Corte carnavalesca, num evento social em 1962
Foto: acervo do pesquisador Arlindo
Ferreira, de Cubatão
História do Carnaval
cubatense
Carlos Pimentel Mendes (*)
Acredita-se
que João Ramalho tenha sido o introdutor em Cubatão dos festejos carnavalescos, quase cinco séculos atrás. Ele teria trazido para Cubatão o entrudo
português, difundindo assim entre os indígenas essa festa antecessora do Carnaval.
"Porém, é no século XIX que ele conquista maior expressividade para a população local,
sendo celebrado com limões-de-cheiro, lança-perfumes, confetes, serpentinas e luxuosas fantasias dos sitiantes da região e das filhas ou netas dos
barões da banana e da mexerica que freqüentavam as festas que aconteciam na avenida da praia do Gonzaga", em Santos, como citam em seu livro
Cubatão, a Rainha das Serras, os pesquisadores César Cunha Ferreira e Marildo Passerani.
Os primeiros clubes esportivos cubatenses, além do futebol,
organizavam bailes para reunir a juventude, a exemplo do Esporte Clube e da Sociedade de Socorros Mútuos de Cubatão, que reuniam a comunidade, no
Centro. Em seu livro Cubatão: história de uma cidade industrial, a pesquisadora Celma de Souza Pinto cita que "a
Banda do Corpo de Bombeiros de Santos era chamada para animar os bailes da Sociedade, e muitos lembram que,
quando a banda chegava na estação, já descia tocando e continuava até o local da festa, acompanhada pelos moradores".
Ela continua: "Mas os bailes não tiveram início com os clubes.
Godofredo Schmidt relata que, por volta de 1911, nas casas mais abastadas havia um fonógrafo", e era ao som de seus discos que se dançava, quando
não havia sanfona. "Em certa ocasião, em que a dona da casa só tinha o disco do Barão do Rio Branco sobre a questão dos limites com a Bolívia, a
vontade de dançar era tanta que dançou-se ao som do discurso mesmo".
Desfile do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Nações Unidas, campeão do carnaval de 2004
Fotograma extraído de transmissão
televisiva, em 23/2/2004, 20h06
Cabeções - Os bailes
mais concorridos eram no Comercial Santista, da Fabril, e o pessoal ia a pé até lá para participar. "Da Fabril também
saíram os grupos carnavalescos de maior sucesso da região, o Bloco dos Cabeções e o Rancho Carnavalesco Coluna da Sorte, ambos da década de 30".
Segundo a pesquisadora, o Bloco dos Cabeções reunia pessoas
fantasiadas com enormes cabeças feitas de papel e moldadas em barro, e que após rápida passagem por Cubatão, se apresentavam em algumas ruas do
centro de Santos, onde então desfilavam os blocos e os corsos carnavalescos.
Raul José Sant'Ana Leite, um dos organizadores dos Cabeções,
relatou que "O fino do carnaval em Santos era no centro da cidade (Praça Rui Barbosa,
Rua João Pessoa, Rua Senador Feijó, Praça
José Bonifácio, onde as agremiações carnavalescas desfilavam (ranchos, blocos e outras categorias), arrancando aplausos da multidão que se
comprimia nas calçadas e nas sacadas residenciais. As agremiações mais aplaudidas nos desfiles de rua apresentavam-se, posteriormente, nos amplos
salões do Teatro Coliseu (esquina da Rua Braz Cubas com a Amador Bueno), onde
disputavam o título de campeã".
O samba das escolas cubatenses, nos desfiles de 1990
Foto: Mingo Duarte e Irandy Ribas, no
jornal santista A Tribuna de 26/2/1990, página 3
Ainda informações de Celma: "Em 1937 e 1938, o Bloco dos Cabeções
ganhou o título de campeão seguido da Coluna da Sorte, vice-campeã. Essas vitórias tornaram-se um marco para os carnavalescos de Cubatão devido à
concorrência com blocos organizados de Santos. Outras vilas, como a Light e a Raiz da Serra, organizavam blocos carnavalescos apenas para animação
local."
No Carnaval do então distrito de Cubatão,
relatam por sua vez César e Marildo, "destacava-se a Banda da Furiosa, que se apresentava no prédio da Sociedade dos Socorros Mútuos, onde hoje
abriga o Posto do GNV, na atual Avenida Nove de Abril, com seus concursos de fantasias."
Animação no salão do E.C. Jardim
Casqueiro,em 1990
Foto: João Vieira, em A Tribuna de
26/2/1990, pág.7
"Os
bailes deixaram de ser realizados em seu salão e espalharam-se pela cidade: E.C. Cubatão, Associação Atlética Guimarães, E.C. Jardim Casqueiro,
Someca, Clube Atlético Usina de Cubatão e Comercial Santista Futebol Clube". E os dois pesquisadores continuam: "Do Bloco dos Cabeções nasceram as
escolas de samba. Foi instituído o concurso para a escolha do Rei Momo e da Rainha do carnaval e, nesse ambiente, as escolas apresentam-se para
competirem nos concursos na avenida. As principais escolas são Escola de Samba Nove de Abril, Escola de Samba Independência, Escola de Samba Nações
Unidas, Escola de Samba Serrana e Escola de Samba de Vila Paulista. Existe ainda o trio elétrico liderado pela rainha do carnaval e pelo rei Momo".
César e Marildo destacam o Bloco dos Cabeções, surgido na década
de 1950 na Vila Fabril da Companhia Santista de Papel: "Introduzido pelo irmão de Raul Santana Leite, ex-presidente da
Câmara e do bloco, foi inspirado na esta de Bom Jesus de Pirapora. Os bonecos cabeções lembravam também os imensos bonecos nordestinos da Loura do
Cemitério dos Bezerros, em Pernambuco.
"Tradicionalmente, os foliões saíam da Vila Fabril rumo à cidade,
cantando: 'Vem ver, minha gente, vem ver o nosso bloco como vai brilhar, vem ver o nosso bloco da folia'".
"Em 1937 e 1938, a pequenina Vila Fabril levou dois ranchos
carnavalescos (Cabeções e Coluna da Sorte) a serem campeões do carnaval santista. Nos carnavais do final da década de 1950 e início da de 1960, o
Bloco dos Cabeções finalizava seu desfile na Avenida Joaquim Miguel Couto, em frente à casa do prefeito Abel Tenório, onde eram recebidos como reis
pela autoridade municipal".
"Em 1961 e 1962 – conclui Celma -, o Bloco dos Cabeções mudou a
denominação para Rancho Carnavalesco Cabeçudos da Baixada, se reorganizou e se apresentou novamente em Santos obtendo a preferência do público nos
dois anos. No entanto, como Cubatão já se tornara município, ficaram em segundo lugar por serem 'gente de fora'. Mesmo sem o título
conseguiram o respeito no carnaval da Baixada Santista. Em 1962, o bloco encerrou definitivamente suas atividades".
A escola Independência, em sua apresentação nas avenidas da praia de Santos, em 1990
Foto: Mingo Duarte, no jornal santista A
Tribuna de 26/2/1990, página 7
Nos anos seguintes, poucas novidades registradas, apenas o
crescimento das escolas de samba do município, a continuidade dos bailes nos clubes populares e a realização de "caldeirões de momo" em alguns
bairros, além da passagem de trios elétricos. Em 1990, o Carnaval teve caráter de divulgação ecológica e da cidade.
Notícia de 25/2/1990 de A Tribuna registra: "Para o diretor
de Cultura e Turismo de Cubatão, Rubens Marino, os autores dos sambas-enredo souberam entender o espírito da proposta:
'Compuseram belíssimos sambas-enredo, falando das excelências de Cubatão, destacando a notável luta que toda a nossa comunidade apóia, para
preservar a ecologia e reduzir a poluição industrial'."
(*) O jornalista Carlos Pimentel
Mendes preparou este texto para divulgação pelo Departamento de Imprensa da Prefeitura Municipal de Cubatão
Desfile do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Independência, no carnaval de 2006
Foto publicada no Jornal da Cidade,
edição especial Turismo & Cultura, Cubatão, março/2006 |
Em 1990, o Esporte Clube Cubatão promovia o Carnaval no Egito
Foto de João Vieira e legenda publicadas
com a matéria
Cubatão quer fazer festa inesquecível
Cubatão pretende realizar este ano um dos melhores carnavais da sua história. Patuscadas, trios elétricos, bailes
nos clubes populares e o desfile das escolas de samba, amanhã e terça-feira, fazem parte de uma atraente programação elaborada pela Prefeitura para
divertir os moradores que trabalham o ano inteiro em indústrias e empreiteiras da construção civil.
Mas, o ponto de destaque foi o disco com enredos de escolas de samba que o prefeito Nei
Serra mandou gravar. A capa do LP traz uma imagem ecológica, de acordo com o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Administração Municipal
para transformar Cubatão em Cidade Símbolo da Ecologia. Além dos sambas de Cubatão, há outros das principais escolas da região. O disco está sendo
muito disputado. Não é vendido em lojas e sua tiragem - apenas dois mil exemplares - foi distribuída entre membros das diretorias das próprias
escolas.
Para o diretor de Cultura e Turismo de Cubatão, Rubens Marino, os autores dos sambas-enredo souberam entender o
espírito da proposta: "Compuseram belíssimos sambas-enredo, falando das excelências de Cubatão, destacando a notável luta que toda a nossa
comunidade apóia, para preservar a ecologia e reduzir a poluição industrial. Foi muito importante esse apoio do prefeito a essa atividade cultural".
Da mesma forma, Carlos Paiva, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba da Baixada Santista, enalteceu a
iniciativa de Nei Serra, numa época em que a economia do País cria dificuldades para a difusão da cultura popular.
Festas populares - Quatro clubes sociais estão desde ontem promovendo bailes em Cubatão, a preços módicos,
das 23 às 4 horas e matinês das 15 às 18 horas. Como novidade, duas sociedades de melhoramentos promovem também festas em suas sedes. José Santos da
Silva Júnior, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Nova República, está promovendo bailes e matinês na quadra da Escola Municipal
Martim Afonso, com música eletrônica.
José Rafael de Barros, presidente da Sociedade de Melhoramentos do Jardim Costa e Silva, associou-se ao diretor do
Centro Social Urbano do Jardim São Francisco e, com o apoio da Secretaria de Turismo do Estado (o representante do secretário, Émerson Terra Alves,
esteve no lançamento do evento) está desde ontem promovendo o "Carnaval Copa-90", com bela ornamentação, música eletrônica e muita animação, da qual
participam moradores do Costa e Silva, Parque Fernando Jorge e Jardins São Francisco e das Indústrias.
Estão promovendo bailes os seguintes clubes: Associação Atlética Guimarães, com música eletrônica e um telão;
Esporte Clube Jardim Casqueiro, música ao vivo com a Banda Tropical; Esporte Clube Cubatão, com música eletrônica e telão, e Clube Recreativo Vila
Nova, com música eletrônica. O Rei Momo, Sílvio de Andrade Filho, a Rainha do Carnaval, Sandra Cristina Ventura, e as princesas Mara Rosane da Silva
e Neiva de Oliveira, estarão se apresentando em todos os clubes.
Imagem: reprodução parcial da matéria original
Escolas prometem garra no desfile de amanhã
CUBATÃO - Jorge de Oliveira Barbosa, o mais carnavalesco dos políticos locais, lidera a organização oficial
dos desfiles de escolas de samba de Cubatão. Com sua experiência de campeão pela Escola de Samba Independência (que se apresenta também no primeiro
grupo em Santos), ele garante que vale a pena ir à Avenida Nove de Abril, amanhã, a partir das 20 horas. Vão desfilar, pela ordem, as seguintes
escolas cubatenses, disputando o título: GRES Vila Natal, GRES Unidos do Morro, GRES Império Verde e Branco, GRES Nove de Abril, GRES Nações Unidas
e, sem concorrer ao título (já ganhou demais), o GRES Independência.
O Rei Momo, a Rainha e as princesas do Carnaval abrirão o desfile oficial, às 19h45, a bordo do Trio Elétrico Nova
Bahia. As escolas se concentrarão no trecho da Avenida Nove de Abril, entre a Avenida Henry Borden e a Rua Bernardino Pinho Gomes e a área de
aquecimento será entre essa rua e Avenida Pedro José Cardoso.
Os temas - O GRES Nações Unidas apresenta o samba-enredo Todo Ano Tem, de Sé Reis e Neguinho
Compositor. Fala do carnaval que se realiza sempre no Brasil, "sambando de Norte a Sul", a maior festa popular brasileira. Conta detalhes das festas
populares como as de São João, São Pedro e Santo Antônio e, como toda a escola de samba que se preze, lembra as datas históricas mais importantes do
País. A Nações Unidas reúne, originariamente, moradores da Vila Nova.
Abrindo o desfile, o GRES da Vila Natal mostrará o enredo Valeu a Pena, de autoria de Odair Pimentel,
Pedrinho da Veia, Nívio Xereta e Dedé. E o que valeu a pena? O samba da Vila Natal é um primor de poesia ecológica. Valeu a pena, segundo diz,
combater a poluição industrial de Cubatão, mantendo a vegetação da Serra do Mar e limpando os rios da Cidade:
"Adeus, fuligem da Serra do Mar, verde bandeira", cantam os sambistas que moram no humilde bairro da
Vila Natal, um dos mais novos da Cidade. Entusiasmados, cantam: "A vila oferece flores, dos jardins de Cubatão, as damas
levam rosas, os defensores, que tiraram o luto e nos devolveram a paz".
O GRES Unidos do Morro vem lá dos bairros-cota, descendo a
Via Anchieta com um samba que rememora a história: "Ontem, hoje e amanhã". Sambando, contam a importância de Cubatão para o desenvolvimento
econômico e social do País, ponte de ligação entre o Porto de Santos e o Planalto Paulista, a potência industrial da América. A bela letra é de
Valdemir, um modesto grande poeta dos morros: "Em busca da emancipação, a voz do povo então se ouviu..."
O GRE Império Verde e Branco vem lá do 31 de Março, liderado por Jorge Luiz de Paula
Rodrigues, um moço apaixonado por cultura e carnaval. Eva Negra, um samba-enredo coletivo (Duda, Pagode, Nenê da Mocidade, Bexiga, Guilherme,
Frank do Cavaco e Nego Vassoura), conta a luta da miscigenação forçada entre brancos e negros, a odisséia dos escravos, a proteção dos Orixás: "Mãe
do mundo, traz de volta, das cinzas do preconceito, Liberdade, igualdade, que o negro tem direito".
O GRES Nove de Abril, uma das escolas mais antigas da Cidade, voa alto neste Carnaval. Desfila três vezes. Primeiro
exibe-se em Santos (desfile do segundo grupo), mostrando o carnaval que Cubatão tem de bom. Depois, apresenta-se duas vezes para o seu povo (amanhã
e na terça), no Jardim Casqueiro. Traz o samba Do Chão à Ilusão, Cenário de uma Nação. Vem lá do Costa e Silva
(bairro do vereador José Hilário Roza) e é presidida por Josué Vieira de Santana, que mantém a chama do samba na Rua Marechal Rondon. José Rafael de
Almeida Filho, o Lorde Sossego, criou o enredo, e o samba é de Maneco da 9, Agnaldo Cachaça, Ivaldo e Corrales.
O GRES Independência do Jardim Casqueiro não disputa mais o título do desfile oficial de Carnaval de Cubatão.
Disputa em Santos. Ganhou todos os títulos disputados em Cubatão. A escola é presidida por Ivânio Batista da Silva e apresenta neste ano o enredo
Paraíso Perdido, de Nélson Cardoso Jr., Marile de Souza e Maria Helena de Sá Barbosa, tendo como carnavalesco Jorge de Oliveira Barbosa:
"Voa, voa, meu dragão... ô... ô... ô... bateu as asas e um lago avistou"...
A confecção dos carros alegóricos exigiu muito trabalho que,
certamente, será recompensado nos
desfiles de amanhã
Foto de João Vieira e legenda publicadas
com a matéria |