Dulcemar voltou ao prédio onde afirma estar o túnel por
onde caminhou
Foto: Paulo Freitas
SUBTERRÂNEOS
Artesã diz que andou em túnel aos 18 anos
O assunto desperta interesse, mas faltam pesquisas que comprovem histórias
Da Reportagem
A possibilidade de existir um túnel histórico sob a Avenida
São Leopoldo, descoberto pela Sabesp no último dia 25, trouxe à tona novamente as muitas histórias sobre as grutas e os
túneis secretos de Santos, construídos nos tempos coloniais com o objetivo principal de proteger a população do ataque de piratas.
O certo é que, apesar das lendas transmitidas por séculos, o Poder Público nunca se
interessou em investir em estudos que desmentissem essas histórias ou que, definitivamente, as comprovassem. A teoria dos túneis
sob o Centro da Cidade é reforçada pelas descobertas de redes subterrâneas ligando igrejas coloniais em diversos outros
pontos do Brasil, como Recife (PE), Salvador (BA) e Rio de Janeiro.
As histórias são muitas e se referem principalmente a uma ligação
subterrânea entre o Santuário do Valongo e o Mosteiro de São Bento, além de uma
outra sob o Morro da Nova Cintra, antigamente chamado de Tachinho. Também é muito citado
um túnel no Monte Serrat, que teria sido fechado na época do grande desmoronamnto do monte, em 1928. A Tribuna
publicou reportagem especial em janeiro de 1980 sobre o assunto, assinada pelo repórter Lane Valiengo.
Mapeamento - O túnel da Sabesp pode mais uma vez decepcionar os que acreditam na
cidade subterrânea. Ele será aberto em breve pelo Instituto de Pesquisas em Arqueologia da UniSantos para estudos. Mas o episódio está motivando o
início de um completo mapeamento das antigas galerias de drenagem do Centro.
A coordenadora do instituto, Eliete Pitágoras Brito Maximino, acredita que o estudo evitaria
que simples galerias fossem confundidas com túneis históricos. "Todo o Centro de Santos possui pequenos riachos que serviam
para drenagem, mas eles deixaram de ser usados com a urbanização da Cidade", explica. Ela é céptica a respeito das lendas, mas concorda que são
necessárias mais pesquisas sobre essa parte da história de Santos.
Testemunha |
"Nesse quarto havia uma escada e depois um longo
túnel, onde cabíamos todas nós de pé. Ele era feito de pedra e era úmido e escuro."
Dulcemar Dias Corrêa
Artesã
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Eu juro que vi - A maioria das pessoas que defendem a existência das passagens
secretas escutou essas histórias desde criança. Mas a artesã Dulcemar Dias Corrêa, de 60 anos, jura ter entrado em um túnel histórico quando tinha
18 anos.
Ela participava de um baile de Carnaval no Clube Tricanas de Coimbra, que funcionava no
antigo edifício Castelo, na Rua Júlio de Mesquita, 166. Ela conta que, devido à presença de um juiz de menores, os organizadores a colocaram em um
quartinho junto com algumas amigas, pois achavam que elas não eram maiores de idade.
"Nesse quarto havia uma escada e depois um longo túnel, onde cabíamos todas nós de pé. Ele
era feito de pedra e era úmido e escuro. Andamos muito tempo, mas depois ficamos com medo e voltamos. Nunca esqueci essa história, foi uma aventura
que sempre contava para meus filhos, e agora para os meus netos", relata Dulcemar.
A Tribuna esteve no local, onde hoje funciona a Igreja Evangélica Casa da Bênção, mas
o lugar indicado por Dulcemar virou depósito de entulho e quem ali trabalha ou freqüenta desconhece qualquer indício de uma galeria secreta.
Conforme a proprietária do prédio, construído em 1950, Lídia Esperança Pousada, nenhuma construção desse tipo foi localizada no imóvel, mesmo depois
de reformas e até do funcionamento de um posto de gasolina no térreo.
Mas Dulcemar não se intimida com a falta de provas. "Tenho certeza do que vi, inclusive
falei para o meu filho que a gente já tem onde se esconder caso comece a terceira guerra mundial", brinca. |