Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch090d23.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 02/01/13 22:52:10
Clique aqui para voltar à página inicial de Cubatão
HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - CUBATÃO EM... - 1839 - BIBLIOTECA NM
1839-1855 - por Kidder e Fletcher - 23

Clique na imagem para ir ao índice do livro

Em meados do século XIX, os missionários metodistas estadunidenses Daniel Parrish Kidder (1815-1892) e James Cooley Fletcher (1823-1901) percorreram extensamente o território brasileiro - passando inclusive por Santos e por Cubatão em 1839 (Kidder) e 1855 (Fletcher) -, fazendo anotações de viagem para o livro O Brasil e os Brasileiros, que teve sua primeira edição em 1857, no estado de Filadélfia/EUA.

Kidder fez suas explorações em duas viagens (de 1836 a 1842), e em 1845 publicou sua obra Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil (leia), sendo seguido por Fletcher (a partir de 1851), que complementou suas anotações, resultando na obra O Brasil e os Brasileiros, com primeira edição inglesa em 1857 e sucessivamente reeditada.

Esta transcrição integral é baseada na primeira edição brasileira (1941, Coleção "Brasiliana", série 5ª, vol. 205), com tradução de Elias Dolianiti, revisão e notas de Edgard Süssekind de Mendonça, publicada pela Companhia Editora Nacional (de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre), publicada em forma digital (volume 1 e volume 2) no site Brasiliana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - acesso em 30/1/2013 - ortografia atualizada - páginas 146 a 185 do volume 2):

Leva para a página anterior

O Brasil e os Brasileiros

Daniel Parrish Kidder/James Cooley Fletcher

Leva para a página seguinte da série


O mineiro

Imagem: reprodução da página 149 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Capítulo XXIII

O Norte do Brasil

Agora, rumo ao Norte: não o Norte Boreal, com barbas brancas e geleiras escorregadias e acumulações de gelo, mas um Norte Austral fecundo, brilhante, risonho e florido. Nós, do lado de cima do Equador, estamos tão aferrados à nossa experiência, que é difícil conceber um Norte onde

"Os campos são cobertos de flores numa eterna primavera",
e onde os grandes rios, na plenitude de sua força, correm impetuosamente
"E atravessam reinos desconhecidos e descampados floridos,
E desertos férteis, mundos de solidão;
Onde o sol é ameno e as estações passam em vão
".

Nunca me pude habituar a procurar o sol e o Equador numa direção que toda a experiência passada me dizia ser a região dos invernos cruéis. Não me podia conformar com a ideia de que a frente Sul de minha residência brasileira era o lado mais frio, embora soubesse que a razão e a geografia informavam-me que esta parte de minha casa estava voltada para as Ilhas Falkland e o inexplorado continente de neve da zona antártica.

Mas avante para o Norte Brasileiro! Se fôssemos por terra, seriam muitos meses de penosas viagens através de montanhas e vales, de densas florestas e matas, vastos campos e grandes rios, até atingirmos a Serra Pacaranua, que divide o Brasil da Venezuela.

Não li notícia de um único viajante que tenha percorrido essa extensa rota terrestre. Eschwege, Rodrigues, Ferreira, Natterer, Mawe, príncipe Maximiliano, Spix e Von Martius, St. Hilaire, Langsdorff, Pohl, Burchell, Gardner, o tenente Strain, a expedição de Castelnau e Wallace [T75] atravessaram grandes zonas do Brasil; enquanto — sem mencionar as primitivas explorações fluviais — Mawe, Smyth, Edwards, Herndon, Gibbon e Wallace [T76] (o mais completo de todos) examinaram o Amazonas, e o tenente Page [T77] teve a honra de ser o primeiro investigador científico do Rio da Prata e alguns de seus tributários.

Mesmo assim, não é exagerado dizer que a maior parte deste extenso Império, tem sido apenas trilhado pelos pés de índios selvagens ou, em longos intervalos, pelos mais aventurosos dos mercadores portugueses. É difícil para nós compreendermos até mesmo as secas tabelas de distâncias: quanto mais a inconcebível fadiga e os quase invencíveis obstáculos a serem suportados e vencidos num vasto país de população esparsa, onde, em certas regiões, nenhuma estrada existe salvo as trilhas do gado e do tapir!

A distância em linha reta, desenhada das cabeceiras do rio Parima, no Norte, até às costas meridionais da Lagoa Mirim, no Rio Grande no Sul, é maior do que de Boston a Liverpool. É mais distante de Pernambuco ao limite Oeste que separa o Peru do Brasil, do que uma linha reta de Londres através do continente europeu, até o Egito. O Brasil não tem sido explorado nem medido, e sua superfície total não pode ser perfeitamente avaliada; mas, segundo os melhores cálculos feitos em 1845, pelo Dicionário Geográfico Brasileiro, o Império contém, dentro de seus limites 3.004.460 milhas quadradas. Os Estados Unidos, pelas mais recentes avaliações do Topographical Bureau em Washington, têm uma área de 3.002.013 milhas quadradas.

Mas pela convenção de diferentes linhas limites depois de 1856, o Brasil adquiriu territórios adicionais: computados estes, teríamos de acrescentar aos Estados Unidos uma área igual a dos estados adjacentes da Nova England, Nova York e Pensilvânia, para torná-lo das dimensões da terra do Cruzeiro do Sul. A Rússia Europeia possui uma área de 2.142.504 milhas quadradas, e o resto da Europa 1.687.626. É por estes algarismos e comparações que podemos fazer uma ideia aproximada da vastidão do Brasil.

Não é, todavia, sua extensão que terá atraído a nossa atenção, tanto quanto o fato de que nenhuma parte do globo é tão apropriada à cultura e ao sustento do homem.

Já vimos que os recursos internos deste Império estão de acordo com a sua situação privilegiada e sua grande extensão. Não é o ouro de suas minas nem os diamantes que brilham nos leitos de seus rios interiores que constituem a maior fonte de sua riqueza. Embora a natureza tenha conservado no Brasil os mais preciosos minerais, ainda assim ela tem sido mais pródiga na dádiva de riquezas vegetais.

Compreendendo quase cinco graus ao Norte do Equador, toda a latitude do tórrido Sul e dez graus da zona temperada Sul, e estendendo sua longitude do Cabo de Santo Agostinho, (o ponto mais a Leste do continente) atravessa as montanhas de seu próprio interior, até as verdadeiras bases dos Andes, seu solo e seu clima oferecem um terreno propício a quase todas as plantas valiosas.

Em adição às inumeráveis variedades de frutos indígenas, há apenas uma produção das duas Índias que se não poderia naturalizar perfeitamente sob o Equador ou em suas proximidades, enquanto as terras elevadas do seu interior e do extremo Sul acolhem muitos dos frutos, dos grãos e dos mais resistentes vegetais da Europa.

Cada ano este Império mais se desenvolve; mas assim mesmo, ainda precisará de dois séculos de seu progresso atual para chegar a uma situação igual a dos Estados Unidos. Os indícios atuais são, porém, que o Brasil não continuará no passo vagaroso que o caracterizava até à abolição do tráfico negro; e os melhoramentos internos auspiciosamente iniciados sob d. Pedro II desenvolverão rapidamente os recursos do país.

Das vinte províncias, quatro apenas são interiores, a saber: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Amazonas (algumas vezes chamado Alto Amazonas). É em Mato Grosso e Goiás que as cabeceiras do Amazonas e do Prata têm a sua origem, a algumas milhas uma da outra; e, nos limites de Minas Gerais, os mananciais do São Francisco, do Tocantins e do Prata tem suas nascentes na mesma cadeia de montanhas.

Rumo a Minas Gerais — Via Petrópolis

A rota comum para a fértil província de Minas Gerais é por Petrópolis, e o viajante que para lá se dirige não hesitará em fazer um pequeno desvio para visitar uma das mais belas cascatas do Brasil. Seguindo por algumas milhas a estrada pública para Minas, voltamos à nossa direita e lá, entre os vales formados pela Serra da Estrela, encontraremos as Cachoeiras de Itamarati.

O nome, na língua Guarani, significa "pedras resplandecentes" ou "a rocha que brilha"; assim chamada, sem dúvida, devido à aparência resplandecente da grande massa de rocha, cuja superfície foi tornada lisa pelas águas. Ita significa "pedra ou rocha".

Esta cascata é composta de três quedas distintas, formada por um curso de pequena força, a não ser depois de pesadas chuvas. O encanto desse agradável lugar consiste nas matas em redor e nas águas murmurantes; de tal maneira que podemos verdadeiramente dizer que

"the gush of springs
And fall of lofty fountains, and the bend
Of stirring branches, and the bud which brings
The swiftest thought of beauty, here extend,
Mingling, and made by Love unto one mighty end.
"

Guirlandas de parasitas envolvem as velhas árvores com seus graciosos braços e um bando de trepadeiras verdes pende dos mais altos ramos até o chão. A torrente cavou as margens e derrubou as árvores que se encontravam próximas, e jazem agora em desordem selvagem através do leito do rio, misturadas aqui e ali com imensas pedras transportadas rio abaixo pela força das águas.

A ponte representada na gravura foi improvisada por ocasião da visita de sir W. Gore Ouseley, antigo ministro britânico no Brasil. Pontes desse gênero são facilmente construídas derrubando-se algumas árvores e prendendo-as juntas com lianas flexíveis, abundantes no local. A natureza logo cicatriza-lhes as feridas, e cobre-as de parasitas, de modo que, em algumas semanas, a construção artificial parece ser obra da própria natureza.

A estrada de Petrópolis a Barbacena é extremamente pitoresca — algumas vezes contornando os flancos de uma montanha, o que proporciona amplas vistas das planícies embaixo, e algumas vezes correndo por vales profundos à margem dos regatos murmurantes. Extensas tropas de mulas em seu caminho para Estrela passam constantemente; mas — para mostrar a selvatiqueza da região, mau grado as vilas e fazendas que frequentemente se encontram — somos assustados a cada momento por bandos de papagaios selvagens, e podemos ouvir nas árvores os guinchos dos macacos. Atualmente, uma estrada carroçável conduz a Barbacena.


Cascata do Itamarati, próximo de Petrópolis

Imagem: reprodução da página 150 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Correias

Em um lugar chamado Padre Correias, não distante de Petrópolis, há uma célebre figueira silvestre, cujos ramos estendem-se numa circunferência de quatrocentos e oitenta pés, e quatro mil pessoas, segundo cálculos, podem permanecer sob sua sombra ao meio-dia.

Perto, no extremo Leste do lugarejo, podem ser vistas também duas filas de pinheiros brasileiros (Araucaria brasiliana), tão conhecidos nas grandes estufas da Europa e dos Estados Unidos. Belíssimos espécimes desse pinheiro brasileiro são encontrados no Palácio de Cristal, em Sydenham.

Aproximadamente cem milhas mais para o interior, vi muitos jacarandás. Sua semelhança com a alfarrobeira comum dos Estados Unidos é notável. Há numerosas espécies de jacarandá, variando em cor, desde um vivo castanho escuro até um belo violeta. Nunca vi esta espécie ao Norte do Equador, salvo em pequenos tacos de amostra; mas, na Fazenda do Governo, o dr. Joaquim A. P. da Cunha, seu amável proprietário, mostrou-me, na sua usina de açúcar, um eixo de cinquenta pés de comprimento e três pés de diâmetro, de jacarandá roxo. Executara o ofício subalterno de um eixo de transmissão durante cinquenta anos, e a sua parte exterior estava coberta de pó; mas lascando-o, vi que era de uma linda cor violeta.

A madeira, empregada nos chiqueiros do dr. da Cunha, eram tábuas e ripas de jacarandá; mas que nenhum de meus leitores imagine um piano altamente polido ou uma esplêndida mesa de centro de sala; a exposição ao tempo torna o jacarandá tão plebeu no aspecto como o pinho comum sujeito às intempéries.

O jacarandá é derrubado, despojado de seus ramos, e transportado ao mercado, geralmente flutuado até um porto de mar, de onde é embarcado para a América do Norte e Europa. É de extrema dureza e durabilidade — rodas denteadas feitas dessa madeira duram mais tempo do que as construídas de qualquer outra substância fibrosa. Anualmente, os Estados Unidos compram do Brasil oitenta mil dólares de jacarandá.

Quando viajava pela província de Minas, observei um bando de pássaros, da mesma espécie que havia visto no sopé das Montanhas dos Órgãos, e que então tomei como sendo os comuns blackbirds, tão conhecidos na América do Norte; mas um exame mais acurado, mostrou-me que possuíam um bico de notável espessura.

Possuíam um silvo claro e musical, e descobri depois serem anus — um gênero de aves escansoras, encontradas apenas na América Tropical. São algumas vezes chamados keel-bill. Vivem em bandos, e dizem que têm entre eles um comunismo prático, muitos pares usando o mesmo ninho, que é construído nos ramos das árvores, com grandes dimensões. Neste ninho eles põem e chocam de comum acordo.

Não posso entrar nos pormenores de minha viagem por Minas Gerais, mas reluto em omitir a visita que fiz a uma das mais belas plantações da província. O proprietário era um brasileiro, e toda a fazenda, em suas mais insignificantes minúcias era dirigida de forma peculiar ao país, sem qualquer mistura de processos estrangeiros de administração e cultura.

Rio Paraibuna — Visita a uma plantação

Doze milhas além do Paraibuna (um afluente do Paraíba) tomamos um caminho lateral à estrada pública e, depois de cavalgar por uma faixa de matas cerradas, vimos diante de nós a grande casa da plantação de Soledade, pertencente ao senhor comendador Silva Pinto. O acesso ao solar se fazia entre duas fileiras de palmeiras, em redor de cujos troncos uma linda bignônia (a venusta) se entrelaçava e depois lançava seus ramos até o cimo plumoso das palmeiras, formando assim um magnífico arco de flores e folhagem.

As construções, dispostas em forma de uma área quadrada, ocupavam um acre do terreno. Em dois dos lados do quadrado estava a residência do comendador e sua família, enquanto nos outros dois estavam os engenhos de açúcar e a morada dos escravos. Entramos no pátio por um alto portão e tivemos oportunidade de avistar o venerável plantador, lendo sentado numa varanda do segundo andar. Logo que nos viu, deixou seu livro, desceu para o terreiro e com grande afabilidade deu-nos calorosas boas-vindas.

O grupo americano deveu na certa esta hospitaleira recepção a um dos nossos companheiros, o dr. Ildefonso Gomes [T78], brasileiro de quem quase todos os homens de ciência que visitam o Império têm exaltado o valor da inteligência, por suas eminentes habilidades como naturalista, e por sua integridade como homem.

Os criados acorreram em silêncio, a uma ordem do comendador: deram-nos quartos, café quente, banhos quentes etc., etc. Depois, eles e o patrão fizeram aquilo que mais agrada a um viajante fatigado: deixaram-nos sós.

Depois de proceder às minhas abluções e estar refeito da fadiga, fui para a varanda onde o comendador estivera lendo. Verifiquei seu livro que, com espanto meu, era a História Universal do senhor Pedro Parley. O velho Peter Parley no interior do Brasil!

Sabia que a Inglaterra se utilizara deste livro, que tanto deleitara a infância anglo-americana, e que um bando de falsificadores e imitadores haviam abusado do seu nome; mas foi além da minha maior expectativa ver na língua portuguesa, numa província interior do distante Brasil, a história dos Continentes Oriental e Ocidental pelo "senhor Pedro Parley", divertindo e instruindo a sua juventude e a sua velhice. Não era uma imitação. Ao ler o prefácio, percebi logo que alguns sacerdotes haviam colaborado na tradução, pois ali se dizia claramente que o "senhor Pedro Parley" era um "bom Católico Romano"! o que sem dúvida seria uma importante informação para o verdadeiro Peter, descendente de puritanos.

Olhei da varanda para uma paisagem verdadeiramente agrícola: junto de mim estavam cento e cinquenta colmeias com abelhas; os morros suavemente arredondados estavam cobertos de rebanhos de ovelhas e gado pastando, campos de algodão e açúcar cobriam os vales, enquanto o milho e a mandioca em grandes extensões fugiam de nossas vistas.

O laranjal era o maior que jamais vi em qualquer terra; calcula-se que haja nele mil alqueires de seis diferentes espécies da deliciosa fruta. O limão doce ocupa uma extensão calculada em cinco mil alqueires. Um limão doce parece tão contraditório como um ladrão honesto; mas é uma realidade.

O dr. Ildefonso Gomes informou-me que essa fruta, semelhando exatamente à ácida que é conhecida pelo mesmo nome, era originalmente um limão azedo mas, por doença e por enxerto, se produziu uma nova espécie. O gosto não é tão rico como o da laranja, mas é muito usado para matar a sede, e os brasileiros do Rio consomem grandes quantidades dele. Perto de S. Romão, um pequeno lugar nas cabeceiras do São Francisco, o limoeiro tornou-se nativo, e o gado que pasta nas matas gosta tanto dos frutos caídos que, quando morrem, a sua carne cheira fortemente a limão.

De todos os artigos acima mencionados, nenhum se destina ao mercado. São para o sustento e vestimenta dos escravos, dos quais o comendador teve outrora setecentos. Estes eram empregados na cultura do café, pois esta é a única colheita de que o proprietário procura tirar lucros. Este senhor possui outras plantações; a de Soledade contém uma área de sessenta e quatro milhas quadradas.

A refeição nos foi servida numa grande sala de jantar. O comendador sentou-se na cabeceira da mesa, enquanto os seus convidados e os membros livres da família sentaram-se em bancos, os feitores e seus auxiliares na outra extremidade da mesa. Vive-se aqui à moda dos antigos barões vindo-me à memória a descrição feita por J. G. Kohl da vida nos castelos dos nobres da Curlandia e da Livornia.

Sustentou-se agradável conversa durante toda a demorada refeição e, no fim, vieram três criados — um trazendo uma grande taça de prata maciça, de um pé e meio de diâmetro, outro um jarro do mesmo metal com água quente, enquanto um terceiro trazia as toalhas de mão. Os hóspedes recém-chegados eram servidos por essa forma, em vez de pequenas bacias para levar os dedos, que raramente se veem fora da capital.

O comendador tinha uma capela em sua fazenda e todas as manhãs era dita uma missa por um jovem e amável sacerdote português, que entendia muito mais de música que de evangelho. O padre tinha sempre várias questões para me perguntar, relativamente às doutrinas peculiares aos protestantes, e fiquei surpreendido por saber que não possuía Bíblia.

Presenteei-lhe com um Novo Testamento, e antes de minha partida, tivemos repetidas e sérias conversas a respeito da piedade vital e da responsabilidade solene que pesava sobre ele de ensinar a verdade conforme Jesus Cristo. Com a aprovação do comendador (sinceramente dada) as explicações das Escrituras passaram a constituir uma parte do serviço religioso aos domingos na capela. Esse fazendeiro é agora o barão de Bertioga.

Nessas fazendas do interior há um belo costume na hora das vésperas, que é rezar uma curta oração e desejar a todos boa noite; não que as pessoas se retirem em seguida, mas a "boa noite" é uma espécie de benção. Estávamos todos sentados na varanda quando os últimos raios do sol douravam o morro e a floresta distantes. O sino da capela tocava as vésperas. A conversa cessou: levantamo-nos todos. O barulho do engenho de açúcar parou; não mais se ouviram os gritos das crianças; os escravos que estavam atravessando o pátio pararam e descobriram a cabeça.

Todos piedosamente juntaram as mãos e rezaram a oração da tarde à Virgem. Também me associei na devoção ao abençoado Salvador, o único Mediador, e quando o padre e os outros pediram minha benção em nome de Nossa Senhora, restituí-lhes a benção em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. O ruído de vozes alegres soou novamente pelo pátio; o dia de trabalho estava terminado; em breve, a noite, com a sua escuridão, silêncio e repouso, reinou sobre Soledade.

Outro costume observei em várias partes do Brasil que, embora seja uma mera formalidade sem sentido, é um costume ao mesmo tempo cristão e belo. Duvido, entretanto, que uma pessoa em mil saiba dar-lhe qualquer significação mais profunda do que nós ao nosso "bom dia".

No fim do dia, os escravos entram no quarto onde está o seu senhor e, com as mãos cruzadas, dirige cada qual ao fazendeiro uma piedosa saudação, cuja forma integral devia ser: "Suplico-lhe a benção em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo", e a resposta, "Nosso Senhor Jesus Cristo vos abençoa para sempre"; mas, com o tempo, essa oração e essa benção se reduziram às últimas palavras de cada frase, pronunciadas rápida e convencionalmente por ambas as partes: "Jesus Cristo"... "Sempre."

No decorrer da nossa palestra o comendador deu-nos a notícia de que tinha agora "sua música própria". Referiu-se a ela muito modestamente. Desejávamos ouvir seus músicos, pensando que iríamos ouvir uma rouquenha rebeca da roça, um pífano e um tambor. O comendador disse que o nosso desejo seria satisfeito à tarde.

Uma hora depois das vésperas ouvi sons agudos de violinos, afinação de flautas, breves improvisos em variadas cometas, roncos de trombones, e todos os indícios musicais preparatórios de um começo de marcha, valsa ou polca. Fui para o quarto de onde vinham os sons; e aí vi quinze escravos músicos — toda uma banda regular: um deles dirigia-a junto a um harmônio e havia um coro de negros mais jovens, diante de estantes arrumadas sobre as quais se viam folhas de música impressa ou manuscrita.

Observei também um respeitável cavalheiro de cor, (que se sentava junto de mim ao jantar) dando ordens. Era o maestro. Três pancadas com o arco de seu violino ordenaram silêncio, e em seguida a um movimento ondulado dos seus braços, á la Julien, a orquestra começou a executar a ouverture de certa ópera com admirável proficiência e precisão.

Não estava preparado para tanto. Mas a parte seguinte encheu-me de surpresa: o coro, acompanhado pelos instrumentos, executou uma missa latina. Cantavam pelas suas próprias anotações, e negrinhos, de doze a dezesseis anos de idade, liam as palavras com tanta facilidade como estudantes em exame.

Podia com dificuldade acreditar em meus olhos e ouvidos, e para pôr em prova a perfeição da turma, pedi ao maestro o Stabat Mater; respondeu-me logo: "Sim senhor", indicou aos músicos a página, apitou a sua batuta, e as notas tristes e tocantes da Stabat Mater soaram pelos corredores de Soledade.

Durante a ceia, fomos regalados com valsas e marchas excitantes — entre estas a Grande Marcha a Lafayette, composta nos Estados Unidos. O maestro sentiu não poder tocar as nossas três músicas nacionais; mas prometi-lhe que quando uma oportunidade o permitisse, teria o prazer de acrescentar à sua biblioteca musical Yankee Doodle, Hail Columbia, e o Star-spangled Banner.

Certa madrugada, às três horas, fui despertado por um criado, que me informou de que a orquestra iria executar o Brasileiro em honra dos convidados do sr. comendador; e por alguns minutos, a banda, aumentada de um grande e de um pequeno tambor, mais os pratos, assustou os pássaros madrugadores com o hino nacional do Brasil, que foi seguido pela Grande Marcha a Lafayette.

Antes de nossa partida de Soledade, o hospitaleiro proprietário nos forneceu cavalos, e saímos a passear pela imensa plantação. Uma parte do nosso grupo carregava suas espingardas, esperando encontrar caça na excursão. Cavalgamos por morros utilizados como campos de pastagem, que estavam todos cheios de montículos construídos pelas térmitas ou formigas brancas.

Essas curiosas construções e seus ainda mais curiosos arquitetos constituíram sempre um grande atrativo para o naturalista. Os montículos têm a forma cônica, mas não com uma base larga e ponto afilado como os construídos pelas térmitas da África. A exposição ao sol torna-os extremamente duros, e sem dúvida, os muitos que se veem nas regiões elevadas de São Paulo e Minas Gerais têm mais de um século; pois as casas cujas paredes foram construídas da mesma terra ainda existem, e foram construídas pelos primeiros colonizadores no décimo sétimo século. Algumas vezes, a habitação das térmitas é derrubada pelos escravos, o buraco escavado mais largo, para ser utilizado como forno de assar milho.

Em meu passeio por Soledade, vi uma quantidade de abutres de grandes dimensões que, durante a chuva, se refugiam nas casas que foram abandonadas pelas formigas brancas.

As formigas brancas

Estes insetos não habitam sempre tais construções colunares de três e seis pés de altura. Tenho visto, em algumas partes do Brasil, o terreno cavado numa extensão de cem pés de circunferência, por um ninho de formigas brancas. Do mesmo modo, sobem nas árvores, carregando consigo materiais de construção, para construir uma pequena arcada (que lembra o que os carpinteiros norte-americanos chamam de inch-bead) para protegê-las contra seus inimigos principais, a formiga preta ou castanha, sendo que nos mais altos ramos é que constroem seus ninhos.

Nas cidades, elas são algumas vezes destrutivas: daí todas as senhoras brasileiras conservarem seus vestidos em caixas de estanho, e os cavalheiros que desejem possuir uma biblioteca, devem muitas vezes olhar para ver se o cupim, ou a formiga branca, não se tornou o mais penetrante leitor desses volumes.

Minha apresentação ao cupim se deu na casa de nosso antigo cônsul, o ex-governador Kent. Uma caixa de livros mandada pela American Tract Society foi colocada num quarto debaixo, e na manhã seguinte foi-me anunciado que o cupim entrara na minha propriedade.

Parti a toda pressa para o quarto e, virando a caixa, vi um pequeno buraco preto no fundo, e formigas brancas parecendo gelatinosas, correndo como se tivessem sido perturbadas em suas ocupações. Abri a caixa, e achei que a colônia de cupim penetrara pelo pinho e depois atravessara o Call de Baxter, Rise and Progress de Doddridge, até que alcançara o lugar onde estava o Pilgrim de Bunyan, onde ficaram rudemente perturbadas em seus esforços literários.

Em outra ocasião vi um tapete de Bruxelas, por baixo do qual o cupim se insinuara e roera quase toda a lona antes que seu proprietário fizesse a triste descoberta.

O dr. Kidder, em Campinas, testemunhou as depredações das formigas brancas nas casas de taipa. Insinuaram-se pelas paredes de lama, destruindo todo um lado da casa por meio de perfurações. Logo que começam o trabalho no solo, estendem suas operações abaixo das fundações da casa e cavam por baixo delas. As pessoas costumam cavar grandes fossos em vários lugares, com o fim de exterminar os exércitos de formigas que são descobertas na sua marcha de destruição.

Southey demonstra, baseado em informações de Manoel Felix, que alguns destes insetos, certa vez, devoraram os panos do altar do Convento de Santo Antônio, no Maranhão, e também levaram para a igreja pedaços das mortalhas das sepulturas que estão embaixo de seu soalho; entretanto, os frades as excomungam segundo a forma consagrada pela lei eclesiástica. Qual a fórmula para o caso, não somos capazes de saber. O historiador nos informou, todavia, que tendo sido condenadas de maneira análoga no Convento Franciscano de Avignon, as formigas não foram apenas excomungadas da Igreja Católica Apostólica Romana, mas foram sentenciadas pelos frades "
à pena de remoção, dentro de três dias, para um lugar designado no centro da terra".

A narração canônica acrescenta gravemente que as formigas obedeceram e carregaram todos os seus lares e todas as suas provisões!

O tamanduá

As formigas brancas e outras variedades têm, todavia, inimigos muito mais tangíveis do que as sentenças de excomunhão, que são os Myrmecophagos, ou os grandes comedores de formigas, os tamanduás, e o "pequeno comedor de formigas" sendo que estes têm uma cauda apreensora.

O grande tamanduá é um animal muito curioso e bem adaptado aos fins a que foi destinado pelo Criador. Suas pernas curtas e longas garras (essas encolhidas quando em movimento) não o impedem de correr com passo rápido; e quando os índios querem apanhá-lo, tamborilam sobre as folhas, como se a chuva estivesse caindo, pelo qual o mirmecófago levanta sua imensa e espessa cauda por sobre o corpo e, permanecendo perfeitamente quieto, facilmente serve de presa.

Na parte Norte de Minas Gerais, certa vez, um naturalista atacou repentinamente um grande tamanduá e, conhecendo a natureza inofensiva de sua boca, agarrou-o pelo comprido focinho, pelo qual tentou segurá-lo, quando o animal se ergueu subitamente e, abraçando-o pela cintura com as suas poderosas mãos dianteiras, arrastou-o até um dado lugar, onde foi surrado com um pedaço de pau, repetidas vezes, até que se endireitou e fugiu; e só quando uma bala de pistola atingiu-lhe o peito, é que o naturalista pôde adicioná-lo à sua coleção. Media seis pés de comprimento sem contar a cauda que, juntamente com o longo penacho da cabeça, somava ao todo mais quatro pés.

Quando o tamanduá grande dorme, deita-se sobre um lado, dobra-se tanto que o focinho descansa sobre o peito, coloca os compridos pés juntos, e cobre-se com o seu espesso rabo. Quando nessa posição enrolado, parece-se tanto com um fardo de feno, que se pode passar por ele sem cuidado, imaginando ser um montão daquela substância.

Quando anda ou corre, as garras dos pés dianteiros estão encolhidas de modo que apenas um lado do pé toca o solo. O uso especial de suas poderosas garras apenas é para caçar as formigas brancas. Quando o tamanduá quer alimentar-se delas ataca um dos duros montículos já descritos, e com suas imensas garras dianteiras, arranca furiosamente um pedaço das paredes e introduz por aí sua longa e delgada língua, que é coberta por uma saliva viscosa, à qual aderem centenas de formigas; depois abrindo uma pequena boca, recolhe a língua; em seguida, fechando os lábios, projeta para fora novamente a língua retendo as primeiras formigas na boca, até que a língua esteja completamente cheia delas, e então engole-as.

Wallace escreve que os índios do Alto Amazonas afirmam, com segurança, que o grande tamanduá mata algumas vezes o jaguar abraçando-o firmemente e metendo com violência suas enormes garras nos flancos do animal. Os índios também "declaram que os tamanduás são todos fêmeas e acreditam que o macho é o "curupira", ou demônio da floresta. A conformação peculiar do animal sugere provavelmente semelhante erro".

A paca

Quando descemos os morros de Soledade, no nosso regresso à plantação, alguém do nosso grupo atirou em duas pacas que estavam comendo junto de um pequeno regato. Ou a pontaria do caçador não foi boa, ou a bala não produziu efeito sobre os flancos peludos do animal, pois em poucos momentos as pacas atravessaram o rio a nado, escondendo-se na espessa mata de arbustos e fetos.

A paca, a capivara e a cotia são abundantes no Brasil, e são da mesma família dos ratos-do-mato e dos castores. A paca atrai a atenção do caçador, pela dificuldade de sua captura (pois atira-se n'água e nada e mergulha admiravelmente) e pelas propriedades comestíveis de sua carne.

Tem cerca de dezoito polegadas de altura e dois pés de comprimento, e sua cor é castanha, com manchas brancas. Os membros traseiros consideravelmente recurvados são mais compridos do que os dianteiros, e suas unhas são conformadas à ação de cavar. São facilmente domesticados, e tornam-se espertos animais de estimação, comendo de boa vontade na mão daqueles com quem se acostumaram, mas escondendo-se dos estranhos.

Um amigo, em sua viagem para os Estados Unidos, levou um desses animais a bordo, o qual se tornou um atrativo para os passageiros e prometia suportar a viagem para visitar as costas da América do Norte quando, porém, uma nova travessura, ou alguma água salgada que bebeu durante o temporal, cortou o fio de sua existência, e a pobre paca foi entregue às ondas azuis do Atlântico.

O carro musical

Separando-nos do nosso bondoso hospedeiro, viajamos para Barbacena, por estradas que podem ser utilizadas por veículos; mas o único representante do gênero móvel que vimos foi o carro romano, que não melhorou desde os tempos das Georgicas.

Com efeito, todas as carruagens romanas eram do mesmo simples feitio. As rodas não giravam sobre eixos, mas eixos e rodas giravam juntos. Não se poderia ouvir música de gênero mais fortíssimo, do que a que eles rangem quando se movem lentamente através das plantações. Informaram-me de que os brasileiros constroem esses carros de uma madeira especial, tendo em vista as qualidades musicais da mesma, para que quando os carros são postos em movimento sob uma pesada carga e com três juntas de bois, na frente, façam a guincharia concentrada de uma briga de mil gatos.

Em certo dia de festa, viajava junto das margens do Paraíba e a muitas milhas ouvi o ranger de um carro. A distância abrandara um tanto a sua música e, após longa cavalgada, alcancei-o, deparando-se-me um alegre grupo de camponeses brasileiros, em seus trajes domingueiros, que passeavam no antigo carro romano, todo enfeitado com cobertores de cores vivas e alegres. As senhoras sem chapéu pareciam estar à vontade e sentiam-se tão orgulhosas de sua posição, como as mais espalhafatosas ladies da Quinta Avenida apoiadas sobre as almofadas de suas carruagens, ao suave balanço das mais modernas molas.


Estrada de montanha no Brasil

Imagem: reprodução da página 151 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Recursos minerais

A província de Minas Gerais é a mais importante de todas as divisões interiores do Império, devido a suas riquezas minerais e vegetais, seus imensos rebanhos, sua acessibilidade ao mercado e sua população. Conta oitocentos mil habitantes e ainda assim é tão extensa que existem ainda, dentro de sua área de cento e cinquenta mil milhas quadradas, extensas florestas inexploradas, habitadas por tribos de índios, e onde o jaguar caminha imperturbavelmente.

Outras zonas da província figuram entre as mais adiantadas e preferidas do Império. Observou um escritor com certa ênfase que, se houvesse um lugar no mundo que pudesse ser feito para sobrepujar todos os outros, seria Minas esse lugar. Seu clima é suave e saudável; sua superfície elevada e ondulada; seu solo fértil, capaz de produzir os mais valiosos produtos; suas florestas abundantes em madeiras excelentes, bálsamos, drogas e tinturarias.

Mas todas essas circunstâncias somadas não têm dado à província tanta celebridade como o simples fato da sua riqueza mineral inexaurível. Seu nome significa minas gerais, isto é de toda espécie e, consequentemente, minas de ouro, prata, cobre e ferro encontradas dentro de seus limites, além de muitas pedras preciosas.

Várias das mais valiosas minas de ouro, não distantes de Ouro Preto, têm sido exploradas por uma companhia de mineração inglesa nos últimos vinte anos. Essa empresa tem sido inquestionavelmente uma fonte de proveito para seus acionistas, e tem prestado em geral grandes serviços ao país, introduzindo os mais consagrados processos de mineração e dando um impulso à indústria brasileira. Essa companhia emprega grande número de mineiros de Cornwall, e estabeleceu uma verdadeira vila inglesa na sua mina principal.

Recursos vegetais

As capacidades agrícolas da província são imensas. Produz café, açúcar, fumo e algodão. Ainda fabrica também pano grosso de algodão. Seu solo produz milho em grande quantidade e pode ser preparado para o trigo. Em suas campinas ou prados elevados, pastam inumeráveis rebanhos de gado e alguns de ovelhas. O leite das vacas é convertido num tipo de queijo mole, conhecido por queijo de Minas. Podem ser vistos em grande quantidade no Rio de Janeiro e daí são distribuídos pelas cidades do litoral, sendo muito estimado como alimento.

O café

Todavia, o grande empório de Minas Gerais, e de todo o Império do Brasil, é o café. Que história se poderia escrever sobre as viagens, a naturalização e os usos desse membro da família Rubiaceae! O cafeeiro não é, como geralmente se supõe, originário da Arábia, porém da Abissínia e, particularmente do distrito chamado Kaffa, donde o nome dado à bebida.

Hoje em dia o cafeeiro é encontrado crescendo até nas nascentes do Nilo Branco. Não foi levado para a Arábia senão no século quinze quando, extensivamente cultivado, com grande sucesso na província de Yemen, e embarcado em Moca, o café desta parte do mundo obteve uma celebridade que nunca perderia.

Quando foi introduzido pelos orientais na Europa, não sabemos; mas em 1538 encontraremos éditos contra ele, proclamados pelos sacerdotes maometanos, sob o fundamento que os fiéis iam mais aos cafés do que às mesquitas. A primeira notícia que dele temos na França é de 1643, quando um certo aventureiro do Oriente estabeleceu em Paris uma casa de café, que não foi bem-sucedida.

Em alguns anos, porém, tornou-se moda entre a aristocracia, devido à sua inauguração por Soliman Aga, o Embaixador da Sublime Porta junto à corte de Luiz XIV. Várias das altas personagens da época opuseram-se à sua introdução, entre elas a célebre Madame de Sévigné, que declarara que a popularidade do café seria meramente efêmera; e, na intensidade de sua admiração por Corneille, predizia que Racine passerait comme le café (Racine passará tão depressa como o café), profecias que se mostrariam ambas um tanto desabonadoras do valor profético da famosa escritora de cartas.

Antes do meado do século dezessete, estava em voga nas principais capitais da Europa. Um negociante inglês de Constantinopla foi o primeiro a introduzir entre os londrinos, e sua esposa, sendo uma jovem e linda grega, foi a mais atraente de suas vendedoras. Dizem que as casas de café grandemente se multiplicaram durante o Protetorado e que Cromwell, desejando proteger o interesse das tavernas, à instância dos taverneiros, mandou fechá-las.

Antes do século dezoito, todo o café consumido na Europa era trazido da Arábia Feliz, via Oriente, e os paxás do Egito e da Síria trataram de aumentar seus tesouros por exorbitantes direitos de trânsito. Esse empecilho foi levantado primeiro pelos navios da Holanda, depois pelos da Inglaterra e da França, contornando o Cabo da Boa Esperança até o porto de Moca.

Em 1699, Van Horn, primeiro presidente das Índias Orientais Holandesas, obteve cafeeiros e cultivou-os na Batávia, onde prosperaram maravilhosamente, e as bagas de Java obtiveram uma reputação somente rivalizada pelas de Moca. Um dos arbustos batavianos foi transplantado para o Jardim Botânico de Amsterdam em 1710, e com grande cuidado foi tão bem-sucedido que um dos mesmos foi mandado a Luiz XIV e colocado no Jardim das Plantas de Paris.

Desta última planta, outras mudas foram confiadas a Isambert para serem levadas para Martinica; mas Isambert morreu antes da chegada do vapor, e consequentemente os cafeeiros se perderam. Em 1720, Antoine de Jussieu, do Jardim Botânico Real, mandou, pelo capitão Declieux, mais três arbustos de café, também destinados a Martinica. A viagem foi longa, o navio sofreu falta d'água: duas das plantas morreram, mas o capitão Declieux distribuiu sua ração de água com o último cafeeiro, e assim conseguiu introduzi-lo nas Índias Ocidentais: esta planta foi a origem, dizem, de todas as plantações de café na América.

A honra de plantar o primeiro cafeeiro no Brasil pertence ao franciscano frei Villaso
[T79] que, em 1754, colocou um no jardim do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro. Todavia, somente após a Insurreição Haitiana tornou-se o café objeto de grande cultura e comércio no Brasil.

Em 1809, o primeiro carregamento foi enviado para os Estados Unidos, e todo o café cultivado no Império nesse ano montava apenas a 30 mil sacas, ao passo que no ano Comercial brasileiro de 1855 exportaram-se 3.256.089 sacas, que trouxeram para o país quase 25 milhões de dólares. Os Estados Unidos, durante o ano comercial que terminou a 30 de junho de 1856, importaram, de todos os países produtores de café, 235.241.362 libras de grão de café dos quais 180.243.070 libras (isto é, quase três quartos) vieram do Brasil.

O seguinte país na lista é a Venezuela, que nos mandou 16.546.166 libras; e o terceiro, Haiti, do qual importamos cerca de 13.500.000 libras. A soma total paga pelos Estados Unidos por café foi 21.514.196 de dólares, dos quais o Brasil recebeu nada menos do que 16.091.714 dólares.

A maior região cafeeira, como já dissemos, está situada às margens do Rio Paraíba e na província de São Paulo; mas cada ano se estendem as suas plantações, e uma considerável quantidade está presentemente crescendo nas províncias mais ao Norte.

Pode ser plantado enterrando-se as sementes ou bagas (que são duplas) ou por meio de mudas. As árvores são colocadas afastadas de seis ou oito pés, e as plantas, que são levadas do viveiro com torrões de terra úmida protegendo-lhes as raízes, dão frutos em dois anos; as separadas da terra não produzem senão no terceiro ano, e a maioria de tais arbustos morrem.

Na província de São Paulo, e nas porções mais ricas de Minas Gerais, mil árvores produzem de 2.560 a 3.200 libras, no Rio de Janeiro de 1.600 a 2.560. Em algumas partes de São Paulo, mil árvores têm produzido 6.400 libras; mas isto é extraordinário. Na província do Rio de Janeiro, as árvores são geralmente derrubadas de quinze em quinze anos. Há alguns cafeeiros na plantação do senador Vergueiro que tem vinte e quatro anos de idade, e ainda estão produzindo frutos. Como regra geral, não são permitidas excederem doze pés de altura, para os seus frutos poderem ser alcançados.

Quando a baga está madura, é mais ou menos do tamanho e da cor de uma cereja, semelhando também um grande fruto de arandano (chanberry); um negro pode diariamente apanhar cerca de trinta e duas libras desses bagos. Há três colheitas no ano, e as bagas são espalhadas sobre um chão pavimentado ou área igual de solo (terreiro), de onde são levadas quando secas e despojadas da casca por meio de máquinas e depois enviadas ao mercado.

Nada é mais lindo do que uma plantação de café em plena floração. As flores, alvas como a neve, brotam todas simultaneamente, e os campos extensos parecem quase, de um dia para outro, abandonar seu manto de verdura, para substituí-lo pelo mais delicado manto de brancura, que exala uma fragrância não indigna do Éden. Mas a beleza é verdadeiramente efêmera, pois as flores cor de neve e o agradável aroma desaparecem em vinte e quatro horas.

É por penosas viagens no dorso das mulas que as sacas de Minas Gerais geralmente alcançam os mercados, e nada impede tanto a prosperidade geral dessa província, do que a falta de boas estradas ou de caminhos praticáveis que levem aos mercados. A província, desde alguns anos, vem gastando consideráveis somas na construção de estradas, mas até a presente data não pode enviar sobre rodas, para os mercados, uma simples tonelada de sua produção. A viagem de Ouro Preto à capital, Rio de Janeiro, numa distância de cerca de duzentas milhas, é exclusivamente feita no dorso das mulas e cavalos, e requer comumente quinze dias.

Quanto à educação, é justo dizer que Minas Gerais, segundo as estatísticas oficiais, é a primeira de todas as províncias nesse louvável empreendimento. O governo provincial tem feito grandes gastos com o sustento das escolas, e o povo parece ter apreciado o benefício que lhe trazem.

Navegação do Rio São Francisco

Se o empreendimento há muito falado, da navegação à vapor no Rio Doce e no Rio São Francisco, for bem-sucedido, os interesses de Minas Gerais serão grandemente favorecidos. Um ótimo levantamento do Rio São Francisco foi feito pelo sr. Halfeld
[T80].

Quanto à navegação do Rio São Francisco — rio tão grande como o Volga — uma vista d'olhos no mapa mostrará sua importância para Minas e para todas as demais províncias banhadas por ele e seus tributários. O São Francisco é o maior rio que deságua no Atlântico, entre o Amazonas e o Rio da Prata. Nasce na província de Minas, e banha o solo da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, em seu trajeto para o oceano.

Da foz do Rio das Velhas até às Cachoeiras de Paulo Afonso, não muitas léguas a Leste de Juazeiro, numa distância de setecentas milhas, suas águas são próprias para navegação, embora, devido à escassez de população nas suas margens e a falta de iniciativa, seja pouco utilizado para tal fim. As Cachoeiras de Paulo Afonso são descritas pelos que as visitaram como uma imensa catarata, onde o rio se precipita, produzindo um espetáculo de extrema grandiosidade.

As névoas que se elevam nas margens a prumo podem ser vistas a grande distância. Assemelham-se à fumarada de um vasto incêndio no seio da floresta. O rio não encontra mais um leito tranquilo senão próximo à sua embocadura, e num percurso de setenta e cinco milhas lança-se com fúria em uma sucessão de rápidas e pequenas quedas, que interceptam a passagem de navios e fazem perder a esperança de qualquer ligação artificial entre a navegação superior e inferior do grande rio.

Mas essas dificuldades estão para ser vencidas de outro modo; já se acha projetada uma estrada de ferro de Pernambuco a Juazeiro, por iniciativa dos srs. de Mornay, que já obtiveram a concessão do primeiro trecho a construir que vai da cidade de Recife até Água Preta, no rio Una, numa extensão de setenta e quatro milhas. Da Baía, também foi projetada uma outra estrada, para o Norte, até Juazeiro.

Ora, desse ponto até à foz do Rio das Velhas existe uma navegação ininterrupta a vapor num percurso de setecentas milhas, e numerosos tributários elevam a navegação a quase duas mil milhas. Por conseguinte, deve ser da Barra das Velhas que se deverá construir a estrada de ferro, que irá ter ao Rio de Janeiro, com cerca de quatrocentas e trinta milhas em linha reta, compreendendo o todo, sobre trilhos e pelo rio, como o sr. Borthwick o diz em sua excelente nota, "uma grande comunicação interna entre a capital e as mais prósperas províncias"; tal é sua necessidade que tal empreendimento é uma mera questão de tempo.

Quando se vier a concluir um sistema de melhoramentos internos como esses, nenhuma província será mais beneficiada do que Minas Gerais. Os recentes estudos do sr. Halfeld foram publicados pelo governo.


O carro musical

Imagem: reprodução da página 164 do 2º volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional

Província de Goiás

A Oeste e Norte de Minas Gerais está a grande província de Goiás. Como muitas das partes interiores do Brasil, Goiás foi descoberta e desbravada desde os primeiros anos pelos paulistas, à procura de minas e escravos índios. Possui em abundância ouro, diamantes e pedras preciosas; mas seu afastamento do litoral, e sua falta de estradas, canais e navegação a vapor de seus rios navegáveis, são grandes obstáculos ao desenvolvimento de seus recursos.

Essa província, limitada a oeste pelo rio Araguaia, pode ser considerada como ocupando a porção central do Brasil, e não é geralmente montanhosa, muito embora sua superfície seja elevada e desigual. Veem-se altas florestas virgens nas margens de seus rios, nas quais existem muito dos mais cômicos macacos; a maior parte da província porém é coberta por essas espécies de baixos e enfezados arbustos, que dominam em grande parte da província de Minas, e se designam pelos termos de caatingas e carrasqueiros. No seu solo dão bem os produtos comuns do Brasil, assim como muitos dos frutos da Europa Meridional. A agricultura tem progredido mais em Goiás do que em Mato Grosso, embora seja ainda extremamente descuidada.

O nome desta província é derivado de Goiaz, uma tribo de índios que habitava antigamente o seu território, quase atualmente extinta. Várias outras tribos ainda existem dentro de seus limites, muitas das quais nutrem um ódio mortal ao povo que invadiu seus domínios perturbando os seus hábitos primitivos. As colonizações são muitas vezes destruídas pelas incursões hostis destes índios.

Em Goiás, assim como em outras partes do interior, o viajante encontrará abundância de mel produzido por abelhas sem ferrão. Não sei se se verifica no Brasil, como na América do Norte, que as abelhas precedem de algumas milhas a marcha para a frente da civilização que avança à medida que os índios e os animais selvagens preparam-se para partir, e é assim a pioneira de um melhor estado de coisas e fornece o seu açúcar para o sustento e o prazer do colonizador e do viajante nessas vastas e férteis solidões. Suponho que as abelhas do Brasil são indígenas e não como a abelha de mel dos Estados Unidos, que era desconhecida antes da chegada dos europeus e às quais os índios — não tendo vocábulo para elas na sua língua — deram o nome de "moscas inglesas".

A maior parte das abelhas brasileiras apresentam, em sua ausência de armas, uma peculiaridade que muitas das atormentadas vítimas desejariam que a Apis mellifica da América do Norte possuísse. Muitas dessas abelhas produzem um mel ácido, o que compensa a antinomia de limões doces [A54].

Em algumas partes de Goiás, a sociedade é muito atrasada, mas não tanto como na época (1817) da visita de Saint-Hilaire. Há uma poderosa classe dos habitantes chamada vaqueiros, ou proprietários de gado. Esses homens, possuem grandes rebanhos de gado vacum, e sua principal tarefa é marcar, viajar e encurralar o gado. São entendidos no uso do laço e também da faca de ponta. Suas condições morais e intelectuais não são de modo algum perfeitas.

Contudo, do progresso geral que está pouco a pouco penetrando o Brasil todo, esta província recebe o seu quinhão; e, quando as estradas de ferro estiverem terminadas até Juazeiro, Goiás será facilmente ligada em algumas horas aos grandes mercados na costa do Atlântico.

Os vários afluentes do Tocantins e do Paranaíba banham esta província e permitem certa comunicação com as províncias adjacentes; províncias do meio e do Sul, ainda encontrei com viajantes e tropas fazendo o longo e fatigante roteiro até o Rio de Janeiro e Santos.

De Goiás, a capital da província, até o Pará, a distância é de mais de mil milhas, e semelhante viagem tem todo o seu percurso efetuado por água, com exceção de algumas léguas. Esta longa rota fluvial foi realizada em 1773, sob o governo de José d'Almeira de Vasconcellos Sobral e Carvalho, e nós homens do Norte ficamos admirados que essa navegação não se torne permanente e segura.

Como os vapores brasileiros percorrem certa regularidade o Rio Amazonas, desde 1853, podemos esperar, com o tempo, ver as águas do Tocantins e seus tributários sulcadas por vapores apropriados. O presidente desta província, sr. Magalhães, desceu o Araguaia até o Pará em 1853.

Província de Mato Grosso

Mato Grosso é uma imensa província, contendo uma área maior do que os treze primitivos Estados da União Norte Americana. Está situado a Oeste de Goiás e limita-se com a Bolívia, a Confederação Argentina e o Paraguai.

Pode-se alcançar Mato Grosso vindo do Pará descendo-se o Rio Tocantins, o Xingu, o Tapajós ou o Madeira. Uma vista d'olhos sobre o mapa nos faria supor que o trajeto pelo Madeira não é apenas o mais longo, se não também o mais difícil, a todo ponto de vista. Entretanto é mais bem conhecido do que qualquer dos outros, e é o único que tem sido, de certo modo, uma rota comercial.

A distância em linha reta do Pará até Vila Bela ou Mato Grosso (uma das principais cidades da província) é de cerca de mil milhas. Nada menos de duas mil e quinhentas milhas devem ser percorridas por quem faz o trajeto por água. O tenente Gibbon, U. S. N., deu-nos um relato muito interessante de sua descida (em 1852) do Rio Mamoré, desde o forte Príncipe de Beira até o Madeira, e daí até o Pará; mas a melhor descrição detalhada dessa longa rota e das numerosas dificuldades que ela opõe ao viajante e ao negociante, se encontra numa memória publicada pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. O Brasil estabeleceu a navegação comercial para Cuiabá em 1856.

Numa distância de mil e quinhentas milhas do Amazonas e do Madeira até as Cachoeiras de Santo Antônio, só se encontra uma poderosa corrente. Grande parte da região através da qual corre o Madeira é muito insalubre. Das Cachoeiras de Santo Antônio, uma sucessão de cachoeiras e rápidos estendem-se rio acima, por mais de duzentas milhas. Em quase toda essa distância é necessário transportar as canoas e cargas por terra, pelos processos mais tediosos e difíceis que se possa imaginar. É preciso galgar precipícios, cortar estradas e construir cabanas de vez em quando, para abrigo temporário contra as chuvas. Em poucas palavras, consomem-se necessariamente três ou quatro meses nesse trecho do percurso.

Uma vez transposta essa série de obstáculos, tem-se cerca de setecentas milhas de boa navegação nos Rios Mamoré e Guaporé. Antes da navegação a vapor no Amazonas, a viagem inteira levava dez meses, quando feita por mercadores carregando mantimentos. Grandes quantidades de índios e negros são exigidas como remadores e carregadores. É comum diversas companhias se associarem, e as provisões que se devem necessariamente arranjar de antemão, exigem grandes esforços e despesas.

A viagem de volta, naturalmente, seria muito mais rápida e fácil. Não obstante o tédio e a fadiga desta longa e temível travessia, é geralmente preferível à viagem por terra até o Rio de Janeiro. Nesta, uma sucessão interminável de montanhas, a falta de quaisquer estradas diretas e apropriadas, a impossibilidade de procurar provisões pelo caminho — pelo menos em longos trechos — e o passo lento das mulas carregadas, não são de modo algum desprezíveis dificuldades numa viagem de negócios ou de recreio.

Navegação pelo Prata

Pela iniciativa e habilidade, porém, do tenente Thomas J. Page, U. S. N., uma nova rota por via aquática, para a capital do Império, foi aberta ao Brasil e ao mundo. Esse oficial, agindo por ordens do Governo dos Estados Unidos, partiu de Norfold em 1853, no vapor norte-americano Water-Witch, de quatrocentas toneladas de carga e nove pés de calado.

O objetivo desta expedição era o levantamento do Rio da Prata e seus tributários, para a intensificação do comércio e o progresso da ciência. Embora alguns obstáculos surgissem no Rio de Janeiro, o Governo Imperial deu finalmente o seu consentimento, e o Water-Witch continuou sua missão de paz; e não se lê o relatório do tenente Page ao último secretário da Marinha (mr. Dobbin) sem o mais profundo interesse e a convicção de que os serviços e descobertas do comandante e seus subordinados são da maior importância para a América do Norte e para Europa, assim como para o Brasil e os Estados Sul-Americanos.

Os estudos do tenente Page sobre o Paraná, Paraguai e também sobre muitos de seus tributários mostram concludentemente que esses rios podem tornar-se as mais fecundas vias de comércio. Do Paraguai ele diz:

"
Este rio difere do Paraná por várias particularidades. O seu período de cheias é geralmente o inverso; contém apenas poucas ilhas, está encerrado entre estreitos limites, é mais fácil à navegação por ser menos obstruído por bancos de areia, e o curso de seu canal é menos variável; sua largura é de um oitavo a três quartos de milha, sua velocidade duas milhas por hora, sua cheia de doze a quinze pés. Em outubro atinge a uma distância de duzentas e cinquenta milhas, foram encontrados nada menos de vinte pés de água quando o rio tinha descido cerca de dois pés. A profundidade da água permanece inalterada numa distância da várias centenas de milhas acima de Assunção, e o Water-Witch subiu o Paraguai setecentas milhas acima desse lugar sem que se encontrasse menos de doze pés. Nessa época o rio descera vários pés.

"A admirável adaptabilidade desses rios à navegação a vapor forçosamente surpreende o mais canhestro observador.

"Não há obstruções de árvores caídas, nem bancos de areia, nem pedras, para pôr em perigo a navegação. Em pontos adequados — na verdade, em quaisquer pontos do Paraguai principalmente — pode-se abundantemente obter a melhor madeira nas suas margens; e, onde forem povoadas, nenhuma dificuldade se encontrará em obter uma provisão de madeira já preparada para uso imediato. Por experiência cuidadosamente feita, uma pilha de lenha das madeiras do Paraguai, equivale seguramente, na produção do vapor, a uma tonelada do melhor carvão antracito.

"À margem esquerda do rio, a uma distância de quatrocentas e cinquenta milhas acima de Assunção, as povoações, porém, vão rareando à medida que nos aproximamos da fronteira norte. Entre as colonizações paraguaias mais ao norte e as brasileiras mais ao sul numa distância de duzentos e cinquenta milhas — não há habitação de homem civilizado. Várias tribos de índios foram encontradas em diferentes pontos, com algumas das quais trocamos conversação, e partimos em termos tão amigáveis, devido aos numerosos presentes que lhes fizemos de enfeites e fumo, que se tornaram um tanto importunos, seguindo-nos ao longo das margens a cavalo, desejosos que repetíssemos a visita às suas praias".

Este foi o primeiro vapor que sulcou as águas superiores do Paraguai. A chegada do Water-Witch a Coimbra (Brasil) foi saudada com as mais vivas demonstrações de alegria, e o tenente Page foi recebido pelas autoridades com as maiores atenções. O comandante, porém, devido a ter chegado demasiado tarde a permissão do Governo Imperial, não foi além de Corumbá. Todavia, o tenente Page é de opinião que Cuiabá, em Mato Grosso, pode ser alcançada por pequenos vapores. É de esperar que esse enérgico e inteligente oficial possa ainda prosseguir nos seus serviços em benefício da humanidade.

É interessante refletirmos que, estando a marinha americana, por quase cinquenta anos, livre das missões de guerra, seus bravos oficiais ganharam imperecíveis lauréis nos nobres esforços da investigação científica. Os nomes de Bache, dos tenentes Strain, Kane, Gillis, Page e as dezenas de outros que empreenderam levantamentos da costa, fizeram mais em benefício de seu país e da humanidade do que todas as batalhas navais do século dezenove.

Depois que estas páginas foram escritas, três dos nomes acima mencionados foram dormir o "último sono". Quando se reunirem as suas conquistas científicas, seu sacrifício pessoal e seus sofrimentos, o herói das regiões árticas e o herói do Istmo de Darien não serão esquecidos pelas gerações que nos sucederão. A ambos se podem aplicar as palavras do sr. George Ripley, de Nova York, a respeito de Kane: — "As admiráveis qualidades que manifestou no cumprimento de seus deveres oficiais são um penhor seguro de fama permanente. A coragem, o saber, a fertilidade de recursos, o poder de sofrimento e a devoção a uma ideia ficarão gravados sobre a sua intrépida carreira".

Da mesma forma que o dr. Kane, embora levado por uma missão de misericórdia, foi o primeiro americano a tentar "levantar o tenebroso véu de mistério que encobre as regiões árticas", também o tenente Strain [A55], em benefício da humanidade, foi o primeiro americano a explorar os maravilhosos rios dessas regiões meridionais de fabulosa fertilidade".

Quando ainda guarda-marinha, obteve permissão para entrar no interior do Brasil e, acompanhado por um pequeno punhado de bravos (entre os quais o dr. Reinhart), explorou a província de São Paulo, percorrendo os rios Tietê e Paranapanema desde quase a sua confluência com o Paraná. Os perigos e fadigas que encontrou nessa expedição foram apenas inferiores às da mais recente e mais bem conhecida expedição ao Istmo de Darien. Seus serviços como explorador foram dignamente reconhecidos pelo Governo Imperial; e no Brasil ouvi altos encômios ao tenente Strain, tendo com a sua morte a ciência perdido um dos seus mais nobres filhos
".

Seria uma interessante expedição, e grandes bens dela adviriam, se o governo do Brasil consentisse em organizar com a Inglaterra, a França e os Estados Unidos, uma comissão científica conjunta, para explorar inteiramente toda a região do Brasil Central, da Bolívia até à Bahia, com particular referência à navegabilidade das águas, que nessa região se entrelaçam, dos vastos rios que banham uma tão larga extensão de território.

Na parte Norte desta província, vivem inumeráveis bandos de macacos, pela maior parte pertencentes a medonhas espécies. Castelnau, nas cabeceiras do Amazonas, encontrou a autêntica narração escrita de um padre dos primeiros tempos, que afirmava haver aqui uma raça de índios, que ele vira e que eram anões e tinham cauda. Disse que um deles lhe fora mostrado, cuja extremidade caudal era "d
a espessura de um dedo, e de meio palmo de comprimento, e coberto com pele descoberta e lisa"; além disso, também empresta a sua autoridade para o fato de os índios cortarem sua própria cauda uma vez por mês, por não gostarem de tê-la demasiado comprida. Não seria o anão do padre, o Brachyurus calvus, com a sua cauda, semelhando uma bola, descoberta há alguns anos passados nessa região pelo sr. Deville?

Cuiabá

Cuiabá, a capital de Mato Grosso, ocupa uma situação saudável, no rio do mesmo nome. Embora chamada uma cidade, é de fato apenas uma vila. Suas casas são quase todas construídas de taipa, com chão de argila batida ou tijolo. A região que de perto a circunda, dizem ser tão abundante em ouro que grãos desse metal podem ser encontrados em qualquer lugar onde se escave a terra. Está distante cerca de cem milhas do distrito diamantífero.

Seu solo e fértil, mas falta-lhe quase totalmente o cultivo. Em certas zonas, dá-se particular atenção à pastagem; mas, geralmente falando, os habitantes não fazem esforços para produzir aquilo que não seja para seu próprio consumo. E na verdade nem sempre alcançam o limite de suas próprias necessidades.

A província é abundante em ouro e diamantes; mas devido à falta de habilidade na procura deles, os lucros com ambos, nos últimos anos, têm sido muito pequenos. O que encontram os mineiros e os garimpeiros, como são chamados os que procuram diamantes, juntamente com certa quantidade de ipecacuanha, representa toda a exportação da província. Estes artigos são geralmente enviados no dorso das mulas para o Rio de Janeiro, onde as mercadorias manufaturadas são compradas em troca e enviadas pela demorada rota terrestre.

A primeira imprensa que se viu em Mato Grosso foi adquirida a expensas do Governo em 1838. Em assuntos de educação, esta província está extremamente atrasada. As escolas não são apenas poucas em número, mas grandes contratempos se originam da falta de livros, papel e quase todo o material essencial à educação elementar.

Junto a essa situação inferior e pouco promissora da educação, a da religião, a julgar pelos relatórios dos sucessivos presidentes da província, parece ser ainda pior. Existem, aí, apenas algumas poucas igrejas: menos de metade conta sacerdotes; e todas, se não se fizerem grandes gastos para repará-las, em breve estarão em ruínas.

Malefício das minas de ouro e diamantes

Goiás e Mato Grosso podem se juntar quando em comparação com as outras regiões do Império e do mundo. Ambos foram originalmente colonizados por caçadores de ouro. A atração das riquezas levou os aventureiros a se enterrarem nas profundas solidões de suas intermináveis florestas. A procura desses produtos foi bem-sucedida. As mais ávidas ambições foram saciadas.

Mas a agricultura foi descuidada; o povo não podia comer ouro, e muitos casos houve em que os que eram capazes de pesar seus tesouros por arrobas estavam na maior penúria em relação ao que é necessário para a vida. A terra não era cultivada; nada era exportado; não se construíam florescentes cidades.

A febre do ouro, declinando, deixou a sociedade num estado tão debilitado que sentimos os seus efeitos até hoje. O ouro e os diamantes estorvaram o progresso de Goiás e Mato Grosso mais do que suas densas florestas e a grande distância do litoral.

É instrutivo olhar para os resultados totalmente diferentes das riquezas minerais em confronto com as riquezas vegetais do Império. Depois do México e do Peru (antes da descoberta do tesouro australiano e californiano), o Brasil forneceu as maiores quotas de metal para moedas ao mundo comercial. Nele o diamante, o rubi, a safira, o topázio e a opala com as cores do arco-íris espalham-se no seu esplendor nativo.

Entretanto, tão maiores são as riquezas dos produtos agrícolas do Império, que a soma anual recebida por um simples produto, o café, excede os resultados da produção de oitenta anos das minas de diamante. De 1740 a 1822 (a era da independência), num período que foi o mais próspero na mineração de diamantes, o número de quilates obtido foi de duzentos e trinta e dois mil, num valor que não alcança a três e meio milhões de libras esterlinas. Só a exportação de café do Rio, durante o ano de 1851, montou a £ 4.756.794!

E quando acrescentamos às somas obtidas pelos outros grandes empórios de açúcar, algodão, seringa, (a borracha da Índia) madeiras para tinturaria, e as produções dos imensos rebanhos do Sul, podemos fazer, na verdade, uma melhor ideia das fontes de riqueza do Brasil, mas apenas uma fraca concepção dos vastos recursos desse fértil Império.

Tendo assim passado uma vista d'olhos em todas as províncias interiores, exceto o Amazonas, voltaremos a dar a nossa atenção para as províncias marítimas que ficam ao norte do Rio de Janeiro
[A56].


Notas do Autor

[A54] O dr. Gardner, em sua visita à Goiás, foi hospedado em um pequeno lugar não distante de Natividade, perto das montanhas que formam o limite Sudoeste de Piaí. "O dono da casa", diz ele, "voltou das matas, logo depois, de nossa chegada, com uma considerável quantidade de mel silvestre, dando-nos gentilmente um pouco do mesmo. Achamo-lo excelente: era o produto de uma pequenina abelha, tão numerosa nessa parte do Brasil. Era a estação em que o povo ia para as matas em procura do mel.

É geralmente tão usado que, antes de deixar Duro, (ponto de convergência de Goiás, Piauí e Pernambuco) recebíamos certa quantidade dele em quase todas as casas onde parávamos. Essas abelhas, na maior parte, pertencem ao gênero Melipona. Illig., e eu apanhei muitas que, com outros espécimes zoológicos, foram depois perdidos ao atravessar um rio. Uma lista deles, com seus nomes indígenas e algumas observações a respeito podem apresentar algum interesse:

1 — Jataí — É uma espécie muito pequena de cor amarelada, tendo apenas duas linhas de comprimento. O mel, que é excelente, assemelha-se muito à abelha de colmeia da Europa.

2 — Mulher branca — De cerca do mesmo tamanho da de nº 1, mas de uma cor esbranquiçada; o mel é igualmente bom, mas um pouco ácido.

3 — Tubi — Uma pequena abelha preta, menor do que uma mosca doméstica comum; o mel é bom, mas tem um gosto amargo peculiar.

4 — Manoel d'Abreu — De cerca do tamanho da tubi, porém de uma cor amarelada: seu mel é bom.

5 — Atakira — Preta, e quase do mesmo tamanho da tubi — a principal distinção entre elas consistindo na forma da entrada de suas colmeias: a tubi a faz de cera, a atakira de argila. Seu mel é muito bom.

6 — Oariti — De uma cor enegrecida, e quase do mesmo tamanho da tubi: seu mel é um tanto ácido, e não é bom.

7 — Tataira — Quase do tamanho da tubi, mas com um corpo amarelo e uma cabeça preta: seu mel é excelente.

8 — Mambuco — Preta, e maior do que a tubi: o mel, depois de ser conservado cerca de uma hora, torna-se tão ácido como sumo de limão.

9 — Bejui — Muito semelhante à tubi, porém menor; seu mel é excelente.

10 — Tiuba — Do tamanho de uma grande mosca doméstica e de uma cor negra acizentada; seu mel é excelente.

11 — Bará — De cerca do tamanho de uma mosca doméstica e de uma cor amarelada; seu mel é ácido.

12 — Uruçu — De cerca do tamanho de um zangão; a cabeça é preta e o corpo amarelado. Produz bom mel.

13 — Uruçu preto — Inteiramente preta, e acima de uma polegada de comprimento; produz também bom mel.

14 — Cuniára — Negra, e de cerca do mesmo tamanho da de nº 13; seu mel é demasiado amargo para ser comestível.

15 — Chupé — De cerca do tamanho da de nº 10, de uma cor preta. Faz sua colmeia de argila nos ramos das árvores, e é muitas vezes de um grande tamanho. Seu mel é bom.

16 — Urapua — Muito semelhante à de nº 15, mas sempre constrói sua colmeia mais arredondada, mais horizontal e menor.

17 — Enxu — Esta é uma espécie de vespa do tamanho de uma mosca doméstica; sua cabeça é preta e o corpo amarelo. Constrói sua colmeia nos ramos das árvores; esta é de um tecido semelhante ao papel de cerca de três pés de circunferência. Seu mel é bom.

18 — Enxu pequeno — Muito semelhante ao último, porém faz sempre uma colmeia menor; também produz bom mel.

"As primeiras onze dessas abelhas de mel constroem suas células nos troncos das árvores ocas, e as outras em parecida situação ou subterraneamente. Apenas as últimas três espécies dão ferroadas, todas as outras sendo inofensivas.

A única tentativa que vi para domesticar estas abelhas, foi por um mineiro, de Cornoalhes no distrito aurífero, que cortava as porções dos troncos das árvores que continham os ninhos, e firmava-os nas goteiras da sua casa. Pareciam prosperar muito bem; mas, sempre que se queria tirar o mel, era necessário destruir as abelhas.

Os índios e os outros habitantes da região são muito experimentados em descobrir estes insetos nas árvores onde se encerram. Eles geralmente misturam o mel — que é muito fluido — com farinha, antes de comê-lo, e da cera fazem uma espécie grosseira de círio de cerca de uma jarda de comprida, que serve em lugar de velas, e que o povo da região leva às vilas para vender.

Achamos isto muito conveniente, e sempre carregamos um estoque suficiente conosco; não raramente somos obrigados a fabricá-las nós mesmos com a cera obtida pelos meus próprios criados". 1865, M. Brunet, da Bahia, encontrou quarenta espécies de abelhas.

[A55] A carreira desse oficial, depois de deixar o Brasil, pode ser brevemente resumida: da América do Sul foi para a Califórnia. "Em 1849, voltando do Pacífico, atravessou o continente de Valparaíso a Buenos Aires, do qual publicou uma narrativa intitulada A Cordilheira e o Pampa. Subsequentemente, serviu como adido à Comissão de Limites Mexicanos. Um cruzeiro africano seguiu-se à sua volta do México, e pouco tempo depois acompanhou a fatal expedição através do Istmo de Darien, que custou tantas valiosas vidas, minou a saúde e acabou por causar a morte do seu chefe.

Refeito dos efeitos da fadiga dessa aventura, acompanhou o tenente Berryman em viagem no vapor Arctic para sondar o trajeto do cabo telegráfico do Atlântico. Este foi seu último serviço público. Mas seu enérgico espírito não podia ficar inativo, e na época de sua morte estava de viagem para unir-se ao mesmo vapor do que fora destacado três anos antes para examinar a rota Darien; e no mesmo lugar onde ganhou um nome tão elevado entre os exploradores americanos, deu a sua vida" — Providence (R. I.) — Journal.

[A56] Nota de 1866 — A guerra com o Paraguai (que foi um drama de incomparável barbaridade da parte do presidente Lopez, filho do antigo ditador) trouxe misérias inauditas às populações pouco estáveis. Até novembro de 1864, os vapores navegavam até Cuiabá, e os produtos da região, principalmente ipecacuanha, desciam o rio e eram assim levados ao mercado.

Todo o comércio, que aliás nunca foi considerável, paralisou. Provavelmente o maior comprador no mundo de ipecacuanha e salsaparrilha brasileira é o conhecido dr. J. C. Tyer, de Lowell, Massachusetts, cujos remédios são encontrados em todo o mundo.

Em 1863, oficiais brasileiros desceram os rios Araguaia e Tocantins até o Pará, seguindo a rota antigamente usada. Embora apresentem muitas dificuldades, esses grandes rios podem ainda vir a servir como caminhos públicos num interior quase fechado para o resto do mundo.

Notas do tradutor:

[T75] Wilhelm von Eschwege — Observations sur la manière de voyager dans l'intérieur du Brésil, 1819 — Journal von Brasilien, 1813 — Pluto Brasiliensis, 1833.

Alexandre Rodrigues Ferreira (ver, nesta Brasiliana, trechos de sua obra publicados por Virgilio Corrêa Filho).

Johann von Natterer acompanhou Martius ao Brasil, onde esteve cerca de 18 anos, tendo sido os seus originais em parte destruídos por incêndio em Viena; trabalhos ornitológicos publicados em Zur Ornithologie Brasiliens Resultãte von Johann Natterer Reisen is deis Jahren 1817 bis 1835, por Pelzeln (1871).

John Mawe Travels in The interior of Brazil, particularly is the gold and diamond districts of that country, Londres, 1812.

Maximiliano, príncipe de Wied-Neuwied, Reise nach Brasilien, Frankfurt, 1820-21; edição brasileira nesta Brasiliana, formato grande, nº 1, sob o título Viagem ao Brasil, trad. de Edgard Sussekind de Mendonça e Flavio Poppe de Figueiredo, revista e anotada por Olivério Pinto.

Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Philipp von Martius: Reise in Brasilien, 1828-1831. Ver, nesta Brasiliana.

Auguste Saint-Hilaire — ver nesta Brasiliana: Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo, 1822, trad. e notas de Afonso de E. Taunay; Viagem à Província de Santa Catarina, 1820, trad. de Carlos da Costa Pereira; Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás, 12 tomos, trad. e notas de Clado Ribeiro de Lessa; Segunda Viagem ao interior do Brasil: Espírito Santo, trad. de Carlos Madeira; Viagem pelas Províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais, trad. e notas de Clado Ribeiro de Lessa.

Sobre Langsdorff, ver nota ao Capítulo XV.

Johann Emmanuel Pohl, veio ao Brasil com Martius, tendo publicado Reise in Innern von Brasilien (1832-1837).

Sobre Burchell, ver nota ao Capítulo XV.

Sobre Gardner, ver nota ao Capítulo I.

Conde Francis de Castelnau Expédition dans les parties centrales de l'Amérique du Sud, de Rio de Janeiro à Lima et de Lima au Para, Paris, 1850-57.

Alfred Russel Wallace — A Narrative of travels on the Amazon and Rio Negro, Londres, 1853; ver nesta Brasiliana a tradução de Orlando Torres, com prefácio de Bazílio de Magalhães.

[T76] W. Smith — Narrative of a journey from Lima to Pará, across the Andes and down the Amazon, Londres, 1836.

William H. Edwards — A Voyage up the river Amazon, including a residence at Pará, Londres, 1855.

William Lewis Herndon e Lardner Gibbon — Explorations of the Valley of the Amazon made under direction of the Navy Department, 1853-54.

[T77] Tenente Jefferson Page.

[T78] Dr. Ildefonso Gomes, botânico mineiro.

[T79] Frei José Mariano da Conceição Velozo.

[T80] Sobre Halfeld, ver Nota nº 6.