O esconderijo do Tachinho (*)
Foto de Carlos Marques em 1980 mostra a cachoeira da Nova Cintra,
no ponto descrito como saída do lendário túnel
Contam-se
histórias: há em Santos uma incrível rede de túneis, interligados, que data dos tempos coloniais. Muitas pessoas ouviram alguma coisa a respeito
destes mistérios, como muitos dos moradores do Morro da Nova Cintra. Como o seu Eduardo, fabricante de cachaça, que diz que desde menino ouve
falar do túnel que ligaria o morro ao Mosteiro de São Bento. Mas ele diz que, hoje, não acredita na existência desta passagem, pois já chegou até a
procurar, sem encontrar nada.
O nome original do morro é Tachy, palavra indígena que significa escarpa, barreira
escorregadia. O nome Nova Cintra foi dado por Luís de Matos, português que se fixou no local e já faz parte da história santista. No Tachinho,
como era conhecido o morro, existiria um túnel, que seria, segundo as hipóteses levantadas por estudiosos, a saída da passagem construída por
Bartolomeu Fernandes, o filho.
O historiador Francisco Meira escreveu: "O Tachinho está assinalado na nossa poranduba
pelo célebre refúgio da Nova Cintra, entrosado com a não desvendada Gruta da Nossa Senhora do Desterro, dos tempos coloniais. A topografia local nos
dá o que pensar. A nascente, formando pequeno salto, despenha-se por penedias tenebrosas juncadas de furnas, lugar propício ao mais seguro refúgio,
perdido no dédalo inacessível de frondosa mata".
Em seu trabalho Santos de Ontem, Meira apresenta fotografias de um antigo
paredão emparedado, existente junto à cachoeira da Nova Cintra, além de uma porta de pedra, "a lhe servir de verga uma pesada pedra". Segundo
estudiosos, esta passagem seria o início - ou final - do célebre túnel de que tanto se fala.
Alguns moradores do morro conhecem bem o local, e dizem que lá vive um homem, chamado
de Eremita. A provável entrada do túnel fica ao lado da cachoeira, no lado esquerdo de quem desce o morro em direção à Caneleira, escondida
entre a vegetação, "em lugar velado, sem aparente justificativa e no sentido da corrente...", como descrevia Francisco Meira.
(*) Extraído da matéria
Os subterrâneos de Santos, de Lane Valiengo, com foto de Carlos Marques, publicada em
6/1/1980 no jornal A Tribuna, de Santos/SP. |