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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ZEZINHO
As atribulações do fotógrafo Zezinho (1)

Cavalo não sobe escada, e prostituta protege da ditadura, na cidade com a vida noturna "mais movimentada do mundo"...

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Presidentes antes de assumir e após a deposição, ou que ficaram apenas na candidatura; prédios no apogeu e em ruínas; artistas em diferentes momentos de suas carreiras; manifestações de todos os tipos e por todos os motivos; ou o mero "buraco de rua", que também faz parte da profissão de fotógrafo registrar imagens de sarjetas para ilustrar matérias do cotidiano. Essas e outras imagens fazem parte do acervo do fotógrafo José Dias Herrera, que em 2004 foi entregue à Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS).

A matéria foi publicada no jornal Espaço Aberto, edição de 24 de janeiro a 6 de fevereiro de 1992 (e desde então, seu irmão Rafael faleceu, o bonde voltou e o Zezinho continuou trabalhando na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Santos):


Getúlio Vargas em uma de suas visitas a Santos (em 1952, defronte ao Sindicato dos Operários Portuários de Santos)
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

José Dias Herrera, que há cinco décadas registra as imagens de Santos e do país, diz que a cidade independente da época sempre serviu de parâmetro para todos os movimentos a nível nacional. A guerra, a fome, os grandes comícios, o apogeu, a decadência, rostos e as transformações passaram pela objetiva desse que é um capítulo vivo da história de Santos. Funcionário da Prefeitura Municipal de Santos, "Zezinho" diz que o "gosto" pela cidade é sua homenagem diária a Santos.


Prestes, discursando
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Imagens da Cidade

Acompanhar a evolução do tempo. Viver cada momento procurando tirar dele tudo que há de bom e deixar para o minuto anterior o que for ruim. Esse é o lema do fotógrafo José Dias Herrera que chegou a Santos em 1928, aos 7 anos de idade e, através de suas imagens conhecemos hoje uma Santos de várias épocas e de muitas histórias.


Congresso Eucarístico, na década de 1940
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Décadas e décadas - "No final da década de 20, o grande movimento da cidade estava concentrado no trecho compreendido entre a Rua XV de Novembro e Praça Rui Barbosa. Toda aquela agitação já havia suplantado o burburinho da Praça dos Andradas.

O ponto quente era a Leoneza, localizada na praça. Verdadeiro complexo, tinha restaurante, café, bombonière, e muita gente o dia inteiro, falando sobre tudo o que acontecia na cidade. Até as últimas notícias sobre o resto do país e outros países que chegavam através do Porto de Santos, eram comentadas ali", comenta Herrera que na ocasião já trabalhava na Casa Lenke.

Tendo chegado a Santos com 7 anos, começou a trabalhar para ajudar a família e, aos 10 anos, foi para a Casa Lenke e já sabia distinguir o que naquela época era chic, e a importância das casas de artigos mais populares.

Chic era ir à Leoneza, comprar tecido na Casa Lenke e sapatos na Casa Ribeiro de Calçados. Assim como hoje, a sociedade também procurava as casas de artigos populares que estavam sempre lotadas, como a Casa Dois Mil Réis (tudo lá custava este preço), onde atualmente funciona a Lojas Americanas. E a Casa de Calçados Quá-quá. Lá qualquer tipo de calçado custava 40 mais 5 mil réis.

A praça cafeeira, segundo Zezinho, como é chamado o fotógrafo, dominava a cidade e o centro comercial de Santos, ainda era área mista, residencial e comercial. A família Herrera morava no local que hoje é a Avenida Francisco Glicério. Na época, de um lado ficavam os trilhos da Sorocabana, no centro de um caminho chamado de rua, e de outro lado, as casas que eram separadas por imensas valas que, segundo Zezinho, eram verdadeiros rios. "Naquela época, a Avenida Marechal Deodoro era um grande areão e a Praça Fernando Pacheco, nosso campinho de futebol".


Marechal Teixeira Lott em campanha para presidência
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

Símbolo da cidade - De uma família de cinco irmãos, dos quais os três homens dedicaram-se à fotografia: José (Zezinho), Francisco (Paco, já falecido) e Rafael (o Rafa). Zezinho Herrera começou a trabalhar com fotos na Casa de Artigos Fotográficos de Luiz Worisptz (a única do gênero, na cidade, na década de 30).

Mocinho, foi para o Diário de Santos (do Grupo Diários Associados, em 1937). "Era uma coisa de louco. As máquinas com tripé eram carregadas de um lado para o outro e o fotógrafo depois tinha que revelar e fazer tudo, com chuva ou sol. Mas sempre gostei do corre-corre do jornal, Santos era uma agitação constante. A cidade nunca parou. Sempre em transformação. O nível de mobilização política da cidade era inigualável. O Porto era responsável por tudo e considero-o símbolo da cidade por esta razão".

Desde muito cedo Zezinho Herrera, independente do trabalho para o jornal, já atendia aos serviços solicitados pela Prefeitura Municipal de Santos, na época sob o comando do prefeito Sílvio Carneiro. "A Prefeitura ficava no Valongo, área muito valorizada e rica em patrimônio. Infelizmente, o prédio hoje não existe mais, apenas ruínas e eu sou testemunha desta triste passagem de tempo que envolve vários prédios de valor histórico que, se conservados, poderiam ser utilizados normalmente".


Multidão reunida para recepcionar Jânio Quadros
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

O tempo nas fotos - Após 20 anos nos Diários, Zezinho foi para o Jornal A Tribuna onde se aposentou. Nestes anos todos, o fotógrafo diz que viu de tudo. Seu rico acervo demonstra as várias fases não apenas de Santos, mas do país, principalmente através daqueles que tiveram influência nas mudanças registradas no Brasil e no mundo.

"As décadas de 40 e 50 foram ricas em registros. Políticos de todo o país tinham Santos como referência, e a maior concentração que já vi em toda minha vida, foi quando Getúlio Vargas, após anistiar Luiz Carlos Prestes, combinou um comício conjunto. Os dois no mesmo palanque montado na Praça da República trouxeram gente de todos os cantos. Chovia, mas o povo não desistia. A multidão espalhava-se pelas ruas e outras praças. Mesmo sem vê-los, queriam ouvi-los. Jânio Quadros também mobilizou a região com sua vassoura e discursos inflamados.


Jânio Quadros, com o quepe de funcionário do Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC)
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

"Há 50 anos espero ver concretizada a solução do problema do menor. Desde que comecei a fotografar, entidades já se reuniam para discutir o assunto. E até agora, nada...

Santos é a cidade mais movimentada do mundo. A serviço, andei por vários países. Em sua grande maioria, às 22 horas, as pessoas estão recolhidas em suas casas. A essa hora, Santos é vida plena.

O Porto de Santos é incomparável a qualquer um da América Latina. Não tem ninguém mais preparado que os portuários santistas. O problema do Porto é uma questão política.

Gosto de fotografar tudo, mas como qualquer humano tenho minhas preferências: mulher bonita na praia - tem coisa mais bonita de se ver? - a natureza - tudo nela é belo - e criança - é inteira espontaneidade.

Todas as fotos feitas são importantes, mas a mais importante será sempre aquela que não conseguimos fazer.

Jânio Quadros no apogeu de sua vida política era uma tortura para a Imprensa. Era notícia diária, mas só Deus sabe o trabalho que dava. Quando vinha para sua casa no Guarujá era um tormento para a gente. Ficávamos aguardando horas e horas. Era terrível! Seus seguranças, então...

Na ditadura de Getúlio Vargas, era comum a correria com máquina e tripé nas costas, fugindo dos soldados montados a cavalo. Nossa salvação eram as mulheres que trabalhavam na área do cais (área de prostituição). Elas abriam as portas, entrávamos e tínhamos a certeza de que os cavalos não iriam subir as escadas, nem os soldados iriam enfrentar a mulherada.

Fotografei de tudo, desde reis (da bandidagem, do futebol, e coroados reais) às tristezas provenientes de catástrofes e miséria.

Lott, Washington Luiz, Adhemar de Barros, Ill Burner, maestro Toscanini, todos a seu modo deixaram sua marca em Santos.

Saudades, só do bonde 17. De Santos, gosto de tudo, de praia a favela". José Dias Herrera.


Maestro Toscanini desembarcando no porto
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

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