O clichê que aqui estampamos apresenta os três fundadores do Instituto: dr. Edmundo
Amaral, o saudoso Júlio Conceição e Francisco Martins dos Santos
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Instituto Histórico e Geográfico de Santos
As realizações levadas a efeito pelo silogeu santista - uma instituição que
honra a cidade - durante o seu primeiro ano de atividades
Faz agora um ano que surgiu na arena das atividades
locais o Instituto Histórico e Geográfico. Fazia-se mister a sua existência. Santos, cidade de profundas raízes históricas, iniciadora gloriosa de
uma pátria, pedia uma instituição especializada, que fosse a sentinela das suas tradições e dos seus monumentos.
Havia tanto que fazer, e era preciso começar! Foi quando dois santistas, Francisco
Martins dos Santos e Edmundo Amaral, dando corpo à idéia de outro santista - Durwal Ferreira - que pouco depois abandonava o antigo propósito,
resolveram fundar a instituição que faltava. Eram dois especializados: um, autor da História de Santos, o outro, autor de Rótulas e
Mantilhas: redigiram uma ata de fundação, dando-lhe a data de 19 de janeiro de 1938, e convidaram um grande santista de adoção, vulto histórico
de Santos, para assiná-la, sendo fundador, com ambos, do Instituto projetado - era Júlio Conceição - autor de vários
opúsculos, membro do Instituto de São Paulo, e animador de todas as iniciativas científicas e de benemerência.
Dois dias depois, a 21 de janeiro, realizava-se no próprio local escolhido para sede,
o edifício da Avenida Conselheiro Nébias n. 689, a Reunião de Constituição, comparecendo 21 cidadãos, dos 30 inicialmente convidados. Constituiu-se
uma primeira diretoria provisória, sendo aclamados primeiros diretores os três fundadores da instituição.
Precisava-se de um Estatuto: elaborou-o Martins dos Santos, calcando-o sobre os
estatutos de outras entidades congêneres e incluindo-lhe alguma inovação e melhoramento (tal Estatuto é o que ainda hoje rege o Instituto de
Santos). Tudo feito rapidamente. Precisava-se de uma sede, de uma instalação imediata, que demonstrasse a vontade em que se achavam os organizadores
de dotar Santos, real e rapidamente, de uma instituição "visível" e com sintomas evidentes de vida.
Montou-a ainda Martins dos Santos, à sua custa e à custa de seu crédito, para que a
iniciativa não pesasse a ninguém, e um primeiro fantasma econômico não espantasse os prováveis membros, uma vez que já os aguardava uma pesada jóia.
Assim foi feito, e, propostos por esse mesmo diretor, poucos dias depois, tornavam-se
efetivos, no novel instituto, cerca de trinta novos sócios, que, com a antecipação de suas jóias e mesmo de anuidades, permitiram-lhe retirar o
dinheiro adiantado para as primeiras despesas de instalação e, ao instituto, trilhar imediatamente uma senda de realizações.
A 5 de fevereiro seguinte, realizava-se a festa da instalação oficial do instituto.
Baptista Pereira honrava-a com a sua presença, e a sua palavra, como conferencista da noite, e honravam-na com seu apoio e presença o prefeito
municipal, o bispo diocesano, o capitão do Porto, diversos representantes de autoridades e um elevado número de associados e famílias cultas,
abrilhantando a festa a Banda Municipal de Bombeiros.
Inaugurou-se a sede, sob elogios dos presentes, e Baptista Pereira produziu sua
formosa conferência: "Braz Cubas e o Caminho do Mar", no auditorium do Ginásio do Estado, cedido para tal fim. Estava dado o primeiro passo e
de forma solene, sem deixar dúvidas quanto aos destinos da notável instituição santista.
Depois, veio uma série de realizações - o Arquivo, a Biblioteca com sala de leitura, o
Museu inicial (Sala Júlio Conceição - inaugurada pelo prefeito municipal dr. Cyro Carneiro), com Mapoteca anexa, e uma seqüência brilhante de
sessões sociais, com apresentação de teses e conferências, ouvindo-se, em várias datas durante o ano - o prof. Carlos Heinrich, o dr. Amazonas
Duarte, o dr. Ismael de Sousa, o dr. Ignácio Paschoal Bastos, o dr. Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), o dr. Romeu de Andrade Lourenção, o dr.
Álvaro Parente, o prof. Carlos Escobar, o dr. Hyppolito do Rego, o dr. Archimedes Bava, Francisco Martins dos Santos e tantos outros, destacando-se,
sem dúvida, a comemoração do 13 de Maio, em que foi dado a Santos ouvir a palavra inspirada do grande tribuno brasileiro, Evaristo de Moraes, vindo
a Santos especialmente para esse fim.
Em setembro, sofria o instituto uma grande perda com a morte de seu ilustre presidente
Júlio Conceição, um dos seus mais legítimos animadores e seu prestante benfeitor.
Pouco depois, realizava-se uma sessão fúnebre, em homenagem ao grande vulto
desaparecido, e, mais tarde, o dr. Hyppolito do Rego era eleito para a vaga de Júlio Conceição, elegendo-se para o seu lugar (1º vice-presidente) o
dr. Amazonas Duarte, conhecido causídico e ilustrado professor de História.
Aspecto da sala de leitura e biblioteca do instituto, na noite de 19 deste mês, quando
transcorria o primeiro aniversário de sua fundação. Vê-se a diretoria reunida, e, no fundo, o museu
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Atualmente, a diretoria que rege os destinos do Instituto Histórico e Geográfico de
Santos acha-se organizada da seguinte maneira: presidente de honra, dr. José Carlos de Macedo Soares; presidente da diretoria, dr. Manoel Hyppolito
do Rego; 1º vice-presidente, dr. Amazonas Duarte; 2º vice-presidente, dr. Ghilherme Wendel; secretário-geral, dr. Edmundo Amaral; 1º secretário, dr.
Romeu de Andrade Lourenção; 2º secretário, dr. Alberto de Moura Ribeiro; 1º tesoureiro, Ismael Alberto de Sousa; 2º tesoureiro, Jayme Horneaux
Moura; 1º bibliotecário, Francisco Martins dos Santos e 2º bibliotecário, dr. Edgard Falcão.
O instituto de Santos acha-se em ligação e intercâmbio com todas as instituições
congêneres do Brasil, empenhado em pesquisas e estudos e, brevemente, publicará o primeiro número da sua Revista semestral.
Contando com 100 cadeiras, sob invocação, já tem 60 cadeiras ocupadas, apresentando um
brilhante conjunto de intelectuais, cientistas e colecionadores, mercê do que tem merecido e vem merecendo completo acatamento e respeito por parte
de todas as instituições de cultura do País.
A biblioteca do instituto conta já com cerca de 2.000 volumes especializados e 300
folhetos científicos e literários diversos; a sua mapoteca apresenta cerca de 300 mapas antigos e modernos, de Santos, do Estado, do Brasil, da
América e do mundo, além de outros trabalhos geográficos notáveis; seu museu apresenta algumas dezenas de peças interessantes, além de uma coleção
mineralógica de cerca de 1.200 exemplares diversos; a sua pinacoteca, recém-iniciada, já conta com quatro telas soberbas de Calixto, e mais algumas
de outros pintores.
Seu patrimônio, conseguido no curto prazo de um ano incompleto, já atinge a um valor
de 60 contos, mercê dos donativos que vem recebendo, e entre os quais avultam os de Júlio Conceição, no valor de 6 contos de réis em livros e 16
contos em quadros; do dr. Hyppolito do Rego, no valor de 4 contos de réis em livros; de Francisco Martins dos Santos, no valor de 3 contos de réis
em livros; do dr. Roberto Simonsen, seu membro, no valor de 56 contos de réis em livros, além de 1 conto de réis em dinheiro, vindo, em seguida, o
da Biblioteca Nacional, no valor de 2 contos e quinhentos mil réis, também em livros.
Sua receita mensal cobre perfeitamente sua atual despesa, e isso vem lhe permitindo
regular desenvolvimento a cada mês que passa.
Entre os serviços já prestados a Santos pela novel entidade científica, conta-se, sem
dúvida, a representação feita ao dr. Getúlio Vargas, por ocasião de sua visita à cidade, pedindo ao ilustre presidente da República: a cunhagem de
moedas e a emissão de selos nacionais comemorativos do Centenário da Elevação de Santos a Cidade, que hoje transcorre - já decretados e autorizados
- e mais a elevação de Santos a Monumento Histórico Nacional, honra que, por certo, será concedida igualmente, segundo se diz, tal o agrado com que
recebeu o pedido do Instituto o dr. Getúlio Vargas, acompanhando a oferta de um exemplar da História de Santos, luxuosamente encadernado e
com uma grande placa de ouro mandada colocar por Júlio Conceição.
Eis, em breves linhas, o que é e o que fez, em menos de um ano de atividades, o
Instituto Histórico e Geográfico e Santos, honra autêntica de nossa cultura, digno de todo o respeito e de todo o amparo oficial, e de que são
detalhes as fotografias que ilustram esta reportagem, cujo fim é dar às comemorações deste dia mais uma pincelada de brilho e de glória. |