Construída em 1560 por José Adorno, a
Capela ou Igreja de Santo Antonio de Guaíbe (ou Guaibê), mais tarde (no século XVII) Santo Antonio da Armação,
tem suas ruínas situadas no extremo nordeste da Ilha de Guaíbe ou Santo Amaro, defronte a Bertioga, junto à barra do Canal de Bertioga, a caminho da
Fortaleza de São Felipe. Ao lado destas ruínas ficam as dos antigos tanques ou depósitos de óleo da velha Armação das
Baleias. Lá, o padre José de Anchieta catequizava os índios e nesse mesmo local teria
escrito o poema Milagre dos Anjos.
O local permaneceu abandonado por muitos anos, inclusive sem possibilidade de acesso, em razão da densa
vegetação que cobria por completo as ruínas. Foi Armando Lichti que as mandou limpar, em 1945, mantendo-as em condições de acesso e visitação
turística, enquanto viveu.
Estas fotos foram incluídas na obra História de Santos/Poliantéia Santista, de Francisco Martins dos
Santos e Fernando Martins Lichti (1986, Ed. Caudex, S.Vicente/SP), e mostram aspectos interno (acima) e externo (abaixo) da antiga igreja:
A foto abaixo é do cruzeiro da igreja do século XVI:
Foto: A Escolinha, suplemento do Diário Oficial de Santos, de 9 de outubro de
1971
As ruínas da ermida, em maio de 2002:
Foto: Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem)/Unimonte
Para ilustrar uma apresentação sobre os Indicadores Metropolitanos da Baixada Santista, a
Agência Metropolitana da Baixada Santista (Agem) produziu, em março
de 2005, estas imagens da ermida, algumas delas atribuídas ao fotógrafo Carlos Zundt:
Ruínas da Ermida de Guaíbe ou Guaibê
Fotos: Agem - Indicadores Metropolitanos da Baixada
Santista-2006
O tema é tratado no livro
Guarujá, três momentos de uma mesma história, escrito
pela professora Ângela Omati Aguiar Vaz e publicado em 2003: |
Interior da ermida. Foto publicada
com o texto
A Armação das Baleias e a Ermida de Santo Antonio do Guaibê
O mesmo sítio do Forte São Filipe foi sede da Armação das Baleias, importante marco econômico
colonial nos séculos XVIII e XIX, hoje em ruínas.
Na armação do canal de Bertioga, a extração do óleo da baleia destinado à
iluminação pública e o aproveitamento dos seus derivados foi a primeira indústria extrativa que funcionou na Ilha de Santo Amaro. O local para
a instalação da armação dependeu de fatores, além da existência das baleias, da proximidade de água potável, de madeira para os fornos e para a
construção das embarcações e tonéis, enseada abrigada do mar aberto, de um ponto de observação elevado e protegido por um forte. Todas as condições
foram plenamente satisfeitas no local escolhido. Myriam Ellis [01]
aponta:
[...] quanto ao aproveitamento dos produtos do cetáceo, os mais importantes para o Brasil Colonial
foram a matéria graxa fornecedora de óleo e a carne. O óleo tornou-se artigo de primeira necessidade porque dele dependeu a iluminação de centenas
de habitações, “fábricas” e “oficinas” pobres principalmente.
De acordo com esta autora, José Bonifácio de Andrade e Silva, autor da Memória sobre a pesca das
baleias (sic), e extração (sic) do seu azeite com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias, em 1790 já se preocupava com a necessidade do
melhor aproveitamento econômico e técnicas mais eficientes para a utilização dos produtos derivados do mamífero.
Podemos imaginar a importância dos produtos derivados da pesca da baleia, lembrando que muitos monumentos aqui citados foram construídos com o óleo
desses mamíferos e a cal retirada dos sambaquis existentes na região. A indústria dos produtos de baleia foi uma das que Portugal permitiu no Brasil
no período. Havia uma sucursal da Armação das Baleias na praia do Góis.
O escritor Euclides da Cunha, quando de sua estadia no Guarujá, em 1904, já reclamava providências
para a conservação do Forte de São Filipe e da Armação. Em 1937, o escritor Mário de Andrade, em missão pelo Patrimônio Histórico Nacional, já
se surpreendera com o estado de abandono em que se encontravam.
Em 1950, Prestes Maia, autor do Plano Regional, lembrava que:
[...] o outeiro histórico, humilde acrópole quinhentista, ficará encastoado em
verde no desenvolvimento urbanístico. Os dois fortes, a Igreja arruinada e quase tão velha como a relíquia de guaraçu; os vestígios do porto das
baleias e das cisternas (promontório oriental do Guaybê) – tudo merece imediato enquadramento num plano cívico ou, mais concretamente, num parque
natural. [02]
A capela que encontramos na região é conhecida como Ermida de Santo Antônio de Guaibê. De pedra e
cal, atualmente em ruínas, é tida como sendo a capela quinhentista de Santo Antônio, construída por Adorno, freqüentada pelo padre Anchieta que
haveria nela rezado missa. Em estudo encomendado pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de Guarujá , realizado pelo Instituto Brasileiro do
Patrimônio Cultural, o arquiteto Victor Hugo Mori apresentou outra possibilidade:
Em recente vistoria ao local acompanhado do arq. Antonio Luiz Dias de Andrade,
este observando atentamente as ruínas, comentava que esta interpretação parecia não corresponder aos vestígios arquitetônicos da capela, que na sua
interpretação preliminar, remontaria à segunda metade do século XVIII. Colabora para esta interpretação o inventário de 1765, onde foi arrolado um
pequeno crucifixo e não consta a capela ou alfaias. No inventário de 1789, comparece a capela e seus pertences arrolados pelo valor de 2:027$526, um
montante elevado, considerando-se os demais edifícios. Uma carta do Capitão-General D. Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeyras em 29/12/1766,
comprova a hipótese levantada pelo citado arquiteto, “Antes de partir da Villa de Santos para esta Cidade fui fazer visita na Fabrica da Armação das
Baleas da Barra da Bertioga (que dista da dita Villa de Santos cinco léguas) no dia 10 de março deste ano”. Examinei as Oficinas, e consertos que
nelas se fazião, e advertindo que se determinava fazer huma Capella junto as cazas da dita Armação e prohibi por ser em prejuízo da Fazenda de S.
Magestade... [03]
O documento apontado pelo arquiteto não parece ser definitivo, visto haver a possibilidade de a
primitiva capela necessitar na época de reformas que poderiam ser interpretadas como a construção de uma nova.
O cruzeiro de pedra do século XVI, pertencente à capela encontra-se no Museu Paulista, popularmente
chamado de Museu do Ipiranga, na cidade de São Paulo.
[01] ELLIS, Myriam. A Baleia no Brasil Colonial. São Paulo:
Melhoramentos, 1969.
[02] Dados constantes no projeto da 9ª coordenadoria
regional do IBPC sobre o projeto Parque Arqueológico São Filipe, assinado pelo arquiteto Victo Hugo Mori, (s/d).
[03] Idem.
Interior da ermida. Foto publicada
com o texto |