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Martins Fontes
O belíssimo recital de ontem
Martins Fontes, o primoroso poeta do Verão, obteve ontem, no Polytheama, dizendo versos de sua lavra, um
sucesso acima de todas as expectativas.
Com uma excelente casa na qual se viam as mais distintas famílias da nossa terra, o poeta iniciou a sua festa literária às 21 horas em ponto, como constava do programa.
Abriu-a com o Hino ao Amor, cujas estrofes magníficas ecoaram pelo vasto recinto, comunicando o entusiasmo do poeta à assistência comovida.
Ao terminá-lo, Martins Fontes foi alvo de uma grandiosa salva de palmas. Seguiram-se, igualmente aplaudidos, os trabalhos: Crepúsculo, Sonetos líricos, Otelo, Olhos, espelhos
d'alma, Beijos Mortos, Fascinação, Canção do Cair das folhas, Canção discreta, Vênus de Paris, Sonata apaixonada, Simplicidade, A Victor Hugo, Madrigal de d. João e Religião.
Todas as poesias foram extraordinariamente aplaudidas pela culta assistência que enchia o Polytheama.
Muitas corbeilles foram oferecidas a Martins Fontes. Entre elas notamos as seguintes:
Do dr. João Carvalhal Filho, magnífica, de flores raríssimas;
De Raul Schmidt, luxuosa e encantadora;
Dos meninos Djalma e Jayme, filhos do sr. Manoel Fins Freixo.
Entre muitas outras, destacava-se uma corbeille de flores naturais, dentro da qual se viam cartões de felicitações dos srs.: dr. Valdomiro Silveira, dr.
José de Freitas Guimarães, dr. Nilo Costa, Agenor Silveira, coronel Joaquim Montenegro, dr. Jacintho Reis, dr. Eugenio de Azevedo e sua gentilíssima filha
Vanju, Hugo Maia, Augusto Barbosa, Bernardino de Barros, dr. Faria Lemos, dr. Dias de Moraes, dr. Cyro Werneck, d. Rosa Ferreira, dr. Costa e Silva Sobrinho, dr. Freire Junior, dr. Lincoln Feliciano,
Fabio Montenegro, Octacilio Gomes, Ribeiro Couto, Paula Gonçalves, Valenciano Menezes, Affonso Schmidt e ainda muitos outros cartões.
Grande número de literatos da capital e do Rio, por cartas e telegramas, felicitaram a Martins Fontes pela festa de ontem, que foi uma imponente homenagem ao seu nome consagrado.
O público de Santos, afluindo à festa de Martins Fontes, para ouvir os seus versos magníficos, ditos da maneira brilhante como ele os diz, afirmou mais uma vez o seu gosto artístico e a sua apurada
educação literária.
Para encerrar a breve notícia sobre a homenagem que ontem lhe foi prestada, nada melhor do que um dos seus magníficos sonetos.
Ei-lo:
Velhas paixões, novos amores
Quanta estrela haverá, dentro da imensidade,
Que há muito se apagou, mas o olhar acredita,
Vendo à noite esplender a sua luz bendita,
Que ainda brilha e conserva a mesma claridade?
Quantas velhas paixões, mortas na mocidade,
Guardam esse fulgor, que no espaço palpita,
- E há séculos percorre a amplidão infinita,
E é, na amplidão do amor, como a nossa saudade?
Quanta estrela haverá, no céu negro e tristonho,
Cujo clarão caminha entre as sombras escuras,
Simbolizando o amor no mistério do sonho?
Um dia há de brilhar essa luz nas alturas...
- E as paixões que hei de ter, e apenas pressuponho,
Ardem dentro de mim, como estrelas futuras! |