CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Freitas Guimarães
Freitas Guimarães (1)
O texto a seguir foi publicado na edição de abril de 1944
(ano XXIII, nº 4) de Flama (grafia atualizada nesta transcrição):
Imagem publicada com a matéria
Freitas Guimarães
O nome de Freitas Guimarães faz-me recordar a antemanhã da mocidade.
Quinze anos. O primeiro entressonho de amor. As primeiras rimas deslumbradas. O encantamento da leitura de três
poetas que me surgiram, por acaso, à mesa de estudo: Olavo Bilac, Gustavo Teixeira, Freitas Guimarães.
As "Poesias" de Bilac, o "Ementário" de Gustavo e a "Musa Nova" de Freitas Guimarães - os
primeiros livros de versos que li.
Nunca mais os esqueceria na vida...
Por me haverem aberto o coração à suprema graça da Poesia, dediquei-lhes sempre o fervor de um reconhecimento
enternecido.
Bilac e Gustavo já se foram...
Que Deus nos conserve, por muitos e muitos anos, esse que "ainda e sempre" nos comove com
a ternura da sua musa sempre nova.
Mariano Gomes
Freitas Guimarães é, para mim, um poeta de raça: inspirado, belo, romântico, crente, bom
e doce. Ainda não escreveu a sua última rima. Esperamos, ainda, ainda e sempre.
Rui Blaz
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CXCII |
Ainda! Ainda e sempre! Enquanto arder a chama
Sagrada que me guia e me ergue pela escarpa
Que à perfeição conduz, há de vibrar como harpa
A alma que vive em mim, que o meu amor proclama.
Ouça-a quem a quiser ouvir! Ouça-a quem ama!
Alto, qual sói subir, ela não teme a farpa
Do crítico feroz: - é nova nau que zarpa
Do porto e vai quebrando o mar que à proa brama!
Como um órgão, ressoando em catedral imensa,
Empresta asas ao crente e o levanta à presença
Do poderoso Deus, por quem, fiel, suspira,
Tal cantará minha alma, até ao final transporte,
Para que o nosso amor, mesmo depois da morte,
Vibre, eterno e feliz, nos versos que me inspira!
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Conselhos |
Devagar, mocidade! A vida é um tênue fio
De água límpida e pura... Em se tornando rio,
Porém, cresce, o álveo alarga e, então, forte caudal,
Tudo arrasta e destrói no vértice fatal!
Caminha devagar... Deixa correr no leito
A linfa de cristal, sem lhe turbar o aspeito...
Conserva-a como está, que ela, pequena assim,
Vale mais do que o mar intérmino, sem fim!
Não te aflija no mundo a sã tranqüilidade
Desse fio de prata, ingênua mocidade!
Não te vás iludir com a glória, que seduz,
E, mariposa audaz, morrer beijando a luz!
Pensa bem, delibera.. É escabrosa a estrada...
- Sê humilde e feliz, ou grande e desgraçado!
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Imagem: capa da revista mensal Capital Paulista, publicada em novembro de 1900 (ano II,
nº 17 - série II, nº 5), preservada no Arquivo do Estado de São Paulo
(acesso em 7/10/2012) |
Longe do mundo
Eu te abençoo,
Bosque suave!
Baixa o teu voo,
Ave!
Não tenhas medo:
- Ninguém descobre
Nosso segredo!...
Sobre
Meus joelhos senta,
Pousa, descansa
Pomba alvacenta,
Mansa!
Nesta espessura
Que nos encanta,
Quanta doçura...
Quanta!
Vamos, com jeito,
Sobre estes ramos,
Fazer o leito...
Vamos!
Tálamo lindo,
Feito de flores...
Quando, sorrindo,
Fores |
Deitar-te nele
Em febre o sangue
Sob tua pele,
Langue...
Abre teus braços
E me encarcera
Com esses laços,
Hera!
Que a nossa vida
Tranquila corra!
E que eu, querida,
Morra,
Feliz e amado,
Alheio a tudo,
Despreocupado,
Mudo,
Sobre os teus seios
- Par venturoso
Que, sem receios,
Gozo!...
Eu te abençoo,
Bosque suave!
Abre o teu voo,
Ave!... |
S. Paulo, 1896
Freitas Guimarães. |
Imagem: reprodução parcial da página 86 da revista mensal Capital Paulista, publicada em
novembro de 1900 (ano II, nº 17 - série II, nº 5), preservada no Arquivo
do Estado de São Paulo (acesso em 7/10/2012)
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