De Vaney (E), Perilo Prado, Giusfredo Santini, Francisco Paino e Carlos Fonseca (D)
O grande feito de A Tribuna era relembrado por De Vaney (cronista esportivo santista), que aparece à esquerda, quando ouvia os componentes da equipe precursora das reportagens faladas, Perilo Prado, Giusfredo Santini, Francisco Paino e Carlos Fonseca, que instalou o serviço de alto-falante
Há 66 anos 'A Tribuna' inaugurava a era dos alto-falantes no Brasil
Hamleto Rosato (*)
Fala-se hoje em dia, em todo o mundo, em Informática. Nessa curiosa e atraente arte de informar, A Tribuna tem o seu lugar garantido. Com justiça, pois até os idos de 1927 os grandes recursos da Imprensa para a informação precisa, segura, eram somente o telegrama e o telefone. Foi justamente A Tribuna que, pela primeira vez, em 1927, inaugurou o serviço de alto-falante. Bem antes, porém, o jornal se valia do que então existia, o telegrama e o telefone.
Francisco Paino, um dos redatores de A Tribuna, versátil como todo jornalista da época, era, como se dizia, pau para toda obra. Conversando com Giusfredo Santini, lembraram de que paulistas e cariocas iriam disputar o Campeonato Brasileiro de Futebol. A Tribuna precisava fazer alguma coisa, mas algo melhor do que vinha sendo feito, lembrou Giusfredo Santini. Até então, o jornal informava através de cartazes que ia colocando à porta do jornal. Juntava gente. Muitos ficavam na ponta dos pés para conseguir ler. Ou então esperavam que alguém saísse ou mesmo perguntavam o que estava escrito.
Durante a conversa, Santini, com Paino e Perilo Prado, que colaram muitos cartazes na frente do jornal, lembrou-se do cidadão Carlos Fonseca, com ramo de eletricidade à Rua Itororó, pertinho do jornal. Chamou o sr. Carlos Fonseca, fez perguntas e depois sugestões. O sr. Fonseca pensou um instante e topou a idéia. Um alto-falante seria colocado na sacada de A Tribuna. Testaram as vozes de Santini, Perilo e Paino. E tudo então ficou resolvido. Paino iria ao Rio de Janeiro e usaria o telefone. Alcino Rollemberg, que recebia telegrama pelo telefone, bateria à máquina a descrição feita por Paino e Perilo Prado entregaria a Santini o trabalho recebido.
A Tribuna noticiou que faria, pelo alto-falante, a descrição do grande jogo. Seria a primeira reportagem falada no Brasil. Estava o jornal consciente de que novo serviço seria prestado ao povo de Santos. Era a primeira vez no Brasil que seria, de certa forma, irradiada uma partida de futebol de uma cidade longínqua.
Francisco Paino, do Rio de Janeiro, do estádio de São Januário, usava o telefone. Era algo de novo na evolução da arte de informar. O dia era 13 de novembro de 1927. Já às 14 horas, começou a juntar gente em frente ao edifício do jornal, na Rua General Câmara. Nascimento Júnior, que concordara com a idéia, aprovando-a, ali estava. Ansioso, junto com Giusfredo Santini, Perilo Prado e outros elementos da Redação. Faltavam dez minutos e a voz de Giusfredo Santini, calma, segura e bem clara, fez-se ouvir. Lá fora o povo vibrou. O alto-falante na sacada do prédio, com a assistência do sr. Carlos Fonseca, estava funcionando, e bem.
O povo tomou conta da Rua General Câmara, desde a Rua Martim Afonso até a Rua Augusto Severo. Todo o espaço tomado. Verdadeira multidão aguardava o início do jogo, paulistas e cariocas. Os esportistas iriam ouvir a irradiação.
Precisamente às 15 horas, o juiz trilou o apito. Aqui, em Santos, a voz de Giusfredo Santini foi ao ar: "É dada a saída". E a narração foi feita até o final. O povo vibrou. A Tribuna, pioneiramente, lançava o serviço de irradiação de partida de futebol no Brasil. Nascimento Júnior, Santini, Perilo Prado, Alcino Rollemberg, Décio de Andrade e outros redatores estavam orgulhosos do jornal. E o povo, lá fora, apoiou a iniciativa. Mais tarde, da Bahia, seria feito o mesmo serviço. Santos, mais uma vez, inovava. A terra de José Bonifácio de Andrada e Silva, predestinada a grandes realizações, mostrou ao Brasil a visão e o dinamismo de sua gente.
(*) Hamleto Rosato (o Tio Leto) é jornalista, criador do suplemento infantil A Tribuninha, que circula semanalmente com o jornal santista A Tribuna, e autor de livros para o público infanto-juvenil em Santos.
N.E.: Com a morte de Manoel Nascimento Júnior em 1959 (aos 50 anos de idade), Giusfredo Santini o sucederia na direção do jornal A Tribuna, função em que permaneceria até a sua morte em 1990, quando seu filho Roberto Mário Santini assumiu a direção do grupo A Tribuna.
Deste alto-falante na sacada de A Tribuna saiu a voz de Giusfredo Santini, que irradiou o jogo, transmitido do Rio de Janeiro pelo telefone, por Francisco Paino:
Da sacada de A Tribuna, deste alto-falante, saiu a voz de Giusfredo Santini que irradiou a partida
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