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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Catedral: história e histórias (1)

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Este extenso trabalho sobre a Catedral de Santos foi organizado durante alguns anos pelo pesquisador de História e professor Francisco Carballa - muitas vezes narrando histórias em primeira pessoa por ter vivido naquela área -, e que em julho de 2017 enviou o material para divulgação por Novo Milênio:
 


A Catedral, com a torre ainda em obras, em 1927, em detalhe de foto de José Marques Pereira feita desde o prédio do funicular instalado no sopé do Monte Serrat

Foto-reprodução: Carlos Pimentel Mendes, em 25/8/2007

Efemérides

PRÉDIO - Igreja é um local onde se reúnem os cristãos, nome que vem de ecclesia ou assembleia, sempre em uma construção com um teto cobrindo o local de pregação e celebração o altar, podendo ser uma capela, igreja, catedral ou basílica, cada uma com a sua característica e hierarquia quanto à importância.

Mas, para ser uma catedral, é necessário ter a cátedra ou cadeira do bispo, que dali cuidará da diocese administrando, corrigindo, abençoando, pastoreando, aconselhando e pregando o evangelho ao fieis que são da sua diocese.

Foi nesse templo que fui batizado em 7 de outubro de 1962, fiz a primeira comunhão em 31 de dezembro de 1972 e registrei outros momentos importantes da minha vida. Por isso decidi escrever sobre as coisas que da Catedral pesquisei ou participei, pois cada um de nós é uma parcela da história desse lugar onde vive.

Pelas notícias que temos, a velha matriz estava se arruinando e decerto nada se fazia de reparos concretos - o que agravaria mais e mais o estado do prédio colonial do século XVI [01], no momento em que a Campanha Sanitária de Santos estava em verdadeira batalha contra os prédios antigos, sem se importar com época, importância, sentimento - ou com tentar arrumar e adequar, como fizeram com o recuo do Rosário em 1930.

Em 1906, a ordem era demolir, abrir espaços, alinhar ruas, destruir becos e largos, tanto é que pouco sobreviveu dessa época, pelo que podemos comprovar em fotos antigas, Ainda hoje, os remanescentes tem o mesmo fim, gradativamente.

Mas, antes de ser Catedral, era a Matriz da cidade de Santos e as pessoas estavam desejosas de modernidade e de um novo prédio, em área mais afastada do cais, e assim foram feitos os projetos.

Tudo começa com um projeto daqueles que no final não fica igual à proposta, por ser sempre adaptado ao tempo e lugar. Assim ocorreu com a nova Matriz de Santos, que é um projeto do alemão Maximilian Emil Hehl e que se afirma ser o mesmo arquiteto da Catedral da Sé de São Paulo/Capital.

Começam a organizar sua construção reunindo materiais, mas só vai tomar forma de igreja cristã ao ser iniciada a sua construção na primeira década do século XX, somente a partir de 12 de abril de 1925 receberá o título de Catedral e um bispo, através da bula ”Ubi præsules” do Papa Pio XI.

Devemos iniciar sua história com a demolição da antiga igreja que existiu onde é a Praça da República e a Praça António Telles, que começou a ser demolida em 1906 justamente quando a igreja do Rosário dos Pretos recebeu o título de matriz temporária e todas suas funções litúrgicas ou paralitúrgicas.

Conforme podemos comprovar na foto da inauguração do monumento de Braz Cubas, percebemos a igreja com data de 1754 sem parte do frontão e a cobertura da torre com seu galo de ponteira [02]. Assim o ano de 1908 seria mais correto se entender como o fim dessa demolição.

Já o assentamento da pedra fundamental foi em 1909 e a referência de 1967 é justamente do término da construção e posteriormente sua consequente e gradativa desconstrução.

Cúpula de cobre - Víamos a cúpula de cobre reluzente no verão e verde no inverno devido ao zinabre do metal, agora nunca soube se foi limpeza ou ação do sol que deixou a cor do cobre brilhando, o certo é que em fotos da época vemos essas constantes mudanças de cor. Atualmente, pintaram de verde a mesma cúpula, que tem uma história curiosa de tempos mais antigos.

Existe uma referência sobre a benção dessa cruz [03], narrando que para a cerimônia em especial foi organizada a descida de Nossa Senhora do Monte Serrat para a cerimônia da benção daquela cruz, quando foi colocada e que existe no topo da cúpula - que dá uma estabilidade na estrutura, mantendo-a firme durante as intempéries.

Assim solenemente veio do alto do Monte uma procissão até defronte à igreja, em 8 de dezembro de 1917, conforme o relato, recordando que até a metade do século XX era um dia de feriado no Brasil.

Infelizmente, pela falta de jornais ou relatos de quem viu, fica difícil ter mais informações sobre o evento, mas sabemos que nesse ano a cúpula já existia, o que lhe remete um século de existência oficial devido ao registro, podendo ser um pouco mais antiga sendo doação de Candido Graffeé (Novo Milênio).

Existe uma confusão sobre a benção da cruz do topo e da cúpula que menciona o ano de 1951, mas desfazendo tal equivoco, temos fotos de 1927 onde já vemos a cúpula com a cruz de sustentação benzida em 1917 e a torre sem a flecha e sua ponteira em forma de cruz.

Contavam os mais velhos - como dona Mathilde das Neves, o Sr. Pedro da Irmandade do Santíssimo e o Sr. Clovis F. B. de Almeida - que houve um padre que no afã de auxiliar a Revolução Constitucionalista de 1932 [04], decidiu-se a vender a cúpula de cobre da Catedral, mas foi barrado pelas irmandades e clero - afinal a cúpula era de todos e a revolução apenas de uma parte do Brasil e logo acabaria, como assim foi. Ainda completou o saudoso Clóvis: se tivesse a ponta da torre, também quereria vender.

O local que serviu de sede da revolução em Santos era a casa 53 da Praça José Bonifácio. Por isso, durante a demolição, observei que havia certa blindagem nas portas e janelas dessa construção. Também foi o monumento voltado para a frente dessa casam que foi demolida sem muita cerimônia ou respeito ao que um dia significou - foi o morador dela, o Sr. Clóvis Benedito Farias de Almeida (falecido em 2015) que me disse esse detalhe.

Afirma-se que a cúpula é renascentista, mas um detalhe da mesma referente ao desenho do arquiteto não foi colocado entre a divisão - ao todo em número de oito partes que formam a cúpula, que não é totalmente uma abóboda e sim seccionada em oito partes que teriam um alto relevo entre tais divisões para conter talvez a infiltração da chuva.

Há poucos anos essa cruz tombou e ficou guardada atrás da porta dos fundos do prédio da Catedral, até que foi restaurada e recolocada no seu lugar sem nenhuma cerimônia marcante. Sua base sofreu uma intervenção, perdendo a curvatura semelhante ao alto falante de um gramofone antigo que tinha, ficando o formato novo de um cone simples no lugar. Igualmente, o cobre dessa estrutura foi todo pintado de verde musgo, o que pode tanto ser para impermeabilizar como para igualar a cor por inteiro.

Sempre houve de tempos em tempos, entre os anos 1970 e 90 uma goteira para o lado esquerdo da cruz da nave, que parece ter sido finalmente sanada.

Poucas pessoas que subiram até perto dessa parte da Catedral relataram que a mesma é sustentada por um grande entrelaçamento das madeiras. Raras vezes se via o sacristão trocando lâmpadas que existiam ali, pois para isso precisaria subir pelo lado de fora no telhado para chegar até essa parte alta da construção.

A Catedral começa a entrar na vida dos cristãos santistas e assim começam as menções e eventos. Ns jornais antigos podemos ler os eventos e a referência ao templo, como no dia 3 de outubro de 1924 quando se convidam as irmandades e demais instituições católicas para o translado do Santíssimo e dos Santos em seus andores [05].

Como o cobre foi arrecadado ou comprado, até o momento não temos notícia, mas esperemos que se encontrem referências.


Ponteira da cúpula da Catedral, retirada

Foto feita em 8 de setembro de 2009 pelo professor Francisco Carballa, que cedeu a imagem a Novo Milênio

Gasômetro - Aquele dia de 1967 foi bem sacudido, junto com a explosão do Gasômetro. Pessoas se aglomeraram na Praça José Bonifácio em frente à Catedral de Santos, que saiu ilesa, salvo alguns danos mínimos. Poderia ter sido muito danificada pelo ocorrido, mas aquele pareceu o lugar mias seguro para todos, com medo de segunda ou terceira explosão. O povo das redondezas foi como uma grande hoste para a praça, gente rezando, gente conversando, gente chorando e gente assustada com todas as emoções que o momento provocou. Pela manhã, anunciaram que as chamas foram dominadas e não explodiria mais nada.

Ainda hoje percebemos alguns vitrais da catedral meio tortos e danificados por aquele dia, assim com o arco do Convento da Ordem 1ª do Carmo de Santos, que teve um desalinhamento ainda hoje visível, e a igreja da Ordem 3ª do Carmo que tem sua porta torta e afundada para um dos batentes.

Quem morou perto ou tem certa idade sempre terá uma história para contar desse acontecimento inesquecível. Morávamos no 250/altos da Rua São Francisco (de Paula) e minha mãe, temerosa, fora avisada pela nossa vizinha, dona Dita do nº 252/altos, para não acender velas, pois acabara a energia elétrica e pelo radinho de pilha de seu marido, o senhor Oswaldo, soube que se tratava de uma explosão.

Para ir até a nossa sacada, foi só depois de minha mãe verificar se ela não oferecia perigo de cair, pois notícias de abalos em telhados, construções e demais estruturas eram comentadas, a geladeira da Kibon da Padaria Estrela do nº 254 havia sido arremessada do outro lado da rua, arrombando as portas de ferro, e cada um dizia algo real ou imaginário. Na nossa casa, os globos de vidro ou opalina caíram, restando somente dois.

Era um dia diferente, vendo os bondes parados por ali e o povo alardeado. Diziam que eram os terroristas sabotando o gás encanado [06].

Presbitério - Passaria a ser usado como as demais dependências do templo, com o piso hidráulico, como era conhecido, por ser resistente e importado - o que o encarecia. Existe uma referencia no jornal de 1924, justamente a que fala que o piso foi cimentado para a inauguração de 1924; caberiam 400 pessoas acomodadas dentro do templo e seriam então, “no mais curto prazo possível, assentados os ladrilhos já escolhidos”.

Se foram colocados ladrilhos, eles decerto deram lugar ao piso granítico colorido que hoje vemos no piso e que -segundo se afirma -forçou a igreja do Rosário servir como Sé temporária mais uma vez até terminarem todo o chão da Catedral em 1938 e 1939, por um curto período de tempo.

Ao aplicarem as novas regras durante o concílio, de forma errada foi toda estrutura modificada, mais para atender as modernidades do que a aplicação dessas normas, pois - no lugar do sacrário e altar mor - colocaram a cátedra do bispo, ou seja, a autoridade humana no lugar da autoridade sagrada, motivo de muitas criticas por parte dos fiéis mais estudiosos na época.

No lugar da abside do presbitério, tiraram o altar de Nossa Senhra do Rosário, ficando só o supedâneo que foi retirado na ultima reforma em 2016. No lugar do sacrário e do altar, colocaram a cátedra do bispo, que no caso deixou de ficar na parede esquerda onde sempre esteve. Ao trazer para a frente o piso do presbitério, a antiga cruz do chão feita em granítica, tão comum nas igrejas antigas, perdeu parte de sua extremidade superior e os bancos que antes eram usados em divisão, como corredores formando uma cruz gigante ao meio, hoje ficaram aglomerados por inteiro na nave do templo.

Houve muitas desculpas para essa solução na Catedral:

1ª - Trazer o presbitério para frente foi uma forma de melhorar o som ou acústica. Temos e sempre tivemos equipamentos de distribuição acústica ou do som, existentes já na segunda década do século XX.

2ª - Trazer o sacerdote mais para perto do povo. O povo sempre esteve perto do presbitério.

3ª - Ter mais lugar para membros do clero ou de coroinhas em dias de cerimônia festiva com espaço para acomodar toda essa gente. Sem haver dias festivos, fica o espaço vazio atrás.

4ª - Implantação das normas do Concílio. Acho que alguém se equivocou.

Cada um que ache a resposta que lhe pareça mais adequada.

Nave - É a nave a base da grande cruz formada pela grande estrutura que é a Catedral. Conhece-se por esse nome a parte onde fica o povo dentro de uma igreja.

Na nossa Catedral houve uma alteração significativa na sua composição: na parte octogonal, antes haveria quatro divisões, sendo elas definidas pela cruz no piso - que ainda vemos na cor vinho claro com verde. Com as mudanças feitas, essa cruz perdeu sua parte superior e essa divisão que antes trazia ordem se perdeu.

Recordo-me que, para receber a eucaristia ou dar as ofertas nos anos 1970, se ia até o presbitério pela parte central e se saia pelas laterais, indo-se ate o final da igreja para voltar ao seu lugar. Quando vemos fotos anteriores a 1954 percebemos que não havia ainda as duas saídas laterais, pois a parede está intacta, sem as duas portas que usamos atualmente. Assim, essas duas entradas decerto foram uma exigência de segurança ou estavam no projeto original, podendo estar em outro local, mais próximas do presbitério, como é o costume.

Ficava encostado bem perto do batistério, na parede esquerda, o enorme tapete vermelho, em uma espécie de carrinho que era usado para desenrolá-lo no corredor central, para os casamentos e dias de festa como Corpus Christi - quando não se passava pelo meio e sim pelas laterais, sendo geralmente os bancos guarnecidos de fitas e flores para tal finalidade.

Temos os bancos com detalhes neogóticos que ocupam ainda hoje a nave da Catedral, com uma história ligada à fé: foram feitos pelo marceneiro português Estevão Tavares, do qual temos o relato de sua nora dona Aracy: “Esteve na 1ª Grande Guerra e o seu navio atingido começou a afundar; todos eles (marinheiros) se ajoelharam e cada um fez sua promessa. A igreja dele tinha a porta muito feia e - se ele voltasse são e salvo - iria para Portugal para fazer a porta da igreja". Também os primeiros bancos da catedral de Santos fora esse narcebeuri quem os fizera. O medico Martins Fontes o mandou pra Portugal por ter cortado os dois dedinhos - então ele aproveitou e já fez lá as portas da igreja, cumprindo a promessa por ter sido salvo do naufrágio. Ficou um ano lá para fazer essas portas, não sei se ele fez os bancos antes de ir ou depois, que ai eu não entrei em detalhes. Esta informação foi recolhida em 21 de julho de 2017.

Batistério - O nome já indica qual a utilidade desse local nas igrejas. O nosso batistério fica ao lado esquerdo da entrada da nossa matriz. Para entrar em seu interior, passamos por uma porta estreita, para recordar que é nossa entrada no paraíso, (Evangelho São Marcos, cap. 7, vers. 13/14), assim o arquiteto ou construtor da nossa Catedral transmitiu o ensinamento bíblico.

No centro do mesmo. existe uma linda pia batismal trabalhada em mármore e coberta por uma tampa de madeira ornamentada no estilo neogótico. O vitral identifica a cena do Batismo de Jesus por São João o Batista.

Foi esse batistério deixado de lado por algum tempo, servindo como depósito de objetos de uso diário da Catedral.

Paredes - Com o início dos anos 1970, pouco a pouco, foram sendo recobertas por uma tinta cinza e gélida que tornava o ambiente frio e desagradável para os mais sensíveis. Assim, desapareceram todos os adornos geométricos e com profundidade nos desenhos, feitos em têmpera amarela-ocre escura que havia nas paredes.

Como se pode comprovar por fotos antigas, as paredes eram todas decoradas com uma infinidade de desenhos geométricos, simulando baixos relevos. Os locais em que não havia janela (para os vitrais vindos da Alemanha) tinham vitrais desenhados imitando os existentes e na entrada antes do para-vento havia uma infinidade de flores-de-lis (símbolo de Nossa Senhora) desenhadas no teto rebaixado abaixo do coro. Em 1972, o então bispo decidiu pintar toda a Catedral na mesma gélida cor cinza que deixou o prédio fora de contexto histórico.

Há quem afirme que essa era a única catedral neogótica fora da Europa com elementos voltados para aquela parte do mundo e sem elementos das Américas, mas como já vi muita igreja por ai no estilo, fica difícil sustentar tal afirmação, visto que se diz ser a cúpula renascentista e as colunas com elementos gregos.

Quando a Catedral foi consagrada recebeu as cruzes que devem ficar no local onde o óleo consagrado foi usado para abençoar. Assim, vemos essas cruzes não muito artísticas com a vela na frente, que deveriam ser acesas em dias de festa.

Via Sacra - A que existe na nossa Catedral parece com pinturas, havia quem afirmasse que eram de Benedito Calixto ou se buscava o autor das mesmas, mas são simples cópias e temos a certeza quando vemos as mesmas figuras iguais em tamanho e desenho, mas com molduras diferentes que existem na igreja do Bom Jesus do Brás (em São Paulo, na Avenida Rangel Pestana, 1.421). Assim acabam as especulações da origem para um autor famoso da mesma via sacra. Essa Via Crucis foi colocada depois de 1941, conforme vemos em fotos antigas, pois até então eram pequenas figuras.

Lustres e arandelas - Os lustres da Catedral de Santos eram gigantescos até sua substituição há algum tempo, todos tinham lágrimas (pingos de vidro) caídas e suas serpentinas de vidro como um jorro de água enrolada com demais adornos como argolinhas presas nessas serpentinas, mangas ou donzelas lapidadas com bom gosto, como era antigamente.

Quando colocaram lustres novos no lugar, estes não conseguiram sobrepor os anteriores, os atuais com menor tamanho, mas bonitos e mais delicados, os antigos eram de pouco trabalho, mas gigantes; igualmente. havia por todas as paredes as famosas arandelas no mesmo estilo dos lustres, cada uma com suas duas lâmpadas. que ficavam espalhadas por toda igreja à altura acima de uma pessoa, sempre limpas e transparentes, eram de bom gosto no contexto que compunham.

Vitrais - Em alguns -como o que está no batistério, com a cena do Batismo de Jesus por São João o Batista -, bem na base do lado direito, pode-se ver o nome da fábrica onde foram feitos os vitrais, ”MAYER & CIA Munich Alemania”, tendo sua origem na Alemanha, sendo graciosos e leves.

Curiosamente, onde não os havia, mas existe a estrutura de uma janela, foram os mesmos pintados imitando esses existentes, o que sugere o mesmo período pós-instalação.

Percebemos que tem um arqueamento próprio do tempo da explosão do gasômetro em Santos. A firma Franz Mayer & Co., com sede em Munique/Alemanha - segundo o que se lê, mesmo faltando partes desse vitral, como podemos perceber nos que estão acima do Senhor Morto do Santo Enterro - é uma fabrica de vitrais que até hoje conta com mais de 150 anos de atividade, sendo uma das mais populares no início do século XX, servindo a igrejas no mundo inteiro. Em nossa Catedral, quando vemos fotos de suas obras, percebemos a semelhança e os detalhes.

Em fotos anteriores dos anos 1940 percebemos janelas de abrir da forma vitrô com alguma arte de vitral e muito comum nos anos 20 e 30 do século XX; depois, foram colocados os vitrais artísticos que estão lá ainda hoje.

Segundo se afirma nas visitas monitoradas por dona Vera do projeto “Vovó Sabe Tudo”, foi em 1950 que os vitrais vieram importados da Alemanha, apenas em vidros preparados no futuro molde que depois seria montado com cobre ou chumbo e preparado com a técnica exigida pela Casa Conrado, da qual o fundador também era alemão, tendo sua firma em São Paulo.

Os vitrais existentes nas laterais onde existem portas de saída foram prejudicados, perdendo sua parte baixa quando as mesmas passagens ali foram abertas no ano de 1958 em diante, possivelmente após do falecimento do monsenhor Luiz Gonzaga Rizzo (em 25 de março de 1958), pois em fotografias com o padre vemos que elas não existiam. Decerto foram instaladas obedecendo a normas de segurança ou estariam no projeto original - o que teria de ser apurado. O normal dessas saídas laterais é seren sempre na proximidade do presbitério, mas são instaladas onde houver mais necessidade.

Os vitrais evocam cenas bíblicas, acontecimentos cristãos ou relacionados à ladainha. Assim temos os pequenos vitrais em par da nave:

01 -Três lírios ou três rosas ao lado, recordando a trindade ou que a Virgem Maria é três vezes admirável.

02 – Rainha dos profetas com o rei Davi com sua harpa e a torre branca de marfim.

03 – Uma rosa com o M dentro ou Rosa Mística.

04 – Uma estrela refulgente ou Estrela da Manhã.

05 – Uma arca de ouro ou Arca da Aliança.

06 – Uma rosa branca e uma fonte ou fonte da sabedoria da ladainha.

Os três grandes vitrais com rosácea: Lemos um monograma nas rosáceas do AMR ou Ave Maria Regina:

01 – Vitral acima do altar de São José no lado direito da cruz da nave - vemos a Virgem do Rosário de Pompéia entregando o rosário para São Domingos no século XIII na França e Santa Catarina de Senna no século XIV, tendo a rosácea a predominância em vermelho e amarelo. Recordando que os dominicanos são os “cães” (canis) do Senhor (Domini) ou dominicanis.

02 – Vitral acima do altar da Virgem do Amparo do lado esquerdo da cruz da nave - vemos a Virgem do Rosário rodeada de anjos com a rosácea com predominância variações de cores rosadas.

03 – Vitral acima do coro ao pé da cruz da nave - vemos a Virgem do Rosário em glória rodeada de anjos com uma rosa nas mãos e a rosácea com predominância de azul.

Vitrais que compõem a parte octogonal da igreja. Lado esquerdo da nave do lado da torre e batistério: 01 – Referencia à ladainha: Torre Branca ou de Marfim e a Torre de David onde aparece o profeta com sua harpa.

Lado direito da nave perto da capela do Santíssimo Sacramento: 01 – Referência a Ladainha: Um ramo de três flores cor de rosa ou Mãe sempre Virgem e uma Rosa com o M de Rosa Mística.

Lado direito do lado da capela de Nossa Senhora de Fátima: 01 – Um cálice com um hóstia e uma custódia em alusão a eucaristia. Lado direito da nave em direção à torre menor: 01 – Referência à ladainha: Uma coroa e três rosas ou Rainha do Rosário.

Acima do presbitério temos sete vitrais com passagens bíblicas e nelas contemplamos:

01 – O casamento de Nossa Senhora com São José.

02 – Anunciação do Arcanjo Gabriel.

03 – Visita a Prima Santa Izabel ou a Festa da Visitação.

04 – A Virgem Maria coroada com as doze estrelas e a lua a seus pés, recordando a passagem do livro do Apocalipse cap. 12 vers. 1/18.

05 – Apresentação de Jesus ao templo ou purificação de Nossa Senhora.

06 – Perda e encontro de Jesus no templo ou Jesus entre os doutores.

07 – Assunção de Nossa Senhora ao céu.

Vitrais da Capela do Santíssimo:

01 – São Tomas de Aquino, compondo o Pange Língua, mais conhecido como Tantum Ergo.

02 – Santa Clara de Assis quando, empunhando a eucaristia, expulsou os sarracenos.

Vitrais laterais na parte baixa da nave:

01 – Acima das portas de saída, anjos e a palavra Sanctus três vezes, em alusão à oração que anjos, querubins, serafins e arcanjos repetem de três em três horas [07].

Entrada do lado direito lateral alta:

01 – São Pedro Apóstolo.

02 – São Paulo Apóstolo.

Batistério:

01 – O batismo de Jesus por São João o Batista.

02 – Ramos eucarísticos de trigo.

03 – Existe um terceiro vitral do lado esquerdo de quem olha da entrada da porta estreita do mesmo, mas está prejudicado pela parede feita em sustentação da estrutura e sacadão que vemos sobre as três portas de entrada. Seria interessante que tal vitral fosse retirado e colocado na sacristia - onde não há nenhum deles trabalhado, a não ser vidros coloridos em janelas com arte simples -, assim se aproveitaria essa vidraria com o esplendor que tem. e no seu lugar seriam colocados vidros simples ou um trabalho de vitral apenas na parte que existe iluminação pela passagem do sol e não a parede que o impede e prejudica o vitral.

Nave, lado direito:

01 – Uma estrela referente à ladainha “Estrela da manhã r.p.n.” e a Arca da Aliança.

02 – Monograma AMR ou Ave Maria Rainha e uma rosa branca com uma cruz.

03 – Um diadema com uma estrela acima e duas palmas numa estrutura que recorda uma fonte ou “fonte da sabedoria”.

Nave, lado esquerdo - por ter a parede da torre um dos vitrais foi suprimido:

01 – Três lírios brancos três rosas referentes à trindade, a pureza de Nossa Senhora e ao rosário e a Virgem Maria como três vezes admirável.

02 – Uma referência à ladainha da Porta do Céu. o que também pode ser o Espelho de Justiça e a Casa de Ouro.

Outras partes não receberam vitrais, como sacristia, consistório da Irmandade do Rosário, corredores internos e demais salas do prédio contiguo ao templo.

*
"A suntuosa capela do Santíssimo, que está sendo construída na Catedral, sob o patrocínio de A Tribuna. Do lado direito vê-se o último painel do pintor patrício Benedito Calixto", em 1928

Foto: jornal santista A Tribuna, em 26 de março de 1928 (cor acrescentada por Novo Milênio)

Capela do Santíssimo Sacramento - Foi feita em jornal uma campanha para construir o altar da capela do Santíssimo em 1927 [08] (não é de hoje que os jornais são um ótimo recurso para que se descubram coisas simples de uma cidade ou até do país).

Há uma nota de jornal onde o pároco da Catedral pedia o auxílio do povo para a construção da capela do Santíssimo Sacramento, para colocar seus altares e pinturas que datam dessa época, mas em 1924 o mesmo jornal anunciou que havia uma magnífica capela do Santíssimo ali instalada. Pelo que percebemos, as informações não estão de acordo. Existem pinturas datadas de Benedito Calixto onde podemos ver o profeta Melquisedec e o profeta Noé, assim como cena dos discípulos de Emaús, datadas de 1927, justamente o ano do falecimento do pintor, o que deixa essas obras como sendo das últimas que ele fez em sua vida.

A mesma capela no final dos anos 1960 ou início dos anos 70 ficou coberta com uma grande lona e lá dentro, a mando do então bispo, teve o altar retirado, seus dois anjos adoradores por algum motivo já haviam sido colocados no altar da Virgem do Amparo e assim se perdeu o trabalho em mármore e o sacrifício dos fiéis que se privaram de algo para doar o dinheiro - em nome de uma modernização em algo que se deveria preservar.

Foi triste ver a capela vedada aos olhos e a instalação da nova estrutura descompassada com o neogótico da nossa Catedral, onde por mais de 40 anos os cristãos fizeram suas preces devotas. Colocou-se no sacrário um solar de metal com trigo e uvas em baixo relevo. que no final dos anos 70 desapareceu, acreditando alguns que fora levado para dourar, mas surgiu uma história na boca de beatas de que foi furtado acreditando talvez os ladrões se tratar de ouro por ser de metal dourado. Novamente colocaram outra figura igual à primeira ou a própria.

A imagem do Sagrado Coração de Jesus que hoje se vê em uma peanha de linhas retas na capela, ao que parece, ficava em um nicho instalado em um vão na parede, como pode se ver em outro vão detrás do altar de Nossa Senhora de Fátima; pela foto antiga percebemos que colocaram a mesma forma dos vitrais menores nesse local e possivelmente a imagem estaria lá dentro protegida do tempo por vidros comuns.

Havia um lampadário [09], de prata bem grande e muito bonito que um dia pertenceu à velha matriz. Na sua parte inferior havia um enorme pingente esculpido em prata e suas três correntes de sustentação eram feitas em rosas com folhas de prata em baixo relevo, o bojo era abaloado e grande, onde ficaria a chama em outras épocas e depois a lâmpada com o vidro vermelho. Simplesmente no final dos anos 1980 ou início dos 90 foi furtado, assim como muitas peças sacras da Catedral e da região [09].

O antigo sacrário - cuja porta é feita de prata trabalhada com adornos e um cálice em alto relevo, sendo sua parte interna forrada com tecido de cetim - foi enviado para o Museu de Arte Sacra de Santos, tão logo ocorreu sua fundação.

Trouxeram um lindo lustre de Veneza para a capela do Senhor dos Passos do Convento do Carmo no final do ano 1978, aproximadamente quando estava recém-construída. Mas temeroso pela importância e pela qualidade, por ficar muito baixo na mesma capela, frei Rafael M. Marinho O.C., pegou e fez doação para a capela de Nosso Senhor na Catedral, como dizia, pois achou que ali estaria melhor e serviria pra Jesus Cristo da mesma forma que serviria no convento. Apenas estranhou o frade que não colocaram as donzelas ou copos em cada um dos braços do mesmo.

Altar mor - Lemos claramente na noticia do jornal A Tribuna uma referência a um altar mor em 1924, que seria então provisório, até que -tendo como pagar - pudessem fazer o definitivo. Não sabemos se o que foi demolido no final dos anos 1960 seria este aqui referido ou o que o isubstituiu, havendo uma referência popular que teria sido em 1969. Nos ano de 1966, sendo eu tenra criança, via o altar mor, sentado do lado esquerdo da igreja com minha mãe.

Via também a Virgem Senhora do Rosário Bendita ladeada por anjinhos voando ao seu redor entre fachos de luz, assim foi até o altar mor ser destruído impiedosamente detrás da enorme cortina que tomou o lugar nos dois ganchos que um dia suspenderam a tela de Calixto da Semana Santa.

Igualmente a parede ao fundo da Virgem Maria recebeu uma gélida cor de tinta, a mesma que tomou todas as paredes da igreja nos tempos de monsenhor João Leite, que encobriu tudo o que havia de adornos no presbitério e demais partes da igreja, inclusive os falsos vitrais pintados onde não havia passagem da luz na parede para justificá-los.

Podíamos ver na Sexta Feira Santa os mesmos cobertos com um tecido delicado como era o costume da época. O altar na segunda década do século XX teria sido concebido seguindo as regras da época com o lado da Epístola, ou seja, à direita do celebrante desde que olhando para o povo, e à sua esquerda o lado do Evangelho. Assim, víamos o púlpito de onde era lido o Evangelho e se dizia a Homilia ao lado esquerdo do sacerdote, recordando o rito da Missa Tridentina quando o celebrante se voltava de frente para o sacrário e ficava de costas liderando o povo na celebração, assim para o povo o lado do Evangelho era sua direita. Lado do Evangelho seria onde se lê o Evangelho e se faz a Homilia pelo padre. Lado da Epístola tem esse nome por ser o local onde se faz a 1ª leitura referente ao Antigo Testamento, em relação com a 2ª leitura referente ao Novo Testamento, tendo uma estante de leitura para tal finalidade.

Capela de Nossa Senhora de Fátima - Pela referência do jornal A Tribuna da época da inauguração, sabe-se que funcionou como sacristia, motivo pelo qual tinha uma porta para o presbitério no lado esquerdo onde hoje está um nicho onde se pode ver a marca do degrau antigo mais abaixo, depois acabou se tornando a capela de Nossa Senhora de Fátima em homenagem aos portugueses que auxiliaram na construção da nova Matriz. A Confraria de Nossa Senhora de Fátima só foi ereta em 1947 e a partir de então passou a ter as festas da oraga.

Essa passagem em forma de ogiva foi fechada, permanecendo como um nicho onde atualmente está o antigo São Sebastião que um dia esteve na Matriz.

Sacristia - É geralmente um anexo de uma igreja onde ficam guardados os paramentos sacerdotais, objetos da missa e de culto, assim pela indicação e nome foi o local atual que é usado como secretaria onde se marcam as missas e demais eventos referentes aos cristãos. Depois da construção do prédio aos fundos da Catedral, a sacristia foi colocada em uma sala interna com porta de acesso ao presbitério. Ainda hoje vemos o sinete pendurado na entrada da sacristia, que era usado para anunciar a entrada do sacerdote para a missa, com seu cordão que era muitas vezes tocado por crianças, o que causava certa confusão aos fiéis mais desavisados.

A sala que serviu no passado de sacristia está ao lado direito do templo e tem um trabalho artístico muito elaborado com características medievais sobre a ogiva, deixando a dúvida se no projeto original seria um vitral ou um gradil, mas a solução é muito bonita. Surgindo o local apropriado para a sacristia, deixaram de usar a capela lateral direita, que se tornou a capela que recebeu o título de Nossa Senhora de Fátima, como propunha o projeto.

Até cerca do ano de 2006 se viam expostas em arcasses antigos as imagens do Senhor Ressuscitado e de Nossa Senhora das Dores, na Sacristia, mas foram dali retirados e hoje tem a imagem da Senhora do Amparo.

Urna do Santíssimo Sacramento da Quinta Feira Santa – Trata-se de uma pequena urna esculpida em estilo barroco, possivelmente do século XVIII, com pés e toda cheia de entalhes, feita em madeira. É encimada pelo cordeiro na tampa, que abria pela parte de cima, sendo forrada em muitos casos com tecidos delicados. Sua finalidade é receber as partículas consagradas após a missa do Lava-Pés para sua distribuição na Sexta Feira Maior ou Santa, quando não há consagração e nem missa - cerimônia que ainda ocorre em todas as igrejas e na Catedral, mas a urna não foi mais usada.

A urna ficou exposta na sacristia, servindo como cofre de esmolas para as almas; o sacristão havia lixado a peça, retirando o dourado e colocando uma cor escura com verniz, mas conservava os entalhes abaloados e o cordeiro de Deus em cima, tendo uma pequena abertura onde se lia, em tinta branca “Esmola para as almas”. Era vista até meados dos anos 1980, quando a retiraram dali.


Urna do século XVIII que existia na sacristia da Catedral, retirada na década de 1980

Foto feita em 5 de novembro de 2018 pelo professor Francisco Carballa, que cedeu a imagem a Novo Milênio

Púlpito - O padriqueiro - como era chamado pelas senhoras galegas, esteve ali por muito tempo colocado no lado do Evangelho, segundo o rito da Missa Tridentina. Envernizado bem escuro, podia ser visto fixado na pilastra em frente à capela de Nossa Senhora de Fátima, ali se viam até certo tempo um desenho de uma espada, uma cruz e um coração que são as três virtudes cristãs a fé, esperança e caridade e o Espírito Santo em cima, reparando mais tarde em uma foto as duas tábuas de Moisés com o número em algarismos romanos do decálogo.

Já a portinhola de acesso era uma tentação para as crianças que subiam os degraus barulhentos de madeira seca até que alguém as colocasse para fora dali, geralmente as irmãs ou o sacristão, temendo que se machucassem ou caíssem, da altura que tinha.

Foi demolido sem muita cerimônia ou aviso, sendo que no início dos anos 1970 já havia desaparecido, contra a vontade do padre José Cardoso.

Coro - Projetado para os cantores entoarem seus hinos e estes ecoarem por toda a nave (infelizmente pouco usado atualmente, pois dali o som fica melhor difuso pela igreja) ao contrário de ficarem cantando do lado esquerdo e com alto-falantes.

Tinha em seu varandim um trono de Santíssimo Sacramento em metal com a imagem de Nossa Senhora Aparecida bem no meio dos balaustres e que hoje está na cripta, e diziam que tivera um lindo órgão de tubos, que não vi ou não recordo. Existem três versões do motivo para o bispo dom David mandor desmontá-lo:

1º - Estava sua estrutura com cupim e assim foi desmontado; mas como não pegou cupim no madeiramento do coro? - se pergunta Dona Vera, que faz o serviço de Vovó Sabe-Tudo.

2º - Vendeu-o para uma igreja protestante do Interior, por achar alto o preço para ele ser arrumado.

3º - Não gostar desse tipo de instrumento musical e preferir o órgão moderno ou violão.

Cada um que julgue qual dessas três informações seria a mais correta ou se as três são apenas uma só.

Cheguei a ver o lugar desse órgão quando cantava no coral nos raros dias que íamos lá pra cima cantar em dias festivos com a irmã Clarice. Mas aos poucos vão se perdendo os detalhes originais, como duas peças de madeira trabalhadas que eram o fim dois pontos nas extremidades, na parte debaixo do grande balaústre, que se projetavam igualmente para baixo e se perderam recentemente.

Campanário e sinos - Foi em 3 de junho de 1951 que o jornal A Tribuna noticiou a benção dos sinos e sua inauguração na nossa Catedral, com as cerimônias próprias do evento. Assim foi noticiada, mas ali tem um equivoco quanto ao informe sobre as notas musicais dos mesmos, que compõem as sete notas musicais. A cerimônia de “batismo” de um sino - que tem sua regras bem definidas nos rituais - parece que não foi usada quando a Prefeitura deu um novo sino para o Santuário do Monte Serrat de Santos em 1980. Estando eu na cerimônia de “Juramento da Bandeira” na trigésima primeira Junta de Serviço Militar na Rua Paraná, 131, podia escutar o toque do sino que estava sendo colocado na sua sineira, o que identificou sua instalação sem as cerimônias usuais.

Quem observa da praça ou da rua não tem ideia de sua altura. Eu tocava o sino Jesus Eucarístico que fica justo na ponta da janela gótica, bem ao alto, nunca quis me dependurar na corda mais abaixo por dar uma sensação desagradável durante a puxada da corda para cima, preferi tocá-lo segurando na alça sem encostar jamais no sino [10].

Eu me sentia o próprio corcunda da história de Notre Dame, mas para tocar havia uma regra, primeiro eu começava com o maior de todos com sua nota Dó, depois que ele bimbalha cerca de três vezes começava o sino Nossa Senhora do Rosário e assim por diante, compondo todas as sete notas musicais e uma alegria para os ouvidos dos cristãos.

Para subir à torre havia uma porta pequena no lado esquerdo do coro de quem olha para o presbitério dele, depois uma passagem pequena e apertada em forma de espiral muito inclinada que de noite era cheia de baratas da cor de lacre, assim subíamos com velas e o contra vento, depois galgávamos os degraus de madeira e finalmente chegávamos aos patamares onde estavam distribuídos os sinos. Havia uma escada central que iria ate a parte debaixo da cruz ponteira da torre, mas devido à altura eu nunca consegui chegar ali sem me sentir mal. Para tocar sinos, era uma verdadeira aventura entre vencer a si mesmo e os obstáculos.

Muito toquei para várias festas e procissões, recordam-me alguns dos nomes de alguns como o sino Jesus Eucarístico, o sino Nossa Senhora do Rosário, o sino São José, o sino Anjo da Guarda etc. Tocamos sinos para as procissões de Nossa Senhora de Fátima o que me valia uma boa corrida da procissão em duas quadras de distância até a Catedral, escadarias e sinos tocaram para receber a Virgem do Monte e sua saída, a proclamação da Ressurreição do Senhor Jesus no sábado de Aleluia, sendo recordado que o romper da Aleluia sempre é primazia da matriz - no nosso caso, da Catedral de Santos -, aniversários principais da ordenação de dom David, e festas que ocorreram, passei a toca-los na Catedral junto com o saudoso confrade Waldemar T. Jr.

Esses sinos são bimbalhados e não repicados, o meu favorito era o que tem o nome Jesus Eucarístico (o maior de todos): para conseguir mover aquela almanjarra tinha que me pendurar na alça do mesmo e fazer força com o corpo, para que ele pudesse começar a se movimentar, de forma que - indo e vindo - o badalo atingisse os dois lados do sino, criando o som característico do mesmo. Os outros sineiros começavam sempre que o meu dava dois toques, ou seja, no lado direito e esquerdo, sendo a vez do outro iniciar o toque do seu sino; assim, os seis sinos bimbalhavam compassadamente, menos o de nome Nossa Senhora do Rosário (o segundo em tamanho e ordem de importância), por não ter badalo.

Recordo-me que a cruz do topo da torre ficou torta e foi caso de interdição no acesso à parte interna da estrutura que envolveu até os bombeiros que deram seu laudo técnico favorável à torre, não sendo preciso interditar a Catedral como já era esperado. Outro caso foi o ultimo degrau de madeira interno estar meio solto, carente de uns pregos, o que também gerou certa polêmica, mas por parte do pároco que impediu o acesso para o toque de sinos - que sempre foi manual.

Foi mencionado em um jornal que em 23 de novembro de 1951 ocorreu a benção da cruz da cúpula da Catedral. Procurei em jornais e nada encontrei, sendo possível a nota se referir à cruz da torre, pois a cúpula já cobria o templo nos anos 1920, como comprovado em fotos antigas, e a torre maior não era coberta.

Existe do lado direito de quem olha a Catedral, de frente, uma torre menor, cujo interior é uma escadaria que dá acesso ao coro, ali havia dois pequenos sinos que foram retirados no final anos 1970; sempre foi pouco cuidada, até recentemente quando instalaram o veleiro debaixo dessa escadaria e hoje os cristãos podem acender ali suas velas, sendo que antes elas ardiam dentro da capela de Fátima em uma espécie de mesa metálica, e do fumo das velas as paredes eram comprometidas.

Parte externa - Era comum quem passasse pela calçada da catedral percebesse o forte cheiro de urina despejada nos cantos da construção, sem muito pudor, pelos passantes de altas horas da noite, do baile da Humanitária etc. Começou uma verdadeira guerra contra essa pratica e o cheiro de urina que incomodava a Catedral e os fiéis: por ordem do pároco, o pedreiro passou a preencher entre as quinas externas da base de cada ponto de sustentação das paredes com entulhos e cimento bem liso. Assim, nos anos 1970 estavam lá esses preenchimentos que acabaram os cantos e por sua vez os locais onde indigentes de noite faziam necessidades, livrando a todos do péssimo cheiro.

As grades de frente da porta principal, abaixo dos arcos, também foram colocadas por força de necessidade maior, e até hoje ali estão para livrar o lugar dos indigentes que dormiam, faziam necessidades e outras coisas sem se importar com os fiéis entrando para a missa ou demais funções religiosas, sempre incomodando os passantes - até chegaram a acender fogo ali em uma noite fria -, pediam dinheiro e quando não o ganhavam se escutavam os tradicionais palavrões.

Recordo-me de uma senhora lusitana vestida como o eterno luto falando que: “São as gralhas dos infernos que colocaram aqui” - pois nem todos entendiam a necessidade disso, outros aceitaram com mais entendimento e apreciaram sem a mística de alguns fiéis. Os jardins existiam nos fundos dos anos 1960 aos anos 80, até ser necessário retira-los por ter se tornado local de despejo de lixo e demais sujidades ali deixadas por populares.

Colocaram jardins ao redor da Catedral e uma senhora que ali trabalhou, dona Terezinha, cuidava deles e os limpava, mas passaram a ser sanitários de indigentes e foram suprimidos. Já plantaram pinheiros do tipo araucária, que tiveram boa altura, depois palmeiras que ficaram altas ao lado da Catedral, até que retiraram por causa das raízes e suas complicações e finalmente colocaram um gradil na saída do lado esquerdo e jardineiras.

Recentemente foi feito um passadiço na Rua Marrey Junior entre a Praça José Bonifácio e Rua Dr. Ademar de Figueiredo Líra, mas que serve para o transito de veículos sobre o piso - que permite a água das chuvas penetrarem no solo.

Parte dos fundos - Formada por um prédio contiguo à estrutura da igreja e que afirmaram ser do ano de 1960, mas com claras características do final dos anos 50.

Subindo pelas escadas no final do corredor que existe atrás do presbitério, ficava a sala superior no terceiro andar, onde passamos a ter catecismo, ensaiar pra festa junina, o grupo de jovens se reunir etc., Quando descíamos as escadarias, era correndo e nos canos de adorno que tem no andar final, a gente se jogava segurando o cano e dando uma meia volta no ar, como se fosse um daqueles canos que os bombeiros costumam descer; as irmãs brigavam, assim como as catequistas, mas sabe como são meninos, a gente continuava a fazer isso. Dali saíamos no portão e das escadarias para a Praça Dom Idílio José Soares, onde hoje está exatamente o salão paroquial da Catedral. Gostava de ver os vitrais da abside pela pequena área que existia na parte de trás.

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