Cr$ 11 bi para obras de água e de esgoto
Os contratos assinados ontem pelo governador Paulo Egídio Martins e pelo
ministro do Interior, Rangel Reis, durante a solenidade de inauguração do emissário submarino de Santos, referem-se à liberação de verbas da ordem
de Cr$ 11 bilhões e 200 milhões, a serem aplicadas em obras de água e esgotos no Litoral, no Interior e principalmente na região da Capital,
denominada Grande São Paulo.
O financiamento para essas obras de saneamento, englobadas no Planasa, do Governo
Federal, será proveniente de recursos do Fundo Nacional de Habitação e do Fundo de Águas e Esgotos do Estado de São Paulo, em partes iguais.
As obras ficarão sob a responsabilidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo - Sabesp - e fiscalização direta da Secretaria de Obras e do Meio-Ambiente. São seis contratos diferentes, destacando-se os referentes ao
Sanegran, que somam Cr$ 7,4 bilhões e os do Litoral, que totalizam Cr$ 2,5 bilhões, beneficiando as cidades de Santos, São Vicente, Praia Grande,
Peruíbe, Itanhaém, Caraguatatua, Ubatuba e São Sebastião.
A assinatura dos contratos, pelo governador do Estado e pelo ministro do Interior,
teve lugar no palanque armado no canteiro de obras do emissário, na Praia do José Menino, depois que o presidente Geisel visitou a exposição de
painéis retrospectivos da construção e descerrou a placa comemorativa do início do funcionamento do complexo, considerado o primeiro e decisivo
passo definitivo para a despoluição das praias.
Litoral - Dos novos contratos ontem assinados, cerca de Cr$ 1 bilhão e 350
milhões serão destinados à implantação de rede de esgotos nos municípios de Santos, São Vicente, Praia Grande, Peruíbe e São Sebastião. Os restantes
Cr$ 625 milhões serão para obras de abastecimento de água em Peruíbe, Itanhaém, Caraguatatuba, Ubatuba e São Sebastião.
Em Santos será ampliado o sistema de coleta e afastamento de esgotos sanitários,
beneficiando a Zona Noroeste e parte do município de São Vicente. O sistema coletor a ser implantado abrangerá as populações habitantes dos bairros
Bom Retiro, Vila São Jorge, Caneleira, Santa Maria, Areia Branca e Catiapoã.
Essa rede coletora se estenderá por vasta área de Praia Grande, beneficiando, segundo
os técnicos da Sabesp, a até 260 mil habitantes permanentes ou flutuantes, após a sua conclusão, em 1981.
Paralelamente, serão iniciadas obras de esgoto em Peruíbe, com mais 10 quilômetros de
rede adutora e 1.600 ligações domiciliares, e em São Sebastião, que contará com mais de 10 quilômetros de rede coletora e linha de recalque e
tratamento.
No setor de abastecimento de água, estão previstas para as cidades do Litoral Norte as
obras principais, que beneficiarão a mais de 120 mil habitantes, solucionando definitivamente o problema sofrido pelas populações de Ubatuba,
Caraguatatuba e São Sebastião nas temporadas de verão.
Sanegran - São, todavia, para o Programa de Saneamento do Grande São Paulo -
Sanegran - que vão as verbas maiores, ontem liberadas pelo governo do Estado e pelo Ministério do Interior.
As verbas - Cr$ 7 bilhões e 400 milhões - incluem obras importantes a serem realizadas
nas estações de tratamento de esgotos que circundam a Capital (Barueri, ABC e Suzano), além da construção de uma unidade-piloto, para a disposição
final resultante do tratamento de esgotos.
Segundo os técnicos da Sabesp, começa agora, efetivamente, a despoluição do Rio Tietê,
e essas obras beneficiarão, a partir de sua conclusão, em 1983, a nada menos que dois milhões de habitantes da Região Metropolitana, de São Paulo.
O presidente e o governador: confidências?
Foto publicada com a matéria
Muitos problemas foram tratados nos bastidores
Um dos assuntos tratados durante a inauguração do emissário foi a questão do Conjunto
Residencial Arthur da Costa e Silva, na Zona Noroeste. Os moradores, recentemente, levaram ao ministro Rangel Reis e à direção do BNH uma
solicitação de providências quanto às casas desse conjunto, que foram construídas há 5 anos, com material de péssima qualidade, e agora ameaçam
cair.
Athié Jorge Coury, o deputado federal que serviu de intermediário entre os moradores e
as autoridades do setor habitacional, dizia ontem que todo o processo já foi enviado à presidência do BNH, pelo ministro Rangel Reis, do Interior.
Da mesma forma, Rangel Reis disse: "Nós estamos estudando o problema com o BNH, e ainda na semana passada estive conversando com o presidente
Maurício Schullman, aqui presente, e estamos encontrando a melhor solução possível, como aliás fazemos em todos os conjuntos". Schullman,
entretanto, omitiu-se a fazer declarações, dizendo apenas que a situação era aquela descrita pelo ministro. Rangel Reis disse ainda que todos podem
ficar sossegados, pois a questão será resolvida.
Outro tema das conversas foi a atuação do Planasa, e Rangel Reis disse que o
ministério está dando toda a atenção aos problemas de habitação e saneamento: "Dos recursos financeiros do BNH, aplicamos cerca de 75 por cento em
habitação popular, e o restante em saneamento. Mas também o Governo Estadual participa com sua parcela. Hoje (ontem), por exemplo, assinamos
contratos de Cr$ 11 bilhões, dos quais o BNH participa com Cr$ 5,5 bilhões, mais ou menos. As metas do Planasa são atender, com água, 80 por cento
dos municípios. Em água estamos adiantados, mas em esgotos, devido à maior complexidade, não acredito que chegaremos tão rapidamente à meta
prevista. Em breve chegaremos aos 2.000 municípios atendidos pelo Planasa, sendo Presidente Prudente, neste Estado, o 2000º município".
Francisco de Barros, secretário de Obras e Meio-Ambiente do Estado, falou sobre o
emissário: "A obra do emissário em si é uma obra complexa no aspecto de engenharia, com repercussões filosóficas. Porque hoje as condições das
praias de Santos e de São Vicente são de total descontrole, total insalubridade. Desde 1915, desde Saturnino de Brito que não se investe em termos
de saneamento básico. O problema é fazer os canais de Santos retornarem às condições de projeto, que são de transportar água de chuva, e não de
esgoto. Para que a população possa usufruir dessa beleza que são as nossas praias, é preciso enfrentar com coragem o desafio do Estuário de Santos e
impedir que o esgoto chegue aos canais. As praias serão defendidas no próximo ano, com a melhoria das condições do Estuário de Santos e de todas as
indústrias de Cubatão que despejam seus efluentes no Rio Cubatão, e ainda pelo emissário, que joga o esgoto no mar aberto, sem nenhuma possibilidade
de retorno. Nós vamos recuperar essas praias de modo a torná-las totalmente balneáveis".
Reinaldo de Barros, presidente da Sabesp, falou sobre o emissário: "Esta era uma obra
vedete da Sabesp e um marco mundial da despoluição das praias. Hoje nós estamos com uma vazão de 1,2 metros cúbicos/segundo, enquanto os
outros sistemas somente podiam transportar 800 litros por segundo. Isso é a maior prova de que o esgoto está sendo lançado no oceano, e não de que
está sendo jogado nas nossas praias através dos canais. Santos poderá duplicar sua população, que terá condições de esgotar todo o esgoto sanitário
da Cidade. O emissário é para a ilha, incluindo Santos e São Vicente. Em Itaipu, será lançado o esgoto de Praia Grande. Santos, em final de 1980,
estará com 95 por cento de sua população servida por rede de esgotos. Também a etapa de pré-condicionamento está concluída, e funcionando muitíssimo
bem".
O único memorial entregue ao presidente foi o dos empregados na administração do
Porto, solicitando sua intercessão junto ao Ministério dos Transportes, para que fosse terminada a análise da proposta de alteração de níveis em
várias categorias profissionais e complementação salarial em cargos administrativos, equiparando-os aos de outras atividades correlatas - proposta
apresentada em julho de 77. O memorial foi entregue ontem por Luiz Amaro Costa, presidente do sindicato da classe.
O prefeito Antônio Manoel de Carvalho cumprimenta Geisel depois da inauguração
Foto publicada com a matéria
Muita cordialidade, bem a gosto popular
Um bem montado esquema de segurança, com soldados do Exército e agentes de segurança
postados no alto de todos os prédios localizados nas proximidades do emissário submarino, além de muitas bandeiras do Brasil também colocadas nas
fachadas dos apartamentos e faixas saudando a visita do presidente Geisel. Esse era o clima no José Menino, cerca de duas horas antes da chegada da
comitiva presidencial, se bem que, a essa altura, ainda era pequeno o número de pessoas que procuravam um bom lugar para assistir às solenidades de
inauguração do emissário.
Aproximadamente às 13,20 horas, com a chegada do secretário dos Transportes do Estado,
Thomaz Pompeu Magalhães, e seu aparato particular de segurança, a curiosidade popular aumentou, sendo visível à distância a verdadeira massa humana
procedente dos prédios e ruas próximas do canteiro da Sabesp. Em seguida, chegou o secretário de Obras e Meio-Ambiente, Francisco Rocha de Barros,
ocorrendo nova movimentação em torno do local reservado ao público.
Muitos populares achavam curioso o fato de que, embora houvessem muitos agentes de
segurança espalhados por toda a área da solenidade, o palanque oficial ficava distante dos cordões de isolamento apenas cinco metros. Era grande a
quantidade de populares com máquinas fotográficas dos tipos Xereta e Instamatic: todos queriam aproximar-se o mais perto possível do palanque e dos
locais de passagem do presidente.
Até às 13,45 horas, um deficiente serviço de som espalhava música na área, quando
foram ouvidos os primeiros acordes da Banda Musical Infanto-Juvenil de Rudge Ramos, executando músicas populares e muitos hinos militares, chegando
a tomar para si as atenções que até então eram somente voltadas para a Avenida Presidente Wilson. Às 14 horas, muita expectativa: chegavam ao
canteiro da Sabesp dois helicópteros do Exército, conduzindo novos agentes de segurança. No entanto, pouco antes de os aparelhos aterrissarem
completamente, as crianças que se haviam postado junto aos cordões de isolamento aplaudiram muito, pensando já tratar-se do presidente Geisel.
A decepção geral das crianças acabou servindo de ensejo para nova apresentação da
banda musical de Rudge Ramos, enquanto o chuvisco que começava a cair era motivo de correrias por parte dos fotógrafos e cinegrafistas.
Outro momento de grande movimentação: a chegada de Paulo Salim Maluf, nome indicado
para o Governo do Estado, e que chegou a dar ensejo por parte do público a manifestações do tipo "Esse é o governador". Muitos abraços, além de
largos sorrisos, foram as características marcantes na chegada de Maluf, fato que originou também uma série de ações bastante populares por parte do
candidato. O chuvisco já havia parado, mas o mormaço que o céu nublado proporcionou incomodou a todos, fazendo com que algumas das crianças que
aguardavam pacientemente a chegada do presidente dessem longos bocejos. Poucos minutos depois, chegava a comitiva presidencial, devidamente
anunciada pelo locutor da Agência Nacional.
Cordial - Eram 14,55 horas quando o presidente Ernesto Geisel desceu de um
Galaxie preto, em companhia do governador Paulo Egídio Martins, e demais membros de sua comitiva. Já sob os aplausos populares, o presidente entrou
no canteiro de obras, cumprimentando inicialmente o ministro do Interior Maurício Rangel Reis, seguido do prefeito Antônio Manoel de Carvalho,
secretários de Obras e Transportes do Estado, além do presidente da Sabesp, Reinaldo Emigdio de Barros, e demais diretores da empresa.
Geisel trajava terno azul-marinho com variações acetinadas, camisa branca e gravata
também azul, com listras vermelhas. Apesar da sobriedade no vestir, o presidente demonstrava bastante disposição ao chegar no canteiro do emissário,
muito embora já cumprisse extenso programa anteriormente, em Cubatão.
Com um sorriso que contagiava os populares mais próximos dos portões de entrada, o
presidente seguiria de imediato para a exposição do projeto do emissário, a cargo do presidente da Sabesp. Entretanto, diante dos pedidos vindos do
público, Geisel quebrou mais uma vez o protocolo, dirigindo-se aos populares e cumprimentando vários deles, novamente sob aplausos, o mesmo
ocorrendo com o governador.
No palanque - "Olha pra cá!", pediam as crianças que teimavam em ultrapassar o
limite de espaço imposto pelos cordões de isolamento. A um simples olhar, as crianças aplaudiam e acenavam, o que era imediatamente respondido pelo
presidente. Ao lado do presidente, ficou o prefeito Antônio Manoel de Carvalho, e, ao lado deste, à sua direita, o governador Paulo Egídio. O
candidato Paulo Salim Maluf postou-se também à direita do governador, acompanhando todos os lances populares e esboçando sempre longos sorrisos.
Após os discursos, a comitiva presidencial dirigiu-se até o local onde havia ficado a
banda musical de Rudge Ramos, constituindo nova quebra no protocolo, ocasião em que Geisel chegou a autografar cadernetas de populares que insistiam
em abraçá-lo e cumprimentá-lo bem como ao governador e, quase que por imposição, ao candidato Salim Maluf, que em nenhum momento perdeu tempo em
ficar junto ao povo.
A comitiva seguiu depois para o heliporto construído especialmente pela Sabesp,
juntamente com os ministros e o governador, lotando os dois aparelhos do Exército e decolando exatamente às 16 horas.
Presenças - Entre outras autoridades, estiveram ainda no palanque oficial o
deputado federal Athié Jorge Coury; os deputados estaduais Emílio Justo e Raphael Baldacci; Sílvio Fernandes Lopes; os prefeitos Koyu Iha, Jaime
Daige e Dorivaldo Loria Júnior, respectivamente de São Vicente, Guarujá e Praia Grande; Giusfredo Santini e Roberto Mário Santini, respectivamente
diretor-presidente e diretor-superintendente de A Tribuna; o presidente da Prodesan, José Lopes dos Santos Filho, além de inúmeros
vereadores, líderes sindicais e representantes de associações de classe.
O presidente e o governador chegam para a
cerimônia
Foto publicada com a matéria
Segurança rígida impede entrada dos vereadores
O rigor do esquema de segurança implantado junto ao canteiro de obras do emissário
interceptou o ingresso de vereadores da Câmara de Santos no palanque. Nem mesmo o secretário de Turismo, Carlos Lamberti, conseguiu ter acesso ao
local reservado às autoridades, porque, a exemplo dos vereadores, não apresentou o convite especial exigido pelo pessoal da segurança. O deputado
federal Athé Jorge Coury chegou a ser barrado, mas, graças à interferência de um militar, pôde ingressar no palanque.
A primeira autoridade da região a chegar na área do emissário foi o prefeito Antônio
Manoel de Carvalho, que às 13,45 horas entrou no canteiro de obras em companhia do presidente da Prodesan, José Lopes dos Santos Filho. No contato
inicial com a imprensa, Carvalho apressou-se em informar: "A resposta ao Mehanna está pronta, e podem apanhá-la com a nossa assessoria, na Prodesan".
Em seguida, o chefe do Executivo cumprimentou engenheiros, diretores da Sabesp e o secretário de Obras do Estado, Francisco Rocha de Barros, com
quem passou a dialogar reservadamente.
Às 14 horas, chegaram os vereadores Odair Viegas, Matsutaro Uehara e Fernando Oliva,
todos da Arena. O entusiasmo dos representantes do Legislativo em ingressar no recinto reservado às autoridades arrefeceu, quando um austero
elemento do corpo de segurança exigiu os convites. A eloqüência de Fernando Oliva e a ponderação de Matsutaro Uehara não foram suficientes para
convencer o pessoal da segurança, que, inflexível, não permitiu o acesso dos vereadores santistas ao palanque. Sem esconder um ar de contrariedade,
Oliva, Tarô e Odair Viegas ingressaram na área do emissário destinada ao povo, que desde as 12 horas começou a chegar para aplaudir Geisel e sua
comitiva.
Para surpresa do titular de Turismo, Carlos Lamberti, a segurança também obstou sua
entrada no palanque armado no canteiro de obras do emissário. Lamberti não se perturbou por não poder entrar sem convite, e foi juntar-se aos
vereadores. O deputado federal Athié Jorge Coury, por pouco também não era impedido de ingressar no palanque, já que, a exemplo dos que foram
interceptados pela segurança do presidente da República, não portava o convite para a solenidade. Para sorte de Athié, houve a providencial
interferência de um militar. Como sempre, Athié mostrou-se solícito com a imprensa, servindo como intermediário nas entrevistas concedidas por
elementos que integravam a comitiva do chefe da Nação.
Assim que o presidente Geisel deixou o local, num helicóptero, com destino à Capital,
o povo teve oportunidade de se aproximar do palanque. Em meio à criançada ávida em apanhar do chão as embalagens plásticas que servem para
acondicionar filmes, e dos adultos sorridentes por terem visto o presidente, um homem não escondia o seu abatimento. Era o vereador Odair Viegas:
"Paciência, não pude ingressar no palanque. Infelizmente, nenhum representante do Legislativo participou oficialmente da cerimônia, o que é
profundamente lamentável e um desprestígio para a Câmara Municipal".
Viveu todas as etapas
"Estou emocionado porque tive o privilégio de acompanhar as obras do emissário desde o
início". Com a voz embargada, o engenheiro Pérsio Faulim de Menezes, 30 anos, santista, formado há 7 anos pela Escola e Engenharia de Lins,
rememorou os momentos difíceis da construção do emissário: "Na realidade, tivemos fases até dramáticas, chegando ao ponto de muita gente
desacreditar na capacidade dos nossos técnicos, engenheiros e funcionários. Com a graça de Deus, superamos todos os percalços, e a obra foi
concluída, motivo de orgulho para todos os brasileiros".
Pérsio Faulim explicou que a problemática de extravasamentos de esgotos será superada:
"Logo em princípio - disse Pérsio - a população poderá constatar que a deficiência deixou de existir, principalmente quando ocorrerem fortes
chuvas". A médio prazo, segundo o engenheiro Pérsio Faulim, haverá a despoluição de esgoto do mar, "o que proporcionará às praias condições de
balneabilidade satisfatórias".
Pérsio está encerrando suas atividades na área do emissário, e em breve participará de
outra obra de vulto: vai trabalhar no reservatório-túnel que a Sabesp construirá no Morro de Santa Terezinha, que terá
capacidade para 100 milhões de litros de água: "É outro privilégio que a Sabesp me concede. Sinto-me feliz com tudo isso".
"Flashes"
A certa altura
do pronunciamento de Paulo Egídio, o candidato indicado pela Arena, Salim Maluf, passou a fitar atentamente o papel que continha o discurso do
governador. Próximo a Maluf, o prefeito Antônio Manoel de Carvalho, com um ar austero, contemplava a multidão.
Paulo Egídio
falou durante 18 minutos. Nesse período, o presidente Geisel mudou várias vezes de posição, trocando a perna de apoio. Rangel Reis manteve-se firme,
como que em posição de sentido.
Quando o
governador do Estado disse que Cubatão continua sendo uma fonte poluidora "porque o esgoto não é operado pela Sabesp", notou-se um ar de reprovação
entre as autoridades que estavam no palanque. Sem dúvida, foi contundente a denúncia de Paulo Egídio.
Houve um
instante, durante a alocução de Rangel Reis, que o presidente Geisel chegou a demonstrar cansaço, apoiando-se no gradil de proteção do palanque.
Alguns
jornalistas também acusaram cansaço e utilizaram um podium destinado aos fotógrafos para sentar e fazer suas anotações.
Enquanto
Geisel fazia seu discurso, o menor Paulo Maurício, de 10 anos, aproveitou um cochilo da segurança, e, junto do podium, passou a
recolher embalagens para acondicionar filmes.
Leopoldo
Vanderlinde, ex-prefeito de Praia Grande, foi um dos muitos barrados pela segurança, por não estar devidamente credenciado. Mesmo do outro lado dos
cordões de isolamento, Vanderlinde conseguiu um dos seus intentos: avistar-se com o candidato ao Governo do Estado, Paulo Salim Maluf, que ainda lhe
deu um forte abraço, depois de uma rápida conversa, em tom bastante confidencial.
A paciência
dos agentes de segurança para com as crianças que ultrapassavam os cordões de isolamento foi muito comentada. O mesmo não ocorreu, porém, com alguns
repórteres e fotógrafos que faziam a cobertura da visita.
Ao quebrar o
protocolo, no momento em que chegou ao canteiro da Sabesp, o presidente Geisel manteve rápido diálogo com o candidato a presidente do Sindicato dos
Estivadores de Santos, Creto da Conceição. O representante dos estivadores disse ter aproveitado a oportunidade para agradecer ao presidente a
doação feita pelo Governo Federal, para quitação de férias e 13º salário atrasados da classe, procedentes de 1976.
Depois de
praticamente esgotado todo o seu repertório, a Banda Musical de Rudge Ramos aproveitou a presença bem próxima do presidente (pouco antes da
decolagem de volta a São Paulo), executando as marchas O Brasil é Feito por Nós e Este é um País que vai pra Frente. As músicas
chegaram a provocar comentários populares, como este: "Ano eleitoral é isso mesmo..."
Terminadas as
cerimônias, e depois que a segurança liberou a circulação de populares, muita gente ainda procurava chegar perto dos secretários de Estado que
permaneceram no canteiro do emissário para seguirem para a Capital por terra. A curiosidade popular era grande também em passar pelos pontos em que
o presidente havia percorrido (maquete do emissário, placa comemorativa e palanque).
Maluf sorri e chega até o presidente
Bastante sorridente, o candidato a governador do Estado de São Paulo, Paulo Salim
Maluf, cumprimentou o presidente Ernesto Geisel. O primeiro encontro com Geisel - esperado por grande parte da imprensa - ocorreu precisamente às 11
horas, logo após o encerramento da solenidade de acionamento do botão que marcou o início das obras de construção do terceiro estágio da Companhia
Siderúrgica Paulista - Cosipa.
Até a chegada do presidente Geisel, às 10,15 horas, no prédio da Administração, a
grande atração era o candidato ao governo de São Paulo. Sorridente, Maluf cumprimentou a todos que o procuraram com um grande abraço, mostrando-se
confiante nas suas possibilidades. Até a chegada de Geisel, Maluf manteve contatos com Erasmo Dias, Emílio Justo e até com vários laudistas
presentes (N.E.: partidários do ex-governador Laudo Natel).
No palanque armado na Ilha dos Amores, Maluf continuou sorridente e confiante, certo
que chegaria até Geisel. No final da primeira solenidade, o presidente Geisel, ao contrário do que estava previsto, acabou saindo pelo lado esquerdo
do palanque, cumprimentando as autoridades presentes. E, de repente, viu-se defronte a Maluf: um sorriso e um cumprimento e troca rápida de
palavras. Logo atrás do presidente vinha Paulo Egídio que foi assim cumprimentado por Maluf: "Ô Paulo, como vai?"
O diálogo rápido entre Geisel e Maluf, segundo pessoas próximas, teria sido esse:
"Mais tranqüilo agora, Paulo? Sim, presidente". Salim Maluf, posteriormente, perguntado sobre a veracidade destas palavras, respondeu: "O bom
mineiro sempre diz que mais de três pessoas é comício".
Antes de viajar para Santos, Maluf ainda cumprimentaria mais uma vez o presidente
Ernesto Geisel, à saída do prédio principal da siderúrgica.
No trajeto para Santos, acompanhado dos prefeitos Jaime Daige, de Guarujá, e Dorivaldo
Loria Júnior, de Praia Grande, Salim Maluf falou, dentre outras coisas, que pretendia, durante o almoço, conversar com o ex-governador Laudo Natel
para equacionar os problemas.
Laudo Natel, contudo, apesar de convidado, preferiu viajar para o Rio de Janeiro,
conforme declarou Maluf no trajeto. O candidato a governador falou até em construir uma ponte ligando Santos-Guarujá, idéia bastante combatida pelo
prefeito Jaime Daige, alegando a falta de infra-estrutura para receber os milhares de turistas.
Greves: Ludwig não vê motivo para radicalizar
"Não há nada que indique, no momento, que haja necessidade de adoção de medidas
radicais". A afirmação foi feita ontem pelo coronel Ruben Ludwig, assessor de Imprensa da Presidência da República, em resposta sobre a atuação do
Governo com relação às greves que estão ocorrendo em São Paulo.
Ludwig disse ainda que não crê que as cisões da Arena em São Paulo sejam mais do que o
resultado do jogo político que se desenvolveu aqui.
A íntegra da entrevista do assessor de Imprensa da Presidência da República, concedida
em Cubatão, é a seguinte:
P. O presidente considera Paulo Salim Maluf como candidato oficial da Arena em São
Paulo?
R. Sem dúvida nenhuma é uma decisão da convenção da Arena. O assunto, como todos
sabem, já passou por vários outros testes, que confirmam plenamente esta condição de candidato da Arena em São Paulo.
P. Como o presidente Ernesto Geisel interpretou todos os problemas políticos que
ocorreram em São Paulo?
R. Como fatos relacionados com uma política ativa que está se desenvolvendo no País.
P. O sr. acredita que o presidente Geisel receba ainda hoje o sr. Paulo Salim
Maluf?
R. Hoje, não sei, porque a programação que todos vocês têm conhecimento não oferece
tempo vago para esses encontros. É um problema de programação, essencialmente.
P. Quando o presidente Geisel pretende receber o sr. Paulo Maluf?
R. Não sei. Inclusive não sei quantos candidatos ele já recebeu. E o candidato Paulo
Maluf está também nesse caso.
P. Como o presidente Geisel observa São Paulo como maior estado no contexto geral
da Arena?
R. Ora, evidentemente São Paulo, em qualquer contexto, sempre é um Estado dos mais
importantes com todos os títulos e razões.
P. Como o presidente Geisel tem observado os movimentos grevistas que começaram
entre os metalúrgicos e foram até a área médica?
R. Eu acredito que esta fase que nós estamos vivendo e esses movimentos grevistas se
inserem no mesmo contexto. Estão passando por uma curva que se percebe agora, e também uma tendência à solução de todos esses problemas.
P. O presidente Geisel tem se manifestado preocupado com esses movimentos num ano
eleitoral?
R. Não. Não tem havido este tipo de preocupação, essa conotação entre eleição e greve.
Não tem havido isso.
P. Anteriormente não se permitia qualquer movimento grevista. Hoje o presidente
admite?
R. Não, a lei da greve é a mesma que está em vigor.
P. O presidente Geisel admite haver negociações diretas entre as bases grevistas e
os empresários?
R. Acho que vocês são testemunhas disso. Vem ocorrendo exatamente o que foi
perguntado.
P. E quanto a possíveis medidas radicais, o presidente poderia adotá-las?
R. É uma hipótese. Depende da evolução dos acontecimentos, naturalmente.
P. Que evolução seria esta?
R. Não há nada que indique, no momento, que haja necessidade de adoção de medidas
desse tipo.
Calmon: depósito do café é imprescindível
Para o ministro Calmon de Sá, da Indústria e do Comércio, o depósito prévio de 20
dólares por saca de café exportável "é imprescindível e não vamos acabar com ele". Em entrevista exclusiva, o ministro considerou que "desde que o
exportador faça o depósito e exporte, não há nenhum problema com ele. O objetivo é exatamente evitar que se façam vendas e que depois de registradas
não sejam efetivados os embarques. Com a penalidade da perda dos 20 dólares (se a exportação não for feita) há pouca probabilidade de se registrarem
vendas que não se efetivem".
Em seguida travou-se o seguinte diálogo com o ministro:
P. Os exportadores alegam que há altos custos financeiros com esse desencaixe.
R. Mas aí paciência. Eles têm condições, uma vez que façam o registro, procedam ao
adiantamento do câmbio. Têm recursos pra fazer esse depósito.
P. No momento as exportações estão paralisadas ou semi-paralisadas...
R. (interrompendo a questão)
Não, não estão paralisadas. Nós já embarcamos neste mês 400 e tantas mil sacas, portanto não estão paralisadas.
P. Não seria saldo do mês anterior, ministro?
R. Não, não. Nós temos vendas que foram efetivadas para embarque neste mês de julho.
P. O sr. acredita que haverá um fluxo normal de vendas até o fim do ano?
R. Este mês e agosto são meses que normalmente se tem um menor registro de vendas, em
função do verão e tudo isso. Então há uma diminuição. Mas devem ser reativadas a partir do próximo mês. |