O antigo Lixão da Alemoa poderá abrigar um parque
ecológico.
Projeto é possível com mudança no zoneamento da área
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
ECOLOGIA
Lixão reciclado
Área que recebia detritos na Alemoa deverá abrigar um Parque Ecológico Municipal
Da Reportagem
A menos de um mês da data de aniversário de sua
desativação, a área do antigo Lixão da Alemoa, na Vila dos Criadores, deixará de pertencer à Zona Portuária do Município para integrar a Zona de
Preservação Paisagística.
A proposta de alteração do mapa do zoneamento da área foi aprovada por unanimidade na
última reunião do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU). Mas a reclassificação da região, estabelecendo as atividades que poderão ser
admitidas no local, ainda depende de novas discussões no CMDU. Como não haverá mais reunião do Conselho este ano, a mudança só deverá ser efetivada
em 2005.
Sugerida pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Santos, a alteração visa
adequar a legislação municipal e garantir a instalação do Parque Ecológico Municipal no local.
Até o momento, o projeto encontra-se "em fase de estudo" pela Secretaria Municipal de
Meio-Ambiente (Semam). Também não há data de quando começará a ser executado. Tudo ficará para ser definido pelo próximo governo.
No entanto, é praticamente certo que o futuro parque não abrangerá a totalidade da
área do antigo Lixão. Parte do terreno desativado deverá continuar recebendo os detritos destinados ao transbordo até o Aterro Sanitário do Sítio
das Neves, na área continental.
A separação do material de reciclagem antes do envio para o aterro, como acontece no
Parque Ecológico de São Vicente, no antigo Lixão do Sambaiatuba, ainda será avaliada pelos técnicos da Prefeitura.
Com o fechamento do Lixão, depois de uma longa briga judicial que envolveu a Cetesb e
o Ministério Público, os ex-catadores foram proibidos de ingressar na gleba controlada pela Terracom.
A empresa vencedora da licitação para coleta e destinação final dos detritos sólidos
mantém uma equipe de seguranças. Ninguém pode entrar sem autorização, inclusive a Imprensa.
Afastados do trabalho no Lixão, cerca de 100 moradores da Vila dos Criadores foram
aproveitados na frente de trabalho da Prefeitura. Eles fazem limpeza de rua e serviços de ajudante geral, em troca de um salário mínimo.
Outros, porém, ficaram de fora e permanecem sobrevivendo da reciclagem. O trabalho é
realizado na rua, de forma bastante precária (ver matéria).
Custos |
"O mais provável é que os recursos sejam obtidos por meio de convênios com os governos Estadual e Federal"
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Carlos Tadeu Elzo
Chefe do Planejamento Ambiental da Semam
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Obrigação - A criação do Parque Ecológico faz parte do projeto de recuperação
da área degradada. A exigência foi imposta pela Cetesb durante o processo de desativação, que se arrastou por mais de 10 anos.
De acordo com o chefe do Departamento de Planejamento Ambiental da Semam, Carlos Tadeu
Eixo, há previsão de recursos do Orçamento de 2005 para o projeto. Mesmo assim, a Prefeitura espera realizar parcerias para a implantação do parque.
"O mais provável é que os recursos sejam obtidos por meio de convênios com os governos
Estadual e Federal", disse Eizo, que ainda não tem um cálculo de quanto custará o parque.
Em 2005, a área do antigo Lixão da Alemoa deverá integrar a Zona de Preservação
Paisagística
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
Usina - Entre 1972 e janeiro de 2003, período em que esteve em funcionamento, o
Lixão recebeu milhões de toneladas de lixo. Durante essas três décadas, o descarte produziu uma montanha de detritos, hoje cobertos por uma
vegetação rasteira.
Por causa dos gases tóxicos, a área é considerada imprópria para projetos
habitacionais.
Em fevereiro deste ano, a Prodesan anunciou que mantinha contatos com o governo do
Canadá para instalar uma usina de energia no local. A geração seria feita a partir da exploração do gás metano, substância que emana de
resíduos orgânicos em decomposição.
Perto do transbordo, foi improvisado um depósito de material
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
Ex-catadores ainda vivem de reciclagem
A desativação do Lixão da Alemoa não foi suficiente para acabar com o trabalho de
reciclagem na Vila dos Criadores. Os ex-catadores agora trabalham na via que dá acesso ao local. A menos de 50 metros da
área de transbordo, um depósito de material foi improvisado numa calçada. Os produtos não aproveitados são descartados e queimados na rua por
moradores.
Para garantir a sobrevivência, um grupo de ex-catadores pára os caminhões que vão até
o local depositar o material recolhido em caçambas. Eles retiram os produtos recicláveis antes de serem enviados ao Aterro Sanitário do Sítio das
Neves, na área continental.
"Só alguns motoristas de empresas particulares deixam a gente fazer o recolhimento. Os
caminhões da Terracom, mesmo quando estão cheios de material de reciclagem, seguem direto", afirma o desempregado André Luiz Lopes Pereira.
O ex-catador diz que se inscreveu na frente de trabalho, mas não foi chamado. O
salário que é pago pela Prefeitura também foi considerado "muito baixo". Ele garante que dá para faturar mais trabalhando por conta própria.
"No tempo do Lixão, dava até para tirar R$ 1.800,00 por mês, no período de festas de
final de ano", conta Pereira, que reclama da falta de amparo do Poder Público. "A gente tinha que ser indenizado quando fecharam o Lixão. O que vou
fazer da vida sem estudo e sem trabalho?"
Mais caro - O que mais revolta os ex-catadores é o fato de que papel, plástico,
vidro e material estão sendo "enterrados" no aterro sanitário. Como não há separação por tipo de lixo, materiais orgânicos e recicláveis têm o mesmo
destino.
Fabiano Ranulfo Andrade, de 27 anos, não entende o motivo da proibição. "Como a
Prefeitura paga por lixo recolhido e transportado, seria mais barato se a gente fizesse a separação. Acredito que o peso cairia pela metade e o
custo também", diz o ex-catador. |