O navio fez a viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata em 1927
Dos cinco grandes transatlânticos de passageiros ordenados pela armadora Blue Star Line em 1925 para a Rota de Ouro e Prata, já foram narradas
nesta coluna as histórias sintéticas de três deles, todos construídos pela Cammel Laird: Almeda, Arandora e Andalucia.
Resumimos alguns pontos relativos às características destes cinco navios gêmeos a motor. Foram construídos para servir o tráfego de passageiros (só em primeira classe) e de carga (principalmente carne congelada ou
resfriada) entre o Reino Unido, o Brasil e o Prata e vice-versa.
Possuíam acomodações luxuosas para cerca de 180 passageiros e enorme capacidade de espaço (425 mil pés cúbicos) para carga refrigerada.
Fama - Entraram em serviço um após o outro no curto espaço de tempo de cinco meses a partir de fevereiro de 1927, ligando Londres a Buenos Aires, via escalas intermediárias e inevitavelmente tornaram-se
muito famosos nos portos de escala.
O quinteto de navios da Blue Star era o único dos transatlânticos a oferecer um serviço exclusivo de primeira classe de luxo entre todos os que faziam a Rota e Ouro e Prata.
Os seus espaços internos eram enormes em proporção ao número máximo de passageiros transportados; a decoração de salões e cabinas fora feita com muito bom gosto, com tonalidades de cores leves e móveis de estilo
clássico francês, que ampliavam a sensação de espaço e luz.
Nesta foto, o navio da Blue Star Line ostenta o nome de Avelona Star
e já está transformado em cargueiro
Foto publicada com a matéria
Robustez - Exteriormente, eram navios de um único desenho de prancha, bem equilibrados nas suas linhas, embora não pudessem ser qualificados de graciosos. Apresentavam perfil muito característico, dando
imagem de robustez e funcionalidade.
Haviam sido dotados de oito conveses, que, de cima para baixo, receberam os seguintes nomes: dos botes, do passeio, do passeio inferior, da ponte, superior, principal,
inferior e orlop.
As cabinas de passageiros encontravam-se todas nos conveses dos botes e do passeio. No deck (convés) do passeio inferior, encontravam-se o hall de entrada,, um salão de estar, um
salão de música, um salão de fumantes e uma varanda, dotada de um bar.
O grande salão de refeições e as instalações anexas de copa e cozinha encontravam-se no convés superior, na altura do qual, porém, na popa (ré) haviam sido instalados o hospital e a lavanderia de bordo.
Estaleiro - O Avelona foi lançado (tal como o Avila) das rampas do estaleiro John Brown, às margens do Rio Clyde, em 6 de dezembro de 1926. Este famosísimo estaleiro, localizado a sete milhas
(13 quilômetros) Rio Clyde abaixo de Glasgow, iniciou as suas operações em 1871, sob o nome de J. & G. Thomson.
Em 1899, esta firma foi encampada pela do produtor siderúrgico John Brown, cuja fortuna havia se originado em Sheffield, Inglaterra, e que, no decorrer do século XX, foi responsável pelo aparecimento de altíssimo
número de navios famosos: Lusitania, Carmana, Mauretania, Laurentic, Aquitania, Franconia, Oronsay, Empress of Britain, Queen Mary,
Queen Elizabeth, Queen Elizabeth 2 e dezenas de outros grandes transatlânticos de passageiros surgiram na localidade de Clydebank.
Em 20 de maio de 1927, o Avelona zarpou de Londres em sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata, realizando escalas em Madeira, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires.
Dois anos mais tarde, receberia a palavra Star acrescida após o nome original, palavra que também havia sido acrescentada a todos os outros navios da frota da Blue Star.
Crise - Com a grave crise econômica mundial do início da década de 30, a armadora britânica providenciou a retirada do Arandora Star do serviço da linha sul-americana, convertendo-o em navio-cruzeiro.
Ao mesmo tempo, foi decidido transformar o Avelona Star em simples cargueiro.
O transatlântico foi então recolhido ao seu estaleiro construtor, onde passou por extensa reforma.
A sua superestrutura foi completamente modificada, retirando-se a segunda chaminé (que, de qualquer maneira, era postiça) e eliminando-se toda a parte central e posterior acima do convés do passeio.
Adicionaram-se três novos pares de guindastes, um na extremidade da ponte de passeio e dois outros na rente e atrás da única chaminé.
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Em 1934, o navio tinha a maior capacidade de carga refrigerada do mundo |
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De novo na rota - Em 1934, o Avelona Star voltou a navegar na Rota de Ouro e Prata, levando, a partir daquele ano, o título de maior navio com capacidade de carga refrigerada e congelada do
mundo.
Com a reforma, a sua tonelagem havia passado para 13.400 toneladas de arqueação bruta (tab) e a sua cubagem de porões para o impressionante volume de 652 mil pés cúbicos.
Entre 1935 e 1939, o cargueiro realizou cerca de 40 viagens redondas (de ida e volta) entre a Inglaterra e a Argentina, escalando em portos brasileiros.
Foram, assim, transportadas nos seus porões centenas de milhares [de toneladas] e carne dos pampas e dezenas de milhares de caixas de frutas argentinas, uruguaias ou brasileiras (maçãs, peras, laranjas, limões,
ameixas, bananas e outras).
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A 2ª Guerra Mundial surpreendeu o Avelona no porto de Dacar,
no Senegal, África |
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Conflito internacional - A eclosão da Segunda Guerra Mundial surpreendeu o Avelona Star no porto de Dacar, em Senegal, na África. Como todos os outros quatro navios da série, o Avelona Star
continuou a navegar para a América do Sul, carregando as preciosas remessas de carne platina para o Reino Unido.
Em finais de maio de 1940, o navio zarpou de Buenos Aires, sob o comando do capitão George Hopper, com destino a Londres e escalas intermediárias em Santos e Freetown (Serra Leoa), onde carregava frutas e café.
Com os seus porões lotados de 5.700 toneladas de carne frigorificada, 1.000 toneladas de laranjas e 500 toneladas de café, o Avelona Star atravessou sem problemas o Atlântico Sul, aportando em Freetown em 15
de junho.
No dia seguinte, saía desse porto, levando a bordo o comodoro (oficial responsável) de um comboio aliado composto por 34 navios, comboio este que havia zarpado da costa da Serra Leoa dois dias antes, tendo três
contratorpedeiros como escolta e as águas inglesas como destino.
Recuperação - No dia 18 daquele mês, o Avelona Star, graças aos seus 15 nós (28 quilômetros horários) de velocidade, alcançava o comboio, passando assim a dele fazer parte, como navio-comodoro.
Doze dias mais tarde, em 30 de junho, domingo, acontece o primeiro ataque de submarino ao comboio, com o torpedeamento do Clan Ogilvy, danificado, mas não afundado.
São passadas as ordens ao comboio de manobras diversivas de zigue-zague, mas isto não impede que novos ataques aconteçam.
Às 21h30, o Avelona Star recebeu um torpedo na parte dianteira do seu lado de boreste (lado direito), disparado pelo submarino alemão U-43, do comandante Ambrosius.
O ataque ocorreu a 200 milhas (370 quilômetros) a Oeste do Cabo Finisterre, nas coordenadas 46º46' Norte de latitude e 12º17' Oeste de longitude.
Explosão - Após a explosão e a gigantesca coluna de água, o cargueiro da blue Star apresentava uma inclinação de 20 graus no lado atingido.
Poucos minutos depois, uma das caldeiras explodiu, produzindo uma nuvem de fumaça negra que subiu aos céus e desceu sob a forma de chuva de cinzas misturada com vapor.
Estava claro, a partir daquele instante, que o navio não tinha salvação.
A sua tripulação começou a abandoná-lo às pressas, usando as baleeiras e algumas balsas de salvamento, e assim 78 homens puderam ser salvos no Beignon, que fazia parte do comboio.
O Beignon, de 5.128 tab, provinha da Austrália e destinava-se a Newcastle-on-Tyne, tendo a bordo uma preciosa carga de 8.816 toneladas de trigo.
Novo ataque - Este vapor de bandeira francesa seria, por sua vez, torpedeado poucas horas depois de ter recolhido os homens do Avelona Star e assim estes se encontravam novamente como náufragos, duas vezes
em menos de três horas.
Finalmente, foram os contratorpedeiros de escolta a salvar 108 pessoas que estavam no Beignon, 30 de sua própria tripulação e os 78 que haviam sobrevivido ao ataque ao Avelona Star. |