Irmãos Beneméritos e Benfeitores da Santa Casa
Na lista de irmãos beneméritos da Santa Casa, cujos retratos ornam a sala do Consistório da
Irmandade, constam os seguintes nomes: Braz Cubas, o fundador; Claudio Luiz da Costa, o reconstrutor do hospital; João Otavio dos Santos, o criador do Instituto D. Escolástica Rosa; Julio Conceição, Afonso Vergueiro, dr. Antonio Custodio Guimarães,
dr. Bernardo Browne, Barnabé Francisco Vaz Carvalhais, dr. Candido Gomes, da. Helena Conceição Alves Lima, Antonio da Silva Azevedo Junior, Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho, cel. José Proost de Souza, José Florindo da Silva, José Caballero,
dr. João Eboli, João Batista Ribeiro, comendador João Manoel Alfaia Rodrigues, dr. Joaquim Mota e Silva, cel. Martins Patusca, dr. Samuel Baccarat, dr. Silverio Martins Fontes, visconde de Embaré, viscondessa de Embaré, visconde Vergueiro, todos
grandes protetores desta instituição, que em diversas épocas foram alvo dessa justa homenagem.
A esses beneméritos devem ser acrescentados mais os seguintes nomes, pelo muito que fizeram à Santa Casa da Misericórdia: Amancio da
Cunha Mota (dr.), Artur Alves Firminio, dr. Armando Sales de Oliveira, Alvaro Augusto Peixoto, Alberto Baccarat, dr. Adolfo Porchat de Assis, com. Augusto Marinangeli, dr. Antonio Gomide Ribeiro dos Santos, dr. Antonio Ezequiel Feliciano da Silva,
Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, dr. Cesar Lacerda Vergueiro, da. Dora Alves de Lima, Domingos Luiz Neto, Evaristo Machado Neto, d. Eugenia Proost de Souza, Francisco Martins dos Santos, dr. Francisco Assis Correa, dr. Fabio Sá Barreto, dr.
Fernando Costa, Frederico Christ, dr. Flor Horacio Cirilo, dr. Gastão Aires, da. Guiomar Whitaker Carneiro, Henrique Soler, Inacio Penteado, Julio
Gonçalves Furtado (dr.), dr. Julio Prestes Albuquerque, José Serafim Cardoso, dr. José Cesario Bastos, dr. José Dias de Morais, dr. José G. Mota Junior, dr. José Martins Fontes, José Vaz Guimarães, dr. José Souza Dantas, dr. João Nepomuceno Freire,
dr. João Galeão Carvalhal, J. Evangelista de Almeida, Joaquim Ramos Soledade, Lino Vieira, Luiz Rodrigues Gaia, Manoel Martins Freixo, d. Matilde Fonseca Macedo Soares, dr. Ovidio Faria Lemos, Oscar Sampaio, d. Pedro II (Benemérito-Perpétuo), dr.
Roberto Catunda, da. Renée da Silva Prado, dr. Raimundo Soter de Araujo, d. Sofia de Souza Queiroz Ferreira, dr. Tomaz Catunda, Teodoro de Menezes Forjaz e dr. Vitor de Lamare.
Salvo omissão involuntária, é a seguinte a lista dos irmãos benfeitores, cujos serviços prestimosos constam nos anais da Irmandade: A
Tribuna, Arlindo Carneiro de Araujo Aguiar, Adolfo Trommel, Associação Comercial de Santos, dr. Altino Arantes, Asilo de Órfãos (Associação Protetora da Infância Desvalida), dr. Adriano Vaz Porto, dr. Alfredo Silverio de Souza, Associação
Cívica Feminina, Associação Feminina Santista, Asilo dos Inválidos, Antonio Carlos da Silva Teles, dr. Antonio Lacerda Franco, Antonio Pereira de Carvalho, dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, Antonio Pereira de Carvalho, dr. Ciro Verneck, da.
Carlota Aguiar Patusca, Centro Espanhol de Santos, Cruz Vermelha Brasileira, dr. Carlos de Campos, dr. Cincinato da Silva Braga, da. Constança Pereira de Carvalho, Domingos Fernandes Alnos, O Diário (de Santos), Eugenio Andrade Egas, dr.
Egidio José Ferreira Martins, dr. Eduardo P. Guinle, Floriano Ferreira Camargo Andrade, Francisco Paula Ribeiro, dr. G. P. Weischenk, Guilherme Bastos Milward, dr. Gastão Aires, dr. Horacio Brandão, Hospital de S. José (S. Vicente), Instituto do
Radium (São Paulo), d. Isabel Martins Fontes, dr. Jaime Gonçalves, José Azurem Costa, José Guedes Coelho, dom José Maria Parreira Lara, José Mascarenhas, cônego José Martins Ladeira, José Pereira Carvalho, João Fraccarolli, João Esteves Martins,
João Bernils, padre João Correa Carvalho, dr. João Alvaro Rubião Junior, dr. Julio Cesar Ferreira Mesquita, Leon Bergammann, Lucas Alves Fortunato, Matias Casimiro da Costa, da. Maria Azurem Costa, dr. Manoel Gonçalves, Manoel Homem Bittencourt, dr. Othon Feliciano da Silva, d. Otilia Vergueiro Guimarães, Otto Uebele, dr. Pedro Gonçalves Dente, dr. Roberto C. Simonsen, Soc.
Portuguesa de Beneficência, Tácito de Toledo Lara, Valentim Bouças, dr. Virgilio Sodré de Aguiar e Walter Wrigth.
Braz Cubas, fundador de Santos e de sua Santa Casa
Embora seja incerta a data do nascimento do criador da Santa Casa e também fundador da vila de Santos, sabe-se que nasceu na cidade do
Porto, em Portugal, mais ou menos em 1507, sendo seus pais João Cubas e d. Isabel Nunes. Acredita-se também que embarcou para o Brasil em 1531, na comitiva de Martim Afonso de Souza, fundador da vila de São Vicente, em 1532. Em companhia de Braz
Cubas, vieram seus irmãos Antonio, Gonçalo, Francisco Nunes e Catarina Cubas. Mais tarde, seu próprio pai, João Cubas, para aqui também se dirigiu.
Fidalgo e cavaleiro da Casa de El-Rei, Braz Cubas estabeleceu-se na ilha Pequena, posteriormente denominada Ilha dos Padres e, na época
atual, Ilha Barnabé, por haver pertencido ao comendador Barnabé Vaz Carvalhais, outro prestimoso irmão da Santa Casa.
Em sociedade com seus irmãos, o fidalgo português dirigia o cultivo de cana-de-açúcar, arroz e outros gêneros, em terras de Jurubatuba,
ao lado oposto do estuário de Santos, e mandava a localidades distantes vender esses artigos. Foi-lhe dada "sesmaria" dessas terras, por d. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Souza, por se encontrar este atualmente na Índia, em 25 de
setembro de 1536, sendo a carta de "sesmaria" confirmada em Alcoentre, em 24 de novembro de 1551, pelo donatário da Capitania.
No ano de 1543, que muitos julgam ser mais precisamente em 1º de novembro, Dia de Todos os Santos – donde viria o nome de "Santos", dado
à povoação mais tarde – Braz Cubas iniciou a construção dum hospital para acolher os marinheiros, aqui chegados doentes, após longa e penosa travessia.
Para administrar esse estabelecimento, promoveu a instituição da Irmandade da Misericórdia de Santos, nos moldes das já existentes na
metrópole portuguesa, desde 1498. O hospital foi situado junto ao chamado Outeiro de Santa Catarina, na ilha fronteira à que residia Braz Cubas, tendo-lhe auxiliado na construção os moradores e vizinhos, que entre outros eram Pascoal Fernandes
Genovês e Domingos Pires.
A primeira casa de caridade, em terras sul-americanas, surgiu sob o lema "Casa de Deus para os homens, e porta aberta para o mar".
Depois de construído o hospital, e organizada a Irmandade, em 1543, é que, perto do mesmo Outeiro de Santa Catarina, Braz Cubas fundou a futura vila de Santos, em data que, segundo Alberto Sousa, deve ter ocorrido "em fins de 1545 ou princípios de
1546". A povoação de Santos alastrou-se e progrediu de maneira tão acentuada que o seu fundador, logo que foi nomeado capitão-mor da Província, em substituição de Cristovão de Aguiar Altero (1545), se esforçou e conseguiu o foral de vila.
Além desse cargo, o fidalgo desempenhou os de provedor da Fazenda Real, alcaide-mor, ouvidor e loco-tenente do donatário da Capitania de
S. Vicente.
Entre os anos de 1553 e 1554, quando ainda era capitão-mor, Braz Cubas providenciou para que se organizasse uma expedição, com o fito de
alcançar o resgate do famoso viajante alemão, Hans Staden, que naufragara na costa brasileira e havia sido aprisionado pelos índios em Ubatuba. Coube-lhe também a glória de ser o primeiro chefe de "bandeira" que penetrou pelos sertões de
Piratininga, encetando um ciclo heroico da história do Brasil.
Essa "entrada" demandou o Rio S. Francisco, de onde voltou com copiosa monta de pedras preciosas, depois de haver, pelo caminho,
levantado muitos mapas para servir de roteiro aos "bandeirantes", que mais tarde lhe seguiram as pegadas. Uma segunda "bandeira" daqui partiu em meados de 1562, ainda por iniciativa de Braz Cubas, que não acompanhou os expedicionários, por
se achar doente e idoso. Chefiava-os o engenheiro Luiz Martins e a expedição atingiu a Serra de Jaraguá, onde descobriu muito ouro de bom quilate.
Até o fim de sua longa e fecunda existência, o fundador da Santa Casa da Misericórdia de Santos aqui permaneceu, convivendo com os
primeiros habitantes da vila, cujo desenvolvimento assistiu e em cujas lutas e dias venturosos tomou parte. Segundo Saint-Hilaire, em 25 de agosto de 1591, quando ainda vivia o fundador, foi Santos assaltada pelos piratas ingleses, ao mando de
Thomas Cavendish, que anteriormente enviara a sua gentalha a saquear a vizinhança de S. Vicente. Esses flibusteiros desembarcaram de navios surtos no porto, atacando os pacatos habitantes e impondo-lhes pesada contribuição, sob o terror de ameaças.
Como em seguida Cavendish e seus asseclas cometessem toda a sorte de desatinos, aproveitaram-se os santenses do fato de se terem
embriagado, na maioria, até à inconsciência, para expulsá-los de maneira violenta, aplicando-lhes merecido castigo.
O falecimento de Braz Cubas se verificou em 1592, segundo uns, ou 1597, conforme outros, com idade provável de 85 anos, não havendo
inteira certeza sobre essa data. Suas cinzas estavam encerradas numa urna que havia antigamente junto do altar-mor da antiga Matriz de Santos, ostentando a seguinte inscrição: "S. de Braz Cubas, Cavaleiro
Fidalgo da Caza de Sua Mag. Fundou e fes esta Villa sendo Capitão e Caza da Mza., o ano de 1543. E descobriu ouro e metais o ano de 60. Fes Fortalesa por mandado del Rei Dõ Joã 3.o. Faleceu no ano de 1592"
(N.E.: justamente esta inscrição de ano é que origina a polêmica, devido à forma como foi gravado o número final, permitindo que seja lido 1592 ou 1597).
Ao traçar-lhe memorável biografia, o acatado historiador paulista Eugenio Egas assim resumiu a sua individualidade: - "Altivo e independente quando fundou Santos; intrépido quando defendeu a sua nascente povoação; corajoso quando bateu os sertões em busca de ouro; audaz quando mandou resgatar Hans Staden; severo quando aprisionou e executou
os marinheiros ingleses desembarcados em Santos; enérgico quando era preciso querer; inteligente e perspicaz, quando dirigia os negócios da colônia – Braz Cubas foi doce, foi meigo, foi humano, foi bom quando, para satisfazer os impulsos do seu
coração, fundou esse hospital – Santa Casa da Misericórdia – primeiro abrigo que a caridade cristã encontrou em nossa terra".
Um benemérito – Dr. Cláudio Luiz da Costa
Depois da figura imperecível de Braz Cubas, seu venerando fundador, o nome que mais avulta, na galeria de beneméritos da Santa Casa, é o
dr. Cláudio Luiz da Costa, que, em época de crise verdadeiramente alarmante, muito fez para o erguimento dessa casa de caridade. Embora não adepto imediato da idéia de se construir o novo hospital, em 1835, contudo coube-lhe a tarefa de o concluir
e inaugurar.
Mas o seu trabalho em prol do funcionamento normal da Irmandade, e impedir que recaísse em sua intermitente e quase inevitável letargia,
foi enorme e estão bem demonstrados os copiosos relatórios que redigiu, num tom franco e desassombrado, quando exerceu o cargo de provedor, em 1836/38, revelando a cada passo o zelo e a dedicação por preservar a sua existência.
O dr. Cláudio Luiz da Costa nasceu na cidade do Desterro, em Santa Catarina (hoje Florianópolis), a 26 de setembro de 1798. Era filho
legítimo do sargento-mor João Inácio da Costa e de d. Maria Joaquina Bitencourt. Concluídos os preparatórios, em sua terra natal, seguiu para o Rio de Janeiro. Em 1814 entrou na Escola Médico-Cirúrgica dali, onde fez curso de três anos, recebendo
diploma com notas plenas, em 17 de abril de 1817.
Em seguida, transferiu-se para a Bahia e foi clinicar na vila de S. Francisco. Dominado pelo entusiasmo à causa da emancipação do
Brasil – afirma um dos seus biógrafos – prestou bons serviços durante as guerras da Independência como cirurgião-mor militar, não aceitando pagamento de soldo, de que fez doação para as necessidades públicas da Bahia.
Em 1823 mudou-se para a capital da província, de onde, em 1826, foi removido para a divisão militar da Imperial Guarda da Polícia da
Corte. Por ocasião da dissolução desta, foi removido para uma comissão encarregada de organizar um projeto de reforma do Corpo de Saúde do Exército.
Mais tarde se trasladou para Santos, onde, em 1839, se reformou no posto de cirurgião-mor do Exército. Nesta cidade, durante muitos
anos, exerceu gratuitamente as funções de clínico do hospital da Santa Casa. Em 1836 a 1838 foi eleito provedor e, neste cargo, se desincumbiu de suas atribuições, de tal forma que se resolveu demonstrar-lhe gratidão eterna, com a colocação do seu
retrato a óleo na sala do Consistório da irmandade.
O dr. Cláudio Luiz da Costa teve a honra de inaugurar, em 4 de setembro de 1836, o edifício hospitalar,no sítio em que ora se encontra,
tendo a sua construção sido começada em 2 de julho de 1835, sob a provedoria do capitão Antonio Martins dos Santos, de quem foi continuador, na obra de engrandecimento da Irmandade.
Afirmam alguns biógrafos que no exercício da clínica civil, tal como fazia na "sala do banco" da Santa Casa, o dr. Cláudio Luiz da
Costa, em todos os lugares em que residiu, sempre reservava diariamente duas horas para dar consultas aos pobres, socorrendo outrossim, em suas moradas, quando necessário, os enfermos que o reclamavam, sem o compromisso de qualquer remuneração.
Depois de residir em Santos muitos anos, regressou ao Rio de Janeiro, onde concluiu seus estudos de Medicina, na Academia
Médico-Cirúrgica, para a defesa da tese e obtenção do diploma de doutor, que lhe foi concedido, com notas brilhantes, em 3 de dezembro de 1849. Por decreto do Governo Imperial, em 15 de outubro de 1856, foi nomeado diretor do Instituto dos Meninos
Cegos da metrópole brasileira. Ali travou conhecimento com Benjamin Constant, lente de Matemática, seu futuro genro e sucessor na direção do educandário.
O dr. Cláudio Luiz da Costa faleceu no Rio, em 27 de maio de 1869, com a idade de 70 anos.
Bibliografia: - Homem de ação e de gabinete, o dr. Cláudio Luiz da Costa deixou
numerosos trabalhos sobre assuntos vários, comprovando notável capacidade de trabalho e inteligência privilegiada. Entre outras poligrafias, publicou: "Relatório sobre as causas da infecção da atmosfera da Corte"; "Memórias sobre o
tratamento da tênia"; "Proposições de Terapêutica" (tese de doutorando); "Notícia sobre os lazaretos estabelecidos na Vila de Itapetininga, para a cura dos morféticos"; "Memória descritiva da rebelião de 25 de outubro de 1824",
e deixou inéditos: "História Cronológica do Imperial Instituto dos Meninos Cegos", "Memória Histórica sobre a conquista da Guiana Francesa" e "Apontamentos concernentes aos erros e omissões que escaparam ao coronel Inácio Acióli,
nas suas 'Memórias Históricas da Província da Bahia'"
Títulos honoríficos: - Numerosas foram as distinções honoríficas recebidas pelo ilustre
catarinense e irmão benemérito da Santa Casa da Misericórdia de Santos, em recompensa dos grandes serviços prestados ao país, às ciências e às letras. Assim, entre outras, foi agraciado com o hábito da Ordem de Cristo, em 1825; com a Vênera da
Imperial Ordem do Cruzeiro, em 1830; promovido a oficial da mesma Ordem, em 1840; e titulado "Conselheiro de Estado" posteriormente. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e de diversas
academias e instituições científicas, nacionais e estrangeiras.
João Otávio dos Santos
Nasceu em Santos, em 8 de março de 1830, João Otávio dos Santos, um dos irmãos beneméritos da Santa Casa que mais lhe dedicaram em vida
e concorreram para lhe aumentar o patrimônio. Era filho de d. Escolástica Rosa, a quem respeitou sempre o nome, apesar da humilde origem.
Fez seus estudos primários em casa de João Otávio Nébias, seu padrinho e figura destacada na sociedade santista e na política da época.
A circunstância de lhe minguar a instrução como que lhe avigorou o caráter e a inteligência, pois, tornando-o um autodidata, deu-lhe a perseverança para vencer no comércio, onde começou trabalhando, fazendo escritas de vários negócios de pequeno
vulto.
Do trabalho assim efetuado com rara tenacidade e poupança, conseguiu reunir modestas economias, que formaram um capital de Cr$ 600,00,
para o início de algumas transações de reduzida monta. À proporção que esses negócios se multiplicavam, prosperou a sua situação financeira, em termos de se haver desenvolvido assaz o seu movimento comercial, com compras e vendas de gêneros do
país.
Poupando sempre, aplicando melhor os lucros auferidos, em pequenas percentagens, recebendo consignações de artigos do interior,
principalmente de fumo de Minas, foi João Otávio dos Santos pouco a pouco dilatando a órbita de suas atividades. Em breve já adquiria carregamentos inteiros de navios à vela, que chegavam ao nosso porto; ou ia a Buenos Aires vender e permutar
mercadorias, em embarcações especialmente fretadas por sua conta.
Essa faina incessante e sempre bem sucedida estendeu-se de 1848 a 1892, durante 44 anos, quando, afinal, com a fortuna consolidada, nome
respeitável pela sua honradez, abandonou o comércio, passando a viver de rendimentos dos numerosos prédios, adquiridos nesta cidade em condições vantajosas.
Ao lado dessa existência de labor incessante, João Otávio dos Santos reservava-se a outras ocupações de feitio menos exclusivista, com o
mesmo ardor e dedicação. Aos 18 anos já havia ingressado na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, à qual passou a se devotar, com uma assiduidade, um desinteresse, verdadeiramente notáveis.
Chamado a figurar entre os dirigentes da instituição, em 1875, foi eleito provedor e nesse cargo permaneceu, sempre reeleito, até 1878,
sendo para ali reconduzido em 1883 e sucessivamente reeleito até 1896. A sua provedoria foi das mais profícuas e memoráveis, pois que, segundo o testemunho de alguns biógrafos, considerava a Santa Casa como "sua filha predileta", devido,
talvez, ao fato de não haver constituído família, vindo a falecer solteiro.
Abraçando a causa abolicionista, à frente da Santa Casa, empregou a sua prestigiosa influência para libertar os escravos enfermos que
recorriam ao hospital. Do seu próprio bolso custeou a alforria de muitos escravos e é notório que, além de facilitar a manutenção do famoso "quilombo" do Jabaquara, abriu as portas de sua chácara na Ponta da Praia (onde hoje existe o
Instituto que perpetua a memória de sua genitora) – e ali ocultou muito infeliz fugido à perseguição dos senhores implacáveis.
João Otávio dos Santos era homem de arraigadas convicções políticas. Como representante do Partido Liberal, fez parte da Câmara
santista, em 1876, 1877 a 1880, havendo ocupado a cadeira presidencial daquela casa legislativa no Município. Ainda depois de proclamada a República, voltou a sentar-se na mesma Câmara, como vereador, entre os anos 1892 e 1893.
A sua ação em prol da Santa Casa da Misericórdia, durante e depois da sua gestão como provedor, sempre se manifestou de vários modos,
especialmente nas épocas de dificuldades, quando fazia empréstimos sem juros, além de donativos como o que se representou em 110 ações do Teatro Guarani, entregue no ano de 1895. Falecendo em 9 de julho de 1900, cercado da estima e admiração dos
seus conterrâneos, deixou um testamento que é modelo de critério superior, filantropia nobilíssima e previsão social.
Nesse documento, cuja execução foi confiada ao seu amigo, o saudoso com. Julio Conceição, expressava as últimas vontades em torno do
destino dum espólio avaliado em mais de Cr$ 1.625.000,00, em que distribuía donativos à Santa Casa, Sociedade Humanitária, Igreja Matriz, Asilo de Órfãos, União Operária etc. À Santa Casa legou 58 prédios, cuja renda se destinaria à mantença do
Instituto D. Escolástica Rosa, estabelecimento por ele ideado, para propiciar "educação intelectual e profissional de meninos pobres, em princípios pré-vocacionais".
Obra de larga visão social, cujo desenvolvimento não lhe foi dado apreciar, como semeador que sonha com a boa colheita futura, João
Otávio dos Santos tem, assim, seu nome insculpido, de maneira imorredoura, não apenas nos anais da Santa Casa da Misericórdia, mas também na própria história da cidade, cuja adolescência pobre deve reverenciar e abençoar tão generoso benfeitor.
Além do seu retrato existente no recinto do Consistório da Irmandade, a gratidão santista lhe ergueu um belo monumento, em bronze, no
pátio do Instituto D. Escolástica Rosa.
José Caballero
José Caballero, irmão benemérito da Santa Casa, com busto em bronze erguido no jardim fronteiro do hospital, nasceu em Vigo, na
Espanha, em 19 de março de 1840. Dali partiu com a idade de 9 anos, para a cidade do Rio de Janeiro. Pouco se demorando na capital do país, no ano seguinte, 1850, se transferiu para Santos, onde permaneceu até o fim e sua fecunda existência. Muito
moço, dedicou-se ao comércio de calçados, em que trabalhou durante vários anos. Mais tarde, à custa de economia, e bastante força de vontade, conseguiu reunir capital para fundar um estabelecimento de banhos, à Rua 15 de Novembro, que existiu com
seu nome, até à data do seu falecimento.
À frente da casa comercial, José Caballero se tornou respeitável pelas suas qualidades pessoais de caráter, inteligência e honestidade,
conquistando fortuna e créditos sólidos. Tendo ingressado para a Irmandade da Santa Casa, desde 1892, exerceu o cargo de diretor do hospital, em que prestou serviços que jamais serão olvidados.
Havendo, em 1885, adquirido um sítio de terras, no lugar denominado "Queirozes", no município de S. Vicente, a Manoel Alves de Azevedo,
pela quantia de Cr$ 200,00 – produto de uma rifa que lhe coube em sorteio, pela importância de Cr$ 5,00 – foi José Caballero obrigado a questionar com a City, por haver o governo do Estado feito concessão desses terrenos, para aquela empresa
proceder a obras de captação de águas, para abastecimento da cidade de Santos. Essa questão, que interessou o foro local da época, teve repercussão na capital do Estado e da República. José Caballero fez doação desses terrenos à Santa Casa,
constituindo-a sua universal herdeira, em testamento, logo que fosse liquidada a questão mantida com a Cia. City.
Em colaboração com Manoel José Martins Patusca e Júlio Conceição, realizou as grandes reformas de 1890 a 1902, que transformaram o
pequeno hospital de Santos num verdadeiro palácio. Seu falecimento ocorreu em 16 de dezembro de 1903, em quarto particular do hospital, tendo seu desaparecimento causado bastante consternação nesta cidade.
Com. Júlio Conceição (1864-1938)
Ao lado de João Otávio dos Santos, como seu amigo, mentor e executor testamentário, o nome de comendador Julio
Conceição ocupa lugar de relevo, nos fastos da Santa Casa da Misericórdia de Santos. Sua dedicação à memória do fundador do Instituto Escolástica Rosa é equivalente à forma absolutamente probidosa e desinteressada, com
que se incumbiu da difícil tarefa de realizar a vontade do testamenteiro, equivalente também à maneira carinhosa com que sempre se conduziu à frente dos destinos da Irmandade da Santa Casa, cuja provedoria exerceu, durante
vários anos.
Natural de Piracicaba, Júlio Conceição nasceu em 12 de março de 1864, sendo filho dos barões de Serra Negra, que eram o tenente-coronel
Francisco José da Conceição e d. Gertrudes Eufrosina da Rocha. Fez seus estudos na cidade natal e em 1882 veio para Santos, de onde não mais se retirou, aqui logo se radicando, contraindo núpcias e devotando-se a todas as associações beneficentes e
classistas. Sua inteligência era clara e lúcida, tendo muitas vezes ocasião de provar sua cultura e a segurança do seu raciocínio, em artigos publicados na imprensa, em torno de assuntos vários.
Foi comerciante, industrial, lavrador e grane proprietário e, em todos os diferentes setores da sua onímoda atividade, além de muita
tenacidade de trabalho, evidenciou competência e seguro tino. Exerceu o cargo de vereador e presidente da Câmara Municipal de Santos, e nesse posto lhe foi dado prestar imensos serviços à coletividade, no combate à febre amarela, que então assolava
a cidade. Sua dedicação foi tão grande que chegou, ele próprio, a contrair o terrível "morbus". À sua iniciativa, deve-se a construção do cemitério do Saboó, onde determinou que fossem inumados os seus despojos,
quando falecesse.
Tendo ingressado na Irmandade da Santa Casa em 1884, com a idade de vinte anos, foi eleito provedor, nos anos de 1897 a 1902, cargo em
que se houve com o habitual zelo, desprendimento pessoal e elevado senso administrativo. Durante a sua gestão prosseguiram acaloradamente as obras de reforma do grandioso edifício do hospital, concluídas em 1902.
Como acima se disse, como amigo e procurador de João Otávio dos Santos, muito concorreu para que este legasse à Santa Casa, além de
120:000$000, em dinheiro, os imóveis necessários para a criação do Instituto D. Escolástica Rosa.
Por estes e outros serviços inolvidáveis, foi lhe dado o título de irmão benemérito, em 1904, e colocado o seu retrato a óleo, no
recinto do consistório. Júlio Conceição foi também fundador de outras entidades humanitárias e científicas, figurando entre estas o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, cuja biblioteca e museu foram por ele
iniciados.
Foi alvo de distinções honoríficas, por parte de vários governos estrangeiros, sobressaindo a que lhe concedeu Portugal, com a Comenda
de Cristo. Sua residência, no Boqueirão, que era frequentemente visitada por seu amigo, Rui Barbosa, atestava o saber do cientista, que ali reuniu os mais raros exemplares de orquídeas brasileiras, transformando-a em
riquíssimo Parque Indígena. Publicou diversas monografias de caráter histórico, entre outras sobre a personalidade de Benedito Calixto e João Otávio. Era casado com d.
Mariana de Freitas Conceição e faleceu em Santos, em 10 de setembro de 1938.
Visconde de Embaré
Antônio Ferreira da Silva, mais tarde barão e depois visconde de Embaré, nasceu em Santos, em 31 de dezembro de 1824. Era filho do
comendador Antônio Ferreira da Silva, figura importante na sociedade e no comércio santistas.
Muito cedo, concluídos os seus estudos, dedicou-se à carreira comercial e desenvolveu grande e profícua atividade, tornando-se, pelo seu
caráter e honradez, elemento de destaque na vida da cidade daquele tempo. Foi coronel comandante da antiga Milícia e várias vezes delegado de polícia. Em 1854-1855 foi indicado para deputado provincial, na Câmara de São Paulo, havendo
desempenhado o mandato com bastante relevo e rodeado do geral conceito de seus pares. Fez parte igualmente da Câmara Municipal de Santos, desde o ano de 1863 a 1875.
Foi um devotado protetor do ensino, em Santos, e em companhia do visconde de Vergueiro muito contribuiu para auxiliar a administração
pública neste sentido. Para esse escopo, fez diversos donativos e cedeu um prédio de sua propriedade, para a instalação dum grupo escolar, à Rua D. Pedro II, no terreno hoje ocupado pela Caixa Econômica Estadual.
Foi um dos fundadores da antiga "Praça do Comércio", que é hoje a Associação Comercial de Santos. Ingressando na Irmandade da Santa Casa
da Misericórdia, exerceu o cargo de provedor, nos anos de 1880-1882, deixando traços indeléveis da sua passagem neste posto, através de iniciativas e atos de benemerência, que lhe granjearam o título concedido aos que se tornam credores de gratidão
imorredoura.
Coube-lhe, em 1876, receber a visita do imperador d. Pedro II, quando aqui esteve, hospedando-se em sua residência, à Rua Direita, e em
sua chácara, junto à capela, hoje igreja do mesmo nome, situada na Praia do Boqueirão. Essa capela foi construída e doada ao povo pelo visconde de Embaré, que foi sempre um católico praticante e fervoroso.
Havendo-se transferido, nos últimos anos de sua vida, para o Rio de Janeiro, ali faleceu em 21 de dezembro de 1887, deixando
descendentes. Em reconhecimento pelos valiosos serviços prestados, a Irmandade da Santa Casa mandou colocar seu retrato a óleo no recinto do Consistório.
Afonso Vergueiro
O nome de Afonso Vergueiro, alvo de homenagem que se concede aos grandes beneméritos da Irmandade – que foi a colocação do seu retrato,
33 anos depois de sua morte, na sala do Consistório – recorda a série de valiosos serviços que prestou à Santa Casa e à terra santista.
Nascido em 28 de novembro de 1847, na cidade de Faxina, hoje Itapeva, no estado de S. Paulo, era filho do comendador Luiz Pereira de
Campos Vergueiro, neto pelo lado paterno do senador Vergueiro, que foi regente do Império; e pelo lado materno, do barão de Antonina, também senador do Império. Fez seus estudos preliminares em nosso país e foi depois completá-los na Europa,
formando-se em Ciências Econômicas e Comerciais, em Leipzig.
Regressando ao Brasil, fixou residência na cidade de Santos, e aqui logo passou a desenvolver extraordinária atividade, no comércio de
café, em cujos círculos se tornou figura de alta projeção.
Foi sócio da casa comissária e exportadora Souza Queiroz e Vergueiro, sucessora de Vergueiro e Filhos, fundada pelo senador Vergueiro, a
primeira que tratou de negócios de café no Brasil. Igual destaque logo granjeou na sociedade, casando-se com a sra. Manoela Lacerda, filha dos barões de Araras. Deste consórcio teve os seguintes filhos: Eurico, Cesar, Firmo, Silvia, Rui, Afonsina e
Plinio, os quatro primeiros vivos ainda. Eurico, Cesar e Firmo Vergueiro são irmãos jubilados da Santa Casa (50 anos), pois todos os filhos e Afonso Vergueiro eram registrados como remidos, ao nascerem, entendendo o prestante cidadão que todas as
criaturas, naturais ou residentes em Santos, deveriam filiar-se à obra humanitária de Braz Cubas.
Na Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, foi mordomo de mês do hospital, durante 25 anos, não aceitando por excessiva modéstia postos
mais elevados na administração. Em companhia dos irmãos visconde de Vergueiro, visconde de Embaré e Antônio Lacerda Franco, integrou a comissão que, em 1892 a 1897, angariou auxílios para o prosseguimento das obras do hospital, começadas em 1878,
tendo várias vezes feito donativos pessoais, em dinheiro, para aquele e outros fins, aos cofres da Irmandade.
Por esse e ouros motivos, a Santa Casa, em 1940, lhe consagrou a memória, de forma duradoura, inaugurando o seu retrato no Consistório.
Imbuído dos mais belos sentimentos cristãos, praticava a caridade igualmente fora da nossa magna instituição pia.
Por ocasião do surto de várias epidemias de febre amarela, que tanto assolavam a cidade e dizimavam a população de Santos, Afonso
Vergueiro visitava, dia e noite, as pessoas enfermas, levando-lhes o conforto moral, a assistência financeira e os remédios mais urgentes. Nessa apostolar cruzada, foi atingido pela epidemia, de que, felizmente, se salvou.
À semelhança de A. Lacerda Franco, Antônio Bento, Américo Martins dos Santos, Quintino Lacerda e muitos outros, formou em Santos no
glorioso núcleo dos que se batiam pela abolição dos escravos, encaminhando os negros fugidos para as senzalas do Jabaquara. Em prol desta campanha abençoada e afinal triunfante, colocou sua bolsa, prestígio pessoal e brilhante inteligência. Faleceu
em 1907.
José Pinto da Silva Novais
O sr. José Pinto da Silva Novais, outro elemento de memória indelével, na existência da Santa Casa, nasceu em Porto Feliz, no estado de
São Paulo, em 20 de novembro de 1865. Era filho de José Emídio da Silva e da. Ambrosina Pinto Novais. Veio muito moço para Santos, onde se dedicou ao comércio de café, conseguindo em breve fazer carreira brilhante e granjear fortuna.
Foi sempre um espírito infatigavelmente devotado aos interesses da cidade, em que se arraigou e estabeleceu relações sólidas, aqui
residindo até a data do seu falecimento, participando dos principais acontecimentos de relevo social ocorridos na época. Serviu como oficial da legalidade, no tempo da revolta contra o marechal Floriano Peixoto, em 1893. Durante muitos anos
comandou a extinta Guarda Nacional e organizou, nesta cidade, o Exército de 2ª linha.
Prestou serviços inestimáveis à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, em sucessivas ocasiões máxime nos períodos sombrios da
calamidade pública. De tal maneira seu nome se vincou, inesquecivelmente, na histórica instituição, desde 1889, data em que entrou como irmão remido, que lhe foi concedido o título de benemérito e o preito da colocação do seu retrato no salão do
Consistório.
Era irmão do sr. cel. Alvaro Pinto da Silva Novais, também benemérito da Santa Casa. Faleceu em 4 de novembro de 1918, durante o surto
da epidemia da gripe espanhola, depois de haver, com abnegação habitual, acudido com seus humanitários auxílios às numerosas vítimas desse flagelo em Santos.
Cel. Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho
Irmão benemérito com retrato em 21/7/1921
O sr. Antônio de Freitas Guimarães Sobrinho nasceu em 16 de abril de 1869, em Caldas, sendo filho do sr. João de Freitas Guimarães e d.
Francisca Sanches de Lemos. Com a idade de dois anos, veio com sua família para a cidade de Campinas, neste estado, onde recebeu boa instrução primária e secundária. Com 17 anos apenas, devido à epidemia de febre amarela, que ocasionava falta de
empregados no comércio de Santos, recebeu convite para vir trabalhar em Santos, como guarda-livros da firma comissária de Café Bento Quirino Nogueira & Cia., ao que aquiesceu.
Entrando para o serviço daquela firma, não mais saiu de Santos, onde sua carreira comercial facilmente triunfou, tanto que - na
reorganização da casa em que trabalhava – foi promovido a sócio-gerente, sob a razão social de Freitas, Lima, Nogueira & Cia. Ao lado desse brilhante êxito, na vida prática, teve parte saliente na política da época, sendo um dos fundadores do
Partido Municipal, em 1904, em oposição ao governo municipal de então.
Em 1910 foi eleito vereador e em seguida, graças ao seu prestígio no seio do partido que acabava de vencer as eleições municipais, foi
levado à presidência da Câmara Municipal de Santos, cargo em que se manteve desde 1914 até 1919. Como político, era um homem de princípios e de atitudes sempre corretas, granjeando por isto gerais simpatias até entre seus adversários. Foi sempre
membro do diretório do partido e algumas vezes ocupou a sua presidência.
Antônio de Freitas Guimarães muito se dedicou às obras de filantropia e assistência social, sendo sócio de todas as agremiações locais
deste gênero, como a Soc. Humanitária, Asilo de Órfãos, Gota de Leite, Cruz Vermelha, União Operária, Albergue Noturno e outras.
Sua atuação na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos foi das mais destacadas e generosas, tendo exercido o cargo de provedor
durante os anos de 1916 a 1921 em situação difícil da entidade, pois nesse período o país estava em guerra e em 1918 a cidade foi assaltada pela mortífera epidemia da gripe. Nessa ocasião, seu devotamento foi verdadeiramente evangélico, para com os
doentes, indo muitas vezes buscá-los em residências particulares, para interná-los no hospital. Todo esse serviço era feito com sacrifício pessoal, pois já tinha sofrido o desastre que o obrigava a andar apoiado em bengala e calçado com um sapato
especial.
Na sua gestão foram iniciadas as festas de Natal para as crianças pobres internadas nas enfermarias, instituindo-se então farta
distribuição de roupas, brinquedos e doces. Por esse motivo, o seu retrato foi colocado no consistório da Irmandade, após a concessão de título de benemérito, que lhe foi dado em 21 de julho de 1921.
Além dessas atividades sociais, o cel. Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho foi presidente da Associação Comercial de Santos e membro
da comissão executiva para a ereção do monumento dos Irmãos Andradas. Faleceu em 20 de abril de 1921, em Campinas, vítima dum ataque de apendicite aguda.
Dr. João Eboli
Irmão Benemérito em 24/7/1900 – Com retrato
O dr. João (Giovani) Eboli nasceu na Itália em ... (N.E.: SIC) e ali fez seus estudos preparatórios, matriculando-se na Universidade de Bolonha, onde se doutorou em Medicina. Muito moço ainda, veio para o Brasil, indo clinicar em Friburgo, estado do Rio, em companhia de um tio que ali fundou um
estabelecimento balneário.
Mais tarde, transferiu sua residência para Santos, e foi nesta cidade que pôde demonstrar seus dotes de inteligência e de coração, em
obras de progresso e de beneficências, que indicam a sua memória à gratidão dos santistas. A sua vida aqui foi um verdadeiro apostolado, ligando-se a todas as instituições pias aqui existentes por atos de devotamento e caridade cristã.
Como irmão da Santa Casa da Misericórdia, prestou com assiduidade e incansável zelo os mais assinalados serviços, durante os anos em que
aqui permaneceu. Espírito empreendedor, a sua ação se desenvolveu em outras esferas, com real proveito para o benefício da comunidade.
Fundou nesta praça a Casa Bancária Eboli & Cia., que gozou de grande conceito comercial e foi incumbida da venda dos vales-ouros para os
direitos aduaneiros, na administração de Joaquim Murtinho. Foi concessionário da empresa de bondes de Santos e, devido aos seus esforços, esta cidade teve as suas primeiras ruas iluminadas a luz elétrica.
A Câmara Municipal de Santos, em reconhecimento pelos excepcionais serviços que o dr. João Eboli prestou à cidade, resolveu há vários
anos prestar-lhe merecida homenagem, dando seu nome a uma das nossas ruas.
A Santa Casa também deu testemunho público do seu apreço, mandando colocar o seu retrato no consistório, depois da concessão do
título de benemérito em 24 de julho de 1900. No começo deste século (N.E.:
século XX), o dr. João Eboli mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou a clinicar sem intuito de lucros, pois dedicava-se a investigações científicas e empreendimentos industriais. Como perito
comercial, colaborou na legislação brasileira sobre "warrants" (N.E.:
certificados emitidos por armazéns pelo depósito de mercadorias em suas instalações, para uso em negociações de crédito bancário). Faleceu em 8 de agosto de 1923, na capital do país.
Dr. Raimundo Soter de Araujo
Irmão em 1881 – Benemérito em 1902
O dr. Raimundo Soter de Araujo nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, em 22 de abril de 1853, no estado da Bahia. Cedo seus
pais compreenderam a sua vocação pelas letras e o matricularam num dos principais colégios daquele estado, onde o seu curso e exames foram feitos com distinção.
Terminados os preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina dali, e em dezembro de 1872 foi-lhe dado o diploma de farmacêutico e
mais tarde, em 15 de novembro de 1877, o grau de doutor em Medicina, depois de haver defendido tese aprovada com distinção.
Em 1880 foi então pelo governo imperial nomeado 2º cirurgião da Armada Nacional, cargo em que prestou relevantes serviços ao país, tendo
embarcado em vários navios de guerra, para viagens de instrução. Em 4 de fevereiro de 1882, foi nomeado cirurgião da Escola de Aprendizes Marinheiros, na cidade de Santos. Aqui chegou em seguida e passou a servir de maneira digna de louvor, a ponto
de em 31 de outubro de 1890, já no regime republicano, lhe serem concedidas honras de 1º tenente da Armada Nacional. Quando se exonerou desse cargo, deixou na corporação uma lacuna difícil de preencher.
Depois de proclamada a República, passou a exercer o cargo de 1º delegado da Higiene, nesta cidade, tendo então trabalhado muito em prol
da melhoria do estado sanitário de Santos, combatendo por todos os meios científicos a febre amarela que assolava a população, na época. Graças à sua dedicada iniciativa, criou-se, depois de escolha de local e acurados estudos, uma comissão
incumbida de promover a construção dum hospital de isolamento.
Como presidente dessa entidade, coube-lhe realizar essa ideia, erigindo um edifício dotado dos meios indispensáveis ao seu regular
funcionamento. Em 1891 o governo do estado de S. Paulo nomeou-o "intendente da Higiene" nesta cidade, e nessa qualidade lhe competiu a honra de empossar a primeira Câmara Municipal Santista, eleita por sufrágio popular. Em 1893, por decreto de 3 de
agosto, foi nomeado cirurgião-mor da Guarda Nacional desta cidade.
O dr. Raimundo Soter de Araujo militou na imprensa local, com bastante relevo, e, em companhia do dr. Silverio Fontes e Francisco
Escobar, fundou e redigiu em 1892 a folha intitulada A questão social, que durou dois anos, propugnando idéias socialistas muito avançadas para a época. Foi com zelo e devotamento médico efetivo da Soc. Portuguesa de Beneficência, médico
adjunto da Santa Casa, onde fundou o pavilhão para tuberculosos, que tem o seu nome; sócio fundador da Soc. Protetora da Infância Desvalida, presidente da Soc. Auxiliadora da Instrução; médico da Soc. União Operária etc.
A sua morte ocorreu em 7 de junho de 1924, quando era diretor da Inspetoria Sanitária Municipal. A pobreza de Santos sempre deparou na
pessoa do dr. Soter de Araujo um seguro esteio e proteção. Vida modelar, abnegada, cheia dos mais pesados trabalhos, foi a sua existência fecunda de serviços à instrução pública, à organização hospitalar, à assistência dos pobres e inválidos, às
instituições aqui existentes, na sua época, entre as quais a Santa Casa da Misericórdia de Santos teve lugar preponderante e sempre lhe mereceu os mais constantes e desinteressados carinhos.
Dr. Silverio Martins Fontes
Irmão remido em 1882 – Benemérito 1902
O dr. Silverio Martins Fontes nasceu em São Cristovão, estado de Sergipe, em 1º de fevereiro de 1858, sendo filho do dr. José Martins
Fontes e d. Francisca Martins Fontes. Muito jovem, transferiu-se para a Bahia,onde cursou colégios secundários e a Faculdade de Medicina. Sendo pobre, lecionava Geometria e Latim para poder custear seus estudos médicos. Formou-se na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, onde sempre se distinguiu pela sua inteligência.
Tornando-se adepto das ideias de Pasteur, que na época revolucionavam as correntes científicas em voga na Europa, foi um dos primeiros a
divulgar as novas teorias sobre as infecções microbianas, tendo até defendido tese sobre essa matéria, com brilhantismo.
Formado em Medicina, veio morar em Santos, onde contraiu matrimônio com d. Isabel Martins Fontes, irmã hoje benfeitora e jubilada da
Santa Casa da Misericórdia.
Em companhia dos saudosos dr. Galeão Carvalhal, Francisco Martins dos Santos, Paula e Silva, Manoel Maria Tourinho, Heliogabalo Fontes,
Soter de Araujo e Garcia Redondo, fundou em 12 de novembro de 1882 a folha de propaganda republicana intitulada A Evolução, em cujo cabeçalho no entanto se declarava não ter cor política. Esse periódico tinha tendências de cunho
livre-pensador e em suas colunas colaboraram Martim Francisco, João Guerra, Candido de Carvalho e outros jornalistas e republicanos históricos.
Ali também se advogou a abolição da escravatura no Brasil e a implantação da República. Mas, quando esta última foi proclamada, o dr.
Silverio Fontes se declarou desencantado com o novo regime e escreveu o "Manifesto Socialista", que foi publicado no Estado de São Paulo, em 1891. Em 1892, ainda em companhia do dr. Soter de Araujo e Carlos Escobar, fundou A
questão social, que durante dois anos fez propaganda do socialismo em Santos.
O dr. Silverio Fontes foi um grande benfeitor da cidade, exercendo a sua profissão como verdadeiro sacerdócio. Possuía vasta e
rara cultura filosófica. Nas terríveis epidemias que assolavam a cidade, nos fins do século XIX e começos do atual (N.E.: séc. XX), excedeu-se em dedicação para com os
enfermos, todos tratando em caráter gratuito.
Prestou serviços inolvidáveis a diversas instituições locais, notadamente à Santa Casa, de cujo corpo clínico fez parte, sem cobrar
honorários durante muitos anos, e ao Asilo de Órfãos, de que era também benemérito. Em reconhecimento a esse fato, a Irmandade da Santa Casa mandou colocar o seu retrato na sala do Consistório. Faleceu com a idade de 70 anos, em 27 de junho de
1928.
Irmão Inácio Penteado
Benemérito em 30/6/1911
Inácio Penteado nasceu em 18 de abril de 1863, na fazenda do Empireo, no município de Araras, sendo seus pais o dr. João Carlos Leite
Penteado, juiz de Direito em Mogi-Mirim, e d. Maria Higina de Almeida Lima Penteado, mais tarde baronesa de Ibitinga, em Campinas. Filho mais moço de família numerosa, fez seus primeiros estudos em Campinas e já com a idade de 16 anos foi incumbido
da gerência das grandes fazendas do barão de Ibitinga, que depositava toda a confiança no jovem enteado.
Aos dezoito anos seguiu para Londres e ali, frequentando casas de negócios e cursando escolas superiores de comércio e ciências
econômicas, dedicou-se assiduamente aos estudos de sua predileção. Em seguida visitou os centros mais adiantados da Europa, tendo nesta ocasião conseguido que seu irmão Antônio, mais tarde conde Alvares Penteado, fosse também estudar na Inglaterra.
De regresso ao Brasil, em 1885, veio para Santos, onde organizou a Casa Comissária Inácio Penteado, início de sua carreira no comércio
de café, atividade em que conservou até o fim de sua proveitosa existência. Com 24 anos, casou-se com sua prima-irmã, d. Olivia Guedes, filha dos barões de Pirapitingui, e durante cinco anos o casal residiu em Santos, mudando para S. Paulo em 1893.
As exigências de sua casa comissária obrigavam porém Inácio Penteado a descer diariamente para Santos, onde granjeou amizades e relações duradouras, graças aos seus belos dotes de espírito e de coração.
Aqui teve ensejo de beneficiar várias instituições de assistência social, destacando-se o que fez em prol da Santa Casa da Misericórdia,
alvo de suas constantes provas de interesse e generosidade. Seus donativos foram sempre feitos com absoluto desprendimento e foi devido a essa ajuda eficaz que se levou a termo a construção do pavilhão para os tuberculosos. Estes e outros serviços
mereceram o reconhecimento da Santa Casa, que o testemunhou de maneira solene, concedendo-lhe o título de irmão benemérito em 30 de junho de 1911.
Homem fino, educado e culto, possuía, além de sua residência em S. Paulo, uma casa em Paris, à Avenida Roche, que era um centro
acolhedor de nossos patrícios, em viagem pela Europa. Por lá passavam políticos, diplomatas, artistas, estudantes, banqueiros, intelectuais, juristas, desde os nomes mais notáveis até os mais modestos do meio social brasileiro, sempre recebidos com
singela mas cordial hospitalidade. Figura inesquecível, na memória de quantos o conheceram, pela sua bondade, inteligência e abnegação, o sr. Inácio Penteado faleceu em 8 de fevereiro de 1914, em São Paulo.
Antônio da Silva Azevedo Junior (1875-1930)
Admitido em 1893 – Benemérito em 1923
A Santa Casa da Misericórdia de Santos sempre lembrará, com saudade e gratidão, a memória do senador Antônio da Silva Azevedo Junior,
homem probo e coração transbordante de bondade, que jamais deixou de colocar o seu prestigio pessoal e político a serviço do engrandecimento desta instituição.
Nasceu em Silveiras, no estado de São Paulo, no dia 6 de maio de 1875, sendo filho do sr. Antonio da Silva Azevedo e d. Maria de Castro
Azevedo. Ainda bem moço, veio para Santos e aqui se dedicou às atividades comerciais. Começando como obscuro guarda-livros e aperfeiçoando à noite os seus estudos, foi um autodidata, cuja carreira ascensional se fez à custa de muito esforço e
tenacidade. No comércio progrediu rapidamente e chegou a ser chefe da firma Queiroz Ferreira, Azevedo e Comp.
Seu prestígio, nos meios comerciais, valeu-lhe ser eleito presidente da Associação Comercial de Santos, em 1915, sedo reeleito
sucessivamente até 1924, quando teve que se afastar do cargo, por motivos de saúde e empreendeu viagem à Suíça, em março desse ano. À testa dessa respeitável associação de classe, benfeitora da Irmandade da Santa Casa, Antônio da Silva Azevedo
Junior sempre esteve em evidência, pela maneira vigilante e criteriosa com que procurou proteger os interesses da praça de Santos, em período de dificuldades gerais econômicas.
Ingressando na política, em princípios deste século (N.E.: séc. XX), militou na oposição local, dissidente do partido situacionista chefiado pelo falecido senador Cesario Bastos. Foi um dos organizadores do Partido Municipal de Santos, formado para combater os situacionistas; e à testa dessa corporação se
manteve em constante atividade.
Em 1908 foi eleito vereador à Câmara Municipal de Santos, num pleito memorável, que mudou a direção do município, e em 1911, por voto
unânime dos seus pares, foi elevado à presidência. Ocupou também, durante vários anos, a presidência do Partido Municipal, e ali, apesar das lutas políticas dum período agitado, se conservou rodeado do respeito e estima de seus próprios
adversários. Posteriormente foi seu nome indicado e alvo de sufrágios para uma cadeira da Câmara Estadual e, mais tarde, para o Senado Estadual.
Em todos esses cargos, Antônio da Silva Azevedo Junior soube conduzir-se com prudência, elevação e discernimento, procurando utilizar a
sua influência em prol das necessidades do município de Santos. Por isto, não tardaram as distinções e preitos excepcionais com que numerosas associações filantrópicas de Santos demonstraram, de público, o seu reconhecimento merecido.
Deram-lhe título de benemerência: o Asilo de Órfãos, a Sociedade União Operária, a Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, a
Loja Maçônica Fraternidade, a Sociedade de Beneficência e a Santa Casa da Misericórdia. Nesta fundação de Braz Cubas, sua ação foi sempre altamente benéfica, dedicando-se com carinho e desvelo a tudo que lhe dissesse respeito, conforme consta dos
Anais e resumos de atas.
Mercê da sua constante solicitude e seu elevado conceito social, a chamada "cota de caridade" foi distribuída com o critério necessário
para produzir boa receita para esta instituição pia. Para assinalar tão valiosos serviços, a Santa Casa, além do título de benemérito, inaugurou o seu retrato, na sala do seu consistório. Antônio da Silva Azevedo Junior faleceu nesta cidade em 3 de
julho de 1930, tendo o seu desaparecimento repercutido de maneira dolorosa, em todas as camadas sociais da cidade e do Estado.
Títulos honoríficos – A. S. Azevedo Junior era cavaleiro da Ordem de Cristo, distinção
conferida pelo governo de Portugal; e cavaleiro da Coroa de Itália.
Dr. Samuel Baccarat (1892-1933)
Irmão Benemérito – com retrato
Homem que sempre madrugava para a prática da caridade, o dr. Samuel Baccarat, irmão benemérito da Santa Casa da Misericórdia, deixou
traço indelével de sua passagem, durante uma vida brilhante, mas infelizmente muito curta.
Nasceu em 4 e fevereiro de 1892, em Espírito Santo do Pinhal, neste Estado, e era filho de Elias Baccarat e d. Ana Staudt. Fez o curso
primário em sua terra natal, mas, ficando órfão de pai, em verdes anos, teve de lutar para adquirir instrução e como fossem escassos os meios para esse fim, no lugar de seu nascimento, transferiu-se para Jacareí, onde cursou o ginásio dirigido pelo
dr. Lamartine Nogueira da Gama. Sua genitora, embora viúva, esforçou-se para assegurar ao filho os recursos necessários para seguir a carreira que tanto desejava – as ciências jurídicas. Realmente, o jovem Samuel Baccarat pôde seguir para S. Paulo,
onde ingressou na Faculdade de Direito e com notas brilhantes colou grau de bacharel, em 1915.
Havendo se casado com a sra. Alda Arruda, filha do dr. Braz de Oliveira Arruda, provecto causídico da capital deste estado, começou a
advogar em companhia do sogro. Em 1917, com a esposa e um filho, veio instalar escritório em Santos, onde ficou até o último ano de sua breve existência, devotando-se com ardor à cidade onde fez invejável carreira forense e política.
Em 1921 candidatou-se, como vereador independente, à Câmara Municipal santense, logrando ser eleito com significativa soma de sufrágios.
Em 1924, por ocasião do movimento subversivo de S. Paulo, foi preso como suspeito de revolucionário, em companhia de Bruno Barbosa, Heitor de Morais, Nilo Costa e outros. Mais tarde, reeleito vereador para participar do Partido Municipal de Santos,
de que se tornou figura de relevo, sendo em seguida indicado para uma cadeira de deputado na Câmara Estadual.
Em 1929, como dissentisse da orientação dos chefes da Comissão Diretora do P.R.P., deixou de ser incluído na chapa para a renovação do
mandato, o que provocou um rompimento do Partido Municipal de Santos, com aquela direção partidária. No entanto, enquanto foi representante da parcela santista, naquele grêmio legislativo, sempre se mostrou fecundo em iniciativas em prol da cidade
santista.
Em 1932 tomou parte saliente na campanha constitucionalista, ocupando o posto de oficial-intendente, no 8º B.C.R. Colaborou
frequentemente nos jornais, abordando com proficiência questões de ordem jurídica e social. Fundou, com outras pessoas gradas, a Caixa Escolar "Galeão Carvalhal", onde a sua atuação foi das mais eficientes e duradouras. Lente de Direito Comercial,
na Escola de Comércio José Bonifácio, recusou-se a receber os seus vencimentos, determinando que essa quantia fosse anualmente aplicada na concessão dum prêmio ao melhor aluno do seu curso.
Espírito alegre e esportivo, amigo das crianças e da juventude, Samuel Baccarat presidiu longo tempo a Associação Santista de Esportes
Atléticos e o Clube de Regatas Vasco da Gama. Causídico dotado de vasta erudição, sempre foi destacada a sua ação no foro local. Político voltado para o bem público, as suas atividades se nortearam pela rapidez de princípios e a sinceridade das
suas convicções, como deu provas em diversas fases de sua existência.
Ao regressar da campanha constitucionalista de 1932, publicou a respeito o livro intitulado "Capacetes de Aço", onde exprimiu a
sua confiança nos ideais democráticos defendidos, tendo também com esse mesmo nome fundado em Santos uma associação cívica.
Como advogado da Santa Casa da Misericórdia, repetiu o gesto de desprendimento que tanto assinalava à estima e admiração de seus
contemporâneos, isto é, jamais aceitou a menor paga pelos imensos e constantes serviços que prestou, com insuperável solicitude, competência e entusiasmo. De sua casa também vieram frequentes auxílios, em forma de presentes, roupas, agasalhos, de
maneira que até a sua própria família, da qual todos eram irmãos remidos da Santa Casa, tomava parte assídua e relevante na obra de benemerência do seu chefe. Esse título evidentemente não poderia deixar de lhe ser concedido, o que foi feito em
1933, realçado posteriormente pela colocação do seu retrato na galeria de honra do consistório da irmandade.
O dr. Samuel Baccarat faleceu em 21 de março de 1934, na Clinnique Bouchard, na cidade de Marselha, quando em caminho duma viagem de
recreio a Roma, onde ia assistir às festas de canonização de Dom Bosco. Desembarcando do vapor que o transportava, vítima duma violenta irrupção de apendicite, compreendeu logo o seu próximo fim e pediu que trouxessem o seu corpo embalsamado para o
Brasil, o que foi feito.
Antônio de Lacerda Franco
Irmão Benfeitor em 1887
Nasceu Antônio de Lacerda Franco em 13 de junho de 1853, na cidade de Itatiba, no estado de São Paulo, sendo filho dos barões de Araras.
Muito moço, transferiu-se com sua família para a cidade de Araras, onde se dedicou à agricultura. Embora seu progenitor
(N.E.: na verdade, genitor, pai) se tornasse influente chefe político,
naquele município, foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, e por este eleito vereador e presidente da Câmara Municipal de Itatiba em várias legislaturas. Naquela qualidade trabalhou francamente pela abolição da escravatura, campanha
que continuou a defender em Araras e em Santos, para onde seguiu mais tarde.
Nesta cidade continuou a fazer a propaganda republicana, orientando e organizando os elementos seus correligionários. Depois de 15 de
novembro de 1889, fez parte do primeiro governo provisório republicano, tendo sido eleito, por aclamação, presidente da Câmara Municipal de Santos, em companhia de outros vultos políticos destacados, como José Azurem Costa, Antônio Carlos da Silva
Teles, Ernesto Candido Gomes, Walter Wright, igualmente irmãos beneméritos ou benfeitores da Santa Casa, com estes assinando um manifesto então dirigido ao povo de Santos.
Esse governo foi dissolvido em 19 de novembro daquele ano, quando se empossou o governo provisório do estado, composto de Prudente de
Morais, Rangel Pestana e cel. Antônio Mursa. Nessa data aclamou-se uma comissão consultiva de que fazia parte Antônio de Lacerda Franco, secretariado por Constantino Faro, A. Carlos da Silva Teles e Henrique Porchat. Durante a sua permanência nesta
cidade, naquela época, teve Antônio de Lacerda Franco oportunidade de prestar inúmeros serviços à Santa Casa da Misericórdia, o que lhe valeu a concessão do título de benfeitor, em 10/9/1887.
Em seguida, mudou-se para a capital do estado, onde continuou nas suas atividades políticas e filantrópicas. Ingressou ali na Irmandade
da Santa Casa de São Paulo, sendo eleito provedor durante muitos anos, cargo de que se afastou por motivo de moléstia, após relevantes serviços, na direção do hospital, salientando-se o que fez em prol da caridade pública, em 1918, quando a
epidemia da gripe assolou a capital. Como político ainda fez parte da Comissão Diretora do Partido Republicano Paulista, de que foi presidente de 1924 a 1929.
No Senado Estadual, para que foi eleito desde 1892, sempre pertenceu à Comissão de Finanças. Em 1924 foi eleito senador federal, mandato
que exerceu até 1930, também ingressando na Comissão de Finanças dali.
Foi fundador do Banco União, de S. Paulo, da Cia. Telefônica de São Paulo, da Escola do Comércio Alvares Penteado, do Conservatório
Dramático e Musical, e da Sociedade Anônima Fábrica Japy. Militou na imprensa paulistana, sendo durante muitos anos diretor e proprietário do Correio Paulistano, que doou ao Partido Republicano Paulista. Foi também sócio-fundador do Aero Clube de
São Paulo, do Automóvel Clube de S. Paulo, e da Soc. Hípica Paulista. Durante cinquenta anos foi diretor da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, cuja presidência ocupava, na data do seu falecimento, que se verificou em 19 de maio de 1936.
Major Artur Alves Firmino
Irmão e 1910 – Irmão Benemérito em 1921
Artur Alves Firmino nasceu na Capital Federal, em 13 de janeiro de 1878, sendo filho de Elisiário Alves Firmino e d. Ana Brasilina do
Nascimento Firmino. Jovem ainda, veio para a cidade de Santos, onde ingressou no comércio de café. Em breve fez carreira nessa profissão e se tornou elemento de prestígio no ramo do comércio de exportação de café e comissário.
Na sua longa vida comercial, que exerceu durante quarenta anos, fundou a Cia. Ensacadora e Rebeneficiadora de Café, Grands Magazins
Généraux et Entrepôt Livre d'Anvers, Cia. Aliança de Armazéns Gerais e Armazéns Gerais Santa Cruz, de que foi diretor gerente.
Amplamente relacionado na sociedade santista, à qual se radicou, Artur Alves Firmino teve seu nome ligado a várias instituições
filantrópicas, tais como Asilo de Órfãos, Asilo de Inválidos, Soc. Humanitária dos Empregados no Comércio, Soc. Portuguesa de Beneficência, bem como do Clube XV, Clube de Regatas Santista e Rotary Clube de Santos.
Sua ação,na Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, foi das mais fecundas e incessantes, sempre se devotando ao funcionamento desta
instituição e de seu hospital, com zelo, desprendimento pessoal e elevado espírito cristão. Tendo entrado para o quadro de irmãos, prestou sempre mais decidida e eficaz cooperação, sendo logo em 1911 eleito suplente do Conselho Deliberativo e, no
ano seguinte, consultor da Mesa Administrativa, cargo que ocupou até 1916, quando foi eleito 2º secretário da Mesa. No exercício imediato passou a 1º secretário, cargo que desempenhou até 1926.
Daí em diante, até 1931, exerceu o cargo de mordomo-geral, no qual se houve com tanta dedicação e eficiência que fez jus à gratidão
expressa no título de benemerência. Sua morte ocorreu em 15 de fevereiro de 1942, nesta cidade, tendo a Irmandade da Santa Casa, pelo órgão do secretário da Provedoria, determinado nessa ocasião lhe fossem prestadas as homenagens excepcionais que
lhe eram devidas.
Em 14/9/1943 resolveu-se dar o seu nome a uma enfermaria.
Dr. José Carlos de Macedo Soares
Irmão Benemérito em 12/7/1934 – Com retrato em 1941
Nasceu na cidade de São Paulo, capital do Estado, no dia 6 de outubro de 1883. Filho do dr. José Eduardo de Macedo Soares e da sra. da.
Candida Sodré de Macedo Soares, um e outro oriundos de tradicionais famílias fluminenses. Fez seu curso primário na Escola Modelo Caetano de Campos; e o de Humanidades no Ginásio de São Paulo, tendo recebido o diploma de bacharel em Ciências e
Letras em 1901, e conquistado o prêmio "Dr. Augusto Freire da Silva" pela maneira brilhante com que concluiu o curso.
Matriculando-se em seguida na Faculdade de Direito de São Paulo, ali se houve com o mesmo brilhantismo, e o seu prestígio no meio dos
estudantes lhe valeu ser eleito presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, quando se achava no quinto ano, e recebeu o título de presidente honorário desse grêmio tradicional, logo que chegou à faculdade. Em 1906 concluiu o curso de Direito,
colando grau.
Pouco depois de diplomado, foi professor de Economia Política e Finanças, na Escola de Comercio Álvares Penteado, e mais tarde diretor
do Ginásio Macedo Soares. Em novembro de 1930 fez parte do governo provisório de São Paulo, ocupando a Secretaria do Interior. Em 1932 seguiu para a Europa como chefe da Delegação Brasileira à Conferência do Desarmamento. Ainda no mesmo ano, foi
designado para embaixador em missão especial, junto ao governo italiano. Como representante de São Paulo, em 1933 foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte.
Em julho de 1934, o presidente dr. Getúlio Vargas nomeou-o ministro das Relações Exteriores, cargo em que teve ocasião de prestar
relevantes serviços em prol da paz e da boa vizinhança entre as nações americanas. Em julho de 1937 foi chamado novamente a desempenhar o cargo de ministro da Justiça, no qual se conservou até 9 de novembro de 1937.
O dr. José Carlos de Macedo Soares tem nome ligado a inúmeras associações científicas, literárias, culturais e beneficentes, a quem tem
dado o amparo do seu prestígio pessoal e da sua generosidade pecuniária. Assim, entre outras instituições, é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e de institutos congêneres de S. Paulo, Paraná, Sergipe, Pará, Amazonas; Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, Academia Brasileira de Letras, Academia Paulista de Letras, Liga da Defesa Nacional, Legião Brasileira de Assistência, irmão benemérito da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos.
Como tem feito alhures, o dr. José Carlos de Macedo Soares várias vezes beneficiou esta entidade, salientando-se a doação que, com sua
exma. esposa, fez dum valioso terreno em Campos de Jordão, neste estado, para a construção dum sanatório para os enfermos de tuberculose encaminhados desta cidade. Trata-se dum donativo que veio tornar possível a realização dum projeto
alimentado durante muitos anos.
Além desse ato de alta benemerência, que tão bem comprova a dívida de gratidão contraída pela Santa Casa para com esse irmão benemérito,
o dr. José Carlos de Macedo Soares tem pessoalmente dado os seus préstimos e sua honrosa cooperação em ocasiões memoráveis, como na comemoração do centenário de 1936 e agora, no 4º centenário da fundação do primeiro hospital. Assim, a colocação do
seu retrato, na sala do Consistório, mediante solenidade ocorrida em 1941, foi apenas pequena retribuição ao muito que esse irmão benemérito fez e continua fazendo em prol da Santa Casa da Misericórdia.
Dr. Cesar Lacerda de Vergueiro
Irmão remido em 1893 – Benemérito em 1923 – Jubilado em 1943
Com seu saudoso progenitor (N.E.: na verdade, genitor, pai),
Afonso de Vergueiro, o irmão Cesar Lacerda de Vergueiro tem seu nome indelevelmente vinculado à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos, onde nasceu em 11 de junho de 1886, sendo filho do irmão benemérito e benfeitor Afonso de Vergueiro,
e da irmã jubilada, sra. Manoela Lacerda de Vergueiro.
Fez seus estudos preliminares em Santos, com os professores Artur Leite e da. Mina Roths, seguindo o curso ginasial em Nova Friburgo
(Est. Do Rio) no Ginásio Anchieta, e em Jacareí, neste estado, no Ginásio Nogueira da Gama. Em 1903 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde fez curso brilhantíssimo, colando grau em 1907. Durante a sua vida de estudante se
distinguiu pela assiduidade aos estudos e pelo prestígio pessoal, no grêmio dos seus companheiros, o que lhe valeu ser eleito presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, nos anos de 1906 e 1907.
Logo que se formou, exerceu o magistério com muita competência, tendo durante os anos de 1908 a 1911 ocupado o cargo de
diretor-proprietário do Ginásio Hydecorft, equiparado ao Ginásio Nacional, em São Paulo.
No referido ano de 1908, mereceu ser distinguido com a confiança do governo do estado de S. Paulo, na qualidade de seu representante na
Exposição Nacional, realizada no Rio de Janeiro.
Ingressando na política partidária, o dr. Cesar Lacerda de Vergueiro não tardou a ficar em situação de grande evidência, sendo designado
para presidir o Centro Anti-intervencionista, em S. Paulo, num dos períodos mais agitados da existência do país. Essa conduta desassombrada em seguida se refletiu na memorável campanha em torno da candidatura do dr. Rui Barbosa à presidência da
República, e o levou a presidir o Centro Civilista, organizado na capital paulista, nos anos de 1909 e 1910, para defender e reunir sufrágios, em torno do nome daquele glorioso tribuno baiano.
Foi assim também que, indicado para ocupar uma cadeira, na Câmara Federal, em nome do seu estado, o dr. Cesar Vergueiro foi reeleito,
ininterruptamente, desde 1913 a 1930, o que equivale dizer que, durante quase vinte anos, acompanhou naquela casa do Congresso todas as questões e problemas relevantes que ali foram debatidos e solucionados, para o benefício do país.
Além de membro do Partido Republicano Paulista, o dr. Cesar Lacerda de Vergueiro se dedicou às atividades jornalísticas, dirigindo o
Correio Paulistano e o Diário de Santos, sendo diretor-proprietário deste último, na sua última fase. E ainda recentemente foi arrancado de suas lides absorventes, numa banca de advocacia trabalhosa, para exercer o cargo de secretário da
Justiça do governo de S. Paulo.
Na Câmara Federal, conforme atestam seus anais, o dr. Cesar L. Vergueiro foi autor de numerosos projetos de real utilidade pública, logo
convertidos em lei, como, entre outros, os seguintes: construção dos edifícios dos Correios e Telégrafos das cidades de S. Paulo e Santos; da Base de Aviação Naval de Santos; da estrada de rodagem para ligação entre S. Paulo e Rio de Janeiro; da
questão das terras; da primeira organização do escotismo no Brasil; do monumento e mausoléu dos Andradas, em Santos; da criação dos impostos de caridade para serem distribuídos às instituições pias do Brasil e principalmente de Santos.
Com referência à base de Aviação Naval em Santos, cumpre lembrar que o dr. Cesar L. Vergueiro sempre foi um entusiasta dessa moderna
maneira de navegação, ocupando o cargo de presidente do Aero Clube do Brasil, que promoveu as primeiras viagens aéreas, entre Natal e Rio Grande do Sul, num tempo em que ainda constituía temeridade tal processo de transportes.
Quanto ao seu interesse pelas casas de caridade santistas, ficou exuberantemente comprovado, na Câmara Federal, em termos de ter
recebido, em comovente unanimidade, uma grande homenagem coletiva, de que participaram todas as diretorias das associações beneficiadas, preito único jamais prestado a alguém de forma tão significativa. Na Irmandade da Santa Casa da Misericórdia,
além de vários donativos de vulto, estão os seus trabalhos registrados, através do seu patrocínio, junto aos seus pares, no Parlamento Brasileiro, procurando por todos os meios contribuir para que a instituição tivesse assegurada, de maneira
eficiente, a prática da caridade, e igualmente ficasse habilitada a reunir os elementos com que se projetaram e iniciaram as obras do novo hospital ainda em construção.
Em sessão solene de 15 de novembro de 1943, por ocasião do encerramento dos festejos comemorativos do 4º centenário de fundação da
Irmandade, ser-lhe-á entregue a medalha de ouro devida pela passagem de 50 anos de irmão remido e pelos serviços inestimáveis que teve ensejo de prestar a esta instituição.
Sra. Helena Conceição Alves de Lima
Benemérita com retrato no Consistório
A sra. Helena Conceição Alves de Lima nasceu em São Paulo, em 9 de novembro de 1904, sendo filha do sr. José Conceição e da. Angelina
Silveira Melo Conceição. Contraiu matrimônio com o sr. Roberto Alves de Lima, sócio da tradicional e importante firma comissária exportadora desta praça, Lima Nogueira & Cia. São seus filhos: o jovem acadêmico Joaquim Bento Alves de Lima Neto,
laureado com o 1º Prêmio de Literatura pela Academia de Direito de S. Paulo; e a srta. Maria Helena Conceição Alves de Lima.
A sra. Helena Conceição Alves de Lima é um espírito culto e viajado, tendo feito diversas viagens aos países da Europa e da América.
Entrou para o quadro de irmãos da Santa Casa em 16 de novembro de 1933, em memorável assembleia, em que seus serviços ficaram demonstrados através de minucioso "memorial" da Mesa Administrativa.
Quando a nossa instituição pia se achava em situação angustiosa, a sra. Helena C. Alves de Lima tomou a si o encargo de amenizar a
terrível crise econômico-financeira que assoberbava a Santa Casa. De porta em porta, nesta cidade e em São Paulo, mercê do seu prestígio pessoal, conseguiu levantar donativos na importância de Cr$ 400.000,00 (quatrocentos mil cruzeiros).
Incumbiu-se também de promover a construção, a instalação e o financiamento do Sanatório de Santos, em Campos do Jordão, para os tuberculosos pobres.
Graças à sua iniciativa, obteve essa aliança admirável do sentimento de solidariedade humana, cristalizado na mais bela das virtudes
cristãs – a caridade – e a dádiva preciosa provinda dos escrínios das famílias paulistas, quando por ocasião dum de seus grandes movimentos cívicos. Fez do "Ouro para o Bem de São Paulo" a argamassa com que ergueu esse monumento que é o Sanatório
de Santos, que há de atestar, à Posteridade, a nobreza d'alma e a grandeza do seu coração. |