Uma experiência diferente
Carlos Pimentel Mendes
Confesso que fiquei meio preocupado, quando pela
primeira vez fui escalado para a cobertura de uma visita presidencial, no caso a de Ernesto Geisel ao emissário submarino e à Cosipa. Lembrava-me de
casos acontecidos com vários colegas, de atritos com a equipe da segurança do presidente. Do chiqueirinho a que foram submetidos os
jornalistas, quando de recente visita de Geisel a São Paulo. Ou do caso que me contaram - não sei se verídico - de um fotógrafo que espocou um
flash na cara de um ex-presidente e foi detido pela segurança, como se fosse um subversivo.
Mas, tudo bem. Resolvidas as formalidades para obtenção da
credencial (fornecida pelo Serviço de Imprensa da Presidência), o terno obrigatório, o gravador - que sempre ajuda muito nesses casos -, pauta
na mão, fui designado para cobrir a visita ao emissário, em conjunto com outros colegas.
A segurança - como já esperava - era férrea, no local da cerimônia, tanto que vários
vereadores e alguns secretários municipais não puderam ingressar na área das autoridades: tiveram que ficar no meio do público, pois não tinham a
tal credencial, apenas o convite. Em Santos, não houve o chiqueirinho, mas os jornalistas tinham que se manter dentro de uma área delimitada
por uma fita colante no chão, área essa defronte do palanque.
Dois pódiuns foram montados para os fotógrafos e cinegrafistas. Se para eles
ainda havia alguma condição de trabalhar - embora aquela talvez não fosse a solução ideal - para o pessoal de rádio a situação era péssima. O
serviço de som foi tão mal executado que nem o próprio assessor de imprensa da presidência da Sabesp acreditava ser a concessionária a responsável
pela instalação.
Faltava junto ao palanque pelo menos uma caixa de som, para que a turma do rádio e da
TV pudesse gravar os discursos das autoridades. E o pessoal de rádio se queixava da falta de telefones à sua disposição, para que as emissoras
pudessem transmitir ao vivo os acontecimentos.
Para remediar a situação, essa turma tentou pôr seus gravadores - e eu, no meio deles,
também tentava colocar o meu - junto aos microfones da Agência Nacional, já que corriam fortes rumores de que o presidente falaria de improviso.
Começava o longo discurso do governador, e apesar do quase desespero dos colegas de rádio e TV, a segurança se mantinha inflexível - "Não, não e
não. Não pode colocar os gravadores perto do microfone".
Felizmente, o locutor da Agência Nacional intercedeu, pegando nossos gravadores e
aproximando-os dos microfones. Assim, o pessoal da segurança, bastante irritado, teve que ceder. Foi dessa forma que consegui fazer uma das matérias
da cobertura - a íntegra do discurso de Geisel. Não houve maiores novidades, além do discurso de improviso, dos
abraços do Maluf e da briga Carvalho-Mehanna, tudo conforme o já esperado. Valeu como experiência.
Imagem publicada com a matéria
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