"Nada vos peço em reconhecimento pelas obras que
realizamos, a não ser compreensão. O governo vale pelo apoio que o povo lhe dá, e nessa conjugação de esforços, nós seremos invencíveis", disse o
presidente Ernesto Geisel, ao inaugurar ontem o emissário de esgotos. Também foram assinados os contratos, no valor de Cr$ 11,2 bilhões, para
execução de obras de água e esgotos na Grande São Paulo, Litoral e Interior.
Apesar do rigoroso esquema de segurança, as autoridades dos governos da União e do Estado chegaram a se
aproximar do povo, e o presidente Geisel foi ovacionado ao chegar ao José Menino. Ainda durante a sua estada, o coronel Ruben Ludwig, assessor
presidencial, confirmou que Paulo Maluf, candidato ao Governo do Estado, será em breve recebido em Brasília, fato que representará a aceitação
definitiva de sua vitória sobre Laudo Natel.
Entre as ocorrências pitorescas, os vereadores da Arena tiveram a sua entrada ao
palanque oficial barrada pela segurança do presidente da República. E Paulo Maluf negou ter autorizado a formulação de um manifesto, na Baixada, de
apoio e solidariedade à sua candidatura.
Cerca de 3.000 pessoas aglomeraram-se junto ao
palanque oficial
Fotos e reprodução do título, da matéria
Geisel inaugura o emissário e afirma que receberá Paulo Maluf
O presidente Ernesto Geisel vai receber, em audiência
especial, o candidato indicado pela convenção paulista da Arena ao Governo do Estado, Paulo Salim Maluf. Esse foi o principal fato político ocorrido
durante a estada do presidente da República na Baixada Santista, eliminando, definitivamente, as dúvidas que ainda existiam quanto à aceitação da
candidatura de Maluf, que se colocou ao lado de Geisel durante as solenidades no emissário submarino de esgotos da Sabesp, junto com o atual
governador, Paulo Egídio Martins.
Por várias vezes, Maluf e Geisel trocaram sorrisos e cumprimentos. Já na Cosipa, ao
ser cumprimentado pelo presidente da República, Maluf ouviu o seguinte, do chefe da Nação: "Paulo está tranqüilo". A declaração foi ouvida por
vários políticos, entre eles o deputado federal Athié Jorge Coury.
Ao chegar ao canteiro de obras do emissário, no José Menino, Maluf repetia com
evidente satisfação: "Nós almoçamos juntos com o presidente da República e, se vocês quiserem (dirigindo-se aos jornalistas que o assediavam), podem
perguntar ao coronel Ludwig sobre a audiência em Brasília".
Efetivamente, o coronel Ruben Ludwig, secretário de Imprensa do presidente Geisel,
indagado sobre a audiência, confirmou-a, nestes termos: "Sim, é verdade, o presidente da República vai receber o Paulo Maluf em audiência, só que
não existe ainda uma data certa, vai depender da agenda presidencial, e acho que será possível nos próximos dias".
Isso representa, implicitamente, a aceitação definitiva, ou mesmo a sacramentação da
candidatura de Paulo Maluf ao Governo do Estado? A essa pergunta, o coronel Ludwig respondeu de forma clara e objetiva: "Não há o que sacramentar, a
situação já está definida".
Sem manifesto - "Manifesto? Mas que manifesto?" Paulo Maluf mostrou-se
surpreso, ao lhe ser formulada a indagação sobre se teria autorizado alguém a passar um manifesto, na região da Baixada Santista, em solidariedade à
sua candidatura ao Governo do Estado. "Ignoro completamente o assunto", respondeu o candidato indicado pela Arena, a propósito do documento que,
segundo o ex-vereador Roberto Mehanna Khamis, estaria sendo subscrito com o conhecimento e a aprovação de Maluf.
Como se recorda, Khamis, por diversas vezes, informou à imprensa que estaria
encarregado de colher assinaturas ao manifesto, dirigido ao presidente Ernesto Geisel, e pelo qual os políticos exponenciais, as "forças vivas" da
região e os representantes de classe endossariam a oportunidade e conveniência de Maluf governar São Paulo.
Por outro lado, Maluf desmentiu que já estivesse na fase de examinar os nomes a serem
indicados para os cargos de prefeitos nomeados em municípios sem autonomia política, como é o caso de Santos e Cubatão, explicando que ainda é cedo
para isso.
Assim, o lançamento dos nomes de Sílvio Fernandes Lopes e Athié Jorge Coury, feitos
ainda por Mehanna, não tem confirmação, ao menos no plano oficial. Sílvio, por sua vez, fez questão de desmentir que estivesse postulando a chefia
do Executivo municipal. Na verdade, antes da chegada de Geisel, Sílvio e Carvalho mantiveram uma animada conversa, ambos esclarecendo que, postas de
lado as divergências políticas, ainda existe consideração e amizade entre eles. Carvalho repetia: "Onde está o tal manifesto do Mehanna? Eu quero
ver esse manifesto, por que será que ele não mostra?" Sílvio disse que, por ter sido prefeito eleito de Santos em duas ocasiões, não está "em
condições psicológicas nem políticas de aceitar o cargo por nomeação", embora ressalvando que "isso não significa qualquer tipo de desprestígio ou
demérito a outra pessoa que eventualmente vier a se tornar o prefeito nomeado de Santos".
Athié, também citado como um dos possíveis ou prováveis na lista de sucessão, deixou o
assunto no ar: "Depende do que acontecer, principalmente do que o povo desejar; as reformas estão aí, os partidos atuais vão acabar, por enquanto eu
sou apenas candidato a reeleição".
34 minutos de discurso: Geisel falou de improviso
O presidente Geisel adentrou a área do emissário às 14,55 horas, quinze minutos além
do horário que estava no programa da assessoria de imprensa da Presidência da República. Às 14,57 horas, Geisel, Paulo Egídio e diretores da Sabesp
visitaram uma exposição de painéis retrospectivos do período de construção do emissário submarino. A exposição sobre a execução da obra foi
coordenada pelo presidente da Sabesp, Reinaldo Emigdio de Barros, e durou exatamente 15 minutos.
Saindo da sala de painéis, Geisel descerrou a placa comemorativa da inauguração do
emissário, que contém palavras do chefe da Nação - "Dar habitação, dar água, dar saúde, proporcionar serviços de esgotos, faz parte dos direitos
humanos" - e a inscrição: "Início de operação do emissário submarino de esgotos de Santos - governador Paulo Egídio Martins".
Em seguida, o presidente da República e os membros de sua comitiva subiram ao palanque
armado no canteiro de obras. A programação estabelecia que, além da assinatura de contratos de financiamento entre o BNH e a Sabesp, haveria apenas
o discurso do governador do Estado. Porém, depois do pronunciamento de Paulo Egídio, que durou 18 minutos, o ministro Rangel Reis fez um discurso de
6 minutos e finalmente usou da palavra o presidente Geisel, durante 10 minutos.
Paulo Maluf aproveitou a deixa e cumprimentou
numerosos populares
Foto publicada com a matéria
Na Ponta da Praia, uma calorosa recepção popular
Sob forte esquema de segurança, implantado muitas horas antes, o presidente Ernesto
Geisel, acompanhado do governador Paulo Egídio Martins, dos ministros e de pequena comitiva, desembarcou da R-63 da Polícia Naval da Marinha do
Brasil, no píer da Ponte dos Práticos, na Ponta da Praia, exatamente às 14,40 horas. A R-63 atracou sem maiores problemas, apesar do mar encrespado
e do vento, enquanto outro barco homônimo da Marinha, o R-64, que funcionava como escolta, permaneceu ao largo.
Só o pessoal de segurança teve acesso à Ponte dos Práticos, com apoio de policiamento
da Marinha e da Aeronáutica. O presidente Geisel, sempre ao lado do Governador do Estado, caminhou cerca de 30 metros até o Ford-LTD que o
conduziria ao José Menino e, quando ia embarcar no veículo, decidiu cumprimentar o pequeno mas entusiasmado público que o aguardava do outro lado da
Av. Saldanha da Gama, na calçada em frente ao Clube de Regatas Saldanha.
A quebra do protocolo surpreendeu ao próprio governador Paulo Egídio Martins, que foi
obrigado a um pequeno "pique", juntamente com o pessoal da segurança, para acompanhar os passos decididos do presidente até o encontro com o povo.
Muito aplaudidos, o presidente Ernesto Geisel e o governador do Estado apertaram a mão de muitos populares, um dos quais, bastante emocionado, não
se conteve: chegou às lágrimas quando o presidente Geisel o abraçou.
A comitiva - Com 10 batedores da Polícia Militar à frente, com suas
motocicletas a comitiva presidencial, integrada por 12 carros oficiais, se deslocou da Ponta da Praia ao José Menino em cerca de 10 minutos,
percorrendo a pista interna (lado dos edifícios) das avenidas Saldanha da Gama, Bartolomeu de Gusmão, Vicente de Carvalho e Presidente Wilson,
chegando à área fronteira ao emissário submarino de esgotos da Sabesp às 14,55 horas.
No percurso Ponta da Praia-José Menino, o presidente Geisel foi saudado por milhares
de pessoas, postadas nas calçadas, em frente dos prédios, e no alto dos edifícios, onde se viam muitas bandeiras brasileiras sendo desfraldadas. A
maior concentração popular, entretanto, ocorreu entre o Aquário Municipal e a Av. Siqueira Campos, e depois, na área entre o Canal 1 e a Rua Santa
Catarina. No 11º andar do Edifício Iberê, na Rua Newton Prado nº 3, onde reside o ex-vereador Carlos de Moraes Carneiro, via-se uma faixa de
saudações ao presidente Ernesto Geisel, ladeada por duas Bandeiras brasileiras.
Como na Ponta da Praia, também no José Menino foram colocadas dezenas de faixas de
saudação ao presidente Geisel e ao governador Paulo Egídio Martins, além de outras agradecendo a inauguração do emissário e as verbas destinadas ao
Sanegran.
Policiamento - Praticamente todo o efetivo da Polícia Militar em Santos esteve
nas ruas, ontem, desde as primeiras horas da manhã, compondo vários esquemas alternativos para a passagem da comitiva presidencial. É que tanto a
viagem da Cosipa até a Ponta da Praia, em barco da Marinha, como o regresso ao Planalto por helicóptero (que acabou prevalecendo) estiveram
ameaçados pelo mau tempo e pelos fortes ventos que castigaram a Baixada.
À entrada da Cidade, desde a Av. Martins Fontes até o José Menino, via túnel, tanto
pela Bernardino de Campos como pela Pinheiro Machado, o dispositivo de policiamento e de trânsito esteve a postos desde as 10 horas. O mesmo (e
forte) dispositivo policial esteve a postos na Ponta da Praia e ao longo das avenidas à beira-mar, com mais de 100 guardas distribuídos em todos os
acessos das avenidas Saldanha da Gama, Bartolomeu de Gusmão, Vicente de Carvalho e Presidente Wilson. A vigilância esteve perfeita, porque em nenhum
momento a comitiva presidencial encontrou obstáculos, com os carros da caravana desenvolvendo média de velocidade de 50 quilômetros por hora.
Em tempo hábil, foram providenciados os desvios de trânsito, na Ponta da Praia, e no
José Menino. O serviço de ferry-boat para Guarujá esteve paralisado somente 8 minutos, enquanto o serviço de barcas Santos-Vicente de
Carvalho só deixou de operar quando da passagem das lanchas da Marinha que conduziam o presidente e a comitiva.
Desvio de trânsito provoca congestionamento
Foto publicada com a matéria
O discurso de Geisel
Esta é a íntegra do discurso proferido pelo presidente Ernesto Geisel, de improviso,
na inauguração do emissário submarino:
"Senhoras e senhores, nas minhas andanças pelo território nacional, por este imenso
Brasil, dentro daquilo que faz parte do meu dever, vim hoje a esta região da Baixada Santista. A minha visita tem, em parte, um aspecto sentimental,
por voltar a uma área em que, há cerca de 25 anos, por azares da minha vida, eu vim trabalhar. Vim aqui em 1954, uma época de crise, dirigir a
Refinaria de Cubatão, que acabava de ser inaugurada. E tive então que viver por algum tempo em Santos.
"É lógico que a recordação desse passado, na idade em que hoje me encontro, me
emociona, e me faz rever épocas mais felizes e minha vida. Mas, ao lado desse aspecto sentimental, há outras razões, de Estado, que me fazem vir
aqui hoje. Assisti, de manhã, ao maior programa de desenvolvimento da grande usina siderúrgica que é a Cosipa. É uma usina em pleno florescimento,
numa fase de restauração, atingindo recordes de produção, que hoje ultimou a segunda fase de sua expansão, e iniciou a implantação das estacas para
a terceira fase.
"É um desenvolvimento de natureza material, mas que conta com a cooperação dos que
ali vivem e trabalham. E agora vim aqui participar da cerimônia dos novos contratos de financiamento e inauguração desse emissário de esgoto da
Cidade de Santos. São realizações que se fazem em São Paulo e em todo o Pais. Procuramos desenvolver o Brasil, apoiando e dando mais recursos aos
estados que não atingiram ainda o nível que São Paulo já tem. Mas não nos esquecemos de São Paulo, continuamos a ver em São Paulo o Estado principal
da Federação.
"Pela sua pujança econômica e pelo volume de população que ali vive e progride;
pelo que São Paulo realizou em benefício de toda a nacionalidade. Nesse Estado preocupa-nos, sobremodo, dar solução - dentro de nossas
possibilidades - aos problemas sociais. Como bem mostra essa placa de inauguração, no final, na raiz, estamos de fato resolvendo o problema de
direitos humanos. Direitos essenciais à vida de nossa comunidade, se é que nós queremos amanhã ter um lugar tranqüilo ao Sol que ilumina o mundo
inteiro.
"É um esforço grande que se realiza através da conjugação dos governos Federal,
Estadual e do Município. Mas também através da população, que aqui vive e contribui para esse esforço, e colhe os seus resultados. Nada vos peço em
reconhecimento pelas obras que aqui realizamos, a não ser compreensão, que nos animem, pela sinceridade de nossos propósitos, pelo muito que, desde
1964, através de nossa Revolução, temos feito pelo nosso Brasil.
"Compreensão necessária, de que o Governo, o tipo de governo, pouco vale. Vale pelo
apoio que o povo lhe dá, porque se nós soubermos conservar essa união, soubermos fazer com que o povo creia no Governo, e o Governo continue a
acreditar no povo, os obstáculos, as dificuldades, a carência de recursos, nada representarão, porque nessa conjugação de esforços nós seremos
invencíveis, e faremos tudo aquilo que o Brasil precisa. Muito obrigado".
Ao pé do marco comemorativo, no emissário,
Geisel, Paulo Egídio e o presidente da Sabesp: missão cumprida
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"Vivemos um dia histórico"
"Hoje, vivemos um dia histórico. Só aqueles que, como eu, aqui viveram; aqueles que,
como eu, passaram a infância nesta Praia do José Menino, podem avaliar o que significa a inauguração desta obra, porque desde 1912, desde o Plano
Básico de Saturnino de Brito, a população de Santos e da Baixada Santista aguarda aquilo a que hoje o presidente Geisel dá início: ao funcionamento
do emissário submarino".
Assim o governador Paulo Egídio Martins começou o retrospecto dos esforços acentuados
de sua administração para implantar o programa de saneamento básico da Baixada Santista, considerado prioritário também pelas autoridades federais.
No discurso pronunciado ontem à tarde, durante a inauguração daquele complexo, o
governador paulista frisou que se tratava de uma "prestação de contas ao presidente da República, que sempre se empenhou ao máximo para fazer
cumprir os programas elaborados, autorizando, inclusive, financiamentos jamais liberados para as obras de saneamento de todo o Brasil".
Lembrou que, na assinatura dos primeiros contratos, o presidente Geisel dissera que já
havia planos e recursos; estes, porém, de nada valeriam se não fossem transformados em realidade.
O governador Paulo Egídio acentuou que a sua administração se empenhara sempre e
sempre conseguira a conclusão das obras programadas, dentro dos prazos de contrato.
Comparando com o que fizeram os seus antecessores, disse que, até março de 1975,
somente dois municípios integravam a rede atendida pela Sabesp. "Hoje, são mais de 205 cidades filiadas ao programa de saneamento e abastecimento de
água, o que quer dizer que mais de 60 por cento da população de todo o Estado de São Paulo são beneficiados".
Quanto à implantação de redes coletoras de esgoto, assegurou que de abril de 1975 até
hoje foram implantados 5.671 quilômetros de canos e adutoras, contra 8.400 quilômetros até então existentes. "E vamos implantar mais 512
quilômetros, se Deus quiser, até o final de nosso Governo".
Ele ressaltou que esse esforço foi altamente compensador, refletindo-se diretamente na
redução da mortalidade infantil, na região da Grande São Paulo. "Podemos assegurar que hoje, 80 por cento da população dessa área é servida pelas
redes de saneamento, o que significa que nada menos do que 15 mil crianças, menores de um ano de idade, são poupadas anualmente".
Despoluição - Referindo-se, por fim, ao emissário submarino, afirmou que o
sistema era, na realidade, o primeiro passo definitivo e irreversível para a despoluição das praias santistas.
"Com o complexo em funcionamento, nada menos do que 350 litros de esgoto por segundo
deixaram de ser lançados às praias, pelos bueiros ou pelos canais. O seu serviço supera as expectativas, e essa é apenas uma pequena parte das obras
programas para a região".
O governador enumerou as obras em execução ou andamento nos municípios vizinhos -
Praia Grande, Guarujá (notadamente em Vicente de Carvalho) -, explicando que restaria apenas um foco poluidor: o Município de Cubatão, que não
integra a rede de cidades servidas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O governador paulista encerrou prometendo cumprir fielmente o programa fixado pelos
contratos, "envolvendo talvez o maior plano de saneamento de todo o mundo", e repetindo, "o pronunciamento dos mais felizes do presidente Geisel:
'Dar habitação, dar água, dar saúde, proporcionar serviços de esgoto, faz parte, também, dos direitos humanos'".
No José Menino, Geisel quebra protocolo e
cumprimenta o povo
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