Imagem: reprodução parcial da matéria original
A metamorfose de Santos
Panorama santista do último quartel do século passado
(N.E.: século XIX) - O flagelo das epidemias que dizimavam a população adventícia - Obras de
melhoramento urbano - Vultos notáveis que muito contribuíram para o saneamento e aformoseamento da atual "Cidade-Ninféia"
Guedes Coelho
(Especial para a edição do Cinqüentenário da A Tribuna)
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Os médicos vítimas de fatal predestinação
Arrastada na geral derrocada econômica do Encilhamento a Viação Paulista, seu acervo foi
adquirido com capitais emprestados de Júlio Conceição, João Antunes e outros, pelo dr. João Eboli, que constituiu a Companhia Ferro-Carril Santista,
criando as linhas urbanas de São Francisco e Paquetá, de ponto inicial e terminal nos Largos do Carmo e do Rosário.
Seu desastre financeiro encaminhou-a novamente à City Improvements,
superintendida por Hugh Stenhouse, em fevereiro de 1904; e esta adjudicou à suas linhas, eletrificadas há mais de 30 anos, a Companhia Ferro-Carril
Vicentina, de recente criação, com capitais particulares, possuidora de uma única linha extensa entre o Porto das Naus
e o José Menino, através da inculta, intransitável avenida Misericórdia, de pouco aberta, a atual
Presidente Wilson, e cujos bondes eram tirados por um único animal.
Bem interessante personalidade era esse dr. João Eboli, multiplamente útil - médico
operador oculista, o único de então -, pois só em 1903 viriam os drs. Moura Ribeiro e Guilherme Álvaro, oftalmólogos também, há 40 anos, portanto.
Dono de casa bancária, gestor de vários negócios, é bem justa
a homenagem prestada a seu nome titulante de uma rua da cidade. Qual fantástica "feèrie", numa radiosa homenagem ao Natal de 1902, resultante
de recente contrato celebrado com a Municipalidade, e concretizando velha aspiração de Santos, naquela mística noite, ele deslumbrou os moradores do
José Menino e Boqueirão, envolvendo-os em fúlgidas ondas de "clara, boa, brilhante" luz elétrica, nos dizeres dos
jornais. Obediente a fatal predestinação pertinente aos médicos, que raramente lhe escapam, Eboli, italiano, fracassou em todas as iniciativas até a
última, no Rio, como industrial de vidros.
A voragem do famoso Encilhamento
Em referência ao conselheiro Francisco de Paula Mayrink, convém aludir-se ao grande
papel que desempenhou no chamado tempo do Encilhamento, magistralmente descrito pelo visconde de Taunay, no livro de igual nome, quando, em pleno
regime inflacionista, Rui Barbosa, a dirigir a pasta da Fazenda, numa alucinante vertigem, multiplicavam-se os grandes negócios.
Grandes companhias, de capitais logo subscritos, criavam-se para morrer uma semana
depois, e, na Bolsa do Rio, muitos que lá entravam pobres, horas depois saíam ricos, ao lado de milionários miserabilizados na súbita desvalorização
de suas ações.
Não se subtraindo à fatal voragem, a Mayrink, o grande empreendedor, diretor de
inúmeras empresas, o homem mais rico do Brasil, arrastou-o também a grande derrocada ao lado de Henry Lowndes, conde de Leopoldina, e de tantos
outros.
Santos em comunicação com centros distantes
Em 1884, Santos, em meio à geral alegria de seus habitantes, assistiu ao advento da
telefonia, cujo desenvolvimento deveu-se à intervenção do sr. d. Pedro II, quando, na Exposição de Filadélfia, patenteou o
alto valor da recente invenção de Alexandre Graham Bell.
Naquele ano, fundiu-se com a Cia. Nacional de Eletricidade, formando a Cia. União
Telefônica do Brasil, que estendeu seu campo de ação a Pernambuco, Bahia, Santos e outros Estados, figurando a nossa Pátria entre as nações
pioneiras da expansão de tão grande melhoramento.
Dotada de linhas urbanas desde 1885, Santos, em 1890, ligava sua rede à de São Paulo,
em conseqüência de recente autorização concedida pelo governo do Estado à Cia. Telefônica do Estado de São Paulo.
Bem remota, assim, é a venturosa facilidade com que, a muitas
léguas de distância, conversamos de viva voz com a "capital artística".
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