Fábrica de Santo Aleixo
Imagem: reprodução da página 312 do 1º volume da edição de
1941, da Cia. Editora Nacional
Capítulo XV
Clima do Brasil.
Aqueles que têm a sua experiência tropical feita na Índia Oriental, ou na costa Oeste da África, não podem fazer uma justa ideia do delicioso clima
da maior parte do Brasil. É como se a Providência tivesse designado esta terra para servir de cenário a uma grande nação. A natureza amontoou aqui
as suas mais generosas dádivas: brisas frescas, montanhas elevadas, vastos rios e abundante irrigação pluvial, são tesouros que sobrepujam longe as
cintilantes pedras preciosas e os ricos minerais que abundam dentro dos limites deste extenso território.
Nenhum siroco ardente passa sobre esta formosa terra, para secá-la e desolá-la, e nenhum
vasto deserto, como na África, separa suas férteis províncias. Esse temível flagelo, o terremoto — que faz com que homens fortes se mostrem fracos
como crianças, e que vive constantemente assolando as cidades da América Espanhola, — não perturba os habitantes deste Império. Ao passo que em
grande parte do México, e também na costa Oeste da América do Sul, — de Copiapó até o 15° de latitude sul — não se tem notícia de chuvas, o Brasil é
refrescado por copiosos aguaceiros, e é dotado de largos e caudalosos rios, cataratas e cursos d'água.
O Amazonas — ou, como os aborígenes o chamam, Pará, "o pai das águas" — com seus importantes
afluentes, irriga uma superfície igual a dois terços da Europa; o São Francisco, o Paraíba do Sul, os vastos afluentes do Prata, sob a denominação
de Paraguai, Paraná, Cuiabá, Paranaíba, e uma centena de outros cursos de menor vulto, banham o fértil solo e levam suas águas ao oceano,
atravessando as regiões sul e leste do Império. Olhe qualquer um para o mapa do Brasil, e convencer-se-á de que este país está destinado pela
natureza a sustentar milhões de homens.
Com efeito, deve haver alguma razão para esta generosa irrigação, esta fertilidade do solo e salubridade do clima.
O tenente Maury — que parece ter tomado quase literalmente "as asas da manhã" para voar até as mais distantes paragens marítimas — mostrou
concludentemente porque o Brasil é tão favorecido em relação às mesmas latitudes de outros países.
A América do Sul é como um grande triângulo irregular, cujo lado mais extenso está sobre o
Pacífico. Dos dois lados que ficam sobre o Atlântico, o mais longo, que se estende do Cabo Horn ao Cabo São Roque — tem três mil e quinhentas
milhas, e está dirigido para Sudeste; enquanto o mais curto — olhando para Nordeste — tem uma extensão de duas mil e quinhentas milhas. Esta
configuração tem um poderoso efeito sobre a temperatura e irrigação do Brasil.
O Prata e o Amazonas resultam dela, e dos ventos, chamados monções, que sopram sobre os dois lados
atlânticos do grande triângulo. Esses ventos, que varrem do nordeste e do sudeste, vêm carregados, em sua travessia sobre o oceano, de umidade e de
nuvens. Levam seu vapor d'água sobre as terras, destilando das alturas uma refrescante umidade sobre as vastas florestas e as montanhas, até que
finalmente esbarram nos elevados Andes, e na sua rarefeita e fria atmosfera são totalmente condensados, e descem em copiosas chuvas que
permanentemente alimentam os cursos de dois dos mais importantes rios do mundo.
Os ventos que prevalecem na costa do Pacífico são Norte e Sul. Nenhuma umidade é levada do oceano
para a vasta barreira de montanhas à vista das ondas, e daí a grande aridez da hipotenusa do triângulo. Observei trinta dias seguidos as costas
oeste e Leste da América do Sul, e a primeira parecia um deserto comparada com a segunda.
Nenhum outro país tropical é, em média, tão elevado como o Brasil. Embora não haja montanhas muito altas, exceto no limite extremo Oeste, mesmo
assim todo o Império tem uma elevação média de mais de setecentos pés acima do nível do mar.
Esta grande elevação e as fortes monções combinam-se para produzir um clima mais frio e mais saudável do que as latitudes correspondentes da África
e Ásia Meridional. O viajante, o naturalista, o mercador e o missionário não têm perdidos os seus primeiros meses de prazer ou lucro nem o seu
organismo prejudicado pelas febres.
A temperatura média do Brasil — que se estende aproximadamente do quinto grau de latitude norte ao trigésimo terceiro grau de latitude Sul (quase
uma região intertropical) é de 88° F [31º C], segundo as diferentes estações do ano. No Rio de Janeiro — segundo a autoridade do dr. Dundas — a
temperatura média de trinta anos foi 73° F. Em dezembro, (que corresponde a junho no Hemisfério do Norte,) máxima 89,5° F; mínimo, 70°F; média 79°F.
Em julho (mês mais frio) máxima, 79º F; mínima, 66° F; média 73,5º F. Posso acrescentar, de minhas próprias observações por vários anos, que nunca
vi 90º F [32º C] no tempo de verão, a mínima no inverno (junho, julho e agosto) foi de 60° F [15,5º C], e isto cedo pela manhã.
O calor do verão nunca é tão opressivo como o que muitas vezes experimentei, nos dias quentes de julho e agosto, em Nova York e Boston, onde
frequentemente a alta temperatura de 104° F [40º C] ou 105º F tem sido atingida. Deve, entretanto, ser admitido que três meses de temperatura
variando entre 73° F e 89º F seria intolerável não fosse a fria brisa marítima no litoral que geralmente começa às onze da manhã, e a deliciosa
brisa terrestre que tão suavemente areja a terra, até que o sol da manhã brilhe acima das montanhas. No interior, as noites são sempre frias; e
pode-se acrescentar que, a umas cem milhas do litoral, o clima é inteiramente diferente.
Excursões.
O Rio está felizmente situado de modo a permitir facilidade de acesso às regiões elevadas. Uma viagem de uma hora leva-nos às cascatas e à
temperatura sempre fresca da Tijuca; com seis horas a vapor, estrada de ferro e diligência chega-se à cidade de Petrópolis nas montanhas; em vinte
horas estamos no seio das sublimidades da Serra dos Órgãos e das tranquilas e refrigerantes sombras de Constância onde, na pensão Heath podemos
estar longe da poeira, do barulho e da etiqueta que são os constantes acessórios da capital comercial e política do Brasil.
Podemos novamente mudar nossa rota e subir as montanhas até as elevadas terras onde estão situadas
as prósperas cidades de Nova Friburgo e Canta Galo, com suas adjacentes e florescentes plantações de café. Todos esses são deleitáveis sítios de
recreio, cada ano mais frequentados.
Santo Aleixo.
Não longe da estrada comum para Constância, está o formoso vale de Santo Aleixo, onde um americano estabeleceu uma fábrica de tecidos de algodão, no
meio do mais belo cenário tropical. Para alguns seria uma profanação que essas solidões fossem perturbadas por outro som que não o murmúrio das
águas que vêm da Serra, ou os cantos dos pássaros e o som estrídulo da cigarra; mas talvez haja poucos que não se mostrem satisfeitos em ver a
indústria tomando o lugar da indolência, e os que assim não pensam talvez nada sejam capaz de fazer em amor das coisas belas.
Visitei Santo Aleixo muitas vezes, experimentando a boa hospitalidade de seu diretor que, através de muitos obstáculos, tinha afinal triunfado em
estabelecer a primeira fábrica de algodão bem-sucedida na província do Rio de Janeiro.
Minha última visita a Santo Aleixo foi feita em tais condições de tempo que sou levado a dá-la como exemplo do que se pode esperar de certas
estações do ano. Embora na província do Rio de Janeiro não haja estação chuvosa propriamente dita, contudo, muitos visitantes da capital não se
esquecerão muito depressa das chuvas torrenciais tornadas duplamente sensíveis pelas toscas goteiras em tubo (vê-las na
gravura do Senado) que outrora derramavam uma verdadeira cascata em miniatura em cima dos transeuntes. Mas de tais
goteiras pode-se agora dizer que o seu papel terminou, e por uma lei municipal estão agora onde o entrudo está — entre as curiosidades do Rio que
têm apenas uma existência histórica.
A forma comum de se chegar a Santo Aleixo é tomar o vapor que vai até Piedade e daí, em carruagem, atravessar o segregado vale até oito ou dez
milhas daquele ponto de desembarque. Na referida visita, eu estava acompanhado por numeroso grupo de amigos, entre os quais o sr. M., digno diretor
e um dos donos da Fábrica.
Deixamos o Cais dos Mineiros (não longe do Convento de São Bento) no rústico vaporzinho que navega entre o Rio e a margem superior da baía. A manhã
estava clara, mas fomos logo colhidos por uma tempestade com trovões. Que chuva! Em zonas temperadas julgamos saber o que significa chuva. Que
engano! É brinquedo de criança quando comparada às torrentes dos trópicos. Não havia camarotes e as cortinas, embora pela metade, cumpriram o seu
dever. Na sua violência alagava-nos as roupas, encharcava-nos os pés, e batia nas escotilhas como num dia de borrasca a bordo de um navio.
Quando estávamos suficientemente molhados, a chuva diminuiu e levantaram-se as cortinas. E ainda bem! pois o mau tempo tinha obrigado a toda a
confusa multidão de tropeiros a ocupar juntamente com os seus animais, a coberta na frente do vapor; e as exalações que saem dos sujos condutores de
animais, dos desalinhados arrieiros, e dos negros molhados, não eram das mais agradáveis para a porção feminina da nossa companhia.
Improviso de mestiço.
O tempo da travessia se passou olhando para o sublime cenário e ouvindo os improvisos de um mulato que ia para uma festa em Magé, para lá vender o
seu engenho mais os seus doces. Ele contava longas histórias em verso, e imitava diferentes vozes com admirável habilidade.
Quando pediram para cantar um improviso sobre Paquetá, a linda joia insular em frente a qual
estávamos passando ele, imediatamente, lançou-se em uma torrente de versos, descrevendo as belezas da ilha, cantada também nas falhas e defeitos de
seus habitantes, e numa satírica tirada digna de Juvenal verberou costumes do povo que frequentava as festas religiosas anualmente celebradas em
suas alvas praias.
Ele concluiu com um elogio a José Bonifácio de Andrada, que aqui terminara seus dias. Numa palavra,
se Corina o tivesse ouvido, a inveja a teria salvo do desgosto de morrer de amor. Salvo a galhofa, o talento do homem era de superior qualidade, e
os harmoniosos e fluentes versos mostravam a adaptação da língua portuguesa à composição rítmica.
Depois de uma apressada refeição num tosco hotel da roça, perto do desembarcadouro de Piedade, preparamo-nos para a viagem pela estrada. Na frente
seguiu a nossa equipagem. Devo, em justiça ao nosso digno hoteleiro, dizer que seu belo veículo americano tinha recebido sérios estragos e, por
isso, só pôde mandar-nos as suas mulas, alugando-nos o melhor veículo que pôde encontrar na vila de Magé.
Sentimos um leve remorso nos graves estragos que a nossa entrada no venerável veículo deve ter lhe
causado, parecendo ter servido de refúgio temporário para algum divertido poleiro. Mas não devemos falar mal do velho carro. Virgem tanto de pintura
como de lavagem, vencia longe a Immortal de Sydney Smith que, sem dúvida, era conservada em perfeita limpeza por seus asseados cocheiros de
Yorkshire. Mas por causa das duas boas parelhas de animais conformamo-nos com a rudeza do veículo.
Quatro belas mulas precipitavam-se pela lama e pela água; compreendi então quão filosófico era
evitar o transtorno de levar a carruagem. A carruagem em que passeia em Hyde Park o conde D' Orsay ou o conde de Harrington, numa simples milha,
teria ficado como a nossa.
Passamos a vau pequenos rios e regatos recentemente formados; arrastávamo-nos morros acima e vales
abaixo; neste instante o cocheiro fez um hábil desvio junto de um barranco para evitar um profundo buraco do outro lado, e foi obrigado a passar por
baixo de umas árvores cujos ramos pendentes nos deram uma forte ducha. Após várias milhas de semelhante viagem, paramos numa venda para dar descanso
e água aos animais, antes de galopar pelas ladeiras. E continuamos a caminhada.
"On,
on we hastend'd, and we drew
Their gaze of wonder as we flew!"
Formavam-se nuvens negras de tempestade condensando-se sobre nós. A noite e a chuva brasileira
caíram afinal! O que antigamente era a capota da carruagem foi transformado numa espécie de pia, com um buraco no meio, pelo qual vazava a água.
Felizmente, nós tínhamos um guarda-chuva; este foi introduzido no orifício, e assim a corrente foi desviada de nossas pobres cabeças.
No meio de tudo isto o cocheiro deu um alto assovio, e a esse sinal surgiram quatro figuras escuras de uma cabana ao lado da estrada. Uma senhora do
grupo descreveu depois as suas impressões românticas dessa cena, da seguinte forma:
"O que meus companheiros sentiram não sei; mas eu bem pude avaliar o que seria para mim, pobre
e fraca mulher, deixar-se roubar ou, pelo menos, assaltar! Um dos homens saltou sobre o carro com um imenso cacete em suas mãos, e os outros o
seguiram, proferindo uma série de gritos estranhos e indesejáveis epítetos, todos porém dirigidos contra as mulas; e, como sabia que as peles e os
crânios desses animais eram mais espessos do que os meus, fiquei consolada.
Um grupo foi mandado empurrar o carro numa íngreme subida; e que seja sabido por todos aqueles que
ainda não conhecem a idiossincrasia dos animais que, quando consideram uma tarefa exorbitante, não há opinião que os convença de pôr ombros à obra.
Não duvido que eles gritassem por Júpiter, mas ele não os ajudaria; e assim continuam a gritar, ou deixam que o veículo os puxe; convenha-se que nas
bordas de um precipício não é esse um agradável modo de viajar.
Assim, depois que cada mula tinha claramente aprendido, do quarteto berrante, a consideração que
lhes votava, atingimos o alto. Com que gosto descemos neste lindo vale onde a fábrica levanta suas brancas paredes! Depois nós a observamos sob um
sol claro, e a observação de Southey que "a própria natureza detesta uma fábrica, e recusa
revestir suas paredes com trepadeiras", é aqui contraditada, pois o formoso vale em cujo solo
esse edifício assenta, emprestaria graça a qualquer construção. Quão cordial foi a saudação de boas-vindas que nos deu a linda dona da casa,
Virginia, que veio ao nosso encontro quando chegamos, todos exaustos Alegremente narramos o nosso susto e as nossas aventuras, e deu-se novamente a
velha história:
"She
loved us for the dangers we had pass'd,
And we loved her that she did pity them."
Byron não podia conceber uma senhora comendo — é tão pouco etéreo! Rigorosamente considerado, é uma
singular operação: — atirar bocados diversos num buraco da cara utilizando o seu queixo como se fosse um moinho. Portanto, foi unicamente a parte
masculina do grupo que participou do presunto Westphalia, frango assado, e outras gulodices preparadas pela boa hospedeira. Tais processos não iriam
bem com os sentimentos poéticos da minha celestial natureza!"
Na manhã seguinte examinamos a localidade. A casa do proprietário ficava a uma pequena distância da fábrica, e ambas foram realmente aparelhadas nos
Estados Unidos, donde vieram as diferentes partes em pedaços que se armaram no Brasil. O pinho empregado na casa, apesar dos conselhos em contrário,
provou ser superior em durabilidade ao pinho norueguês.
Um prado verdejante desce desde a casa até um claro e rápido regato que, depois das chuvas, pode
bem ser chamado um rio; mas em tempo seco é facilmente atravessado por sobre as pedras que lhe cobrem o leito. O sr. M. procurou longa e penosamente
um curso d'água que nunca secasse, mesmo na estação mais seca. Por fim descobriu esse pequeno rio, e aqui construiu a sua moradia.
Os morros elevam-se arredondados, cobertos com a mais exuberante vegetação; aqui e ali uma
magnífica palmeira se ergue como um chefe acima de seus companheiros; mais adiante, as montanhas estendem-se e confundem-se com o azul claro do céu.
Sobre os ramos cantam pássaros de ricas plumagens, que parecem, ao amanhecer, convidar as exuberantes sensitivas a despertar do repouso da noite.
Foi, na verdade, difícil para mim conceber que a pequena planta sensitiva que tinha visto em casa
como figurando entre as mais delicadas das plantas exóticas, aqui se reproduzia em formas quase gigantescas. Sua família é abundante no Brasil, e o
bosque que circunda a residência do sr. M. é realmente formado de árvores que quietamente dobram suas folhas em repouso ao cair da tarde, para serem
despertadas unicamente pelo sol da manhã e pelo canto dos pássaros.
As amigas citadinas da sra. M. costumavam dar-lhe pêsames por ter sido levada tão longe da
sociedade, para esse vale solitário; mas foram sossegadas em suas demonstrações de simpatia quando informadas que nenhum sinal de solidão domina
nesse doce recanto. Aqui se encontra companhia nas majestosas montanhas "abruptamente escarpadas", nas matas floridas, nas vestes da floresta, e na
música que sai dos regatos e das fontes.
A recordação de Santo Aleixo nos ficou como um agradável sonho, ou como as imagens radiosas dos solitários vales e cintilantes águas na base do "Dent
du Midi", que não ficam, porém, a um dia de passeio da margem superior do lago de Genebra.
O sr. M. merece os maiores elogios por seus perseverantes esforços que conseguiram manter aqui essa
primeira e bem-sucedida fábrica de tecidos de algodão na província. Outros se têm esforçado por estabelecer fábricas similares, movimentadas a
vapor, na cidade; mas todos falharam. Não apenas teve o sr. M. que lutar com a natureza, mas provavelmente seus maiores contratempos lhe advieram
das delongas oficiais. Quanto aos operários, a fábrica os vai buscar na colônia alemã de Petrópolis.
Outro, que não eu, pagou um justo tributo aos méritos do sr. M.; posso sinceramente subscrever os
sentimentos que se contêm nas suas palavras: — "Embora seja apenas na fabricação dos tecidos
comuns de algodão que os fabricantes podem competir com as mercadorias inglesas e americanas, ele
(o sr. M.) ainda merece uma medalha de honra do
Governo, e o auxílio de todo o Império, não apenas pela fundação da fábrica, mas pelo exemplo de vida — diante de uma província de habitantes
indolentes e vadios — dado pela energia yankee, engenhosidade, infatigável esforço e inflexível perseverança."
(O sr. M. morreu em 1857).
Uma casa yankee no Brasil
Imagem: reprodução da página 317 do 1º
volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional
Constância — Serra dos Órgãos.
De Santo Aleixo a Constância [T35]
e um confortável passeio de um dia — se bem que o modo comum de ir até esse local seja partir ao meio dia do Rio no vapor, chegar a Piedade às três
horas, onde as mulas e os guias estão esperando os que foram bastante precavidos para anunciar por carta dirigida ao Jolly Heath a sua
intenção de passar alguns dias no seio da Serra dos Órgãos.
Algumas horas através de terras baixas leva-nos, passando pela cidade de Magé até Frechal, (ou
Freixal), onde os cansados ou vadios gastam muitas vezes uma noite numa sórdida hospedaria, cercados por um bando de crianças (o proprietário é pai
de vinte e três meninos), e por grandes tropas de mulas que, carregadas de café, estão a caminho do vapor em Piedade.
Mas, para os que gostam de um exaustivo passeio pelas montanhas acima, numa estrada com certos
trechos pavimentada à moda das antigas estradas romanas calçadas de lajedos — os que desejam sentir uma atmosfera matinal que em frescura lembra a
de uma zona temperada — para esses Barreira será o lugar de descanso. Nesse local se encontra a cancela fiscal (barreira) dessa bela trilha
montanhosa para animais que deve ter sido construída por elevada soma de dinheiro, pois que várias milhas são calçadas como as ruas de uma cidade.
Ziguezagueamos sobre os flancos íngremes da Serra, vendo embaixo os cimos de majestosas árvores florestais cujo nome são pouco
comuns, e cuja aparência é tão curiosa quanto pitoresca e bela. O dr. Gardner [T56],
que fez o mais completo exame da flora da Serra dos Órgãos, registrou em suas interessantes viagens as riquezas vegetais dessa escarpada cadeia, e
aqueles que se interessam por Palmeiras, Cassiae, Lauri, Bignonias, Myrtaceae, Orchideae, Bromeliaceae,
fetos, etc., etc. devem percorrer as páginas de seu livro que, embora necessariamente deficiente em história, política, e condições atuais do
Brasil, é a mais despretensiosa e encantadora obra jamais escrita sobre o aspecto natural da região tropical que estamos considerando.
Nos meses de abril e maio (outubro e novembro no Brasil), apenas as cores outonais de nossas magníficas matas norte-americanas, podem comparar-se ao
espetáculo das florestas da Serra dos Órgãos. Então, as várias espécies de Laurus estão florescentes, e a atmosfera está carregada do rico
perfume de suas delicadas e alvas flores.
As Cassiae então produzem seus milhões de flores douradas, e imensas árvores — cujos nomes
nativos seriam menos inteligíveis, embora menos pedantescos, do que seus nomes botânicos de Lasiandra, Fontanesia, e outras da família
Melastona — estão floridas e, combinando uma rica cor de púrpura ao mais brilhante amarelo, ostentam, juntamente com arbustos lindamente
floridos, "flores de mais variadas cores do que o manto de gris poderia conter".
De tempos em tempos uma bombax (a Chorisia speciosa) lança seu soberbo cimo
semiesférico, coberto de milhares de lindas e grandes flores cor-de-rosa, que contrastam deliciosamente com as massas de verde vivo, púrpura e
amarelo que ornam as árvores circundantes. Tesouros florais se amontoam de todos os lados.
Lianas silvestres, torcidas nas mais fantásticas formas ou pendentes em graciosos festões, — flores
da paixão, bignônias e fúcsias em sua magnificência nativa — fetos, cuja elegância de forma é apenas excedida pelo alto e graciosamente curvado
palmito, que é a própria encarnação da linha da beleza, orquídeas, cujas flores são de uma cor tão suave como a flor do pessegueiro, ou tão
brilhante como os cravos vermelhos de fogo — curiosas e excêntricas epífitas envolvendo rochedos nus ou os galhos caídos de antigos monarcas das
florestas — tudo forma uma cena que arrebata um naturalista, e confunde com as suas riquezas os não iniciados, que entretanto apreciam a beleza e o
esplendor que por toda parte espalha a mão divina.
A forte sensação que se experimenta ao penetrar numa vasta estufa cheia das mais estranhas plantas
exóticas de rara descrição e de flores ricas em perfume, é a que multiplicada por mil, dominou o meu espírito quando contemplei pela primeira vez
esse cenário de montanhas cobertas de matas semelhantes, mas havia ainda um sentimento tal de liberdade, incompatível com a sensação que se contém
na palavra "domínio" que não consigo defini-lo. Na província de Minas Gerais, de um ponto de vista culminante, contemplei uma vez uma majestosa mata
florida; e os morros e planícies onduladas que se estendem ao longe no horizonte, pareciam estar envolvidos num manto lendário de púrpuras e de
ouro.
Barreira.
A Barreira está situada no seio duma natureza fortemente agreste e sublime; pois os picos dos Órgãos, que se elevam a milhares de pés acima, lembram
as agulhas que se erguem fantasticamente das geleiras do Monte Branco; e as cascatas tumultuosas, que saltam estrepitantes são comparáveis às cinco
bravias torrentes montanhosas, "furiosamente alegres", que correm no Vale de Chamouny.
Estava certa vez na Barreira durante uma tempestade tropical, e os espumantes e grandes rios, que
se precipitam com tremendos saltos da própria região de terríveis relâmpagos e nuvens, loucamente arremessadas contra as imensas massas de granito,
como se as tivessem soltado de suas poderosas cadeias e aberto caminho pelo fundo vale abaixo, bramando sons que repercutiam em cima nos picos
gigantescos, dando-me um novo comentário à sublime descrição do Apocalipse: "E ouvi um som do
céu, como o som de muitas águas e como o som de um grande trovão".
Da Barreira subimos em zigue-zague até o alto da serra, onde está situada a antiga fazenda do sr. March. Sua
residência tantas vezes visitada por Langsdorf [T57],
o célebre navegante russo, Burchell [T58],
o viajante africano, e Gardner, o celebre botânico — pode ser agora colocada entre as coisas que se foram; pois o espírito de lucro criou nesse
elevado vale um novo ponto de reunião para os fluminenses, e a exploração de lotes de terreno nas Montanhas dos Órgãos estava prosperando quando
deixei as costas do Brasil. Espero que a tentativa prospere, pois nesse local as pessoas entediadas e fatigadas das cidades, encontrarão frescura,
salubridade e sossego no seio do mais grandioso dos cenários.
Antes de se alcançar a casa de campo do sr. March e a primitiva casa de montanha do sr. H-n, (cuja hospitalidade muitos visitantes do Brasil terão
ocasião de lembrar), subimos por uma das vertentes mais íngremes dos Órgãos. Dali descortina-se uma vista de enorme extensão — e montanhas,
planícies, baía e oceano — abrangendo, dizem, um panorama de mais de duzentas milhas de circunferência, no meio do qual, embora distante, a capital
do Império é vista resplandecendo entre seus soberbos e verdejantes arredores.
O ponto donde se observa esse panorama é apropriadamente denominado "Boa Vista"
[T59]. Tão
arrebatado ficou o rev. Charles N. Stewart com a grandeza do cenário, que pôs em dúvida que, na sua combinação de montanhas, vales e águas — pudesse
ter rival; acrescentando que, em sua longa experiência em vários continentes, apenas lembra-se de uma outra vista que se lhe aproxime: é a passagem
"através das montanhas de Granada, até se avistar o Vega, com a cidade, as muralhas e as
torres do Alhambra, e as alturas cobertas de neve do Nevada, dominando tudo, esplendidamente iluminadas pelas cores quentes do pôr do sol".
No alto da Boa Vista o clima é muito mais frio do que no Rio. No mês de junho o termômetro tem sido observado cair a 32° F. justamente antes do
raiar do dia; mas isto é raro: 40ºF pela manhã e 70° F na porção mais quente do dia é o regime de inverno: e no verão, 60º F e 80º F são os dois
extremos. Em janeiro e fevereiro (julho e agosto dos trópicos meridionais), violentas tempestades de trovões ocorrem muitas vezes — geralmente à
tarde — e passam, deixando a tarde deliciosamente fresca.
Aqui e em Constância [T60]
dão quase todas as frutas e vegetais europeus e, como em Madeira e Tenerife, a maçã e a laranja, a pera e a banana, a uva e o café, podem ser vistos
crescendo juntos. O sr. Heath retira uma boa renda da produção de suas hortas; e, no Rio, a linda couve-flor, (tão difícil de cultivar nos
trópicos), os melhores aspargos, e a maior parte das alcachofras, ervilhas, cenouras etc., vem de Constância, e são apreciadas como raridades nessa
região, como ananás na Inglaterra, cuidadosamente cultivado em estufas.
Dois shillings ingleses se pagam no Rio pelas maiores couves-flores de Constância. Essa
espécie de plantação, parece-me, podia ser aumentada em número na parte superior da Serra, onde são muito férteis os pequenos vales, tão bem
irrigados por pequenos cursos de água límpida e fria. Se pudessem ser tratados com o cuidado, esforço e perseverança com que o sr. Heath tem
realizado o seu cultivo, não podiam deixar de ser lucrativos para os seus proprietários, proporcionando um grande benefício à progressiva cidade do
Rio de Janeiro.
Como as montanhas de Tijuca e as curiosas montanhas ao redor do Rio, a Cordilheira dos Órgãos é toda composta de granito. O solo aluvial é muito
profundo e rico nos vales, e sob este existe a mesma argila avermelhada, xistosa, ferruginosa, que é tão comum em todo o Brasil.
O cenário torna-se menos selvagem depois de Boa Vista; parecíamos ter passado para o clima das planícies, enquanto ao nosso lado as palmeiras,
fetos, cactus, tilandsias etc., demonstrem que não estamos além dos limites do Capricórnio. Plantas rastejantes e pendentes, flores e
folhagens resplandecentes, ainda se mostram abundantes.
Acontece às vezes que horríveis macacos fazem um grande barulho sobre as nossas cabeças, ou um
bando de brilhantes papagaios passa velozmente sobre os altos bambus, graciosamente curvados, que são uma feição típica da paisagem. Esses gigantes
do grupo das ervas são frequentemente encontrados nestas montanhas, com oitenta a cem pés de altura e dezoito polegadas de diâmetro. Não crescem
verticalmente, nem muitas vezes só, mas em vastos grupos, crescem a cinquenta e sessenta pés, e curvam-se suavemente para baixo, formando abóbadas
muito sombrias e lindas.
Olhando para trás, temos uma vista dos Órgãos e o aspecto que apresentam é inteiramente diferente do abrupto e pontudo perfil que mostram quando
vistos da baía. Da nossa posição e altitude parecem montanhas agudas e lisas, elevando-se acima de um oceano de folhagem. A cadeia de que se
destacam é ainda mais alta, e mais maciça em seu caráter.
Poucas pessoas subiram essas montanhas, ou eram naturalistas ou destemidos caçadores. O dr. Gardner
fez provavelmente aqui a sua mais completa exploração científica, e acima destas alturas Heath perseguiu muitas vezes a desgraciosa anta e o
flexível jaguar. A preguiça, horríveis macacos, a lontra brasileira, um pequeno veado (Cervus nemorivagus), e duas espécies de javalis, podem
ainda um dia constituir atrações para o naturalista e o sportman; mas de ano em ano, se vão tornando mais raros. Entre as aves, há muitas
variedades, notáveis por sua brilhante plumagem, algumas muito procuradas por sua delicadeza, o jacu e a jacutinga sendo as mais estimadas.
Serra dos Órgãos
Imagem: reprodução da página 324 do 1º
volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional
Serra dos Órgãos
A dificuldade na ascensão dessas montanhas consiste no emaranhado do mato rasteiro, na apertura das filas de grandes fetos e bambus reptantes, afora
o declive íngreme da Serra. O caminho da anta, todavia, torna a empresa muito mais praticável do que por outro processo. O dr. Gardner, depois de
duas tentativas — a última feita vários anos depois da primeira — atingiu o ponto culminante da cadeia. Essas montanhas — conhecidas em geografia
como fazendo parte desses Andes Brasileiros, que são a Serra do Mar, e como Serra dos Órgãos — tem tido a altitude diversamente avaliada, variando
de cinco mil e setecentos pés a oito mil pés.
O naturalista acima mencionado fez o único cálculo de sua altitude de que tenho
notícia e, embora seja apenas aproximado, dou-o na nota embaixo da página tão interessante pela maneira pela qual chegou às suas conclusões. De
acordo com ele, a altura do pico mais alto é de sete mil e quinhentos pés acima do nível do mar
[A40].
Da casa do sr. March, um trote vivo de uma hora nos leva à vista de Constância. O sr. Heath, quando espera convidados, vai ao seu encontro numa
porteira dentro de sua fazenda, cerca de meia milha distante de sua residência, cuja principal construção levanta-se do meio de pequenas cabanas
como um grande chalet bernês.
As casas menores ficam cheias, no verão, de hóspedes que sobem para gozar o ar frio de Constância e
a ducha forte da cascata que se precipita do morro em frente. Nesse quieto vale sem saída, o homem do Norte revê, nas rosas aveludadas e nas
violetas a primavera de sua terra distante.
Não longe da porta da frente, quando nos aproximamos do edifício principal, há um grande tufo de
roseiras de uma espécie pequena, crescendo em profusão selvagem. A angélica, o jasmim do Cabo e o delicado heliotrópio enchem o ar de perfume; e
estas e os parreirais com suas madressilvas, atraem os pequenos beija-flores, que cintilam à luz do sol como pedras preciosas aladas das mais vivas
cores.
Quem é que, tendo estado em Constância, esquecerá os confortos materiais de que o cerca o sr. Heath?
É um dos poucos lugares de descanso para a saúde e recreio que tenho visitado, onde o proprietário parece mais um convidado entretendo seus amigos
do que um hospedeiro importunando seus hóspedes. Suas anedotas mantêm uma constante alegria, enquanto suas aventuras entre as florestas e as
montanhas do Brasil são cheias de ensinamentos. Acompanhou Gardner em muitas de suas excursões, e tem sido um perfeito Nemrod.
Quando abundavam as felis-onças, os vizinhos mandavam chamar na certa Heath para vingar as
depredações de seus rebanhos; e muitas vezes um bom tiro de seu rifle dava cabo de um lindo jaguar — o monarca dos felinos no Mundo Ocidental —
melhor do que matilhas de cães de caça ou espingardas brasileiras o poderiam fazer.
Informou-me que há muitos anos passados, sua primeira visita a Constância foi em busca duma anta
que tinha feito tal estrago nos campos de milho, pertencentes à fazenda de March, de que era então o feitor. O número destes imensos animais que ele
matou nos últimos anos, em Constância, foi de trinta e dois. Isto foi somente como dever de ofício; se o tivesse feito como negócio podia ter "posto
no saco" mais antas, jaguares, javalis etc., em um ano do que em qualquer tempo, Gordon Cumming ou Gerard em suas gigantescas caçadas nas selvas de
Cafraria ou da Algéria. (Heath faleceu em 1864).
Hotel Heath, Constância
Imagem: reprodução da página 326 do 1º
volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional
A anta ou tapir.
Foi muitas vezes um motivo de admiração para mim que a anta, o maior animal da América do Sul fosse tão pouco conhecida. O seu interesse ainda
aumenta pelo fato de que, embora uma de suas espécies exista no Velho Mundo, esta só foi descoberta muito depois do Tapir americanus, pois a
anta malaia, que difere muito pouco de seu congênere ocidental, só foi descrita depois do governo de sir Stamford Raffles em Java.
A anta forma um dos traços de união entre o elefante e o porco. Seu focinho se prolonga numa espécie de proboscídeo e, com exceção da tromba do
elefante, a que se assemelha é o mais longo apêndice nasal pertencente a qualquer quadrúpede. É, todavia, privado daquela espécie de pequeno dedo
com que a natureza enriqueceu a tromba do leviatã terrestre. Este curioso animal tem muitos parentes fósseis, mas apenas três espécies vivas (duas
delas pertencentes à América do Sul) foram até agora descobertas.
A anta é largamente distribuída na América do Sul, a Leste dos Andes e, especialmente abunda nas regiões tropicais. Parece ser um vegetariano
noturno, — dormindo durante o dia e, ainda à noite, nutre-se dos renovos das árvores, gomos, frutas silvestres, milho grosso etc., etc. É de cor
castanha profunda, próxima do preto, medindo três e quatro pés de altura, e de cinco a seis de comprimento. O pelo do corpo, com exceção da crina, é
curto, e tão preso à superfície que é raramente percebido a curta distância. Seu poder muscular é enorme; e isto, com o duro e espesso couro (quase
impenetrável à bala de mosquete) que defende seu corpo, habilita a anta a romper através a espessura da mata em qualquer direção que queira.
O jaguar frequentemente salta sobre ela, mas é muitas vezes desalojado pela atividade da anta que
se arroja entre os arbustos e árvores pequenas e esforça-se por esfregar o inimigo contra os ramos espessos. Sua marcha habitual é uma espécie de
trote; mas algumas vezes galopa, embora grosseiramente e com a cabeça baixa. Gosta muito d'água, e no alto da serra dos Órgãos há poços onde pode
livremente espojar-se. Sua atitude é pacífica e, se não é atacada, não molestará o animal; mas, quando excitada pelos cães do caçador, pode
infligir-lhes terríveis dentadas.
O sr. Heath informou-me que toda vez que ela apanha um cão com seus dentes, a carne é completamente
arrancada dos ossos do canino importuno. A carne da anta é seca, e é muitas vezes comida pelos índios do interior, por quem é caçada com lanças e
flechas envenenadas. Refugia-se n'água e não é apenas um bom nadador, mas parece quase anfíbio, estando habilitado a aguentar-se longo tempo embaixo
da superfície d'água; daí ser algumas vezes chamado Hippopotamus terrestris.
As maiores que o sr. Heath matou, pesavam quatorze arrobas portuguesas (cerca de quatrocentas e
cinquenta libras), embora existam, sem dúvida, muito maiores nas regiões amazônicas. Os naturalistas dividem a anta americana em duas espécies — a
das regiões baixas e a das montanhas — esta, encontrada nos declives orientais dos Andes, difere apenas um pouco da outra espécie já representada e
descrita.
O javali.
O javali é muitas vezes encontrado nas selvas do Brasil; e este pequeno sumo nativo é o maior brigão que se possa imaginar. Nem os homens nem os
cães inspiram-lhe respeito; pois atacará a ambos com impunidade. É gregário nos seus hábitos e, com seus companheiros, ataca mais violentamente, não
se importando com a superioridade do inimigo. É, acredito, um dos poucos animais que não têm medo da detonação de armas de fogo.
Há muito lindos e afastados passeios a pé e a cavalo nas vizinhanças de Constância, e frequentemente o sr. Heath acompanha seus convidados aos
lugares agrestes e românticos que aqui são abundantes. Subi uma vez com dois companheiros ao topo da montanha que se vê, à direita do esboço de
Constância (p. 326); e, embora tenha feito muitas ascensões entre os Alpes e Apeninos, nunca experimentei tanta fadiga e
dificuldade como nesta ocasião.
Éramos os primeiros, com uma exceção, a escalar essas alturas e a contemplar a admirável vista em
redor. Fiz depois um esboço da Serra dos Órgãos de um ponto de vista algumas milhas distante da residência do sr. Heath, e onde os picos apresentam
a aparência de irregulares dentes de serra; e pude então apreciar melhor do que antes os termos espanhóis e portugueses (Serra e Sierra) dado
às montanhas.
O aludido esboço (que, porém, não foi gravado) foi desenhado na primeira página de um livro que reli na Serra dos Órgãos, e que desde então me
acompanhou nas minhas viagens pelo continente sul-americano. Este livro era uma edição inglesa do Students's Manual de Todd — uma obra que
deleitou a minha infância, que me transmitiu sua força de decisão no colégio, e cujo agradável estilo, lindas ilustrações e saudável pensamento
fizeram dele o mais agradável companheiro quando eu já não dependia mais de tutores e governantes.
O sr. Heath certa vez nos acompanhou, através uma pequena faixa de floresta, a um vale distante de Constância, a não mais de duas milhas. Do lado
das matas olhamos abaixo para um vale, cuja estreita extremidade estava próxima a nós. Além, cada um lado dos espigões da montanha, que formavam o
vale, estavam os cafeeiros verde e os lindos arbustos de chá chinês.
Muito abaixo de nós, quase encobertos entre grandes bananeiras e laranjeiras, percebemos as telhas
vermelhas de uma vivenda. Descemos por um pequeno caminho a esta habitação meio escondida, e fomos apresentados ao proprietário, dois irmãos suíços
que, depois de terem servido no exército inglês, reformaram-se com uma boa pensão, e aqui, em sossego, estavam gozando a vida em um dos mais
saudáveis e mais agradáveis lugares do mundo. O irmão mais moço não ia à cidade há dezoito anos. Visitara os Estados Unidos quando jovem, mas apenas
a porção que constitui o limite Norte de New York.
Enquanto estávamos conversando com eles, um bando de papagaios selvagens lançara-se sobre as
janelas abertas, chilrando prazerosos e comendo as sementes de girassóis que esses bondosos solteirões tinham espalhado para eles. Dos lados do
terreno de café (onde os grãos são espalhados para secar) alinhavam-se grandes laranjeiras, cujos ramos curvavam-se para baixo com sua carga
dourada; várias roseiras projetavam-se em festões pelos arbustos, pelas árvores e casas, espalhando a agradável fragrância dos seus cachos
carregados de botões e flores; o murmúrio dos regatos misturava sua suave e alegre música ao ruído atenuado de uma queda d'água distante, e toda a
cena estava impregnada de tanta paz e felicidade, que o "Vale Feliz" da imaginação do dr. Johnson, parecia encontrar aqui a sua duplicata no mundo
da realidade.
O "Vale Feliz".
Fiz muitas agradáveis visitas a esse lindo lugar, e o amável vale cada vez mais me encantou. Na casa de campo dos dois suíços encontrei os melhores
periódicos em francês, alemão, inglês e português, cujas línguas eles falavam correntemente. O contraste foi, porém, mais marcante, quando
conversamos sobre Grindenwald, Martigny, o Riga, e as costas de Lago Leman, cujas fiéis pinturas estavam suspensas das paredes, e depois olhamos
pela janela sus-[trecho truncado] uma
paisagem de perene florescência e de inalterável verdura. Levaram-me para o seu jardim, onde estavam, por prazer, cultivando rosas (que crescem com
dificuldade no Brasil) e vinhas trazidas das partes mais quentes da sua Suíça.
Durante uma de minhas visitas, informaram-me que tinham comprado esta plantação de um senhor residindo agora no Estado de Indiana, e ficaram
surpresos quando lhes informei de que este Estado era a minha terra natal. Tinham mantido ativa correspondência com o antigo proprietário, que me
representavam como um amigo da música e de Goethe, mas de quem, desde 1849, não tinham recebido notícia e temiam que tivesse caído vítima do cólera,
que tinha passado através o Vale do Mississipi durante o mencionado ano.
Desejaram que eu escrevesse a um amigo para saber se o sr. R. já falecera ou estava vivo: por essa
razão, escrevi a um dos professores do South Hanover College, em Indiana; e meu correspondente assegurou que o sr. R. pertencia ainda ao mundo dos
vivos. O professor T. visitou-o, e encontrou o sr. R., um venerável alemão de mais de setenta anos; mas o seu gosto pela música não tinha diminuído,
e estava pronto a batalhar por Goethe em qualquer momento. Não se tinha esquecido de seus amigos no Brasil mas, por alguma causa desconhecida, não
tinha escrito para eles; e daí suas apreensões.
Quando, todavia, ouviu a descrição do "Vale Feliz" na resplandecente região do Cruzeiro do Sul, a
visão de suas rosas, frutos dourados, imarcescível verde e seus regatos murmurantes, surgiu tão nitidamente diante dele que, idoso como era, sua
juventude pareceu renovar-se, e resolveu voltar uma vez mais àquela que foi a sua primeira e linda casa no Novo Mundo. Não sei se realizou a sua
resolução, mas posso prontamente imaginar quão poderosamente pode-se ser excitado pela lembrança das belezas que são inseparáveis desse tranquilo
vale da Serra dos Órgãos.
Em julho de 1865, visitei outra vez o "Vale Feliz", à convite do irmão mais moço, a quem encontrei um alegre e vigoroso homem de
setenta e três anos. O irmão mais velho empregara o último ano (1857) de sua vida, em uma tentativa de fundar uma colônia perto de Teresópolis,
cidade construída depois de 1855 nas antigas plantações de March. O sr. Rinke nunca voltou ao Brasil: em 1860 visitou os retiros de Goethe e
Schiller, e morreu em Lucerna, Suíça, de um resfriado apanhado enquanto fazia uma peregrinação aos cenários de Wilhelm Tell de Schiller. O
"Vale Feliz" não perdeu nenhum de seus encantos. Muito possa ainda viver o sr. Fischer para gozá-lo!
[T61]
Em um dos meus passeios matinais na plantação de Heath, fiquei muito surpreendido com uma árvore alta que crescia perto do caminho. Seu tronco
estava um pouco inclinado, mas tinha uma parte perfeitamente em pé, porém sua principal atração era o longo e venerável musgo que pendia de seus
ramos espalhados e era suavemente balouçado pela brisa da manhã carregada de perfumes.
Sentei-me para esboçá-lo, e enquanto absorto nessa operação, fui despertado por um alto chilrear;
num instante um bando de pássaros brilhantemente coloridos, em curioso voo, veio da mata vizinha e baixou sobre a árvore solitária. Embora os
movimentos do seu voo fossem extremamente desgraciosos, eram mais vivos quando saltavam de galho em galho. Mantinham um constante chilrear, como se
se estivessem reunindo para combinar seus projetos para o dia.
Logo percebi que, não obstante sua brilhante plumagem, que fazia a soberba árvore parecer carregada
com grandes laranjas douradas, eram tão extraordinários em aparência como pesados no voo. Seus bicos podia-se ver, eram do mais desproporcionado
comprimento, o que, todavia, não impedia seus movimentos ativos entre os ramos nodosos e os musgos pendentes. Depois, tendo estabelecido os seus
arranjos para o dia, tomaram um voto unânime, que foi proferido em um tal grito a viva voce que as próprias montanhas ressoaram com suas
notas rudes e estranhas.
O tucano.
Este foi o meu primeiro conhecimento com o tucano, que em sua aparência é um dos mais excêntricos membros da tribo dos animais de pena. As penas do
peito do Ramphastos dicolorus são da mais brilhante cor de laranja, cromo, e rosa carregado e formam uma nota dominante nas vestimentas e
ornamentos de penas dos índios selvagens do interior.
No século dezesseis, as ilustres damas das cortes da Europa consideravam como seus mais esplêndidos
e pitorescos vestidos os enfeitados com as penas do peito do tucano. Sua língua é longa, sólida e é coberta e guarnecida com pequenas penas imitando
pelos. Tem uma singular maneira de tomar o alimento. Observei um em estado de domesticação comendo milho; ele tomava um grão com seu imenso bico,
sacudia a cabeça, suspendendo o seu longo apêndice e, por uma série de rápidas sacudidelas, o grão era lançado através da sólida língua até à
garganta.
O tucano pertence aos pássaros trepadores, e está classificado com os papagaios, picanços e cucos. Seus pés, providos de dois dedos na frente e dois
atrás, é admiravelmente adaptado à finalidade de trepar e apreender. Seu bico não é absolutamente macio e pode-se dizer que tem a estrutura de um
favo de abelha; por isso é que é leve. Este longo apêndice, aparentemente pesado, parece ser dotado de grande sensibilidade e bem suprido de nervos,
e o seu dono pode ser muitas vezes visto esgravatando o curioso órgão com os dedos.
Waterton [T62]
fala de uma espécie de tucano do Norte do Brasil (os tucanos são apenas encontrados na América Tropical) que parecia julgar que a sua beleza pudesse
ser aumentada franjando a sua cauda, à qual faz sofrer a mesma operação que o nosso cabelo sofre num barbeiro, apenas com essa diferença — que ele
usa seu próprio bico (que é serrilhado) em lugar de um par de tesouras.
Logo que sua cauda está crescida começa aproximadamente a uma polegada da ponte das duas plumas
maiores a cortar as penas de ambos os lados do eixo, fazendo uma fenda de cerca de uma polegada de comprimento; o macho e a fêmea adornam suas
caudas dessa maneira, o que lhes dá uma aparência distinta entre todas as outras aves.
O tucano é o mais grotesco espécime da ornitologia, e o Aracari (Pteroglossus), com seu imenso bico e olhos esbugalhados, parece um
melancólico Jaques, ou um filósofo alemão de óculos, que se desterrou para longe do convívio dos homens, para especular sobre as misérias da
natureza humana e proclamada excelência dos
"populous
solitude of bees and birds
And fairy-form'd and many-color'd things."
O estudante de História Natural pode encontrar muito com que se satisfaça na serra dos Órgãos. Há
muitas cobras lindamente coloridas (apenas algumas delas muito venenosas), grande variedade de lagartos, curiosos sapos e rãs, — que, como alguém já
disse — vão das pequenas espécies arborícolas, não tendo mais de uma polegada de comprido, às espécies maiores que dão quase para encher um chapéu.
Lindas borboletas rivalizando com as flores que de tempos em tempos visitam, ou com suas brilhantes
asas refletidas nas pequenas poças em cujos bordos descem em inumeráveis bandos. Grandes ninhos de vespas, bem como folhas tropicais, adornam os
ramos das árvores. Em alguns lugares, besouros como pedras preciosas prendem-se às folhagens e flores dos arbustos baixos, e à noite o ar é
iluminado com pirilampos que Gardner compara, em brilho, a "estrelas que caem do firmamento e
flutuam em redor sem um lugar de descanso".
Os vaga-lumes.
Uma tarde, passeava da casa de Heath em direção ao "Vale Feliz", quando, sem prolongar o meu passeio longe nessa direção, penetrei numa floresta e
continuei meu caminho para a borda de um precipício, ou antes uma espécie de cratera côncava, cujo centro estava a mil pés abaixo de mim e cujos
barrancos estavam cobertos de árvores. A noite estava escura, e tinha caído tão repentinamente depois de um breve crepúsculo, que eu não dera por
ela.
Antes de voltar, permaneci por alguns momentos olhando para baixo na escuridão cimeriana do abismo
em frente a mim; e, enquanto contemplava, uma massa luminosa pareceu partir justamente do seu centro. Observei-a quando flutuava, iluminando no seu
lento voo, as longas folhas da Euterpe edulis e a folhagem mais miúda de outras árvores. Veio diretamente para mim, alumiando a escuridão em
redor, com seus três focos de luz, que podia agora ver distintamente. Eram Pyrophorus noctilucus, tão bem conhecidos de todos os viajantes
das Antilhas e da América tropical.
É um inseto de cor castanho-escuro e o corpo é sempre coberto por uma curta pubescência
castanho-claro. Quando anda ou está em descanso, a principal luz que emite vem dos dois tubérculos amarelos; mas, quando as asas estão expandidas no
momento do voo, uma outra mancha luminosa aparece na extremidade posterior do abdome. Estas luminosidades — que se supõe serem fosfóricas em sua
composição — são tão consideráveis que o pirilampo é muitas vezes empregado nas regiões onde é abundante como um substituto da luz artificial.
Nas montanhas da Tijuca li as páginas bem impressas do Harper's Magazine com a luz de uma destas lâmpadas naturais colocadas por baixo de uma
taça de vidro comum, e com clareza pude dizer a hora da noite, e distinguir as figuras muito pequenas que marcavam os segundos de um pequeno relógio
suíço.
Os índios antigamente usavam-nos em vez de archotes nas suas expedições para caçar e pescar e
quando viajando durante a noite costumavam amarrá-los a suas mãos e a seus pés. Em alguns lugares dos trópicos são usados pelas senhoritas para
adornar suas madeixas, ou seus mantos, amarrados dentro de uma fina gaze; e devido a elas, as portadoras de vaga-lumes tornavam-se na verdade
"luminosas estrelas destacadas".
Era deste pirilampo (que se assemelha, em tudo, salvo a cor, ao snapping-bug do Vale do
Mississipi) que Prescott, em sua Conquista do México, narra o terror que inspirava aos espanhóis em 1520. "O
ar estava cheio de cocuyos (Pyrophorus noctilucus), uma espécie de escaravelho grande que emite uma intensa luz fosfórica de seu
corpo, bastante forte para permitir ler-se com auxílio dela. Essas luzes errantes, vistas na escuridão da noite, eram vistas pelos assediados como
um exército carregando archotes". Tal é a observação de uma testemunha de vista — o velho
Bernal Diaz.
O iguana.
Em um dos meus passeios a Cantagalo, vi em uma estrada o grande lagarto chamado iguana. Nada há nesse réptil de aspecto asseado que me possa causar
aversão; a sua pele, de pequena escamas brilhantes, assemelha-se ao mais belo trabalho de contas. Vi muitas vezes no Rio espetados e caçados perto
da cidade; pois a carne é estimada como de muito bom sabor — assemelhando-se em sua aparência e gosto a esse bom bocado para os epicuristas, que é
uma perna traseira da rã.
As representações usuais do iguana não são fiéis; representam-no tão horrendo em aparência como o
imaginário dragão de peito enfunado e língua dardejante do qual o bom São Jorge libertou tantas devotadas virgens. O iguana tem de três a cinco pés
de comprimento, e é ovíparo. Uma senhora, membro de minha família, possuía um que era seu animal de estimação e favoreceu-me bondosamente com
algumas notas a seu respeito. Insiro-as aqui integralmente:
"Pedro (o iguana) proporcionou-me muitos divertimentos. De sua estreita semelhança com a
família das cobras, foi difícil tirar aos estranhos a impressão de que era venenoso. Tal não se dá com os iguanas. Seu único meio de defesa é a
poderosa cauda; e um caçador disse-me que teve uma costela de cão posta a descoberto por um golpe de cauda que um iguana lhe deu.
O meu pobre animalzinho, todavia, não era belicoso, estando há muito no cativeiro. Ele me foi doado
como um presente de Natal por um amigo, e logo tornou-se manso para poder andar em liberdade. Tinha cerca de três pés de comprimento, e
alimentava-se de carne crua, leite e bananas. Tinha uma cesta em meu quarto, e quando ele sentia o tempo frio refugiava-se no colchão de minha cama,
onde, pela manhã, seria encontrado no maior conforto.
Uma tarde nós o procuramos em todos os seus usuais esconderijos, e com tristeza convencemo-nos de
que ele estava perdido; mas, ao amanhecer, duas polegadas da sua cauda pendurada para fora da fronha do travesseiro, indicou-nos onde tinha passado
comodamente a noite! Meu cachorrinho espanhol e ele estavam brigados. No momento que Chico apareceu, quis lançar-se para morder Pedro; mas Chico
pensou, como muitos outros, que a melhor parte do mérito é a discrição. Assim ele fugiu do iguana tão depressa quanto possível.
Então Pedro foi lentamente para o agradável lugar do chão e fechou seus olhos para um sono. Quando
o inverno (um inverno como a última parte de um maio do Norte) chegou, ele tornou-se quase entorpecido, e permaneceu sem comer por quatro meses. Ele
de quando em vez quer se expor ao sol, mas volta logo para o seu cobertor de lã.
Frequentemente tomava-o em meus braços, sendo muitas vezes um meu convidado especial; mas não posso dizer que fosse muito apreciado pelos outros.
Era em vão que eu elogiava as suas lindas manchas pretas e brancas, parecendo contas, os seus brilhantes olhos parecendo joias e suas elegantes
unhas. Meus amigos o admiravam, mas conservavam-no à distância.
Eu tinha uma espécie de malicioso prazer em colocá-lo de repente em baixo dos pés do sexo forte, e
o tenho visto provocar em oficiais de marinha maiores sintomas de terror do que lhe teria produzido o troar de uma artilharia de um navio inimigo ou
um recife a sotavento. Mas, ai de mim, pouco duram as coisas agradáveis. Durante os meses de verão Pedro sentia dentro de si reviver seu antigo amor
pelas florestas, e muitas vezes fazia uma sortida até os lindos caminhos do morro da Glória.
Em uma destas ocasiões ele encontrou um malvado francês. Pedro, o acariciado por mim e o temido dos
outros, não conhecia o terror. O malvado deitou-o por terra. Foi em vão que uma filhinha do cônsul B. tentou salvá-lo, gritando "Il est à Madame":
um outro golpe fraturou seu crânio! Meu empregado correu apenas em tempo de salvar seu corpo de uma ignominiosa frigideira — mas sua vida estava
extinta.
O assassino fugiu, e Rosa voltou com o cadáver do meu pobre favorito. Quando cheguei em casa ele me
foi apresentado com a sua comprida língua em forma de forquilha, pendendo de sua boca. Foi mandado, enrolado em crepe preto, para um vizinho que
muito apreciava fricassés de lagarto, pois quem o viu mimado e acariciado, não teria apetite para comê-lo!
"Assim findou-se a história do pobre Pedro, depois de uma vida de agradável cativeiro; e talvez, pudesse ser dito dele, como de muitos outros. "Ele
foi mais temido do que amado!"
Proximidades da Vila de Nova Friburgo
Imagem: reprodução da página 339 do 1º
volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional
Nova Friburgo.
De Constância até Nova Friburgo, ou Morro Queimado, há um caminho, entre montanhas e florestas, que é algumas vezes seguido por viajantes que
desejam visitar a vila acima citada. A rota mais frequentemente atravessada é por vapor do Rio de Janeiro, da baía até o Rio Macacú, e acima deste
curso até o Engenho do Sampaio. Daí podemos ir por carro ou em mula para a florescente cidade de Porto das Caixas, que é lugar de reunião geral das
tropas de mulas que trazem café e açúcar para as colônias suíças de Nova Friburgo e Cantagalo e grande parte da região circunvizinha. Aqui são
também desembarcadas as mercadorias que voltam da capital para a troca de produtos:
Além de sua importância comercial, Porto das Caixas é notável por ser a residência da família do visconde de Itaboraí (senhor Joaquim José Rodrigues
Torres). O viajante encontra aqui uma boa hospedaria, mantida por um francês, cujos preços, embora não tão moderados como no interior do país,
podem, com outras despesas, interessar aos viajantes que possam vir depois de mim. Encontrei em meu livro de notas a seguinte nota para mim e
companheiro:
"Hospedaria de M. Boulanger. — Dois jantares, duas velas, duas camas, café para dois, dois
almoços, e o estábulo para duas mulas, 7$200" (cerca de dezesseis shillings ingleses).
Na excelente hospedaria do sr. Lowenroth, em Nova Friburgo, paga-se 2$000 (um dólar) diários por tudo. Em Cantagalo, trinta milhas mais para o
interior, paguei 6$000 diários, para mim, o guia e três mulas. Na de Pedro Schott (um regular chalet Tête noire, de construção tosca),
situado em um lugar agreste e retirado a meio caminho entre a baía e Nova Friburgo, para dois jantares, duas camas, duas lâmpadas, e o estábulo para
duas mulas, — 4$500 (dez shillings e dois pence). Em Constância e em Petrópolis paga-se 4$000 (nove shillings) diários, o preço
de um hotel de primeira classe nos Estados Unidos.
Deve ser observado, todavia, que o vinho nunca é extraordinário e, como isto é obtido a um preço
barato direto de Lisboa e Porto, figura em todas as mesas. Indo-se para a fértil província de Minas Gerais, anotei que para mim e o companheiro
gastamos em Petrópolis 16$000, (quase nove dólares), e na próxima noite em uma pequena estalagem chamada Ribeirão pagamos pelas mesmas acomodações
4$000 (dois dólares e vinte cents). No litoral, sempre achei a vida muito cara para os estrangeiros. Mais para o interior, os preços
diminuem.
Em Ponta do Jundiaí, na província de São Paulo, jantar para dois e guia, e pasto para três animais,
o preço era apenas de 1$500 (três shillings e cinco pence ingleses). Os brasileiros viajam a um preço um quarto mais baixo do que o
norte-americano ou o europeu. Raramente pousa numa hospedaria, mas quando considera a viagem do dia terminada, se são duas ou seis horas da tarde,
vai a um rancho, dá algumas mãos-cheias de milho à sua mula, e depois solta-a para pastar.
Então, se não tem nenhum empregado com ele — junta-se com os outros ocupando o mesmo rancho, e
feijões, carne-seca, misturada com um pouco de toucinho, e bem endurecido com farinha de mandioca, forma uma substancial sopa, que tem café por
complemento, vinho tinto de Lisboa, ou água de um regato próximo. Tenho dormido em um couro cru estendido na poeira de um rancho, tão bem como na
macia cama do melhor hotel de Nova York.
Os ranchos (meros telheiros cobertos de telha) são encontrados em todo o país e, como os
caravanserails do Oriente, são muitas vezes construídos pelas autoridades; mas em muitas ocasiões foram construídos por algum vendeiro, que nada
cobra para o abrigo assim concedido aos tropeiros e a milhares de sacas de café e açúcar na sua viagem para os mercados do litoral.
O vendeiro, todavia, não deixa de contar com os seus hóspedes, pois os tropeiros necessitam
feijões, carne, farinha, cachaça, café para si próprios, e milho para suas mulas. Assim, uma cilha de besta extraordinária, um manto de sela, uma
faca de ponta, e uma espora de ferro, são muitas vezes procurados; e o vendeiro português acumula assim propriedades, e em tempo torna-se um
fazendeiro, mas não abandona a loja, que sempre lhe traz boa recompensa.
Quem desejar fazer longas viagens no Brasil faria bem em comprar suas próprias mulas. Cavalos e mulas (estas são muito mais prestativas) podem ser
alugados ao preço de 5$000 a 10$000 (onze a vinte e dois shillings ingleses) por cada cinquenta milhas, ou por um combinado trajeto.
Café.
As plantações de café dos terrenos elevados de Nova Friburgo e Cantagalo figuram entre as melhores na província do Rio de Janeiro: muitas delas
pertencem a suíços e franceses que vieram para o Brasil a convite de dom João VI, em 1820; mas a colônia da qual formavam parte acabou-se, e os mais
enérgicos dentre eles tornaram-se proprietários.
O barão de Nova Friburgo tem imensas plantações na vizinhança de Nova Friburgo, onde não emprega
apenas escravos, mas muitos imigrantes de Portugal, Açores e Madeira. Sua residência na vila de onde deriva seu título é um grande solar construído
com gosto. Uma capela protestante de pequenas dimensões é presidida por um velho sacerdote luterano que veio para o Brasil com os primitivos colonos
alemães. Pôde, contudo, perceber que havia apenas pouca vitalidade cristã entre este povo. Luteranos da antiga Church-and-State School são os
últimos a propagar o evangelho. Há mais esperança de alguns dos novos pastores das colônias alemãs mais recentemente estabelecidas.
Em Nova Friburgo há um bom número de excelentes escolas, sendo a principal o Instituto Colegial do sr. John H. Freese. Este senhor dedicou muitos
anos à instrução nesse frio e saudável lugar, e muitas centenas de jovens fluminenses receberam aqui a educação em inglês e francês, assim como em
língua portuguesa. Encontrei com os alunos do sr. Freese em diferentes partes do Império, e sempre manifestaram uma inteligência geral superior à
dos alunos de outros estabelecimentos congêneres. Suas Noções Gerais acerca da Educação da Mocidade Brasileira mostram que ele dava muita atenção ao
assunto de educação.
Vale Suíço, próximo de Petrópolis
Imagem: reprodução da página 344 do 1º
volume da edição de 1941, da Cia. Editora Nacional
Cantagalo.
Entre Nova Friburgo e Cantagalo o cenário é notavelmente alpino, e tantas são as suas plantações que lembram prontamente os doces vales da Suíça. Na
vizinhança de Cantagalo encontrei um número de inteligentes alemães, suíços e franceses, cujas plantações de café proporcionavam-lhes os mais
lucrativos rendimentos. Não fiquei nada surpreendido com uma bondosa oferta de um alemão, que manifestou o princípio de sua hospitalidade por
perguntar-me se eu não tomaria ein grog, e ficou tão espantado com a minha recusa, como eu com o seu oferecimento.
Na casa das plantações do sr. D., um suíço de Zurich, fui cercado por muitas reminiscências de sua pátria; e enquanto contemplava seus bem
cultivados campos, que se estendiam diante de sua casa, podia quase supor-me em alguns dos verdes vales do Oberland, que em grandes pinturas,
enfeitavam as paredes do salão. A ilusão tornou-se mais completa quando a noite escondeu todas as palmeiras e cactus florescentes, e eu ouvia
apenas os sons das línguas francesa e alemã ou, ao piano, as notas singelas do Ranz des Vaches, agradáveis noturnos, e as majestosas melodias
de Mendelssohn e Beethoven.
Eu podia com dificuldade acreditar-me a centenas de milhas no interior do Brasil. Contudo, imaginei
que não estava na terra de Tell quando voltei para Cantagalo precedido por um negro de libré, que levava (nas costas de um cavalo) uma tocha
chamejante, cujos fachos de luz iluminavam, pendentes, mimosas, bignonias e compridos e curvados bambus.
O antigo proprietário do hotel em Cantagalo é um alto francês que foi do corpo da guarda de Napoleão I, fato esse que, em seu melífluo francês,
juntamente como as rudes e frescas pinturas, logo nos informa.
Voltando dessa excursão, há uma magnífica vista de toda a baía, que se estende desde essas montanhas até uma centena de milhas em redor. Os mais
importantes portos nas bordas desta baía são Magé, Piedade, Porto da Estrela e Iguaçu. Nestes vários lugares grandes quantidades de produtos são
remetidos por tropas do interior e embarcadas em vapores e faluas para a capital.
Uma vista de olhos no mapa mostra a Baía do Rio de Janeiro com suas numerosas ilhas, de várias formas e tamanhos. A Ilha do Governador é a maior,
medindo vinte milhas de leste a oeste. Essas ilhas são na maioria habitadas, e bastante cultivadas. Se ainda alguma coisa pode ser acrescentado ao
grandioso cenário desta magnífica baía, referimos o grande número de pequenas embarcações que são vistas constantemente atravessando-a, ponteando a
verde superfície da água com suas velas esbranquiçadas. De manhã à tarde podem ser vistas, navegando em todas as direções, barcos abertos ou
cobertos, canoas, lanchas, faluas e sumacas.
Petrópolis.
Uma das mais atrativas residências para os habitantes do Rio, durante a estação quente, é a colônia de Petrópolis ultimamente fundada, situada a
cerca de três mil pés acima do nível do mar. Uma agradável travessia a vapor entre pitorescas ilhas leva-nos a Mauá, ponto extremo da primeira
estrada de ferro construída no Brasil, que o Império deve à iniciativa desse ilustrado e patriótico brasileiro, Irineu Evangelista de Souza que, na
inauguração dessa estrada de ferro, foi feito barão de Mauá pelo imperador.
A estrada tem cerca de dez milhas de extensão, e vai até à raiz da Serra, onde as carruagens, cada
uma puxada por quatro mulas, recebem os viajantes. A subida se faz por uma excelente estrada, que foi construída pelo Governo com enorme dispêndio,
e lembra um dos caminhos do Simplon.
Em alguns trechos, a encosta das montanhas é tão escarpada, que três voltas se comprimem num espaço
pequeno bastante para permitir que se seja ouvido quando se fala para as pessoas que estão nas carruagens que vão em direção oposta. Quando se
alcança o alto, antes de descer para o vale em que está a cidade, descortina-se uma magnífica vista diante de nossos olhos. Toda a baía e a cidade
do Rio, com as planícies de Mauá, através das quais se lança a diminuta estrada de ferro, estão delineadas em baixo.
No ano de 1837, o dr. Gardner escreveu. "Passamos pela pequena e miserável
vila do Carrego Seco" [T63].
Atualmente é Petrópolis. Toda a região vizinha foi há tempos adquirida pelo imperador D. Pedro I, com a intenção de formar uma colônia alemã. Esse
projeto foi interrompido pela sua abdicação, mas foi executado por seu filho, o atual imperador. Contém atualmente dez mil habitantes, e por toda
parte se veem lindas residências de opulentas famílias do Rio que vão para lá durante o verão.
Nada pode exceder a beleza de seus arredores. Estradas, ladeadas por vilas, partem do centro
da cidade, entre morros ainda cobertos de florestas virgens. Muitos destes, habitados por colonos alemães, têm o nome de lugares da sua terra natal,
e o coração é agradavelmente transportado para cenas do Velho Mundo. A estrada para os distritos mineiros atravessa Petrópolis, e as tropas e mulas,
carregadas de café, açúcar, e algumas vezes ouro, estão continuamente passando para as margens da baía, onde as suas cargas são transferidas para
faluas e vapores para serem transportadas até à cidade.
O palácio do imperador fica no centro da cidade, e quando terminado e circundado por terrenos cultivados, apresentará um belo aspecto. Pequenos rios
cortam as ruas e são atravessados por pontes, aumentando ainda mais o aspecto típico do lugar. Há igrejas Católicas Romanas e Luteranas, grandes
hotéis, e muitas lojas.
O barão de Mauá tem aqui uma vivenda agradavelmente situada no encontro de dois
regatos da montanha [T64].
Vários estrangeiros do corpo diplomático e outros têm vilas em diferentes pontos — procurando o inglês geralmente as alturas.
Os colonos pertencem à classes inferiores alemãs, e trazem consigo alguma arte porém pouca educação. Parece difícil em qualquer clima tropical
evitar a diminuição da moral e da energia dos emigrantes, e isto se pode particularmente observar em países de escravos. O colono deprimido,
considerando-se superior ao africano, enxerta os vícios do último na raça europeia, e assim decai até um grau inferior ao negro.
O alemão no Brasil tem a necessidade de um povo profundamente moral que o cerque para ajudá-lo a
elevar-se; por conseguinte não é de admirar se ele vai decaindo cada vez mais na escala da civilização. Muito, todavia, está sendo feito pelos
alemães de Petrópolis. O sacerdote, como o pastor da igreja e o superintendente das escolas, toma um profundo interesse na prosperidade espiritual e
intelectual de seus compatriotas.
Não é possível obter-se uma vista inteira da cidade de Petrópolis de uma só vez, porque está espalhada em vários vales entre os morros. Caem mais
chuvas aqui do que no Rio, e os tênues regatos tornam-se torrentes tumultuosas, e tropas de mula têm que caminhar milhas de lama. Esta umidade
conserva o ar frio e refresca as flores que se juntam em redor das vivendas caiadas de branco que resplandecem em seu fundo verde escuro. A vista
que aqui publicamos foi tomada no vale Suíço, onde, ouvindo-se os acentos alemães dos aldeões, a imaginação podia levar-nos a acreditar que
estávamos na Europa, não fosse a agitação das palmeiras e o sussurro das bananeiras a lembrar que nos achamos sob um sol tropical.
Petrópolis vai anualmente crescendo de importância. Seu clima saudável e aprazível torná-la-á um grande e elegante ponto de reunião para os
habitantes da capital do Império, e talvez não estará longe o dia em que se torne a segunda cidade da província. Fica na entrada da fértil província
de Minas Gerais e, se pensasse num projeto de construir uma via férrea para galgar a montanha, seu crescimento seria ainda mais rápido.
Se o barão de Mauá visitasse os Estados Unidos e examinasse as estradas de ferro da Pensilvânia, ou
a Estrada de Ferro de Baltimore e Ohio, ele se animaria em prosseguir nos seus projetos. O professor Agassiz considera os triunfos da engenharia
dessa estrada de ferro como de primeira ordem no mundo. A estrada abaixo de Presidente Ottoni ainda está sendo prolongada para o interior.
A estrada particular União e
Indústria é única na América do Sul. Começa em Petrópolis, e estende-se até Juiz de Fora em Minas Gerais, e é atravessada por diligências e caminhos
de frete. Os srs. Lage [T65]
e João Baptista Fonseca são os diretores chefes da estrada União e Indústria [A41].
Notas do Autor
[A40]
Na primeira subida o dr. Gardner acidentalmente quebrou seu barômetro antes de ter feito uma simples observação; mas, quando da sua última excursão,
atingiu a altura do cume, com a ajuda do termômetro fez o cálculo da maneira assim lembrada:
"Ao meio-dia o
termômetro indicou 64° F na sombra, e achei que a água fervia a uma temperatura de 198° F; pelo que estimei a altura da montanha acima do nível do
mar como sendo de 7800 pés. Um registro do termômetro — observado durante a nossa estada nas regiões superiores da Serra e no nível da fazenda do
sr. March — deu uma diferença média de temperatura entre os dois lugares de 12° 5'. O barão Humboldt avaliou o decréscimo médio de calor dentro dos
trópicos em 1° para cada 344 pés de altura, e considera esta proporção como uniforme acima de uma altura de oito mil pés, além do que é reduzida a
três quintos desta quantidade, até a altura de 20 mil pés.
Todavia, desde que foi encontrado que, em geral, o efeito da altura acima do
nível do mar, em diminuição de temperatura está, em todas as latitudes, quase na proporção com a altura, o decréscimo sendo de 1° de calor para cada
352 pés de altitude: isto daria quatro mil pés para a altura do pico mais alto das Montanhas dos Órgãos acima da fazenda do ar. March; e, como esta
tem 3.100 pés acima do nível do mar, temos para a maior elevação total 7.500 pés."
[Nota do tradutor: (Travels in Brasil,
de Gardner, segunda edição, p. 405. Tradução brasileira nesta coleção)].
[A41]
Nota de 1866 — Depois que este capítulo foi escrito, algumas das mais importantes medidas para o desenvolvimento dos recursos do Brasil foram
realizados, com enorme gasto, mas que dia por dia estão mostrando seus resultados.
Durante o gabinete do falecido marquês do Paraná, o sr. Pedreira do Couto
Ferraz, ministro do Império, contratou a construção da Estrada de Ferro Pedro II; a grande estrada macadamizada chamada União e Indústria; e a
Estrada de Ferro Cantagalo, presentemente com vinte e cinco milhas de extensão.
O primeiro trecho da Estrada de Ferro Pedro II foi aberto em 1857. O contrato
passou então de mãos inglesas para americanas, os srs. Roberts, Harvey e Harrah. O major Ellison, de Massachusetts, foi o engenheiro chefe da
estrada. Os trens correm presentemente até Ponto Desengano, no Rio Paraíba. O grande túnel que termina perto de Mendes foi aberto em dezembro de
1865. A Estrada de Ferro Pedro II passou agora para as mãos do governo brasileiro, e o sr. William Ellison é seu engenheiro chefe. O Sr. Jacob
Humbird e o sr. Carneiro Leão são os principais contratantes.
Notas do tradutor:
[T35]
[vide nota T35]:
Constância, na Serra dos Órgãos, situada provavelmente próximo do atual "Quebra-Frascos" em Teresópolis, Estado do Rio. A fazenda do sr.
Marsh, depois ocupada pelo Hotel Bessa, fica no atual Alto de Teresópolis e é referida por todos os historiadores da cidade fluminense; mas, nem
mesmo no seu maior historiador, Armando Vieira, há referências ao hotel do sr. Heath, na então localidade de Constância.
[T56]
Gardner, ver nota ao Capítulo I.
[T57]
George Heinrich von Langsdorff, alemão de nascimento, esteve pela primeira vez no Brasil em 1803-4, e
depois em 1813; organizou em 1825, com Riedel, Hasse, Florence, Adriano Taunay, Rugendas (desenhista), uma expedição científica ao nosso país.
Escreveu Bemerkungen auf einer Reise un die Welt in den Jahren 1803 bis 1807, Frankfurt S/M, 1822.
[T58]
William John Burchell, 1782-1863, botânico inglês; esteve no Brasil de 1825 a 1830.
[T59]
"Alto da Boa Vista", garganta entre os vales do Paquequer Pequeno (vertente do Paraíba) e do Soberbo
(vertente da Guanabara), a poucos quilômetros de distância do Alto de Teresópolis; conservou essa denominação até 1920, mais ou menos, sendo depois
substituída pela atual designação de "Alto do Soberbo".
[T60]
Sobre Constância, ver nota ao Capítulo X. Quanto à excelência, desde então proclamada, dos produtos da região, já no
Jornal do Comércio de diferentes datas do ano de 1855, leem-se repetidos anúncios da "Feira de Teresópolis", a "nova povoação" fluminense,
oferecendo variadas frutas europeias.
[T61]
O nome dos dois irmãos suíços, encontrados por Fletcher no "Vale Feliz", conserva-se ainda hoje, em Teresópolis, na "Cascata Fischer".
[T62]
Charles Waterton, Wanderings on South América.
[T63]
O Córrego Seco chama-se hoje Rio Palatinato; é afluente do Rio Quitandinha, o qual, por sua vez, se lança no Rio Piabanha, junto ao Palácio de
Cristal, em Petrópolis.
[T64]
A casa de Irineu Evangelista de Souza, visconde de Mauá, está localizada próximo à junção das atuais avenidas Piabanha e Barão do Rio Branco (mais
conhecida por Westphalia) em Petrópolis, na confluência dos rios Piabanha e Quitandinha.
[T65]
Mariano Procópio Ferreira Lage, a quem se deve, entre outros benefícios, a construção da Estrada União e Indústria, ligando Petrópolis a Juiz de
Fora. |