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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1944 - por Guedes Coelho (6)

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Em 26 de março de 1944, o diário santista A Tribuna publicou uma edição especial comemorativa do cinqüentenário desse jornal (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), que incluiu matéria de três páginas escrita pelo médico sanitarista e vereador Heitor Guedes Coelho (1879-1951), que também se destacou como filantropo e historiógrafo, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

A metamorfose de Santos

Panorama santista do último quartel do século passado (N.E.: século XIX) - O flagelo das epidemias que dizimavam a população adventícia - Obras de melhoramento urbano - Vultos notáveis que muito contribuíram para o saneamento e aformoseamento da atual "Cidade-Ninféia"

Guedes Coelho
(Especial para a edição do Cinqüentenário da A Tribuna)

[...]


O hábito não faz o monge

Em certos indivíduos, o exterior tacanho, a indumentária pobre, modesta, mascarando-lhes a beleza do interior, pleno de inteligência e cultura, despertam falsas apreciações sobre a valia de seu espírito, de seu porte intelectual. Assim, malgrado seu aspecto sáfaro, de inóspito para as belas realizações, em Santos outrora largamente medrou a flor da Espiritualidade. E na Imprensa e nas Escolas, nas associações artísticas ou de mútua solidariedade e previdência; nas artes plásticas ou abstratas - a Pintura, com Benedito Calixto e Wladimir Alfaya; a Música, com o dr. Eduardo Ferreira, filho do visconde de Embaré, infortunado e notável pianista (autor da célebre polca "Ao Telefone"), e com os irmãos Trindade; a Poesia, com muitos e finos cultores, sublimada em Martins Fontes e Vicente de Carvalho - ela desabrochou com exuberância.

Alavanca do progresso, no expressivo e desenxabido chavão, muitos jornais floresceram aqui, e a primarem sobre todos, em fugaz existência, uns, em larga vida outros, o Diário de Santos e A Tribuna, de 46 anos aquele, fundado em 1872, pelo dr. José Emílio Ribeiro Campos; de 50 anos, a completarem-se hoje, radiosamente, esta, fundada pelo inolvidável Olímpio Lima, o qual, embora errasse muitas vezes no processo usado e no objetivo visado, em candentes e cáusticas sátiras, expressadas nos colóquios entre o velho Tinoco e o famigerado e voracíssimo "Jacaré", era o esforçado paladino da Justiça, em defesa de grandes causas.

Cintilantes penas redigiram-nos através vicissitudes amargas, nos brilhantes prélios travados em prol do Bem público; e foram: do "Diário", dr. Alexandre Martins Rodrigues, dr. Izidoro Campos, Eduardo Salamonde, dr. Rubim Cesar, dr. Galeão Carvalhal, dr. Inglês de Sousa, Alberto Veiga e muitos outros.

Da "A Tribuna", Euclides de Andrade, por mais culto, mais eloqüente, mais digno intérprete, melhormente do que eu o faria, relata hoje a rutilante trajetória seguida a despeito de tantos obstáculos, culminados no acidente de 1930, até o ponto atual, na vanguarda do jornalismo brasileiro.

Em valor, na pujança das lutas empreendidas, de suas penas redatoriais e colaboracionistas, na duração segue-se àqueles a "Cidade de Santos", fundada em 1888, extinta em 1931, o grande órgão do dr. Cesário Bastos, o excelso santista, cuja longa e modelar existência votou-se inteira ao Bem de sua terra.

O primeiro órgão da imprensa santista foi a "Revista Comercial", jornal impresso à mão inicialmente, em 1845, em caracteres tipográficos desde 1848, fundado e dirigido pelo dr. Guilherme Dellus, que o transmitiu ao dr. Antônio Pereira dos Santos, santista ilustre, e de quem, após a guerra do Paraguai, em 1872, passou às mãos do dr. Emílio Ribeiro Campos, transformado no famoso "Diário de Santos".

Assinala-se secundariamente: em 1859, o "Itororó"; em 1878, a primeira "Cidade de Santos"; em 1871, o "Pyrilampo", órgão liberal, do padre Barroso, de José André do Sacramento Macuco, de Antônio Manoel Fernandes, ilustres polígrafos políticos estes dois; em 1871, ainda, a "Imprensa", fundada por José Inácio da Glória, o popular, inteligente boticário vicentino (autor do famosíssimo Xarope Glória, contra a coqueluche, conhecido em todo o Brasil), e redigida pelo brilhante poeta dr. Joaquim Xavier da Silveira; em 1875, o "Comércio de Santos", do eminente santista dr. Alexandre Martins Rodrigues, jurisconsulto ilustre, a quem se uniram posteriormente Garcia Redondo, escritor e engenheiro notável, e Augusto Fomm, os quais, com Francisco Martins dos Santos, Xavier Pinheiro, João Otávio e outros, iniciaram o movimento abolicionista em Santos; em 1875, a "Gazeta de Santos", do prof. Tiburtino Mondin Pestana e Francisco de Paula Coelho, pai do inspirado revistógrafo Batista Coelho (João Phoca), e irmão do general Antônio Maria Coelho, heróico militar, barão de Amambahy, de quem majestosa estátua em Corumbá, que eu admirei quando voltei do Paraguai, rememora a heróica defesa de Mato Grosso, invadida pelas forças paraguaias; em 1877, o "Raio", vigoroso órgão de combate, de Fernandes e Sacramento Macuco, e donde partiu o grito de incentivo à estrênua ação de Luiz Gama, paredro do abolicionismo; em 1877, a esplêndida "Revista Nacional", de Antônio Carlos e Inglês de Sousa; em 1876, o "Domingo"; em 1881, a "Comédia", revista de Silva Jardim, o grande educador, líder da propaganda republicana, e Valentim Magalhães, a estrear sua brilhante carreira literária; de 1881 a 1883, a "Boemia Abolicionista", na qual a juventude santista combatia a escravidão; em 1883, a "Procelária", do ilustre filólogo, escritor, gramático, abolicionista, republicano, que tanto honrou a Santos, onde morreu, Júlio Ribeiro; em 1883 ainda, o "Diário do Comércio", onde o ilustre Vicente de Carvalho terçou suas primeiras armas na imprensa; em 1884, o "Correio de Santos", sob a direção de Juvenal Pacheco, o boêmio "raffiné", futuro grande repórter do "Jornal do Comércio"; em 1884, o "Jornal da Tarde", de Vicente de Carvalho e Alberto Sousa, ilustre autor dos "Andradas"; em 1886, a "Evolução", do dr. Silvério Fontes, provecto médico, de idéias ultra-avançadas, socialista extremado, e que se ligou a Martim Francisco, João Guerra, Cândido de Carvalho e o espirituoso professor Aprígio Carlos de Macedo, das celebérrimas "boutades".

E depois da "Revista", de Alberto Sousa e Gastão Bousquet; da segunda "Cidade de Santos", dirigida pelo terceiro Martim Francisco, o grande pensador, tribuno, humorista, republicano na Monarquia, monarquista na República; do "Diário de Notícias", de João Guerra, notável poeta republicano, filiado à família Macuco; e terminadas vitoriosamente as campanhas abolicionista e republicana, iniciava-se nova era para Santos, de sua radical transformação material, moral, social e política.

E temo-la, aí, nessa rápida resenha, a evolução da imprensa na velha Santos.


[...]
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