Ruínas do Forte de São Felipe, em 1971
Foto: A Escolinha, suplemento infantil do Diário Oficial de Santos,
11/12/1971
O Forte de São Felipe denominado "São Luiz" em 1765
Pouco existe, hoje, da grande fortaleza de pedra,
construída pelo capitão-mor Braz Cubas, no ano de 1552 - apenas resistiram ao tempo as muralhas de granito, uma
guarita, marcando o ângulo Sul, e um poço interno, hoje limpos do mato que os tomava totalmente, conservados e expostos à visitação pública.
O primeiro artilheiro do Forte de São Felipe foi, segundo ele mesmo nos conta, o
famoso Hans Staden, e sua história inicial nos é revelada em seu não menos famoso livro, cuja veracidade até hoje não mereceu contestação (Hans
Staden - Viagem ao Brasil - versão do texto de Marpurgo, de 1557, por Alberto Lofrgren. Esta fortaleza foi a sede, nos séculos XVII, XVIII e
XIX, do Real Contrato da Armação das Baleias; onde se recolhiam todos os apetrechos daquela pesca organizada):
"Por causa disso, deliberaram os moradores edificar outra casa ao pé da água, e bem
defronte da Brikióka, e aí colocar canhões e gente para impedir os selvagens. Assim tinham começado um forte na ilha; mas não tinham acabado, à
falta de artilheiro português que se arriscasse a morar ali. Fui ver o lugar...
"Contatei com eles para servir 4 meses na casa, depois do que um oficial devia vir por
parte do Rei, trazendo navios, e edificar ali um forte de pedra, para maior segurança; o que foi feito...
"Depois de alguns meses, chegou um oficial por parte do Rei...
"Para então melhorar essas condições, veio o governador Tomé de Souza para ver o país
e o lugar que queriam fortificar.
"Fizeram a casa de pedra, puseram dentro alguns canhões e ordenaram-me que zelasse bem
da casa das armas".
Tudo isso se operara de 1552 a 1553, exatamente durante o segundo governo de Braz
Cubas, quando a chegada de Tomé de Souza completou a eficiência da fortaleza, construindo o que faltava e colocando nela a necessária artilharia.
Em 1557 foi Pascoal Fernandes feito Condestável do sítio e barra de
Bertioga, com residência fixa nesta fortaleza, onde permaneceu pelo menos até o ano de 1562, como se vê pela
escritura desse ano, passada em seu favor por Antonio Rodrigues de Almeida.
Na ocasião em que Pascoal Fernandes assumiu o comando do Forte, toda a região de
Bertioga e ilha de Santo Amaro estava abandonada, porque o pavor e a crueldade das invasões tamoias afastaram os antigos fazendeiros e sitiantes,
impedindo que outros ocupassem os seus lugares.
Somente de 1560 em diante, e notadamente de 1564, após a realização do armistício de
Iperoig, a célebre passagem da história paulista, selada em Ubatuba e São Vicente entre portugueses e tupinambás, graças
à abnegação de Manuel da Nóbrega, José de Anchieta e José Adorno, é que as terras da ilha e do continente de novo se povoaram, para o que concorreu,
evidentemente, a confiança despertada nos colonizadores pela presença de Pascoal Fernandes com toda a família, desde 1557, na Fortaleza de São
Felipe.
Vista do canal de Bertioga, tomada do Forte de São Felipe, em 1971
Foto: A Escolinha, suplemento infantil do Diário Oficial de Santos,
11/12/1971
A 3 de julho de 1765 ordenou o Governo D. Luiz Antonio de Sousa Botelho Mourão a
reconstrução ou reparos do velho forte em mau estado, ficando prontas, porém, somente as muralhas, onde foram colocadas as baterias.
A 11 de março de 1798 concedia o governador Antonio Manoel de Melo Castro e Mendonça o
posto de tenente-coronal de milícias, agregado ao regimento de Santos, a Antônio Francisco da Costa, com a condição de montar no mesmo Forte seis
peças de calibre 12.
Foi a última providência importante tomada em relação à antiga Fortaleza, que, durante
o século passado (N.E.: século XIX), caiu em completo abandono, principalmente depois que
se extinguiu a pesca organizada das baleias, pelo Real Contrato, quando ela era a sede das Armações (de Bertioga e praia do Góis),
onde se recolhia todo o material daquele Contrato quando passava o tempo das grandes pescarias. Restam dela hoje, como dissemos, as fortes muralhas
de granito, uma guarita (parcialmente destruída) e o antigo poço interno, ao centro do antigo pátio.
Foi na segunda fase da Fortaleza, e em conseqüência da reforma ordenada por D. Luiz
Antônio de Souza, que ela tomou a invocação de São Luís, numa dupla homenagem, ao santo e ao governador.
Em 1830, como se vê do Relatório do marechal Daniel Pedro Müler - Ensaio dum Quadro
Estatístico da Província de São Paulo, pp. 219/220, este Forte possuía uma guarnição para tempo de paz, de 3 soldados de infantaria, e para
tempo de guerra, de 1 oficial, 2 inferiores, 14 artilheiros, 42 artilheiros serventes e 30 soldados de infantaria. |