente.
A orquestra executou seguidamente os hinos português e brasileiro, sob o entusiasmo
estuante da platéia.
Os dois heróis do espaço tomaram assento em seus lugares de honra.
Por essa ocasião, o dr. Heitor de Moraes, vereador municipal, leu uma formosa saudação
aos aviadores portugueses.
Falando em nome da cidade, o dr. Heitor de Moraes teve conceitos os mais expressivos,
fazendo a evocação dos primeiros tentamens para a realização dessa miraculosa conquista que é o vôo do homem, triunfando da miserável contingência
de algemado da matéria. Recorda o padre Bartholomeu de Gusmão. É Santos, a terra de poetas e heróis, que teve a glória de
participar desse arrojo do engenho humano, em seus primórdios.
O orador fala do heroísmo da raça portuguesa, evoca o infante D. Henrique na Escola de
Sagres, o ninho de capitães aventurosos, os primeiros desbravadores das vastidões incomensuráveis.
Ao terminar a sua peça oratória, o orador foi estrepitamente aplaudido pela vasta
assistência.
Do palco, as artistas, que haviam suspenso a representação, atiraram ao camarote dos
aviadores braçadas de flores.
A orquestra executou, novamente, os hinos português e brasileiro, findo o que
prosseguiu o espetáculo.
Encerrando a festa, realizou-se um leilão, no palco, de um original aeroplano, todo
ele feito de doce, oferta gentil da conhecida confeitaria À Leoneza, e cujo resultado reverteu em benefício das vítimas do Avaré.
Foi arrematante o sr. Agostinho Flores, que deu o maior lance, 60$000.
Posto novamente em leilão, o doce foi arrematado pelo sr. Luiz Alves de Castro, que o
licitou por 100$000, perfazendo assim um total de 160$000 o resultado do leilão.
Os aviadores visitam o dr. Ibrahim Nobre - Passou ontem, pessoalmente, pela
Delegacia Regional, a fim de cumprimentar o dr. Ibrahim Nobre, delegado regional, o comandante Sacadura Cabral.
O heróico aviador foi ali recebido por aquela autoridade, que também teve a visita do
contra-almirante Gago Coutinho, representado pelo oficial seu ajudante de ordens.
Em trem especial, que partirá às 10,20 horas, da gare da
Inglesa, regressará a São Paulo o contra-almirante Gago Coutinho, acompanhando-o os demais membros da sua ilustre comitiva.
O comandante Sacadura Cabral, ao que ouvimos, ainda se demorará alguns dias, fazendo
uma cura de repouso em Guarujá.
Gago Coutinho despede-se da A Tribuna
- Veio ontem à nossa redação o oficial da armada portuguesa, sr. Horácio de Faria Pereira, ajudante de ordens do contra-almirante Gago Coutinho, o
qual, em nome do intrépido aviador luso, nos agradeceu as palavras de entusiasmo com que nos vimos referindo à gloriosa façanha, que é a travessia
do Atlântico, e à missão altamente afetiva que desempenham no Brasil os dois ilustres e vitoriosos pilotos.
Um belo gesto da À Leoneza
- Os srs. A. Florez e Irmãos, proprietários do acreditado estabelecimento comercial À Leoneza, sabendo que se
realizava, ontem, no Teatro D. Pedro II, um espetáculo de gala em benefício das famílias dos marujos brasileiros perecidos no naufrágio do Avaré,
não quiseram deixar de associar-se a esse ato humanitário e, por isso, resolveram concorrer também para o brilho do festival.
Assim, aqueles comerciantes fizeram a oferta de um hidroavião manipulado na fábrica da
À Leoneza, em homenagem à travessia aérea do Atlântico.
Esse hidroavião, que é inteiramente fabricado de doce e trabalhado com capricho, foi
vendido em público pelo leiloeiro oficial sr. Olegário Mendes, que gentilmente se prestou a fazê-lo, revertendo, como se disse, o seu maior lance,
em benefício das famílias dos tripulantes do Avaré.
Uma comissão do Centro Republicano Português, antecipando-se à visita que os aviadores
lusitanos deveriam fazer àquela casa, e onde seriam recebidos solenemente, procurou-os ontem, no Parque Balneário Hotel, e entregou-lhes, como
afetuosa lembrança, um lindo e custoso bronze - Glória aos esportes -, de afamado autor francês.
Essa cerimônia realizou-se com a maior simplicidade e por isso mesmo foi especialmente
agradável aos ilustres representantes de Portugal.
- Entre as alegorias com que a cidade tem celebrado a grande façanha dos aviadores
portugueses, está a que foi armada na vitrine da Chapelaria Gomes. É o hidroavião Santa Cruz, em marcha sobre o oceano.
Com uma perfeição que tem merecido os mais calorosos elogios, conseguiu um modesto
artista local reproduzir, em folha de Flandres, o Fairey vitorioso, cujas hélices são acionadas por um pequeno ventilador oculto entre
folhagens.
Tem sido muito apreciada essa alegoria, principalmente porque o hidroavião em
miniatura é uma fidelíssima reprodução do Santa Cruz.
- Na secretaria do Real Centro Português, acham-se à disposição de seus donos um
agasalho de pele para senhora e um alfinete de gravata.
Missa em ação de graças - Conforme anunciamos, efetuou-se ontem, às 9 horas, na
igreja do Rosário, a missa mandada rezar pela Associação das Mães Cristãs, em ação de graças pelo êxito da arrojada travessia dos aviadores
portugueses.
As orquestras reunidas da Cine-Teatral, gentilmente cedidas pelo sr.
Manuel Fins Freixo, e o corpo de cantores corais daquela igreja, regido pelo distinto maestro Leonardo de Castro, prestaram
o seu valioso concurso a essa carinhosa homenagem.
O templo achava-se repleto, apresentando um belo aspecto, notando-se a presença de
todas as congregações religiosas desta cidade.
Não tendo podido comparecer, por motivo de força maior, os heróicos aviadores,
fizeram-se representar pelo tenente João Caldeira, que compareceu acompanhado do sr. João Mourão, membro da comissão de festejos.
Ao terminar a cerimônia, as crianças do catecismo aclamaram entusiasticamente os
gloriosos homenageados, na pessoa do seu digno representante.
Placa comemorativa, baixo relevo executado em bronze, oferecida pela Colônia Síria de
Santos aos aviadores portugueses - Trabalho do escultor sírio S. H. Maluf.
Esta placa, que perpetua a travessia aérea do Atlântico pelos bravos azes lusitanos,
merece elogios, pela maneira original com que o escultor procurou traduzi-la. As cabeças de Gago e Sacadura, ambas cortando a amplidão, unidas por
uma única junção de asas, transpondo os ares, como que a seguir a esteira luminosa que a nave de Cabral deixara, através dos séculos, entre a Torre
de Belém e Porto Seguro.
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