Fundada em 1852 na cidade e porto de Liverpool, a South American & General Steam Navigation Co. tinha por objetivo estabelecer um serviço postal e de
passageiros entre a Grã-Bretanha e a costa Leste da América do Sul. A viagem pioneira do Teviot, da Royal Mail Steam Packet (RMSP), trouxe de
imediato um melhoramento importante para a comunicação entre a Europa e o Brasil e os países do Prata. O emprego de navios a vapor permitia manter uma tabela de marcha e, conseqüentemente, a pontualidade que não era possível até então ser obtida
com navios a vela.
Mas, mesmo que bem importante, este primeiro passo da Royal Mail não era por si só suficiente para uma completa satisfação dos usuários postais.
O plano de saídas mensais provocava ainda atrasos consideráveis na entrega de correspondências. Um bom exemplo disso pode ser exemplificado com a troca de correspondência entre um banco de Londres e um homem de
negócios no Rio de Janeiro. A carta, enviada pelo banco em 8 de janeiro de 1851, recebeu resposta, vinda do Rio de Janeiro, em 15 de março. A segunda missiva do banco só alcançou as mãos do homem de negócios do Rio em 9 de maio. Foram necessários
cinco meses para a troca de três missivas entre as cidades de Londres e Rio de Janeiro.
Em 27 de abril de 1852, a South American endereçou à Direção Geral dos Correios de Sua Majestade Britânica uma petição oferecendo os serviços da empresa para o transporte de correspondência oficial entre o Reino
Unido, Brasil e o Prata, com saídas mensais, serviços a serem executados contra a contribuição de subsídios de 700 libras esterlinas por viagem! A proposta foi recusada. isso não impediu que os planos para a criação de uma nova ligação marítima
fossem adiante.
Encomendas - A South American passou ordens ao estaleiro John Reid & Company, do porto de Glasgow (Escócia), para construção de três vapores de 1.100 toneladas
cada, vapores que seriam batizados como Brasileira, Olinda e Lusitania.
Os dois primeiros foram lançados ao mar em abril de 1853 e o último em agosto. O Brasileira inauguraria os serviços da empresa na Rota de Ouro e Prata, saindo de Liverpool em 24 de agosto do mesmo ano
com destino ao Rio de Janeiro, via Lisboa, São Vicente do Cabo Verde, Pernambuco e Bahia, sob o comando do capitão Green. O Olinda seguiria um mês mais tarde, enquanto que o Lusitania o faria em novembro.
O Brasileira realizou a travessia em 19 dias e meio, reabastecendo-se de carvão no porto da Bahia. A viagem de retorno à Europa iniciou-se em outubro com chegada a Liverpool em 5 de novembro. Assim, a viagem
de ida e volta levara 73 dias, dos quais 21 foram gastos com o vapor imobilizado nos diversos portos de escala.
O Brasileira realizaria um total de quatro viagens de ida e volta na Rota de Ouro e Prata e, em 1854, foi vendido para a Messageries Imperiales e em seguida destinado para o
transporte de tropas para a Guerra da Criméia.
O segundo vapor da South American teve vida bem curta. Após sua viagem inaugural, iniciada em 24 de setembro de 1853, e terminada em dezembro do mesmo ano, o Olinda zarpou para sua segunda viagem em 26 de
janeiro de 1854 e horas mais tarde encalharia na costa próxima a Holyhead (País de Gales), sendo em seguida considerado irrecuperável.
O Lusitania, último do trio, teria o mesmo destino que o Brasileira. Após quatro viagens na Rota de Ouro e Prata, seria vendido à Messageries Imperiales e, rebatizado com o nome de Hidaspe,
duraria até 1864, quando seria destruído por um tufão perto de Cingapura.
Foi no porto de Pernambuco que o Imperador realizou sua primeira escala no Brasil
Foto publicada com a matéria
Outros dois - A South American, no entretempo, havia ordenado ao estaleiro John Laird mais dois navios, com maior tonelagem, para substituirem o naufragado Olinda. O novo par sairia do estaleiro com
os nomes de Bahiana e Imperador, em janeiro e julho de 1854, respectivamente. Como os precedentes, o Bahiana e o Imperador eram inteiramente construídos em ferro, fato não muito comum na época. Possuíam uma só chaminé e
três mastros de velas, pois, além da máquina a vapor, a propulsão era auxiliada por velas.
O Bahiana teria vida mais curta que o Imperador, sendo demolido em 1875 no porto de La Ciotat, depois de servir por apenas um ano à South American e vinte anos para a Messageries Imperiales, com o
nome de Simois.
O Imperador realizou sua primeira e única viagem na Rota de Ouro e Prata, zarpando em 24 de outubro de 1854 de Liverpool para o Rio de Janeiro, escalando em Lisboa, Madeira, Pernambuco e Bahia. Nessa
viagem, permaneceu ancorado na baía de Guanabara do dia 21 de novembro até o dia 1º de dezembro de 1854, datas respectivas de sua chegada da Europa e de sua saída do Rio de Janeiro para Liverpool.
Ao retornar para Liverpool, em 4 de janeiro de 1855, foi imediatamente transformado em navio de transporte de tropas (como todos os navios da South American), para a Guerra da Criméia, onde permaneceria na função
até 1861. Em fevereiro de 1862, a Compagnie Generale Transatlantique (CGT), armadora francesa de prestígio, assinou uma nova convenção postal com o governo de seu país, para servir mensalmente a rota Saint Nazaire (França) e Veracruz (México), com
escalas em Martinica e em Cuba.
Para cumprir suas obrigações, a CGT comprou quatro vapores de armadores britânicos, dois provenientes da South American: o Imperador - rebatizado de Tampico - e o Imperatriz - rebatizado como
Vera Cruz.
Este último, embora construído para a Rota de Ouro e Prata, nunca chegou a realizar uma viagem nessa linha. Após servir por quatro anos na rota do México, o Tampico foi deslocado para ligar Le Havre a
Nova Iorque, transportando sobretudo emigrantes, e em 1868 foi destinado ao serviço anexo da CGT, entre Saint Thomas, Jamaica e Colón (Panamá).
Reforma - A CGT decidiu, em 1869, reformar completamente o ex-Imperador e ex-Tampico, dando-lhe, além do novo nome de Guadeloupe, uma máquina a vapor tipo Compound e um jogo de caldeiras
novas.
O Guadeloupe recebeu também nova decoração interna e distribuição de espaço. Após provas de mar realizadas a partir de Cherburgo, saiu de Saint Nazaire em direção às Antilhas em 16 de maio de 1869.
Permaneceria nessa ligação até 1875, quando passou a fazer serviço entre Le Havre e Colón. Mas as mudanças de rota não haviam ainda terminado, pois, em 1877, foi designado para a ligação Marselha/América Central, via portos das Antilhas.
De dezembro de 1879 a maio de 1880, passou por uma nova reforma no porto de Saint Nazaire, entrando em seguida na linha entre Marselha, Bone e Túnis.
Permaneceria a serviço da CGT, no Mediterrâneo, por mais nove anos, sendo vendido, em maio de 1889, para a armadora norueguesa LAM & Co., recebendo o nome de Sorrento. Seu fim chegaria em agosto de 1890,
afundando no Mar do Norte por causas desconhecidas. |