Tubos de concreto instalados na área do antigo
lixão
servem para captação e queima do gás proveniente dos resíduos orgânicos
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
APROVEITAMENTO
Lixo vai virar energia
Gás metano que emana dos resíduos do antigo lixão da Alemoa poderá ser
utilizado. Medida faz parte de um plano de uso restritivo que prevê uma usina na área
Da Reportagem
A Prodesan está mantendo contatos com o governo do
Canadá para instalar, na área do antigo Lixão da Alemoa, uma usina de energia. A geração seria feita a partir do gás metano - substância que
emana de resíduos orgânicos em decomposição.
A transformação do lixo em energia é uma das medidas que integram o Plano de
Remediação e Uso Restritivo da Alemoa. O pacote só será anunciado na primeira quinzena de março pelo prefeito Beto Mansur.
Ontem, em entrevista exclusiva a A Tribuna, o presidente da Prodesan, Delchi
Migotto Filho, adiantou parte dos planos da Prefeitura para recuperar ambientalmente a Alemoa.
Migotto enfatizou a possível instalação da usina de energia - medida que foi
implementada recentemente no principal aterro sanitário de São Paulo e já é bastante difundida em países como os Estados Unidos e Holanda.
Segundo ele, em dezembro passado, técnicos canadenses estiveram em Santos e visitaram
a área do lixão. Eles saíram praticamente convencidos de que a Alemoa é capaz de gerar 8 megawatts de energia - o suficiente para abastecer
20 mil casas durante 10 anos.
As conversas estão caminhando, como explicou Migotto, mas ainda é cedo para saber os
termos de um eventual acordo entre Prefeitura e governo do Canadá.
"O certo é que a Cidade terá uma contrapartida", disse o presidente da Prodesan,
levantando a hipótese, por exemplo, de a rede municipal de ensino ser abastecida apenas com a energia gerada do metano. "Seria uma economia
significativa para a Prefeitura".
Uma das possibilidades para a parceria seria o Município ceder o uso da área e deixar
os investimentos por conta do governo canadense, que venderia a energia gerada para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Segundo Migotto, a aplicação de recursos na construção de uma usina de energia deste
tipo é alta. "Não dá para estimar. Mas é fato que o investidor só vai se interessar se puder ter retorno. E nossa intenção é chegar a um acordo que
seja bom para as duas partes".
Meio-ambiente - Se a idéia for concretizada, o santista não pagará menos pela
energia que consome. Mas a Cidade estará ajudando, de forma direta, a reduzir os danos que o metano causa ao meio-ambiente.
Ao lado do dióxido de carbono, o metano forma o chamado gás bioquímico do lixo, que é
um dos maiores vilões do efeito estufa - fenômeno que eleva as temperaturas na Terra e o nível dos oceanos.
O metano emana de resíduos orgânicos em decomposição. E o aterro da Alemoa é uma
verdadeira montanha de lixo, formada, em sua maioria, por restos alimentares.
Hoje, o gás que exala do antigo aterro é, em parte, queimado e lançado na atmosfera,
por meio de tubos de concreto.
Trata-se de um processo constante, que continuará em atividade durante anos, mesmo com
a deposição de lixo interrompida. Não há meios de, simplesmente, conter a emissão do gás.
"A captação do gás hoje é perfeita. Mas se conseguirmos gerar energia através dele,
será uma medida ambientalmente mais correta", frisou Migotto.
Área continua sendo utilizada como unidade de transbordo
Migotto: providência necessária
Foto: arquivo, publicada com a matéria
Ao
longo de 30 anos de operação, o Lixão da Alemoa recebeu mais de 5,5 milhões de toneladas de lixo. Deste total, 90% são resíduos orgânicos. A
maior parte é formada por restos de alimentos, que, quando entram em decomposição, se transformam nos principais emissores do gás metano.
Desativado, hoje o antigo lixão serve apenas como unidade de transbordo para os
resíduos sólidos, que são depositados há mais de um ano no Aterro Sanitário do Sítio das Neves, na área continental.
Mesmo assim, o problema da Alemoa ainda não está resolvido. O fato de não receber mais
lixo não põe fim à vida ativa do aterro, que deve se prolongar por várias décadas.
"Equacionar ações para 30 ou 40 anos após a paralisação e legislar quanto ao uso
futuro do local, tendo um horizonte naquele prazo ou outro superior, é providência necessária", sustenta o presidente da Prodesan, Delchi Migotto.
Crianças, jovens e adultos catando lixo no local são apenas cenas do passado. Mas a
população da Vila dos Criadores, vizinha ao aterro, continua convivendo com o mesmo mau cheiro e o ambiente insalubre. |