Primeiro registro do imóvel em estilo neoclássico data de 1790
Foto: Edison Baraçal, publicada com a matéria
Terça-feira, 30 de Maio de 2006, 09:28
SANTA EMÍLIA
Condephaat inicia tombamento do casarão
Da Sucursal
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), ligado à Secretaria de Estado da Cultura, abriu processo para estudar o tombamento do casarão Santa Emília, localizado na Avenida Adhemar de Barros, 571, no sopé do Morro do Botelho, em Guarujá.
Com a abertura do processo de tombamento fica proibida qualquer intervenção no imóvel, de forma a evitar a possível descaracterização. O primeiro relato histórico sobre a existência de uma construção no local data de 1790, embora a escritura tenha sido lavrada em 1864. Desde 1947, o casarão que pertenceu à família de Vicente de Carvalho abriga órgãos da área de assistência social vinculados ao Governo do Estado e à Prefeitura, incluindo o atendimento a ex-internos da Febem.
"O casarão é de uma época que antecedeu a fundação da Vila Balneária, marco na transformação de Guarujá em um Município voltado para o turismo. O imóvel é da época em que a Cidade era formada por grandes fazendas de banana e cana-de-açúcar", recorda a arquiteta Patrícia Regina Gomes de Lima, especializada na restauração de patrimônios históricos com pós-graduação na UniSantos.
A pesquisa conduzida por Patrícia serviu de ponto de partida para que o Condephaat decidisse iniciar o processo de tombamento do imóvel. A documentação foi remetida ao órgão estadual no final de 2005 e é composta por 144 páginas. O levantamento feito por Patrícia demorou dois anos e meio e incluiu visitas a bibliotecas e hemerotecas de Santos, além de pesquisa em museus do Rio de Janeiro.
"Peguei documentos da época do Império, verdadeiras relíquias que comprovam a importância histórica desse casarão", revela a arquiteta, que chegou a ser proibida pela direção da Febem de entrar no casarão durante a pesquisa.
"Nasci em Guarujá e, depois da pesquisa, tomei consciência de que temos uma relíquia. Acredito que seria importante contar essa história porque temos crianças que nascem aqui, mas não se sentem parte da Cidade, não têm amor pelo Município porque não conhecem essa rica história", completa Patrícia.
A arquiteta se diz decepcionada com os políticos de Guarujá devido ao descaso com a história do Município, principalmente em relação ao abandono do patrimônio arqueológico que restou, como a Ermida do Guaibê, o Forte São Felipe e a Armação das Baleias.
"Tanto na Prefeitura quanto na Câmara teve gente que disse que ia dar apoio, mas virou papo de político", relata Patrícia. Apesar da importância de Guarujá nos períodos colonial, imperial e na República, o Município não tem um órgão que abrigue documentos e mapas narrando esses três períodos de sua história. A Cidade não possui sequer um Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico.
Antes de remeter a documentação ao Condephaat, Patrícia chegou a reunir mais de 1.200 assinaturas de apoio ao tombamento do prédio, incluindo a do prefeito Farid Madi.
Estilo neoclássico - Em estilo neoclássico, o Casarão Santa Emília tem características que remontam à arquitetura acadêmica dos séculos 18 e 19. Porém, o neoclássico do Santa Emília difere do estilo urbano de Ramos de Azevedo, contemporâneo desta época e responsável por diversas obras na capital paulista. O estilo do casarão remonta à fase do Brasil iminentemente agrícola, um período em que Guarujá era dividido em três grandes propriedades rurais.
Caracterizado pela simetria dos vãos, um frontal no telhado e um caminho imponente de acesso; além de porão alto, supostamente usado para abrigar os serviçais da fazenda; ladrilhos hidráulicos estampados e antigas pinturas nas paredes, o casarão foi estudado durante dois anos e meio pela arquiteta Patrícia Regina Gomes de Lima, servindo como base para a monografia na conclusão do curso de pós-graduação em restauração de patrimônio histórico feito na UniSantos. |